Os três saíram do hotel, conversando animadamente. Bruno falava sorridente e, para surpresa de Vincenzo, ele era o único que conseguia falar como um tagarela e não irritar Leonardo — algo que raramente acontecia, pois o rapaz nunca teve paciência para ouvir ninguém.—Ainda bem que você não mora na Itália, — comentou Vincenzo de repente, fazendo Bruno parar de falar e olhar para ele com curiosidade.—Por que diz isso? O que fiz de errado?—perguntou Bruno, um pouco frustrado e se perguntando por que o homem que acabara de conhecer já parecia não suportá-lo.Notando o desconforto de Bruno, Vincenzo sorriu e disse: —Tire essa cara de confusão, rapaz. Digo isso pelo seu bem. Se você morasse na Itália, seria um alvo fácil. Parece que você é a fraqueza do Leonardo.Leonardo lançou um olhar fulminante para o tio. —Acho que essas vinte horas sem mulher te deixaram louco, tio! Ou você está cortejando a morte? O que houve? Está cansado de viver para falar uma merda dessas?—Deixa pra lá,—respond
Ela não parou de falar, suas mágoas fluindo como um rio descontrolado, refletindo a dor que carregava há tanto tempo.— Até a comida para mim é negada — desabafou, a voz embargada. — Só posso comer pouco, uma vez por dia. Vivo em péssimas condições... Minha recompensa é dormir no quarto da despensa fria, sobre um colchão rasgado. Sem lençol quente, apenas trapos velhos.Os olhos de Leonardo se arregalaram ao ouvir aquilo. Ele sentia um nó se formando em sua garganta enquanto ela continuava.— Todos os dias me levanto bem cedinho, e a luta começa... Faço café, almoço e janta, limpo a casa. E minha mãe sempre reclama! Quanto mais me esforço para fazer tudo direito, mais ela procura defeitos em mim. Me xinga e me põe de castigo! Depois do almoço eu lavo os pratos... Meu padrasto me odeia e não vale nada! Ele é um homem sem coração vive batendo em mim com a permissão da minha mãe!A cada palavra dela, Leonardo sentia uma raiva absurda crescendo dentro dele. Como alguém poderia ser tão cru
Leonardo saiu de dentro do carro angustiado. Ele correu até o banco da praça, olhando para todos os lados, mas não havia sinal da jovem. A ansiedade o consumia.Ele ligou para Vincenzo, mas ele não atendeu. Então, discou para Bruno.— Olá, Leonardo! Agora se lembrou que eu existo? Poxa, falei com você e parecia que você não estava nesse mundo!— Onde você está? — perguntou Leonardo, impaciente.— Vim comprar uns salgados para você experimentar! Já estou indo, já estou no caixa.— Certo, Bruno, venha logo! Preciso ir a um lugar agora. Descobri algo muito importante e preciso resolver essa questão com urgência.Assim que Bruno chegou, suas mãos estavam cheias de vários tipos de salgados e alguns doces. Ele entregou tudo a Leonardo, mas este não parecia estar com fome.As lembranças das palavras daquela jovem ainda ecoavam em sua mente: "Meu padrasto e minha mãe não me deixam comer; tenho que comer pouquinho uma vez por dia." A tristeza apertou seu coração ao pensar como alguém poderia m
Chegando em um determinado local, Leonardo falou para Bruno: — Vamos parar aqui, onde ninguém nos vê. Precisamos trocar a placa do carro, como fizemos antes. Só que desta vez, vamos usar placas conhecidas e que seja daqui. Vamos colocar a placa do maior traficante dessa favela. — É sério que você vai usar a placa de um grande traficante? E se ele descobrir e tentar te destruir? — perguntou Bruno, nervoso. — Calma, meu amigo — respondeu Leonardo. — Tudo que eu faço é pensando estrategicamente. Não é à toa que sou conselheiro da máfia italiana. De alguma forma, ele me deve algo; afinal, o carregamento de armas que ia parar no meu depósito foi parar nas mãos desse traficante. Então, ele se tornou meu inimigo de alguma forma. — E o que você vai fazer?— perguntou Bruno — Vou destruir o armazém com todas as armas que estão lá dentro juntos com os traficantes. Só vou permitir que o idiota do Guido fuja, para que ele ache que escapou da situação. A explosão vai mostrar a placa do carro p
Leonardo usou o alto-falante mais uma vez: —Chega de brincadeira. Avisei a vocês que eu não queria confusão. Eu apenas vim aqui atrás daquilo que é meu, mas vocês encontraram um grande inimigo pela frente. Não sou homem de perdoar.Estou aqui porque fui traído pelo meu soldado Guido. Meus armamentos, em vez de chegarem ao meu armazém, vieram direto para cá. Deem uma chance de se redimirem e entreguem o traidor. Eu não vou desistir, não é por dinheiro, mas por honra e vingança. Esse homem que vocês estão protegendo matou o próprio irmão por dinheiro, porque o irmão jamais iria me trair. Mas vocês acham que vale a pena morrer por ele? Então é isso que vai acontecer.Meninos, chega de brincadeiras. Atirem em todos para matar. Não quero ver nenhum vivo pela audácia de me enfrentar. Apenas livrem as mulheres e as crianças, o resto eu quero todos mortos,— disse Leonardo, sem mostrar misericórdia.Nessa hora, os soldados de Leonardo começaram a aparecer de onde estavam escondidos e começaram
Leonardo e Vincenzo voltaram para o hotel. Lá, Leonardo se comunicou com o quinteto e pediu que encontrassem a jovem, fornecendo todas as características dela. No entanto, estava difícil encontrá-la. Ele retornou à mesma praça e perguntou a todos que estavam lá, mas como não sabia o nome dela nem de que família era, ninguém deu informação. Ninguém sabia de nada, e ele ficou frustrado.Leonardo passou a noite inteira pensando naquele lindo olhar. Na noite seguinte, sonhou com a jovem vestida de branco, entrando na igreja enquanto ele a aguardava ansioso no altar. Acordou com o coração acelerado e o suor descendo sobre seu rosto. Era frustrante querer tanto uma pessoa e não conseguir encontrá-la. Ele estava desesperado, pois nunca havia sentido nada por ninguém, mas aquela jovem havia chamado sua atenção e mudado algo dentro dele.Ele queria desesperadamente encontrá-la, mas ainda havia um medo de ser rejeitado. Mesmo assim, não desistiria. Preparou-se para voltar para a Itália, mas seu
Na base, Leonardo entrou na sala dos hackers.—Oi, meninos, como vocês estão? Eu preciso da ajuda de vocês e gostaria de saber se podem ir ao Brasil comigo. Preciso encontrar uma pessoa, mas não tenho muita informação sobre ela.—É a jovem que você pediu ajuda para a gente? perguntou Shane.—Sim, sim, é ela.—Você gosta tanto assim dela?—continuou Shane.—A verdade é que eu não sei explicar o que sinto exatamente. Eu fecho os olhos e vejo ela. Sempre que vou comer, lembro das suas palavras sobre como é privada de comer pela família. Eles são terríveis com ela, não a deixam se alimentar direito, e ela só faz uma refeição por dia. Eu não consigo comer pensando nisso. Preciso encontrá-la. Não tenho certeza se ela vai querer ser minha esposa, mas eu tenho que encontrá-la e saber, mesmo que ela me rejeite. Só de pensar que ela, neste exato momento, poderia estar chorando...— Leonardo falou com os olhos marejados de lágrimas, sentindo a dor da jovem.—Ai meu Deus você está apaixonado,— diss
Era uma manhã ensolarada, mas Mirella estava com o coração amargurado e cheio de tristeza. Além de fazer tudo dentro de casa para sua mãe e seu padrasto, estava sendo privada até de levar sua irmãzinha na escola. Ela amava Naira demais, mas, infelizmente, como castigo por ter conversado com um desconhecido e mostrado interesse, Benício estava com tanta raiva que permitia ver sua filha chorar só para castigar Mirella. A paixão reprimida de Benício por ela estava matando-o por dentro. Em todos esses anos, ele tentou se aproximar de Mirella assim que ela começou a adolescência, com um desejo impossível dentro dele de torná-la sua. Mas a menina nunca gostou do padrasto, mesmo porque, poucos dias após o falecimento de seu pai, ele se mudou para dentro de casa. Além disso, em todos os momentos, ele fazia com que ela chorasse, dizendo que ia tomar o lugar de Osmar, que ele estava morto e que nada poderia fazer. Até as roupas de Osmar ele usava de propósito, só para infernizar a vida da menin