AiyraEnvolvo meus braços nos próprios ombros, sentindo-me sozinha desde muito tempo. Já faz algumas horas que Isobell saiu e desde então eu fico dividida entre o medo e a esperança. Isobell me prometeu que cuidaria para que eu saísse daqui e pensando de forma franca, ela tem mais chances disso lá fora do que presa aqui comigo, mas uma sensação ruim teima em permear meu peito. Estou tentando dizer a mim mesma que é só medo, mas no fundo eu sei que é como um pressentimento. E se esse Heiko fizer algo muito ruim a Isobell? E se eu nunca mais a ver? E se eu não ver mais ninguém.A porta se abre e uma luz vem junto com ela. Afasto minhas pernas e me firmo minha base no chão, o medo fazendo-me respirar ofegante. A figura grande de Farrey entra, seus olhos se iluminando quando se cravam em mim.— Finalmente aquela coisinha abusada saiu daqui. — Ele me diz, a poucos centímetros de mim. — Me deixe ir Farrey. Que serventia eu terei como eu estou? — Abro meus braços, mantendo meu tom neutro.
LiveAs batidas na porta soam como pequenos ecos ao longe. As ignoro como tenho feito nas últimas duas horas. Vangory tem tentado me tirar desse quarto a um longo tempo. O que ela não entende é que eu simplesmente não posso sair daqui e encarar os fatos cruéis que eles insistem em querer me fazer acreditar.A tela do meu celular quase se apaga e eu toco novamente nela, reacendendo a imagem gravada ali. Na foto Dakota está no meio de nós, seu sorriso despontando espontâneo após eu lhe contar uma pequena piada sobre estarmos tendo um dia de meninas. Passo para a próxima foto, o olhar dela encontrando o meu nessa. Um barulho estranho sai de meus lábios, uma mistura de choro e grito enraivecido. Ela sempre me olhava daquele jeito, como se me entendesse. Desde que nos conhecemos foi assim, era como se estivéssemos longes uma da outra por muito tempo, mas que por fim reencontramos uma à outra.“Eu tinha apenas oito anos e acabara de voltar do hospital pela quarta vez no mês. Eu olhava na p
AiyraCinco meses depoisArrumo as roupas pequenas pelas cores e tamanhos. Essa foi a última remessa de roupas que Isobell me enviou. Agora já faz quase uma semana que não a vejo e começo a ficar preocupada. Ela não me conta o que fica fazendo quando sai por dias assim, mas imagino que não devam ser coisas boas. Olho para as roupas organizadas e uma melancolia sem limites vai me dominando. Como eu gostaria de estar tendo esse momento com Ethan ou com Live resmungando em meu ouvido. Ver seus rostos meses atrás, em meu suposto velório foi quase demais para suportar. Eu quase desfiz meu acordo com Heiko só para lhes dizer que eu estava bem, mas eu não podia fazer isso. Além de pôr a vida dos meus filhos em risco eu ainda teria que expor a todos de quem gosto a loucura de Farrey. Sinto a falta deles todos os dias... é quase como uma ferida aberta que nunca cicatriza. A minha recuperação do ferimento que Farrey fez, adiou a nossa partida do país por um longo tempo, então Heiko provide
AiyraTrês anos depoisMeus saltos fazem um clique persistente ressoar pelo piso liso abaixo de mim. Ouço pelo hall a batida suave da música que permeia a mansão de Heiko e me preparo para fazer o que combinamos. Sinto meus cabelos baterem nas minhas costas nuas, o vestido ousado que escolhi descendo por minhas curvas de forma agradável. A cerca de um ano após o nascimento dos gêmeos, eu fiquei muito insegura com meu peso e por mais que Isobell ou Heiko com seu jeito frio de me acalentar dizendo que eu estava bonita, eu simplesmente não acreditava. Como um meio para me desestressar e também de perder peso voltei a correr, coisa que eu não fazia a muitos anos. Perdi poucos quilos, pois afinal eu estava mesmo sendo paranoica, mas consegui afugentar os pesadelos constantes em minhas noites.Perto da porta da entrada, eu respiro fundo, puxando o máximo de ar que consigo e soltando com força. Levanto minha cabeça e com expressão de indiferença eu entro.O grande salão de Heiko está com u
AiyraPestanejo, o sono ainda me embalando em um bocejo. Ontem eu tive um trabalho difícil para dormir, a compreensão de que quase me rendi ao desejo por outro homem me fazendo girar na cama por um longo tempo. Talvez fosse o fato de que Kiler me lembre ao Ethan em alguns aspectos. Talvez seja só meu corpo querendo ter contato humano. Eu sempre fui uma mulher que atendi aos meus desejos e esse tempo de celibato, com toda certeza tem se mostrado um grande desafio.Não que Ethan esteja fazendo o mesmo...Levo a mão ao rosto, massageando as têmporas e controlando o meu ciúme. Há cerca de dois anos atrás eu comecei a seguir Ethan nas redes sociais com uma conta falsa e também leio toda e qualquer notícia relacionada a ele na mídia. É como um modo lento e dolorido de me torturar.Meu lado racional sabe que Ethan tem todo o direito de estar voltando a sair e ter relações com outras mulheres.Mas porra.... tinham que ser tantas?As notícias não param de anunciar um novo caso, uma nova foto
AiyraSentada em frente a mesa de Heiko eu tento manter a minha expressão neutra. Sinto o olhar de Kiler em mim em alguns momentos, mas evito o encarar ao máximo. Depois de Yana me envergonhar em níveis absurdos, Isobell levou as crianças para uma sala que ela diz ter sido preparada só para elas. Preocupada, eu ainda recusei, pois sei como Yana pode ser escorregadia quando quer, mas Isobell garantiu que alguém as olharia o tempo todo. Nós três agora esperamos ela voltar, os olhos verdes de Heiko acompanhando algo na tela do seu notebook. Seus cabelos brancos hoje estão presos no alto da cabeça, o terno largado sob a cadeira e a roupa social delineando bem os músculos dos braços. Heiko com toda certeza é um homem lindo, mas por algum motivo é o olhar de Kiler ao meu lado que me faz ficar inquieta. Por Deus... Yana o achou parecido com Ethan.... Seria por isso então que eu fico tão estranha ao lado dele?Eu nem sabia que Yana já tinha me visto encarando as fotos de Ethan. Pensei que
Ethan As luzes jogam diversos fleches em direções controversas, meus olhos entorpecidos demorando a segui-las, meu corpo dividido entre o prazer e uma indiferença resistente a tudo. Eu a tento fazer se dissipar a quase três anos. Eu posso me entupir com qualquer entorpecente que for, posso transar até meu corpo cair de exaustão, brigar até a raiva me dominar, mas nada faz esse desinteresse parar de me cobrir. É como se eu tivesse ido junto a ela. Retraio os pensamentos que sei que se seguiram e retiro a boca experiente da mulher ajoelhada entre as minhas pernas, do meu pau. — Desculpe querida, mas acho que preciso ir. — Digo, fechando o zíper da minha calça.A mulher com os cabelos loiros e encaracolados sorri, a única parte do rosto exposta. Quando um amigo me indicou esse clube eu hesitei. Transar com mulheres mascaradas não é bem um fetiche para mim, mas decidi experimentar. Tem pouco mais de um ano que comecei a frequentar. Hoje, no entanto, minha cabeça dispersa não me permit
AiyraEle está aqui.A respiração trava imediatamente em minha garganta e conto uma, duas, três vezes, antes de desviar o olhar e sorrir para o homem a minha frente. Enquanto o meu alvo balbucia com a voz enrolada sobre ter reservado um quarto, eu o puxo para um canto mais afastado, meu sorriso sedutor em nada denunciando as batidas inconstantes do meu coração. Era realmente ele. Lindo e parecendo triste.O rosto parecia mais magro, os cabelos mais curtos, mas os olhos... eram os mesmos. Ethan não fumava e eu conheço bem aquela expressão enevoada, pois já a vi muitas vezes no rosto de meu pai. Ele estava além de bêbado. Porra... e ainda assim a minha vontade era tirar aquele cigarro da sua boca e o beijar como se eu nunca tivesse partido.Desvio o olhar para a pista de dança e vejo que ele não está mais lá. Certo Aiyra... acorde! Passo as mãos no peitoral firme do homem a minha frente e o mesmo se aproxima, o rosto com traços angulosos e boca sensual perto demais para o meu gosto.