O delegado Lima já estava retirando o telefone do gancho quando foi interrompido por Bárbara, sua bela assistente que tocou-lhe o ombro e disse algo em seu ouvido.
– Ah! Peça-o para entrar! – Respondeu Pretórios, erguendo-se o quanto pôde na cadeira e fitando a porta, aberta pela mulher para permitir a entrada anunciada.
Uma figura grande e imponente se avolumou, pondo-se a adentrar a sala como uma montanha a cruzar o caminho até a mesa do delegado. O homem afro descendente escondia um corpo robusto sob o terno escuro enquanto revelava, sob uma barba aparada, uma expressão rígida quase esculpida em sua face bruta. Caminhou a passos firmes e, assim que terminou seu trajeto, estendeu a mão para cumprimentar Pretórios.
– Eu sou o agente Kron, nos falamos mais cedo. Vim estabelecer a jurisdição sobre a investigação da explosão do complexo educaci
Estava prestes a anoitecer quando, num esforço em conjunto, a equipe de busca conseguiu abrir caminho até o centro do complexo. Um bombeiro e um paramédico estavam prestes a entrar, sem saber o que esperar do local que havia se tornado um grande mistério. O que teria acontecido com o primeiro bombeiro a adentra? Que ameaças eles poderiam esperar? Uma série de dúvidas pairava enquanto um silêncio tácito e um ar de pesada tensão se formava ao que restava apenas uma leve barreira de terra a separar os homens do temeroso complexo à frente. Olharam-se, fizeram um sinal positivo e deram os últimos golpes na parede que cedeu, abrindo caminho e finalmente revelando o enorme salão relativamente preservado da explosão. Apesar do estado de alerta e da respiração ofegante, bem como das talhadeiras em punho prontas para qualquer ataque, o lugar parecia completamente calmo e vazio. Foi e
O antagonismo entre a luz e as trevas remonta a história humana. Por vezes a escuridão, rotulada como eterna vilã, fora rechaçada enquanto tateando pelas densas trevas, o homem buscava qualquer foco de luz para que repousasse em segurança. Mas existem formas reveladas pela luz que nos fazem almejar a ignorância da escuridão.Iluminada pela opaca luz noturna que adentrava a janela de seu quarto, Anarina acabara de ouvir de seu amigo a notícia de que alguém havia sido encontrado entre os escombros da escola. Antes que pudesse digerir aquela notícia, porém, percebeu a maçaneta da porta girar lentamente, fazendo o coração da garota saltar dentro do peito. Seus olhos passearam rapidamente pelo quarto, em busca de algo que pudesse protegê-la. Repousaram sobre uma ripa do armário jogada no canto, que rapidamente foi apanhada e posicionada entre suas mãos como um rebat
Choco olhou novamente com receio e encontrou seu pai dormindo, agora virado para o encosto do sofá, com a chave para o alto, enfiada em seu bolso. Com todo o cuidado, ajoelhado no carpete, o garoto pinçou o chaveiro com os dedos e puxou lentamente até que o objeto inteiro pudesse ser agarrado. Assim que se apoderou do chaveiro ergueu-se, caminhando na ponta dos pés até a porta do quarto escuro, que ficava no corredor bem de frente para a sala. Enfiou a chave com cuidado e girou o tambor, fazendo o quarto destrancar. Porém, antes mesmo de abrir a maçaneta, ouviu as fortes e ininterruptas batidas na porta da sala. Novamente o coração disparou e o sangue gelou, principalmente quando viu seu pai erguer-se do sofá e olhar para a porta, de costas para onde Choco estava. O garoto tinha então duas alternativas: entrar para o quarto escuro e certamente ser pego, ou correr para o próprio quarto, escapand
Do outro lado da pequena cidade, Anarina estava parada na calçada, em frente à bela casa de Barbara Delfim. A casa de dois andares era feita de madeira e, bem à frente, um lindo jardim florido adornava a vista. A garota abriu a portinhola e, atravessando o corredor de pedras margeado pela grama, subiu os três degraus até ficar bem de frente para a porta. Respirou fundo e bateu três vezes, até que ouviu-a ser destrancada e aberta. Bárbara a encarou cerrando os olhos, com uma expressão de desaprovação. A mulher na flor de seus quarenta anos ostentava uma boa forma física. Poucas rugas se evidenciavam no canto dos seus olhos castanhos e graúdos. Os cabelos longos de franjas compridas que quase ocultavam suas sobrancelhas oblíquas, eram negros e lisos. Fechou o roupão branco e fez um gesto para que a menina entrasse:– A senhorita me deixou preocupada! – Tentou for&c
– Ai, meu Deus! São eles! Os alienígenas chegaram! – A voz de Choco ressoava alto enquanto o garoto gritava, segurando e sacudindo com força o primeiro braço que encontrou a tatear.– Se acalma Choco! – Reclamou Filipe tentando, sem sucesso, se soltar do garoto.– Calma gente! Foi só um apagão – Anarina manteve a voz serena, por mais que seu coração estivesse acelerado. – Com certeza a luz vai...Ela terminava a frase quando, bem diante deles, uma fresta de luz surgiu, iluminando um rosto enrugado e pálido.– AAAAHHHHHHH!!! É uma alien! – O grito fino de Choco foi acompanhado pelo dos garotos, que não contiveram o enorme susto, fazendo a bibliotecária também se assustar e apagar acidentalmente a lanterna em sua mão, que quase deixou cair.– O que é isso, meu deus do céu! –
Não há reparo quando se quebra um espelho. O reunir das partes, ainda que sejam as mesmas, não as remontará ao que um dia foi. O espelho não existe mais. São apenas partes de um mero reflexo imperfeito. Somos seres de porcelana. Apostamos em nossos valores e esquecemo-nos da nossa fragilidade. É só quando caímos que nos damos conta do que um dia realmente fomos. E do que restou da nossa pretensa glória fugaz: Fragmentos. Apenas fragmentos.O sol da manhã escondia-se tímido entre as muitas nuvens cinzas que cruzavam morosas o céu azul, agrupando-se numa cortina que escurecia o mundo abaixo, anunciando uma iminente chuva. Alheia ao teatro celeste, a equipe de busca prosseguia incansável sua urgente tarefa de encontrar as vítimas sob a pilha de escombros que um dia fora um respeitável prédio escolar. Já era o segundo dia de buscas e cada hora a mais reduz
As gotas de chuva investiam contra a superfície vítrea da janela da delegacia, escorrendo em seguida até morrer no aparador de mármore. Do outro lado da janela, observando ao longe através da chuva com seu olhar intenso e desafiador, o agente Kron permanecia imóvel como um sentinela a postos. Indiferente à pequena balbúrdia causada por alguma comemoração qualquer entre os funcionários da delegacia atrás de si, foi um aviso de um policial que acabara de chegar que chamou sua atenção, fazendo-o sair de seu transe e virar-se para o mencionado policial que detinha a atenção de todos ali:– Encontraram a garota no meio dos escombros da escola. Graças a Deus ela estava com vida. Eles a estão socorrendo agora para levarem-na ao hospital.A notícia foi mais um motivo para todos ali voltarem à comemoração, entre comes e
A chuva já havia passado quando Filipe cruzou o caminho até o outro lado da cidade, na zona sul. A mansão do governador, também chamada por ele de “casa”, era enorme e suntuosa. Dois enormes portões de ferro guardavam um extenso jardim com um caminho de pedras, por onde passavam os visitantes e residentes. Um doberman bem treinado recebeu o garoto com bastante entusiasmo. Filipe guardou a bicicleta na garagem e acessou a entrada lateral, cruzando a copa e alguns cômodos até chegar até a escada que dava acesso aos dormitórios superiores. Eram duas escadas em lados opostos do grande salão de estar, com tapetes vermelhos ao meio que, em curva, levavam até o hall superior. De lá o garoto seguiu pelo corredor, cumprimentando o velho mordomo que caminhava para algum afazer. Passou pelo escritório superior do seu pai, um quarto que o Valadares usava como seu ambiente de trabalho. E l&aacut