Mallory
O clima na sala era pesado.
Assim que entrei, percebi que os únicos presentes eram os homens da minha família.
Connor foi o primeiro a me notar. Meu cunhado se levantou e puxou a cadeira ao seu lado, um gesto silencioso, mas que carregava uma sensação de pertencimento. Me sentei sem dizer nada, meus olhos percorrendo os rostos ao redor da mesa.
Jordan estava na cabeceira, sua expressão fechada e pensativa. Ao seu lado, Ragnar exalava autoridade, seus olhos sempre calculistas, sempre atentos. Gabriel estava sentado mais afastado, os ombros tensos, o olhar fixo na madeira polida da mesa como se tivesse mil pensamentos passando por sua mente.
Eu mal tinha pousado as mãos sob
KarevO peso dos olhares sobre mim era quase tão sufocante quanto a fraqueza que tomava meu corpo.Eu não deveria estar aqui.Eu sabia disso.Mas não conseguiria ficar deitado em um quarto qualquer enquanto essa reunião acontecia sem mim. Enquanto falavam do meu destino como se eu não tivesse direito de participar.O silêncio na sala foi cortante quando todos se viraram para mim.Mallory foi a primeira a se mover."Você é um idiota!" sua voz saiu em um sussurro exasperado enquanto corria até mim. "O que pensa que está fazendo aqui?""Não
KarevO silêncio foi a primeira coisa que notei quando despertei.Dessa vez, a dor não era esmagadora. Meu corpo ainda estava exausto, mas não parecia que algo estava rasgando meu peito de dentro para fora.Pisquei algumas vezes, ajustando minha visão à luz suave do quarto. O cheiro de Mallory ainda estava impregnado nos lençóis, um misto de lavanda e terra molhada que sempre me trazia um estranho senso de pertencimento.Mas ela não estava ali.Minha mão deslizou pelo colchão vazio ao meu lado, e um incômodo percorreu minha mente.Ela saiu sem me acordar?
KarevO café da manhã na casa dos Reynolds foi um caos organizado.E, de certa forma, foi exatamente o que eu precisava.Ver a família de Mallory reunida, com crianças correndo de um lado para o outro, risadas ecoando e conversas se sobrepondo, me trouxe uma sensação estranha. Algo entre conforto e incerteza.Eu troquei minha família por isso.Por essa loucura.Por essa mulher ao meu lado, que me fazia sentir mais vivo do que qualquer outra coisa no mundo."Quer dar uma volta?" Mallory perguntou, puxando minha atenção de volta para ela.Hesitei por um instante, mas então assenti. Meu corpo ainda estava se recuperando, mas eu precisava testar meus limites.Precisava voltar a ser quem eu era.**Saímos da casa e seguimos para a área de treinamento, onde os guerreiros da alcateia costumavam praticar. O som dos socos contra os sacos de areia, os grunhidos de esforço e o cheiro de suor tomaram o ar assim que chegamos.Mallory me lançou um olhar atento."Preciso voltar a treinar." falei sol
MalloryA dor foi a primeira coisa que senti.Ela pulsava na lateral da minha cabeça, profunda e latejante, como se algo estivesse tentando partir meu crânio ao meio.Soltei um gemido fraco, levando a mão ao local do impacto. Meus dedos encontraram fios de cabelo grudados com sangue seco, e quando os afastei para olhar, as pontas estavam manchadas de vermelho escuro.Tentei respirar fundo, mas o ar estava denso, carregado de um cheiro metálico misturado ao mofo impregnado nas paredes.Eu precisava entender onde estava.Piscando contra a escuridão, forcei minha visão a se ajustar. A luz era quase inexistente, mas o suficiente para revelar paredes de concreto frio, sem janelas. O chão era de madeira antiga, desgastada e úmida.Nada naquele lugar parecia familiar.A inquietação se instalou na base da minha espinha, crescendo até se transformar em um peso sufocante no peito.E então, eu tentei senti-la.Minha loba.Mas nada veio.Meu coração disparou, batendo frenético contra as costelas.
KarevA floresta ao meu redor se tornava um borrão conforme eu avançava, meus músculos queimando com o esforço de correr sem direção, de caçar sem um cheiro, de procurar algo que parecia não existir. O chão úmido afundava sob minhas patas, galhos estalavam quando eu os quebrava no caminho, mas nada disso importava.A única coisa que importava era ela.Minha loba.Minha companheira.E eu não conseguia senti-la.O vazio onde deveria estar o vínculo entre nós era pior do que qualquer dor física, pior do que qualquer ferida aberta. Era um buraco negro me puxando para dentro, me sufocando, me matando aos poucos.Onde ela estava?Eu soltei um uivo furioso, desesperado, sentindo a angústia rasgar minha garganta como lâminas afiadas. Meu lobo estava cego de desespero, meu coração martelava forte demais, e a única coisa que conseguia pensar era…E se ela estiver morta?A ideia me atingiu como um golpe no peito, me fazendo tropeçar. Minhas patas falharam por um segundo, meu corpo oscilou, mas m
KarevO cheiro de sangue ainda impregnava minhas mãos.Era dela.Era o sangue de Mallory.Minha visão estava turva, minha mente um caos de pensamentos desconexos. O papel amassado da carta tremia entre meus dedos enquanto eu inalava fundo, tentando encontrar algo além da ferrugem do sangue seco.O coração martelava em um ritmo errático dentro do peito, a raiva fervendo sob minha pele como lava prestes a explodir.A cada segundo que passava, mais sangue ela perdia.Ela estava morrendo.E eu estava aqui, parado, ouvindo conselhos que não serviam para nada."Temos que ir agora!" Minha voz saiu em um rosnado, feroz, um som mais animal do que humano."Precisamos de um plano." Jordan rebateu, seu tom autoritário. "Sair correndo sem direção não vai—""Ela está sangrando! Eu preciso encontrá-la!" Gritei, meu corpo já tremendo.O desespero era sufocante.Minha visão escureceu por um instante, e quando voltei a focar, percebi que todos estavam me olhando. Eu estava respirando rápido demais, as
MalloryA dor não cessava.Ela vinha em ondas violentas, rasgando cada músculo, pulsando dentro de cada ferida aberta.Meu corpo já não era meu.Eu sentia o sangue quente escorrendo pelo chão frio, formando poças ao meu redor. O cheiro ferroso impregnava o ar, sufocante, nauseante. Meu peito subia e descia em arfadas curtas e irregulares, minha respiração um eco trêmulo dentro do quarto escuro.Eu sabia que estava morrendo.A cada segundo que passava, minha visão ficava mais turva. Meu corpo tremia involuntariamente. Meus dedos tentavam se fechar em punhos, mas já não havia força neles.Modrik estava apenas brincando.
KarevO mundo parou no instante em que a vi.Minha respiração falhou. Meu coração, que antes martelava com fúria dentro do peito, simplesmente parou.Mallory.Ela estava caída no chão de pedra fria, o corpo imóvel, envolto em um mar de sangue. Meu estômago revirou. Era sangue demais. Sangue dela.Minha visão se tingiu de vermelho.Um rosnadoo monstruoso rasgou minha garganta, reverberando pelas paredes do lugar como um trovão.Modrik se virou para mim, um sorriso distorcido em sua forma de lobo."Ah, finalmente." Sua voz carregava divertimen