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A Sútil Linguagem dos Corações.

Os dias sem as crianças na colônia de férias se desdobravam em uma melodia suave e inédita para Hayley e Sara. A casa de Hayley, antes um palco vibrante de risos e disputas infantis, agora ecoava com uma quietude que permitia conversas mais longas, olhares mais demorados e uma nova consciência da presença uma da outra. Em meio a essa crescente intimidade, a frieza distante de Marcos parecia recuar para as sombras da memória de Hayley, sua ausência emocional momentaneamente eclipsada pelo calor da presença de Sara.

As atividades que antes compartilhavam como uma forma de passar o tempo e aliviar a solidão materna ganharam uma nova camada de significado. Nas aulas de pilates, a sincronia de seus movimentos parecia ir além do exercício físico, criando uma dança silenciosa de corpos que se encontravam no alongamento e na respiração. Os olhares trocados durante os momentos de esforço compartilhado carregavam um brilho diferente, um reconhecimento mútuo que ia além da simples camaradagem. A rotina distante de David também parecia esvanecer na mente de Sara, substituída pela atenção genuína e pelo companheirismo constante de Hayley.

As aulas de dança latina se tornaram uma explosão de risos e desinibição. Os passos desajeitados e os tropeços eram motivo de gargalhadas que ecoavam pelo salão, mas nos momentos em que seus corpos se aproximavam na execução de um giro ou de um passo mais sensual, um calor sutil parecia envolvê-las, um breve contato que deixava em ambas uma sensação fugaz, quase elétrica. A lembrança dos toques frios e desinteressados de seus maridos parecia desvanecer diante do calor humano e da alegria compartilhada.

Até mesmo o curso de culinária, com o aroma convidativo dos ingredientes e o trabalho manual lado a lado, se transformou em um espaço de confidências sussurradas e sorrisos cúmplices. Enquanto picavam ervas frescas ou amassavam a massa, as conversas inevitavelmente se tornavam mais pessoais, desvendando as camadas de suas frustrações e anseios. A ausência de seus maridos, a falta de participação em suas vidas cotidianas, parecia menos significativa quando estavam juntas, imersas em suas próprias conversas e descobertas.

Em uma dessas tardes na cozinha de Sara, enquanto preparavam uma torta de maçã que perfumava toda a casa, Hayley suspirou, o olhar perdido na textura da massa entre seus dedos.

— É engraçado, não é? A gente passa tanto tempo cuidando dos outros que esquece de cuidar de nós mesmas.

Sara, que observava Hayley com atenção, assentiu lentamente. — É verdade. E às vezes, parece que nossos maridos também se esquecem disso. A frieza de David nos últimos tempos... parece tão distante agora, perto de você.

— Exatamente! — exclamou Hayley, um traço de amargura em sua voz. — Eu me sinto tão... invisível para o Marcos ultimamente. Como se eu fosse apenas a mãe dos filhos dele, a dona de casa... e não a mulher que ele um dia amou. Mas quando estou com você, essa sensação desaparece.

Sara se aproximou, pousando uma mão suavemente no braço de Hayley. — Eu sinto muito, Hayley. David também... ele vive tão absorto no trabalho dele. As viagens, as preocupações... parece que não sobra espaço para nós dois. Mas com você, Hayley, eu me sinto vista de novo.

Naquele momento, o contato breve e casual pareceu carregar um peso diferente. Hayley olhou para a mão de Sara sobre seu braço, sentindo um calor inesperado irradiar daquele toque. Seus olhos se encontraram, e por um instante, o tempo pareceu suspender-se. A indiferença de seus maridos parecia um eco distante, quase irreal, diante da intensidade daquele olhar compartilhado.

As longas conversas nas varandas durante as noites estreladas se tornaram um ritual reconfortante. Sob o manto escuro do céu, longe dos olhares curiosos, elas compartilhavam seus medos, seus sonhos e as pequenas alegrias que encontravam no dia a dia. A voz suave de Sara tinha um efeito calmante sobre a ansiedade de Hayley, e a sinceridade vulnerável de Hayley permitia que Sara se abrisse de maneiras que raramente fazia com outras pessoas. Nesses momentos de confidência, a falta de comunicação e intimidade com seus maridos parecia menos opressora, substituída pela conexão genuína que encontravam uma na outra.

Em uma dessas noites, enquanto observavam as estrelas cintilarem no céu, Hayley se sentiu compelida a compartilhar um pensamento íntimo.

— Sabe, Sara... eu nunca imaginei que encontraria uma amiga como você aqui. Alguém que realmente me entende... Alguém que me faz esquecer, por um instante, a frieza de Marcos.

Sara virou-se para Hayley, seus olhos brilhando à luz da lua. — Digo o mesmo, Hayley. Você se tornou tão importante para mim em tão pouco tempo. Sinto como se nos conhecêssemos há anos. Com você, a ausência de David não pesa tanto.

Houve um silêncio confortável entre elas, quebrado apenas pelo canto distante de um grilo. Hayley sentiu uma vontade repentina de se aproximar de Sara, de sentir o calor de sua presença mais perto. Ela hesitou por um instante, confusa por seus próprios sentimentos. A indiferença de seus maridos parecia ter criado um vazio que, inconscientemente, elas buscavam preencher uma na outra.

Em outra ocasião, enquanto voltavam juntas da aula de pilates, seus ombros se roçaram repetidamente enquanto caminhavam lado a lado pela calçada. Cada contato, por mais breve que fosse, enviava uma pequena onda de calor pelo corpo de Hayley, um despertar de sensações que ela havia há muito tempo reprimido. Ela percebeu que seus pensamentos sobre Sara estavam começando a tomar uma forma diferente, tingidos por uma admiração que ia além da amizade. A frieza de Marcos em seus toques, quando eles aconteciam, contrastava fortemente com a inesperada eletricidade da proximidade de Sara.

Sara também parecia notar essa mudança sutil na dinâmica entre elas. Seus olhares se tornaram mais frequentes e mais demorados, carregando um brilho de reconhecimento e talvez até uma ponta de timidez. Seus toques, antes puramente amigáveis, ganhavam agora uma leve hesitação, uma suavidade prolongada que não passava despercebida por Hayley. A ausência de carinho em seu próprio casamento parecia torná-la mais sensível ao calor da atenção de Hayley.

A semente de uma atração mútua estava sendo plantada, nutrida pela vulnerabilidade compartilhada, pela ausência de afeto em seus lares e pela crescente intimidade que florescia naquele verão inesperado. As conversas se tornavam mais sussurradas, os olhares mais intensos, e a proximidade física, mesmo que breve e acidental, começava a despertar sentimentos novos e confusos em ambas. A frieza de seus maridos parecia um pano de fundo distante enquanto elas se perdiam no calor da companhia uma da outra. O terreno estava sendo preparado, de forma lenta e gradual, para o momento em que a linha entre a amizade profunda e algo mais poderia ser cruzada.

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