Aiyra— Ethan? — Chamo e ele nem pisca.Olho bem para seu rosto paralisado, a forma como todo seu corpo parece ter ido a um lugar distante.— Querido... devo chamar uma ambulância? — brinco, começando a achar graça do seu estado catatônico.— Eu...Você... — ele tenta articular, os olhos se desviando do meu rosto para meu ventre.— Isobell me explicou que existe caso de gravidez quando usamos antibióticos. O anticoncepcional deve ter falhado. — Explico devagar, sabendo como deve ser difícil para ele entender como foi para mim.— Aiyra... isso é ... — Ethan pausa a expressão estranha.Um aperto em meu peito espalha toda a insegurança que antes eu achei não existir. Até agora, eu não tinha cogitado a possibilidade de Ethan não estar preparado para ser pai.E se ele não quiser um filho? E se toda aquela minha suposição de que Ethan me apoiasse até o fim nisso for só uma ilusão? Cacete... eu vou perder meu chão.— Eu não mereço isso. — Ethan completa finalmente, a voz rachada.Olho surpres
AiyraO vento bate furioso por meu sobretudo e eu piloto por entre os carros com o máximo de cuidado que consigo. Hoje antes de sair de casa tive uma discussão acalorada com Ethan por causa de minha moto, mas me mantive firme e disse que só deixaria de pilotar quando a gravidez me impedisse de fato de subir na moto. Ele ficou muito contrariado, mas não deixei que ele ganhasse nessa, pois eu nunca poria meu filho ou filha em risco e Ethan deveria saber disso.Por fim, eu assegurei que teria o dobro de cuidado e ele teve que lidar com isso. Agora eu mato a saudade ainda acumulada dos dias que fiquei de cama. Quando a gravidez avançar sei que sentirei muitas saudades.A nossa consulta com o médico me fez rir pelos dias que se seguiram. Ethan fez tantas perguntas, que acho que mesmo o médico sendo um homem paciente, até ele ficou exasperado. Com o exame devidamente feito, o doutor nos deu a certeza que eu já contava nos dedos em casa: Minha gestação está para completar dois meses ainda. O
Aiyra Meu coração palpita no peito descontroladamente. Esse é meu primeiro ultrassom, de verdade. Nem Ethan e eu, sabemos de verdade a forma do nosso bebê ainda. Eu posso dizer com toda certeza que estou nervosa, mas Ethan, ele está enlouquecendo. Primeiro ele acordou muito mais cedo e o flagrei olhando pela vidraça, os pensamentos tão longes que fiquei com medo de o assustar. Eu entendo de verdade que ele está ansioso, mas temo que ele possa ter uma crise nervosa de tanto que ele pensa nisso. A cerca de um mês atrás eu o peguei pesquisando livros de como ser pai de primeira viagem. É fofo demais... só acho que se ele relaxasse mais, talvez ele não se sentisse tão pressionado a ser o melhor pai do mundo. Ethan sempre foi assim na verdade, tudo que ele se considera responsável, sua dedicação beira o insano. Eu já lhe disse que ele pode relaxar, mas é quase impossível o fazer pensar de forma racional quando começa com isso. Minha esperança é que ele relaxe um pouco depois que ver a
AiyraA escuridão vai competindo com a consciência, imagens confusas e dolorosas se misturando.“Você precisa acordar!” Ouço bem ao fundo, uma voz suplicante me pedir. Não consigo discernir muito bem a voz e isso me confunde.Eu estava com homens perigosos... Minha vida está em risco... Meus filhos!Meus olhos se abrem com rapidez, qualquer medo sendo substituído pela necessidade primal de preservar a vida que cresce em mim.Uma tonteira nauseante me domina e viro meu rosto, vomitando com força. Pouca coisa sai de meu estômago e pisco tentando enxergar na semiescuridão onde estou.Uma forma se agiganta a minha frente e recuo até bater as costas na parede as minhas costas, o grito paralisado em meio a minha garganta.— Sou eu, Dakota. — A voz ofegante de Isobell chega a mim.Pisco e depois estreito os olhos, conseguindo ver o rosto pálido dela, os lábios tão secos que chegam a estar rachados. Meus braços a envolvem, pois o medo que ela estivesse morta, junto a necessidade de ter um con
AiyraMinha mão se levanta em direção ao teto, em minha mente a imagem de Ethan podendo encontrar o meu toque. O ressoar baixo do sono de Isobell ao meu lado é o único barulho no quarto. Ouvi-la dormir se tornou quase um mantra nesses dias. Eu admiro muito essa habilidade dela de dormir mesmo estando emocionalmente ferrada. Segundo ela, qualquer momento de sono deve ser aproveitado. Eu já tentei, muitas vezes.Pelas minhas contas já estamos aqui a dois meses, talvez um pouco menos. Isobell já se recuperou de seu ferimento e espera ansiosa por qualquer movimento em falso deles. Em certas noites ela chegou a comentar que Heiko é um homem perigoso e que ela preferia morrer a ficar a mercê dele. Algo em sua expressão me assustou muito, pois conhecendo o que conheço dessa mulher, saber que existe alguém que a faz tremer nas bases é aterrador.O momento da entrega dela vem sendo adiado uma vez após a outra e isso me acalma um pouco. Só a ideia de me ver sozinha nesse pequeno cômodo me apavo
EthanO som do vidro se espatifando na parede é um pequeno alento em minha mente conturbada. Olho pelo apartamento vazio e pego outro copo já que quebrei o meu último. O líquido da cor da madeira se derrama em meu copo e viro a bebida de uma vez. Vejo de Relance Elvis correndo para o outro cômodo, provavelmente sentindo meu estado perturbado.Nada. Nada. Nada.Eu já fui as autoridades, a mídia e nada. Vejo a mídia mitigar a vida inteira de Dakota, conjecturando as coisas mais absurdas a principio e só pararam quando foi liberado as imagens das câmeras de segurança. Porra... aquela imagem dela sendo esbofeteada por um homem com o dobro do seu tamanho fica se repetindo em minha mente. Isobell caída e provavelmente morta. Eu devia a ter protegido. Eu prometi que ele não encostaria nela e o que consegui foi ver minha mulher carregando meus filhos ser levada.Já faz dois meses e eu não tenho uma sequer notícia delas. A cerca de uma semana atrás, o parceiro de Isobell, Klaus entrou em cont
IsobellObservo o corpo adormecido de Aiyra com meu peito se oprimindo de medo. Em breve Heiko virá atras de mim e não sei se poderei manter ela longe das mãos de Farrey por muito tempo. Independente do curso que eu siga as perspectivas não são muito animadoras. O que mais me destrói é a incerteza. Eu nem sei o que Heiko planeja para mim. Quando eu o vi pela primeira vez duas coisas me fizeram recuar. Primeiro foi a aparência: O homem parece ter sido feito para cada desejo pecaminoso. E o segundo motivo foi o seu olhar: Ele me dizia que teria o que queria, levasse o tempo que fosse. Estremeço só de me lembrar. Depois de passar mais da metade da minha vida me submetendo a vontade dos homens do clã, eu não queria ficar agarrada nas mãos daquele homem. Fugi como se o próprio demônio estivesse as minhas costas e nunca mais olhei para trás. Agora aqui estou eu, esperando docemente ser entregue de bandeja como uma oferenda. Aperto os dedos em minha palma, até as unhas perfurarem a carne.
AiyraEnvolvo meus braços nos próprios ombros, sentindo-me sozinha desde muito tempo. Já faz algumas horas que Isobell saiu e desde então eu fico dividida entre o medo e a esperança. Isobell me prometeu que cuidaria para que eu saísse daqui e pensando de forma franca, ela tem mais chances disso lá fora do que presa aqui comigo, mas uma sensação ruim teima em permear meu peito. Estou tentando dizer a mim mesma que é só medo, mas no fundo eu sei que é como um pressentimento. E se esse Heiko fizer algo muito ruim a Isobell? E se eu nunca mais a ver? E se eu não ver mais ninguém.A porta se abre e uma luz vem junto com ela. Afasto minhas pernas e me firmo minha base no chão, o medo fazendo-me respirar ofegante. A figura grande de Farrey entra, seus olhos se iluminando quando se cravam em mim.— Finalmente aquela coisinha abusada saiu daqui. — Ele me diz, a poucos centímetros de mim. — Me deixe ir Farrey. Que serventia eu terei como eu estou? — Abro meus braços, mantendo meu tom neutro.