A manhã chegou com a luz suave do sol invadindo o quarto, mas a mente de Hayley ainda estava turva com as pequenas inquietações da noite anterior. A maneira evasiva com que Marcos respondeu sobre o hematoma, a insistência em deixar a pasta no carro, o cansaço profundo que parecia carregar algo mais… Fragmentos de suas interações da noite anterior dançavam em sua mente, como peças de um quebra-cabeças que ela não conseguia montar. Havia uma nota dissonante na rotina habitual de Marcos, uma sutileza em seu comportamento que a deixava com uma leve sensação de alerta, mesmo que não conseguisse identificar a causa exata de seu desconforto.Enquanto preparava o café da manhã para as crianças, seus pensamentos inevitavelmente se voltavam para Sara. A lembrança do beijo no hospital ainda carregava uma eletricidade sutil, uma conexão inesperada que a fazia questionar a natureza de sua amizade. E havia também a preocupação com Sara e David. A tensão entre eles parecia palpável, e Hayley não pod
Na manhã seguinte à exibição da operação policial na TV, um peso havia se levantado dos ombros de Hayley. A imagem, mesmo que distante, de Marcos envolvido na prisão do traficante dissipou as pequenas nuvens de dúvida que pairavam sobre suas noites de trabalho. Ela sentia um misto de orgulho e alívio.Assim que o café da manhã terminou e a energia das quatro crianças começava a se intensificar, Hayley pegou o celular. Discando o número de Marcos, esperou alguns toques antes que ele atendesse com a voz um pouco distante.— Amor, bom dia! Vi a reportagem ontem. Incrível o que vocês fizeram! Parabéns mesmo — disse Hayley, seu tom carregado de uma admiração genuína que ela realmente sentia naquele momento.Houve uma breve pausa do outro lado da linha. — Ah, bom dia, Hayley. Que bom que você viu. Foi um trabalho em equipe, sabe? Mas sim, foi importante. Estamos apertando o cerco, sinto que o principal está cada vez mais perto. Fico feliz que você tenha visto. Significa muito, saber que voc
O aroma frutado do vinho branco pairava na varanda, misturando-se ao perfume doce das glicínias. A primeira garrafa já estava quase vazia, e o tom de voz de Hayley e Sara havia se tornado mais baixo e íntimo, pontuado por risos ocasionais e suspiros carregados de emoção.— Sabe, Hayley — começou Sara, a voz um pouco pastosa, enquanto girava preguiçosamente a taça entre os dedos —, às vezes eu sinto que estou enlouquecendo. Cada toque no celular dele, cada vez que ele se atrasa… minha cabeça cria cenários horríveis.— Eu imagino, Sara. Não deve ser fácil essa incerteza — respondeu Hayley, a mão pousada sobre a da amiga em um gesto de apoio. O calor do sol da tarde e o vinho suave criavam uma atmosfera de lânguida cumplicidade.— E a pior parte — continuou Sara, os olhos marejados — é que eu o amo tanto. Mesmo com toda essa dúvida, o amor ainda está aqui, latejando… É confuso, sabe?Hayley apertou sua mão. — Eu sei que sim. Relacionamentos são complicados… A gente deposita tanta coisa n
A porta do banheiro se fechou com um clique suave, selando-as em um universo particular onde a única lei era o desejo e a única linguagem, o toque lascivo. Os corpos, antes hesitantes, agora se buscavam com uma urgência voraz, despidos não apenas de roupas, mas de qualquer resquício de timidez ou culpa.Os lábios se encontraram com uma possessividade crescente, um selo úmido e quente que acendia um incêndio em cada nervo. As línguas dançavam sem pudor, explorando cada recesso da boca uma da outra, um prenúncio do deleite mais profundo que ansiavam compartilhar. As mãos percorriam a pele nua com uma liberdade selvagem, memorizando cada curva, cada elevação, cada textura macia.Hayley se ajoelhou, a boca faminta encontrando o ventre liso de Sara. Beijos molhados desceram em espiral, cada sucção e mordida suave enviando ondas de choque erótico por todo o corpo de Sara, que arqueava as costas, soltando gemidos roucos e incontroláveis. Os dedos de Sara se enredaram nos cabelos de Hayley, g
O sol da manhã invadiu o quarto, lançando raios dourados sobre o lado vazio da cama. Hayley despertou com uma sensação estranha, um vazio que ia além da ausência física de Marcos. Era um eco silencioso da noite anterior, um turbilhão de sensações e emoções que a deixavam desorientada. A lembrança do toque de Sara, o calor de seus corpos entrelaçados, o gosto proibido de seus lábios… tudo retornava com uma intensidade perturbadora, misturando-se à culpa lancinante que agora a consumia.Ela se levantou, o corpo ainda carregando a memória física da intimidade com Sara, uma traição silenciosa ao homem com quem dividia a vida. Marcos. A imagem de seu rosto cansado, de sua dedicação como policial, contrastava dolorosamente com o prazer inegável que ela encontrara nos braços de outra mulher. Como pudera? O que havia acontecido com ela?A confusão era uma névoa densa em sua mente. A atração por Sara sempre estivera ali, uma corrente subterrânea em sua amizade, mas nunca imaginou que pudesse s
A lembrança da noite com Hayley ainda a percorria como uma febre branda. Não era uma simples memória, era quase uma vertigem suave. Cada toque, cada olhar trocado, o gosto inédito dos beijos... tudo a invadia com uma força delicada, como se um jardim secreto tivesse desabrochado em seu íntimo. E, paradoxalmente, aquilo a perturbava.Era desvio? Era um sopro de liberdade? Ou apenas um refúgio efêmero? A pergunta girava em sua mente como um carrossel hesitante, sem entregar uma resposta clara. Por que aquela conexão tão recente, tão inesperada a fazia sentir-se mais vista, mais compreendida, do que em anos ao lado de David? A intimidade com Hayley transcendeu o físico, foi um silêncio cúmplice, um acolhimento há muito ansiado. Nos braços da amiga, Sara não precisou erguer escudos, nem abafar suas dúvidas. Pôde ser vulnerável. Pôde ser, enfim, ela mesma.Mas David... O nome ainda pairava em sua alma como uma sombra fria. Mesmo ali, envolta na aura daquela outra mulher, era a imagem do ma
A obsessão de Marcos por Riveira era uma cicatriz antiga em sua alma, inflamada a cada nova pista, a cada rumor que o trazia de volta à superfície. Era como se uma parte de sua mente jamais houvesse deixado aquele momento inicial de perda e frustração, presa em um ciclo de reviver, revisar, reinterpretar cada detalhe do passado. Por nove longos anos, Riveira fora uma sombra escorregadia, um mestre do disfarce que parecia evaporar no ar a cada vez que a justiça se aproximava. Como um ilusionista cruel, ele deixava pistas falsas, nomes trocados, documentos forjados, e desaparecia sem deixar rastros sólidos. Mudava de identidade como de roupa, saltava de país como um fantasma, deixando para trás um rastro de destruição e impunidade, cada nova vítima parecia gritar em silêncio por justiça através dos olhos de Marcos.Marcos e sua equipe haviam perseguido inúmeras pontas soltas, desmantelado operações de traficantes de médio e grande porte, cada prisão os levando um degrau acima na hierarq
O cotidiano de Hayley havia se tornado um campo minado emocional, cada interação carregada de um peso que antes não existia. A rotina com as crianças e Marcos seguia seu curso, mas por baixo da superfície, um turbilhão de sentimentos conflitantes a consumia. A intimidade compartilhada com Sara deixara uma marca indelével, uma faísca proibida que teimava em brilhar em meio à normalidade de seu casamento.Era nos pequenos gestos ,os beijos rápidos pela manhã, o cuidado com o café das crianças, os jantares preparados em silêncio que Hayley sentia a fragilidade de seu mundo. Havia uma dissonância constante entre o que fazia e o que sentia, como se habitasse um papel que já não lhe servia, mas que continuava a vestir por obrigação. O esforço para manter a casa funcionando era quase automático, mas por dentro, ela se via cada vez mais desconectada da mulher que um dia fora.Olhar para Marcos agora era um exercício de ambiguidade. Havia o amor e a familiaridade de anos construídos juntos, a