O professor novo

Deslizei meus sapatos altos e caminhei em direção a sala de aula, colégio STAFFORD HAUSE é o mais caro da cidade, reconhecido pelos seus estatutos como o melhor colégio do país. Com meu curriculum impecável eu fui escolhida entre os demais candidatos. O salário é bem generoso e estou muito feliz em lecionar para crianças.

— Senhorita Torres, diretor Arnie solicita sua presença na sua sala, com urgência.

Disse senhorita Sandy, secretária do diretor Arnie me surpreendendo por seu chamado repetino. Encolhendo os ombros, eu segui os passos da senhorita Sandy até a ala diretiva que fica em outro edifício longe dos alunos.

— Bom dia senhor, solicitou minha presença?

Eu questionei depois que, Sandy fechou a porta atrás de si. Eu olhei para diretor Arnie, ele parece mais jovem detrás daquela cadeira diretiva. Entretanto há coisas que não fazem muito sentido. Ele não pertence à família Stafford diretamente. Como ele conseguiu um cargo diretivo? Todos sabem que não foi por mérito.

— Sim. Professora Torres.

Ele disse iniciando, continuando ele afirmou que:

— Professor da segunda série pediu transferência por alguns motivos particulares.

Notei seus dedos batendo na sua mesa, pelo desconforto da conversa sobre ele, percebi que a transferência foi muito turbulenta para ambas partes. 

— E a turma está sem um professor. Eu soube que a professora gosta de crianças, eu queria saber se está disponível para assumir a turma.

Concluiu.

— Quer que eu seja professora da segunda série?

Eu questionei mais uma vez surpresa pela oferta, é maravilhoso trabalhar com crianças dessa facha etária.

— Seu curriculum diz que é muito boa com crianças em fase de aprendizado.

Exato. 

No entanto, meu salário poderá sofrer algumas alterações significativas negativamente com essa mudança, docentes que lecionam 1ª série, 2ªsérie, ganham muito menos que as demais classes, não importa o histórico do seu curriculum, seu salário é de acordo com o contrato assinado, e não meu caso, meu salário é equivalente de um professor da 7ªsérie porque negociei assim, não aceitando receber menos do que eu valo no mercado.

— Meu salário sofrerá alterações?

Eu questionei.

— Não. Seu salário mantém.

Perfeito.

— Eu posso fazer isso, como fica a minha turma?

— Outra professora assumirá.   

Assenti.

— Minha secretária enviara documentos para assinar, e os pais dos alunos serão notificados.

Informou.

— É tudo?

Eu questionei.

— Sim professora.

Ele afirmou, dei um leve aceno antes de sair da sala diretiva. Depois da reorganização da minha agenda, desenhei um pequeno plano de apresentação, mudando completamente meu rumo, de quarta série para segunda é muita diferença, entretanto, tenho muita experiência com eles, nos meus primeiros anos como lecionando trabalhei apenas com crianças. Com isso, adquiri bastante experiência nas salas de aulas.

Entretanto, quando me mudei para essa cidade, pois eu morei por anos em Los Angeles, e me candidatei para vaga disponível naquela época, eu consegui uma turma de grandinhos, foi uma experiência incrível. Eu entendo porque muitos professores tem a preferência de trabalhar com uma turma de alunos de idade maior, é muito mais fácil lidar com eles pela facilidade das matérias. Entretanto, eu tenho uma preferência pelos pequenos, é um privilégio trabalhar com eles.  

A secretária do diretor, Sandy, entregou-me uma palmilha da turma na qual trabalharei com ela nos próximos meses, bom, há muita abertura para modificar e seguir com meu próprio calendário. 

Eu deslizei meus sapatos em direção ao outro compartimento da escola, a área dos mais novinhos, esse colégio é enorme, com uma entrada, porém com diversos estacionamentos entre os prédios, os mais novos estão separados dos mais velhos, e os finalistas. Há um campo enorme de futebol, uma piscina, campo de tênis, campo de basquetebol, ala de música está localizado no interior do prédio dos alunos mais velhos.

A cada prédio há um refeitório para os alunos e salas dos professores, há uma lanchonete para quem quer comprar seu almoço e não adquirir o da escola. Foi tudo pensado para os alunos ricos que frequenta essa escola, as mensalidades são muito elevadas. 

Suspirei aliviada quando alcancei o compartimento das crianças, há um detector de mental na entrada, como todas as outras entradas dos prédios. Saudei um guarda sentado ali, com uma arma na sua cintura e colete a prova de balas sobre seu peito.

Mostrei minha identificação e uma carta da direção, avisando-o sobre a minha transferência para essa ala, ele assinou reconhecendo e levou o documento para sua gaveta, abriu outra gaveta e me entregou um crachá personalizado desta ala. Entreguei-o o antigo crachá, depois de passar pelo scanner é que tive a autorização para entrar.

— Bom dia pequenos.

Eu disse entrando em uma turma completamente silenciosa, coloquei minha bolsa sobre a mesa e olhei para eles enquanto respondiam:

— Bom dia.

Eles responderam em sintonia.

— Bom dia pequenos, eu sou a vossa nova professora.

Peguei o marcador e escrevi meu nome no quadro.

— Bom dia Sra; Bernadette Torres.

Eles gritam meu nome.

— Muito bom, pronuncia correta, podem me chamar de senhorita Dette, que é uma abreviação do meu primeiro nome.

— Sim, senhorita Dette.

— Muito bom. Estamos em desvantagem, vocês me conhecem, mas eu não. Quem quer começar as apresentações?

Todos eles levantaram as mãozinhas.

— Eu tive uma ideia.

Abro minha pasta, peguei folhas A4, e passei, uma, por uma mesa entregando-os, quando terminei eu disse o seguinte:

— Nessas folhas, escrevam vossos nomes, o que vocês querem ser quando crescerem e família. Usem todas as cores que desejaram, quando terminarem, de forma ordeira, um por um colocará seu desejo na minha mesa, senhorita Dette é muito boa guardar rostos.

— Senhorita Dette, eu posso usar todas as cores?

O menino de óculos a minha direta questionou.

— Sim pequeno, quantas cores quiser.

Olhei para minha turma de 30 alunos, a sala parece muito grande para seus tamanhos pequenos e deslocados. Na minha mesa, eu tenho uma impressora, um volume de folhas em branco, uma pasta de notas, arquivos, conjunto de marcadores, lápis, borrachas e canetas. A minha trás, eu tenho um armário para colocar meus pertences, no fundo da sala, há uma mesa em formato de U, com muitas gavetas. Eu vou pensar como preencher aquele espaço. Tirei meu laptop da minha bolsa e liguei, enquanto ele processa, eu passei de mesa em mesa cuidadosamente para ver os desenhos.

— Você está indo muito bem.

Eu murmurei. Em cima da folha diz que ele é Thomas. Seus traços são muito bons, seus desenhos possuem toques especiais.

— Muito bom Thomas.

Eu disse passando por ele, me aproximei do próximo aluno, na sua folha está escrito João Miguel, seus traços são bem carregados.

— Segurei o lápis assim.

Eu disse ao João Miguel, riscando suavemente mostrando-o como traçar linhas.

— Muito bom, não é difícil.

Eu disse sutilmente a ele, olhei para algumas palavras.

— Coloque o N aqui. Perfeito.

Passei a mão na cabeça dele sutilmente.

— Muito bem, Beck.

Eu disse a menina dos cabelos ruivos, ela sorriu para me antes de continuar a desenhar.

— Por que não está desenhando?

Eu questionei para Jack.

— Eu não gosto de desenhar.

Respondeu Jack com o rosto enrugado.

— Podemos fazer juntos, senhorita Dette gosta de ver vossos desenhos, você sabia que os desenhos falam?

— Falam?

— Sim, quando estamos felizes os desenhos falam, quando estamos tristes os desenhos também falam, por isso que eu gosto de ver vossos desenhos. Para saber como estão.

— É difícil.

Ele reclamou.

— Não tenha pressa, desenhe o que vem em sua mente.

— Tudo?

— Sim, pequeno.

Eu disse.

Quando eles terminaram de desenhar, um por um colocaram seus desenhos na minha mesa. A minha primeira aula foi sobre a importância de uma família, os meninos colaboram animadamente e expressaram seus sentimentos fazendo flores de papel, eles pintaram as folhas o máximo que conseguiram e pintaram de acordo com seus sentimentos. 

Quando o toque de intervalo veio, autorizei a saída deles e me prontifiquei para acompanha-los até o refeitório para um lanche.

Com a pausa de quase 30 minutos, eu aproveitei para tomar café na sala dos professores.

— Eu sou professor Jack, você é a nova professora da turma 5.

Levantei a sobrancelha com a maneira estranha do professor Jack, abordar os outros, talvez seja seu jeito peculiar. Sorrindo, eu levantei o braço e estiquei a mão para ele.

— Muito prazer professor Jack, respondendo sua pergunta sim, meu nome é Dette.

Apresentei-me. Professor Jack entrelaçou nossas mãos.

— Muito prazer, como está indo com a nova turma?

Ele questionou retirando sua mão, olhei para seu aspecto frontal, Jack é um cara conquistador, ele sabe que é bonito e aproveita muito isso para se exibir na primeira oportunidade que tiver. Suas roupas engomadas, falam que é organizado ou tem alguém que arrume por ele.

Eu vou apostar na segunda, alguns homens bonitos, tem dificuldade em organizar tudo a sua volta, pois, sua prioridade é cuidar unicamente da sua aparência. Homens, limpos, são tímidos com as mulheres, entretanto, muito confiantes, são engraçados e com um ar inteligente.

— Muito bem, apenas achando eles muito silenciosos.

Ele riu.

— Geralmente as crianças são mais barulhentas.

Retifiquei.

— O antigo professor era bem rígido.

Ele murmurou.

— Entendo. Aceita café? 

— Sim, eu trouxe uns bolinhos, minha mãe veio me visitar e você imagina uma mãe visitando seu filho, ela cozinhou para um mês.

— Eu imagino.

Foi como avaliei. Ele não faria tudo sozinho.

Nós nos sentamos, ele dividiu comigo seus bolinhos de chuvas, por sinal muito gostosos, eu nem percebi o quanto estava com fome, Jack é daqueles professores faladores, ele é formado em história. Está na área das crianças.

— Vejo você no almoço?

— Claro, boa aula.

— Igualmente.

Ele acenou para mim, antes de direcionar para sua turma, nós continuamos onde paramos até o final do turno, eles saíram para almoçar, depois voltaram para pegar suas mochilas, a regra da escola é clara. Os professores devem levar os alunos até a saída e monitorar se eles entraram no ônibus escolar ou se os familiares vieram leva-los.

Com tantos alunos, impossível a supervisora cuidar deles sozinha.

— Até amanhã, senhorita Dette.

Se despediu João Miguel, ele entrou no ônibus escolar.

— Até amanhã meninos.

Eu disse acenando para eles.

— Boa tarde, eu sou a mãe da Frannie, você é a nova professora.

Sorri para ela, Frannie é aluna loira que senta na primeira fila no meu lado direito.

— Boa tarde, senhorita, sim, Bernadette Torres.

Apresentei-me.

— Muito prazer conhece-la.

— Tchau senhorita Dette.

— Tchau princesa.

Eu disse me despedindo da última aluna.

— Terminou sua turma rápido.

Professor Jack, com seus modos.

— Meu dia de sorte, vou pegar meu carro, está no outro estacionamento.

Eu disse me despedindo dele.

— Bom até amanhã.

Ele respondeu.

— Até Jack, obrigada pelos bolinhos, estavam deliciosos.

— Estou feliz que tenha gostado.

Caminhei até o meu carro, destranquei as portas e entrei. Quando cheguei em casa, joguei meus sapatos altos na sala e fui tomar banho, depois de preparar meu jantar eu me sentei no chão da sala e organizei meu programa de aula de amanhã. Peguei o deck com o intuito de revisar os desenhos, quando me lembrei que a sala estava muito vazia, fria para crianças.

Vesti um vestido fresco e sai do apartamento rumo ao supermercado.

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