Capítulo 1. Parte 2

Capítulo 1. Parte 2.

Jade narrando.

Agora.

Com meu coração apertado no peito, trazendo a sensação de que posso ter um ataque de pânico a qualquer momento, sigo sentada ao lado do Javier no carro grande, mas que parece apertado e pequeno demais para nós dois.

Depois de receber uma proposta que não podia recusar, voltei para casa, mas nem por um momento me enganei. Eu sabia que não seria fácil voltar para casa depois de tantos anos longe.

Eu me preparei mentalmente para o iminente reencontro com o homem que partiu o meu coração e me reduziu a nada muitos anos atrás. Todavia, não imaginei que o encontraria esperando-me na rodoviária.

Nem por um momento passou pela minha cabeça que o reencontro aconteceria tão rapidamente.

Eu havia planejado fugir da sua presença tanto quanto pudesse, no entanto, nem ao menos consegui respirar o ar puro da minha cidade natal sem a respiração do Javier no meu cangote no primeiro minuto.

No banco de trás, o meu menininho está em silêncio, apenas porque está distraído com a paisagem enquanto olha pela janela de boca aberta e praticamente sem piscar.

— Sabia que é falta de educação ignorar a pessoa que está te dando uma carona?

— Não fale comigo — peço.

Em outra situação, eu realmente pareceria estar sendo mal-educada e mal-agradecida com essa alma bondosa, mas apenas eu sei o que esse homem fez comigo e o que a sua rejeição causou ao meu coração.

Eu levei um tombo tão grande com ele que nunca mais consegui me recuperar.

Desde criança sabia que seria dessa forma e mesmo assim segui em frente com a minha obsessão com aquele que julgava que era meu melhor amigo, a pessoa que jamais me machucaria.

— Eu vou continuar tentando falar com você, Jade. Já se passaram tantos anos…

— Quem b**e esquece, já quem apanha…

— Frase clichê.

— Por favor, fique em silêncio. Não fale comigo e não olhe para mim. Além do mais, não fui eu que pedi para que você fosse até a rodoviária me buscar — digo, então olho pela janela.

A paisagem é linda. É nela que tenho que focar.

Tudo para não olhar em seu rosto. Na rodoviária tive que o encarar e todo o meu corpo tremeu, porque o homem simplesmente se tornou lindo de tirar o fôlego.

Contra a minha vontade, vi e ouvi algumas notícias a seu respeito nos tabloides de fofocas nos últimos anos, mas pessoalmente ele é muito mais bonito do que por foto.

— Como se chama o seu filho?

Meu filho…

O meu coração fica a ponto de sair pela garganta, mas não digo nada.

— Rodolfo. Meu nome é Rodolfo — o garotinho de quatro anos fala, porque ele aparentemente estava prestando atenção em algo que estava sendo dito por nós.

Meu menino é esperto demais para o seu próprio bem.

— Prazer em te conhecer, Rodolfo. Eu me chamo Javier.

— Você é muito simpático, Javier — o garoto fala e me deixa com o queixo no chão.

Aparentemente, a incapacidade de resistir a esse príncipe babaca passou de mãe para filho.

Era só o que faltava.

— Você também é muito simpático, garotinho. — Quando o encaro pelo canto de olho, percebo que o homem tem um sorriso no rosto.

Maldito!

Ele está muito enganado se pensa que no decorrer dos anos a mágoa que sentia dele diminuiu. Está equivocado se acredita que voltarei a ser sua amiga ou que me aproximarei da sua m*****a pessoa por livre e espontânea vontade.

Se voltei para a sua vida foi apenas porque não tive outra escolha. Se dependesse da minha vontade, esse homem nunca mais voltaria a colocar os olhos em cima de mim.

Estar perto dele faz com que eu me sinta ameaçada, então preciso fazer o meu melhor para manter-me fora do seu caminho.

Não é só o meu coração que preciso proteger. Também preciso proteger o segredo mais bem guardado que tenho.

Depois de vários minutos que pareceram uma hora, finalmente chegamos as terras do palácio.

Felizmente, o homem não tentou conversar comigo durante o resto da viagem.

Quando o príncipe Javier para o carro na frente da casa onde passei toda a minha infância, olho demoradamente para a fachada da pequena propriedade toda pintada de marrom e feita em madeira. Olhar faz com que eu sinta nostalgia e lembranças do passado me atingem com tudo.

Eu tive uma infância muito feliz aqui, não posso negar.

Desde que nasci, meu pai trabalha como secretário e às vezes motorista do rei Otávio. Como os seus funcionários têm direito a moradia, assim que foi contratado pelo rei o meu pai ganhou a casa que fica a alguns metros de distância do palácio.

Todos os funcionários mais antigos têm suas próprias moradias e olhar para a sua casinha faz com que eu sinta como se estivesse voltando para o meu verdadeiro lar depois de muitos anos longe.

Mas faz muito tempo que esse lugar deixou de ser o meu lar.

Eu não posso me sentir à vontade aqui.

Na verdade, preciso manter a minha guarda erguida.

Não posso esquecer de quem sou, nunca mais.

— Chegamos — Javier fala depois de um tempo, ao sair do carro e abrir o porta-malas para pegar as três malas grandes que trouxe para mim e meu filho.

Não será uma viagem curta, então tive que trazer todos os nossos pertences pessoais e fechar a casa onde eu morava de aluguel em outro país.

Enquanto Javier coloca as malas na porta da casa, Rodolfo fica parado e olhando avidamente de um lado para o outro, sei que ele está louco para correr pelo jardim.

O garoto é espevitado e parece que tem uma bateria que não acaba nunca.

O meu garotinho…

Por ele me mantive firme. Por ele não permiti que um coração partido me fizesse sucumbira a dor.

Por ele, segui em frente.

— É uma pena que o seu pai não esteja aqui para te receber — ele comenta.

Realmente é uma pena. Estou morrendo de saudade do senhor Nicolas.

Todavia, estou feliz com o fato de ele não estar em casa, porque o motivo é mais do que justo. Depois de mais de quinze anos sem tirar férias, por escolha sua é claro, finalmente meu pai viajou para descansar.

A sua saída de Solari coincidiu com a minha chegada, mas sei que ele deixou tudo preparado para a minha volta.

Meu querido pai.

Apesar de eu ter mais duas irmãs e as duas morarem fora de Solari, sinto que sou a filha que falhou com ele. Eu era a filha mais jovem, a que deveria ter passado mas tempo ao lado do papai. Mas fui a primeira a dar as costas para ele, porque cometi o erro de me apaixonar pelo homem errado.

— Vou ficar bem — digo, incapaz de encarar Javier Vargas.

Estou a alguns centímetros de distância dele parada ao lado do carro, mas a sensação é de que existe um oceano nos separando.

Faz muito tempo que nos perdemos um do outro.

Existem mágoas, dores e mentiras entre nós.

No fim das contas, não somos os mesmos que éramos quando tínhamos dez e onze anos de idade.

— Por que você não olha para mim?

Esse príncipe maldito não vai me deixar escapar desse reencontro com a minha dignidade intacta, vai?

Então respiro fundo, tranco a minha dor dentro de mim mesma e viro as costas para ele, em uma tentativa de entrar na casa e me proteger tanto física quanto emocionalmente da sua presença.

Voltar para casa se mostrou um erro maior do que imaginei que seria.

Todavia, antes que eu consiga dar dois passos, o homem agarra o meu braço com firmeza e me faz voltar em sua direção.

Agora o príncipe está segurando-me com firmeza e há apenas um centímetro separando o meu corpo do seu.

Consigo sentir o calor da sua respiração e a forma como olha para o meu rosto faz parecer que está procurando aquela garotinha que era obcecada por ele quando éramos crianças.

— Para o seu bem, sugiro que não volte a me tocar.

Tento puxar o meu braço, mas o homem segura-me com mais firmeza. Tenho certeza que estarei marcada amanhã pela manhã.

— Quer você queira ou não, estou na sua frente. E se voltou para casa, terá que aturar a minha presença.

— Não serei obrigada a aturar nada. Não atravessarei o seu caminho e sugiro que não atravesse o meu!

Estou completamente irritada.

É isso que esse homem faz comigo.

— Preciosa…

— Não me chame assim!

— Não sei se você esqueceu de mim tão completamente que não se lembra que não deve me desafiar, porque adoro um bom desafio e sempre venço. E quanto mais pedir para que eu fique longe, mais sentirei desejo de ficar perto de você.

Com a maior cara de pau, como se não tivesse me partido em duas muitos anos atrás, Javier abaixa a cabeça e enfia o nariz no meu pescoço.

O meu corpo inteiro reage com calor, mas quando a bile sobe pela minha garganta e sinto vontade de vomitar, reúno todas as minhas forças, coloco as mãos no seu peito e o empurro para longe de mim.

— Nunca mais volte a me tocar, porra! Eu odeio você! Te odeio tanto que estou doente…

— O que? Não fale assim, Jade.

— Filho, vamos entrar. A mamãe precisa te dar um banho.

Felizmente, meu garotinho obediente corre para dentro da casa sem protestar, mesmo sabendo que gostaria de ficar um pouco mais explorando o jardim das terras do palácio.

Para o meu azar, Rodolfo não entrou na casa sem antes mostrar um sorriso rasgado para o maldito príncipe babaca.

Por sua vez, ele jogou uma piscadinha para ele, que corou como um tonto. O menino realmente puxou a mãe.

— Jade…

Javier tenta me segurar novamente, mas simplesmente corro para dentro de casa e fecho a porta na sua cara.

Estou desrespeitando e desafiando um príncipe, mas realmente não me importo.

Vim novamente para Solari a trabalho. Voltei por necessidade e darei o meu melhor para não atravessar o caminho do Javier, embora ele pareça disposto a atravessar o meu.

Existe um segredo que ele não pode saber.

Há também o desejo desesperado de proteger o meu coração, porque não permitirei que esse homem me destrua novamente com seu sorriso fácil e palavras bonitas.

Não quando ainda não me recuperei por completo da última vez.

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