Quando cheguei em casa, fui para a cozinha beber um copo de água, estava sentindo algo estranho, um sentimento de tristeza e desapontamento, como se alguém tivesse me magoado profundamente.
Mas não podia me deixar abalar, Amália não era ninguém para ter o poder sobre meus sentimentos, suas palavras não poderiam ter efeito algum em mim, a noite foi apenas estranha, e tudo acabaria voltando ao normal amanhã.Meu celular começou a tocar, era a minha amante, Ingrid.Já fazia mais de semanas que não ia até a sua casa, esses últimos dias estou sentindo que estou diferente, sem vontade, preferindo dormir em casa e não sair para nenhum tipo de lugar que não fosse referente a trabalho, pode parecer neurose, mas algo estava mudando, e por mais que tentava lutar, não tinha forças, era algo mais forte que eu, e cada dia que passava, estava sendo mais difícil.Saí da cozinha e fui para o quintal da casa, onde Amália não poderia ouvir minha conversa, caso aparecesse de surpresa.— Fala! — Atendi sem paciência, não sei o porquê, mais a voz dela esses últimos dias estava me deixando estressado, não conseguia me sentir atraído por suas investidas e tudo nela começava a ficar sem graça e sem emoção, como se não me agradasse mais, será que deveria trocá-la por outra mulher?— Oi amor, se esqueceu de mim? — Começou melosa, estava odiando isso, ela sentia como se eu a devesse algo, que mulher chata.— Claro que não, é que esses dias estou meio ocupado, já te falei várias vezes sobre isso, não é sempre que posso ir te ver.— Nossa, mas nem para me ligar teve um tempo? — Fingia indignação.Isso só estava crescendo a minha fúria.— Como disse, estou ocupado, eu tenho uma empresa para tomar conta, tenho contratos para revisar, reuniões importantes que não posso faltar, também sou casado e não posso dormir sempre fora de casa, minha vida não é uma maravilha, como pensa que é, fala logo o que você quer e deixa de me amolar.— Nossa Filipo, você está de mau-humor, por que não vem descontar sua raiva aqui em mim? Eu estou com tanta saudade, vem dormir comigo hoje, amor, meu corpo precisa de você, já faz tempo que não temos uma noite bem merecida. Vem, que prometo te acalmar e te deixar bem mansinho, já que essa mulher que tem em sua casa, não presta para nada mesmo.— Olha como fala da minha esposa ouviu? — Alterei a voz. — Acha que tem algum direito de falar sobre ela? Pelo menos, ela não se presta ao seu papel de amante.— Nossa! O que está acontecendo com você? Nunca te vi defendendo esta mulher, na verdade, você só vem aqui para ficar se queixando desse casamento estúpido que te arranjaram.— Não é da sua conta, para de opinar na minha vida, que merda! Quem você está achando que é?— Eu sou a pessoa que você pediu para se mudar para Nova York, só porque queria ficar mais perto de mim. — Disse nervosa.— Então não me estressa, se não vou te mandar de volta para sua casa, se ficar perto te acha que está no direito de opinar alguma coisa! — Gritou.— Nossa, desculpa. — Baixou o tom — Só estava tentando ajudar, por favor, vem aqui para casa.— Olha Ingrid, hoje não vai dar, prometo que logo vou te ver, agora me deixa em paz, tenho que desligar, estou cansado.Nem esperei ela se despedi e já desliguei, não sei o que me deu esses dias, não estou afim de sair com a Ingrid nem com nenhuma outra mulher, é como se nenhuma delas me interessassem, e tudo ficou diferente, principalmente depois de hoje, quando vi a Amália descendo as escadas, ela estava diferente, tão linda, tão atraente, com um vestido vermelho, sinceramente, não sei o que estava acontecendo, pois já tinha visto-a arrumada várias vezes.Fui pro meu quarto, tomei um banho, me deitei, não sei o que me deu na cabeça, mas, só vinha a Amália na minha mente, seu sorriso descontraído no jantar, o jeito que as outras pessoas a olhavam admirando-a, como sua conversa prendia a atenção de todos naquela mesa, parecia que ela era o centro das atenções. Não sei o que me deu na cabeça, mais queria vê-la antes de dormir, era como se fosse uma necessidade, parecia que minha noite dependia disso.Queria ir falar com ela, mesmo achando tudo isso um completo absurdo, fui até seu quarto, bati algumas vezes e nada dela responder, forcei a maçaneta da porta, abriria para saber se tudo estava bem, porém estava trancada, bati na porta mais uma vez, dessa vez com mais força, se ela estivesse dormindo, teria que acordar com o barulho, mas nada dela responder, mas que diabos! — Praguejei.— Amália, Amália! — Gritei.Confesso que não estava me reconhecendo, e me senti um bobo por causa disso, resolvi sair dali, mas antes disso, ela abriu a porta. Estava usando uma camisola branca de seda, e por cima, vestia um roupão da mesma cor, seus cabelos estavam soltos o que a deixava muito atraente. O que estou pensando?— O que está acontecendo, por acaso a casa está pegando fogo? — Sua voz era de estresse.— Não. — Na verdade, nem eu sabia o que estava fazendo ali — É que... Bem, eu ouvi um barulho estranho na casa e vim conferi se está tudo bem. — Menti.— Eu não ouvi nada.— É claro que não ouviu, já faz algum tempo que estou aqui batendo e você não ouve! — Ri nervoso.— É claro que te ouvi batendo, desde a primeira vez, só não achei necessidade alguma ter que te atender, fala a verdade Filipo, o que faz aqui?— Vim ver como estava. Já te disse que quero manter um relacionamento amistoso entre nós, não precisamos viver como dois estranhos dentro de casa.— Engraçado você querer isso, logo após revelar que quer renovar o contrato com meu pai.— Isso não é verdade, não tem nada a ver.— Para mim, só é mais uma de suas jogadas, mas já te aviso de antemão, que isso é uma perda de tempo, não sou mais uma trouxa que cai nas suas palavras.— Não estou pensando no contrato! — Disse ofendido.— É? E então no que está pensando?Levantou sua cabeça num modo desafiador, foi aí que percebi, que não havia nenhum resquício da mulher com quem me casei há um ano atrás, Amália havia mudado e o pior, é que não percebi quando isso tinha ocorrido. Foi a primeira vez que olhei em seus olhos realmente, e algo estranho pulsou em meu peito.O que estou querendo na porta da mulher que estou casado só por aparências? Levei a mão à cabeça, ao me tocar no que estava fazendo, fui para o meu quarto, deixando-a sem falar nenhuma palavra, troquei de roupa, e resolvi ir para a garagem, peguei meu carro e fui pra casa da Ingrid.A noite na casa da Ingrid foi diferente de todas que imaginei, quando cheguei sem avisar, ela quase beijou os meus pés, estava toda atirada para cima de mim, porém, eu não estava afim, meu corpo estava lá, mas minha mente me contrariava. A ignorei por completo, saí de casa querendo fugir daquela mulher que estava dominando meus pensamentos, mas acabei vindo dormir na casa errada, desde que cheguei aqui, nem um beijo consegui dar nela, o que a deixou muito desconfiada e totalmente frustrada, confesso que também estava me estranhando, entretanto, não conseguia tirar Amália da minha cabeça. — No que você está pensando? — Perguntou, me encarando. — Em nada Ingrid, já te falei que não estou com cabeça para nada, estou cheio de problemas e minha cabeça parece que vai explodir.— Não sei o que deu em você Filipo, há dias que não nos vemos, e daí quando você aparece, após dizer que não viria mais, nem sequer me dá um beijo! — Não me enche o saco Ingrid, quanta cobrança idiota, você está f
O que havia acontecido entre mim e Filipo há alguns minutos, foi surpreendente, não devia ter correspondido ao seu beijo, porém necessitava tanto daquilo, desde o dia que o conheci, sonhei como seria um beijo seu apaixonado, seu toque...Ah, queria tanto saber como era beijar o homem que amava loucamente, mesmo me tratando mal, ainda sentia algo por ele. Esperei tanto tempo por uma demonstração de carinho e afeto, foi um ano sendo besta e feita de tola, querendo atenção e me submetendo a humilhações, na espera de migalhas, mas agora tudo está mais claro, e por mais que meu coração tenha falhado por um momento, consegui sair daquela situação, como se fosse uma pessoa forte.Não posso negar que gostei, não posso negar a mim mesma que não senti alguma coisa, seria hipocrisia. Mas sei que seria uma tola, depois de tantas palavras que recebi e de enganos que acabei caindo, achar que sua atenção voltada para mim era sinal de interesse sentimental.Estava disposta e mudaria todo meu jeito de
O que estava acontecendo comigo?Como posso deixar que essa mulher brinque com minha cara, como se fosse alguém importante em minha vida?Amália brincava com fogo. Se achava poder falar o que quisesse comigo, estaria muito enganada, primeiro, ela disse ter vergonha de sair ao meu lado, logo eu, que sou uma pessoa admirada por todos, ela não deve ter noção de quantas mulheres queriam estar no lugar dela, devia me agradecer por ser a escolhida e não me insultar.Agora vem me falar que tem nojo de mim? Me sinto ofendido, como se não tivesse nenhum valor no mundo, não deixaria que isso ficasse assim, haveria uma punição, mandarei cancelar seu cartão, tirar suas regalias, ela terá que me implorar perdão de joelhos, por me ofender desse jeito, que tipo de pessoa ela acha que sou?Se um sentimento pudesse me descrever no momento, seria o ódio.Entrei em meu quarto batendo a porta, que até o teto chegou a estremecer, corri para o banheiro, enchi a banheira e tentei relaxar, o que me deixava s
Após ficar horas sentada no Central Park, decidi que já era hora de voltar para casa, já que alguém parecia sentir muito a minha falta.Minha risada de ironia não podia sair de meus lábios, ao ver que Filipo me ligava insistentemente, e não tendo retorno, me mandou uma mensagem, perguntando onde estava, eu já a havia lido pela barra de notificação, mas para deixá-lo ainda mais nervoso, visualizei e não respondi, cada oportunidade que me surgisse, faria que ele provasse uma dose do próprio veneno. Voltei a caminhar pelas calçadas e me lembrei que ali por perto, havia uma livraria que comecei a ter costume de frequentá-la.Já que não havia muito o que fazer, naquela enorme casa o dia todo, montei uma estante em meu quarto, improvisada de certo modo, já que não planejo morar ali para o resto da vida, e comecei a colocar todos os livros que li, durante todo esse ano.A presença daqueles livros ali, animavam-me um pouco, já que ajudavam a aparência daquela casa ser menos triste.Entrei pe
A semana passou voando, aproveitava que estava no estágio, e não comia em casa, também, Filipo nem notaria minha ausência, já que ele também não era acostumado a comer no horário do almoço em casa.Minha interação com a Lisa, cada dia ficava mais legal, era ótimo ter alguém para conversar e me distrair, minha vida já era horrível demais, já que sempre rodava em torno de Filipo ou meus pais, porque eles eram as únicas pessoas que via frequentemente, meus sogros continuavam morando na Itália e não os via tanto, também, nem conversava com eles com frequência, já que não havia nada para falar.Eles eram sogros de mentira, pai de um marido de mentira e de péssima índole para completar.Não sei como tudo isso aconteceu, mas pelo que soube, sobre o outro irmão do Filipo, eles eram de personalidades totalmente diferentes.Já que meus pais queriam que me casasse, teriam que, no mínimo, escolher o filho certo, quem sabe, as coisas não chegassem ao ponto que estão hoje.Era sexta-feira e estávam
Chegando em casa, percebi o silêncio que estava, provavelmente meu maridinho não estava aqui, também, num final de tarde de sábado, o que Filipo iria querer, ficando numa casa tão monótona como esta?Fui até a cozinha e comi algo, após, fui para meu quarto, e começaria a me arrumar para sair com Lisa.Para ser sincera, meu coração estava acelerado, ver Davi, após anos longe, e sem nenhum contato, me dava uma certa ansiedade, como será que ele reagiria?Vesti um de meus vestidos preferidos, que com certeza valorizava meu corpo, ele era azul-celeste, e tinha uma fenda na lateral da coxa esquerda, e atrás, as costas nuas, escovei meus cabelos e passei um babyliss nas pontas, para dar mais volume.Amava o que via no espelho, estava me amando muito, e me sentindo mais segura sobre a minha aparência, lembrei de André, o cara que conheci hoje pela manhã no central parque, de certa forma, ele havia me elogiado e isso me fazia me sentir feliz, passei um batom rosa, e uma maquiagem discreta.Ap
Na sala de reunião, enquanto a nova empresa contratada de marketing, fazia sua campanha de publicidade, Filipo observava uma de suas novas funcionarias, contratada a menos de um mês, a mulher tinha um ótimo currículo, e também uma aparência que havia lhe agradado muito. — A reunião está finalizada, Vitória, quando terminar de organizar esses documentos, por favor, venha até a minha sala.Deu ordens a sua próxima presa, e foi para seu escritório.Era sexta-feira e quase no final de expediente, ele sabia que a funcionária não resistiria a sua investida, ele já havia notado o quanto ela o olhava disfarçadamente, e sempre quando ela tinha a oportunidade, cruzava as pernas de um modo sedutor, querendo lhe chamar a atenção, bem, se ela estava querendo mesmo se insinuar para ele, hoje ela teria o que queria.Enquanto aguardava a moça em sua sala, seu celular tocou, era Almir, o motorista de Amália.— Senhor, liguei para te avisar que sua esposa acabou de chegar em casa.— Ela sempre está c
O desfile havia começado e realmente, a coleção que Davi havia feito, estava maravilhosamente linda, peças modernas e conceituais, via-se o alto padrão da costura de longe, recortes totalmente simétricos e perfeitamente alinhados, com o padrão do tecido que cada peça oferecia.Os garçons estavam vestidos de uma forma extravagante, todos estavam usando máscaras, que cobria todo o rosto, dando ao ambiente, um ar misterioso e sofisticado.Uma infinidade de coquetéis eram servidos. Amália não era acostumada a beber bebidas alcoólicas, primeiro, porque seu pai não a deixava, e depois que se casou, Filipo costumava controlar o quanto a mulher bebia nos compromissos que saíssem juntos, no fundo, ele tinha medo dela beber demais e acabar perdendo a elegância, falando algo que não devia.Então hoje, como estava se sentindo incrivelmente bem, resolveu beber o quanto quisesse, queria esquecer de todos seus problemas, e preocupações.Um garçom passou por ela, com uma bandeja cheia de taças de cha