Na manhã seguinte, a luz suave que entrava pela janela encontrou Hayley acordada, os olhos fixos no teto. A lembrança da noite anterior era um turbilhão de sensações e pensamentos conflitantes. A intensidade do sexo com Marcos, a imagem fugaz de David, a preocupação com Sara... tudo se misturava em sua mente, deixando um resíduo de inquietação. Ela sentia o corpo ligeiramente dolorido, uma lembrança física da paixão da noite anterior, mas o vazio emocional persistia.Marcos ressonava suavemente ao seu lado, um semblante tranquilo no rosto. Hayley o observou por um instante, sentindo uma pontada de culpa por seus pensamentos da noite anterior. Ele estava ali, em sua vulnerabilidade adormecida, confiante no amor que compartilhavam, enquanto ela se debatia com desejos e fantasias que o excluíam.Com um suspiro silencioso, ela se levantou da cama, tentando afastar os pensamentos perturbadores como se fossem moscas insistentes. As crianças voltariam hoje da colônia de férias, e a ideia de
Na manhã seguinte, a atmosfera na casa era palpavelmente tensa. Marcos estava mais quieto do que de costume, seus movimentos carregando uma rigidez incomum. Hayley sentia o peso de sua recusa da noite anterior pairando entre eles como uma nuvem escura. Ela tentou se aproximar, oferecendo um abraço, um beijo mais demorado, mas havia uma certa distância em seus olhos, uma cautela que antes não existia.O celular de Sara tocou no meio do café da manhã, o som repentino quebrando o silêncio carregado. Hayley atendeu rapidamente, esperando ouvir uma voz mais animada, um sinal de que sua amiga estava realmente bem.— Oi, Sara! Como você está hoje? Dormiu bem?— Oi, Hay... Estou... bem. Na verdade, liguei para saber se você poderia vir aqui. No hotel. Preciso conversar com você.O tom de Sara era hesitante, quase urgente, o que alarmou Hayley. A calma forçada da ligação anterior havia desaparecido, substituída por uma ansiedade palpável. — Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem mesmo, Sara? Vo
No aconchegante Café das Flores, com o suave aroma de café e bolo pairando no ar, Hayley observava o rosto angustiado de Sara. As mãos da amiga tremiam enquanto segurava a xícara, e seus olhos evitavam o contato direto, fixos em algum ponto incerto da mesa de madeira. A atmosfera tranquila do café contrastava fortemente com a tempestade emocional que claramente agitava Sara por dentro.— Sara, você precisa me contar — Hayley insistiu suavemente, sua voz carregada de preocupação. — O que aconteceu com o David? E por que você disse que não era seguro conversar no hotel? Sara finalmente levantou os olhos, e a dor que Hayley viu neles a atingiu como um soco no estômago. Havia confusão, raiva e uma profunda tristeza misturadas ali.— Eu... eu acho que o David está me traindo, Hay — a voz de Sara era um fio, quase inaudível, como se as palavras fossem dolorosas demais para serem pronunciadas. O choque percorreu Hayley. David? Traindo Sara? A imagem do David reservado e aparentemente dedicado
Na quietude do seu quarto, enquanto Marcos dormia profundamente ao seu lado, Hayley permanecia de olhos abertos, o teto escuro como uma tela onde seus pensamentos conflitantes se projetavam incessantemente. O sono se recusava a vir, sua mente agitada pela conversa com Sara no Café das Flores. As palavras da amiga ecoavam em sua cabeça, a dor em seus olhos, a firme convicção de que David a estava traindo.Uma ponta de irritação começou a surgir em meio à preocupação por Sara. Como ela podia sequer suspeitar de algo assim vindo de David? A imagem dele, a compostura fria e distante que sempre exibia, parecia tão incongruente com a ideia de um caso extraconjugal. Hayley sentia uma estranha necessidade de defender David, uma reação que a pegou de surpresa e a deixou ainda mais confusa.E então, ela se lembrou. Sara a havia chamado de "Hay". Aquela pequena abreviação, tão casual e íntima, nunca havia sido usada antes. Sara sempre a chamara de Hayley, com a formalidade carinhosa de uma amiza
A sirene da ambulância cortou o silêncio da noite, ecoando pela rua tranquila e iluminando as fachadas das casas com luzes vermelhas e azuis pulsantes. Vizinhos curiosos surgiram em suas janelas, espiando a agitação repentina na casa outrora pacata de Hayley e Marcos. Os paramédicos, com seus movimentos rápidos e eficientes, entraram na casa, criando um contraste gritante com a atmosfera de pânico que a envolvia. Hayley, com os olhos vermelhos e marejados, tentava manter a compostura, respondendo às perguntas dos socorristas com a voz embargada.Lily foi cuidadosamente colocada na maca, seu pequeno corpo parecendo ainda mais frágil sob o cobertor de emergência. Hayley e Marcos seguiram de perto, seus passos apressados ecoando no asfalto enquanto acompanhavam a filha até a ambulância, a angústia estampada em cada linha de seus rostos. Chloe, Ruby e Owen, despertados abruptamente do sono, agarravam-se às pernas da mãe, seus rostos infantis carregados de confusão e medo, observando a ir
Os dias que se seguiram à internação de Lily foram marcados por uma rotina exaustiva de visitas ao hospital, conversas com médicos e a angústia constante pairando sobre a casa de Hayley e Marcos. Finalmente, a notícia tão esperada chegou: Lily estava forte o suficiente para voltar para casa.A pequena casa ganhou uma nova energia naquele dia. As gêmeas Ruby e Chloe, com seus pequenos passos apressados, ajudavam seu irmão mais novo, Owen, com seus três anos, a colar desenhos coloridos nas paredes. Marcos preparou o prato favorito de Lily, um macarrão com queijo cremoso, enquanto Hayley arrumava o quarto da filha mais velha com seus brinquedos e livros preferidos. Havia um clima de expectativa e alívio no ar, uma pausa bem-vinda na tensão dos últimos dias.Quando Lily chegou, um pouco pálida, mas com um sorriso tímido no rosto, foi recebida com abraços apertados e gritos de alegria de seus três irmãos. Sara e David também vieram dar as boas-vindas, trazendo um bolo decorado com estrelin
A cena fugaz de Hayley e David no hospital mal deixou uma marca na mente cansada de Marcos. Seu alívio com a melhora de Lily e a exaustão da noite passada obscureciam qualquer outra preocupação. Para ele, foi apenas um breve momento entre vizinhos, unidos pela apreensão em relação à saúde da filha. Nada ali despertou qualquer suspeita em relação a Hayley.De volta à rotina familiar, com o verão em seu auge e as crianças aproveitando os últimos suspiros das férias, Marcos retornou ao seu trabalho na delegacia. Casos pendentes, burocracia e a constante pressão para resolver crimes preenchiam seus dias. Para Hayley, suas frequentes noites "de trabalho" eram uma explicação plausível para o cansaço que ele carregava para casa, parte da rotina imprevisível de um policial.No entanto, sob a máscara do policial dedicado e do pai atencioso, fervilhava um anseio secreto, um desejo que o impelia para além dos limites da sua vida cotidiana e do juramento que fizera de manter a lei e a ordem. Aque
O calor indolente do verão e a despreocupação das férias escolares pareciam ter abraçado a atmosfera. Para Hayley, a rotina era uma dança exaustiva, mas alegre, com as crianças, interrompida por momentos de quietude reflexiva. Nesses instantes, a lembrança do beijo com Sara a assaltava, tingindo seus encontros com a amiga de uma nova intensidade e um embaraço silencioso.Em meio a essa turbulência interna, Hayley começou a notar sutilezas no comportamento de Marcos que antes passariam despercebidas. Suas noites "de trabalho", sempre apresentadas como extensas e necessárias devido a casos complexos que exigiam sigilo, pareciam ter adquirido uma nova intensidade. Ele chegava em casa cada vez mais tarde, o rosto marcado por um cansaço que ia além da exaustão física. Havia olheiras profundas sob seus olhos, e seus movimentos eram, por vezes, lentos e pesados, como se carregasse um fardo invisível.No entanto, em meio a esse cansaço extremo, havia momentos fugazes que não se encaixavam na