Karev
O silêncio foi a primeira coisa que notei quando despertei.
Dessa vez, a dor não era esmagadora. Meu corpo ainda estava exausto, mas não parecia que algo estava rasgando meu peito de dentro para fora.
Pisquei algumas vezes, ajustando minha visão à luz suave do quarto. O cheiro de Mallory ainda estava impregnado nos lençóis, um misto de lavanda e terra molhada que sempre me trazia um estranho senso de pertencimento.
Mas ela não estava ali.
Minha mão deslizou pelo colchão vazio ao meu lado, e um incômodo percorreu minha mente.
Ela saiu sem me acordar?
KarevO café da manhã na casa dos Reynolds foi um caos organizado.E, de certa forma, foi exatamente o que eu precisava.Ver a família de Mallory reunida, com crianças correndo de um lado para o outro, risadas ecoando e conversas se sobrepondo, me trouxe uma sensação estranha. Algo entre conforto e incerteza.Eu troquei minha família por isso.Por essa loucura.Por essa mulher ao meu lado, que me fazia sentir mais vivo do que qualquer outra coisa no mundo."Quer dar uma volta?" Mallory perguntou, puxando minha atenção de volta para ela.Hesitei por um instante, mas então assenti. Meu corpo ainda estava se recuperando, mas eu precisava testar meus limites.Precisava voltar a ser quem eu era.**Saímos da casa e seguimos para a área de treinamento, onde os guerreiros da alcateia costumavam praticar. O som dos socos contra os sacos de areia, os grunhidos de esforço e o cheiro de suor tomaram o ar assim que chegamos.Mallory me lançou um olhar atento."Preciso voltar a treinar." falei sol
MalloryA dor foi a primeira coisa que senti.Ela pulsava na lateral da minha cabeça, profunda e latejante, como se algo estivesse tentando partir meu crânio ao meio.Soltei um gemido fraco, levando a mão ao local do impacto. Meus dedos encontraram fios de cabelo grudados com sangue seco, e quando os afastei para olhar, as pontas estavam manchadas de vermelho escuro.Tentei respirar fundo, mas o ar estava denso, carregado de um cheiro metálico misturado ao mofo impregnado nas paredes.Eu precisava entender onde estava.Piscando contra a escuridão, forcei minha visão a se ajustar. A luz era quase inexistente, mas o suficiente para revelar paredes de concreto frio, sem janelas. O chão era de madeira antiga, desgastada e úmida.Nada naquele lugar parecia familiar.A inquietação se instalou na base da minha espinha, crescendo até se transformar em um peso sufocante no peito.E então, eu tentei senti-la.Minha loba.Mas nada veio.Meu coração disparou, batendo frenético contra as costelas.
KarevA floresta ao meu redor se tornava um borrão conforme eu avançava, meus músculos queimando com o esforço de correr sem direção, de caçar sem um cheiro, de procurar algo que parecia não existir. O chão úmido afundava sob minhas patas, galhos estalavam quando eu os quebrava no caminho, mas nada disso importava.A única coisa que importava era ela.Minha loba.Minha companheira.E eu não conseguia senti-la.O vazio onde deveria estar o vínculo entre nós era pior do que qualquer dor física, pior do que qualquer ferida aberta. Era um buraco negro me puxando para dentro, me sufocando, me matando aos poucos.Onde ela estava?Eu soltei um uivo furioso, desesperado, sentindo a angústia rasgar minha garganta como lâminas afiadas. Meu lobo estava cego de desespero, meu coração martelava forte demais, e a única coisa que conseguia pensar era…E se ela estiver morta?A ideia me atingiu como um golpe no peito, me fazendo tropeçar. Minhas patas falharam por um segundo, meu corpo oscilou, mas m
KarevO cheiro de sangue ainda impregnava minhas mãos.Era dela.Era o sangue de Mallory.Minha visão estava turva, minha mente um caos de pensamentos desconexos. O papel amassado da carta tremia entre meus dedos enquanto eu inalava fundo, tentando encontrar algo além da ferrugem do sangue seco.O coração martelava em um ritmo errático dentro do peito, a raiva fervendo sob minha pele como lava prestes a explodir.A cada segundo que passava, mais sangue ela perdia.Ela estava morrendo.E eu estava aqui, parado, ouvindo conselhos que não serviam para nada."Temos que ir agora!" Minha voz saiu em um rosnado, feroz, um som mais animal do que humano."Precisamos de um plano." Jordan rebateu, seu tom autoritário. "Sair correndo sem direção não vai—""Ela está sangrando! Eu preciso encontrá-la!" Gritei, meu corpo já tremendo.O desespero era sufocante.Minha visão escureceu por um instante, e quando voltei a focar, percebi que todos estavam me olhando. Eu estava respirando rápido demais, as
MalloryA dor não cessava.Ela vinha em ondas violentas, rasgando cada músculo, pulsando dentro de cada ferida aberta.Meu corpo já não era meu.Eu sentia o sangue quente escorrendo pelo chão frio, formando poças ao meu redor. O cheiro ferroso impregnava o ar, sufocante, nauseante. Meu peito subia e descia em arfadas curtas e irregulares, minha respiração um eco trêmulo dentro do quarto escuro.Eu sabia que estava morrendo.A cada segundo que passava, minha visão ficava mais turva. Meu corpo tremia involuntariamente. Meus dedos tentavam se fechar em punhos, mas já não havia força neles.Modrik estava apenas brincando.
KarevO mundo parou no instante em que a vi.Minha respiração falhou. Meu coração, que antes martelava com fúria dentro do peito, simplesmente parou.Mallory.Ela estava caída no chão de pedra fria, o corpo imóvel, envolto em um mar de sangue. Meu estômago revirou. Era sangue demais. Sangue dela.Minha visão se tingiu de vermelho.Um rosnadoo monstruoso rasgou minha garganta, reverberando pelas paredes do lugar como um trovão.Modrik se virou para mim, um sorriso distorcido em sua forma de lobo."Ah, finalmente." Sua voz carregava divertimen
KarevA ambulância partiu em disparada, levando com ela tudo o que ainda restava de mim.Minha visão ficou embaçada, e, por um momento, eu não conseguia ouvir nada além do barulho do motor se afastando. Minhas pernas vacilaram, meu peito queimava, e um nó apertado se formou na minha garganta.Ela estava lá dentro.E eu não sabia se ela ainda estava viva.O vento frio cortou minha pele, me trazendo de volta à realidade, me lembrando de que eu estava exposto, sem roupas, sem proteção, sem nada. Mas nada importava. Nada além dela.Alguém apareceu ao meu lado com um cobertor, tentando me cobrir, mas eu nem me mexi. Meu corpo inteiro parecia paralisado. Meu olhar estava preso na estrada vazia, no rastro de luz vermelha da ambulância que desaparecia no horizonte.Uma voz distante chamou meu nome."Karev!"Connor.Pisquei lentamente, tentando focar nele. Meu cérebro parecia funcionar em câmera lenta, os sons ao meu redor
KarevA tensão pesava em meus ombros. Todos os olhos da sala se voltaram para ela, e meu coração bateu tão forte que parecia que ia rasgar minhas costelas.Seu rosto estava fechado, difícil de ler, os olhos carregados de algo que eu não sabia nomear.Eu não conseguia respirar."Astoria..." Minha voz saiu quebrada.Ela me olhou, hesitante.E eu soube naquele instante.Soube que ela trazia notícias.Mas não sabia se eram boas ou ruins."Ela sobreviveu à cirurgia."O chão desapareceu sob meus pés.O mundo ficou em silêncio por um segundo, como se cada ruído tivesse sido sugado para um vazio imenso.Sobreviveu.Ela estava viva.Meu peito se expandiu, uma onda de alívio quente varreu meu corpo, quase me fazendo cair de joelhos.Mas então, Astoria continuou:"Mas o estado dela ainda é crítico."A realidade me atingiu como um soco.Minha respiração ficou presa. Meu lobo se agitou dentro de mim, inquieto, exigindo mais."Ela está sedada. Ainda não acordou.""Quando... quando ela vai acordar?"