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No carro, indo em direção ao jantar, Filipo dividia a atenção entre a estrada e eu, o que me deixava meio constrangida, nunca tinha recebido tanta atenção dele, agora estava recebendo demais, então fingi mexer no celular, ignorando-o o percusso inteiro.

A noite estava diferente das outras que já havia saído com ele, sempre que aconteciam esses tipos de jantares, percebia o quanto ele olhava para outras mulheres, ou flertava de algum modo que fingisse ser discreto, como se eu não estivesse ali do lado, isso me deixava muito mal no começo, e minha vontade era sair dali chorando, me sentia péssima em ver como ele se sentia atraído por tantas outras mulheres e nunca ter tido o mínimo de interesse em mim, como se eu não fosse uma mulher para ele, me lembro do que disse na nossa lua de mel, que eu não era o tipo de mulher que o atraia. Essa frase me fez me sentir horrível por muito tempo, tentava entender o que tinha de errado comigo ou com minha aparência.Tentei descobrir que tipo de mulher ele gostava ou já tinha se relacionado, mas foi em vão. Com o tempo, fui deixando esses pensamentos de lado, comecei a me arrumar mais, para me sentir bem, cuidava da pele e mantinha sempre meus cabelos hidratados, isso me fazia me sentir com a autoestima mais em cima, e perceber com as atitudes de meu marido, que o problema não era eu.

Mesmo que ter mudado para nossa casa tenha sido muito ruim, no começo, ainda tinha esperanças dele mudar de ideia e talvez se apaixonasse por mim, sempre o tratava bem e fingia que as coisas que sabia ou que ele falava não me incomodavam, acho que isso só serviu para que meu marido pisasse mais em mim, ele me via como uma mulher frágil e vulnerável, que acatava as ordens de tudo e todos, sem nem ao menos questionar, por muito tempo fiz assim, um ano para ser exata, e seu olhar de desprezo cada dia era maior, ele nunca tentou se aproximar ou me conhecer de verdade, não deu uma oportunidade para nosso casamento, ou para mim, e isso o que me deixava mais chateada, fui jogada de lado, sem nem ao menos ser conhecida, julgada por minhas atitudes, mas eu acordei!

Acordei e vi que a fragilidade me fazia ter a aparência rude, desprezível, então decidi ser forte, a não abaixar a cabeça quando ele falasse comigo, a parar de ter medo de andar pela casa quando ele estivesse por lá, de ficar em silêncio no meio das reuniões e jantares, enquanto só homens podiam falar, iria atrás de meu espaço, mesmo que isso me custasse perder tudo que tinha, mas, não tinha problema, já que percebi que nada nunca foi meu.

Toda vez que ele não dormia em casa, sabia que estava com uma mulher, e agradecia cada dia que passava por nós não termos nenhum tipo de relação íntima, seria mais doloroso e humilhante para mim, se algo assim acontecesse, ter que me deitar com um homem, que se deita com qualquer tipo por aí, quantos riscos correria, quanta humilhação passaria. Foi olhando dessa forma, que comecei a sentir nojo das atitudes dele.

Sempre que estávamos na frente de outras pessoas, nos comportávamos como um casal normal e comum, eramos dois apaixonados, eu boba, era realmente apaixonada e não era difícil fingir o que já sentia, o casal perfeito na vista de todos, onde chegávamos, éramos o centro das atenções, sempre aparecia alguma foto nossa em revistas de eventos luxuosos, e realmente quem via as fotos, não teria nenhuma noção do que fui obrigada a me submeter.

Mas hoje, era um dia especial, o dia do meu renascimento, não sei dizer o que tinha nesta noite, havia algo diferente em mim, então vi que havia algo diferente no meu falso marido também, parecia que tudo que falava ou se referia a mim era de livre espontânea vontade, como se estivesse dizendo a verdade, seu sorriso não era forçado, e sempre que se aproximava de mim, aproveitava para tocar minha mão, ou dava um beijo em meu ombro, depois olhava no fundo dos meus olhos, como se quisesse dizer alguma coisa, apenas com olhar, eu o fuzilava com os olhos para tentar dizer a ele, que já estava passando dos limites.

Tinha um brilho diferente em seu olhar, o mesmo brilho que estava antes, quando me viu arrumada descendo as escadas, para sairmos de casa mais cedo.

Mas não seria tão boba, já que esse brilho também estava em seus olhos, quando nos conhecemos, e sei bem em como tudo terminaria, a única pessoa machucada da história seria eu, já que era a única que facilitava e demonstrava ter sentimentos no coração.

O jantar foi demorado, e a conversa era toda sobre negócios, entretanto, por incrível que pareça, desta vez não fiquei entediada como das outras vezes, o assunto até estava me interessando, no fundo, o que amava mesmo, era a gestão de empresas, queria muito ser uma CEO, mostrar a homens machistas como meu pai e Filipo, que podia ser muito bem sucedida na área.

Quem sabe, quando esse casamento acabar, posso começar minha vida, abrindo um pequeno negócio, já que sei que não terei condições financeiras de começar do alto, pois casada do jeito que estou, me já fazem regra do dinheiro, antes me davam uma mesada quando morava com meus pais, e tinha um cartão para compras sem limite, hoje eu tenho um cartão supervisionado pelo meu marido, e o dinheiro que aparece em minha conta, é o mínimo, como se tivessem medo do que eu pudesse fazer, se tivesse um poder financeiro. Quando me divorciar, sei que não terei direito a nenhum tostão, nem da parte de meu pai, nem do meu querido marido, pois sei que fará de tudo para que eu dependa dele, assim, repense em não sair de seu lado.

Engano dele, já que minha disposição de ser uma pessoa livre, me fará até morar na rua se for preciso, só para não fazer mais a vontade de ninguém, senão a minha.

Algumas horas depois, o jantar de negócios acabou, nos despedimos de todos e fomos até a porta do restaurante, esperando que trouxessem o carro, quando entramos, Filipo começou a falar.

— Me desculpa por esse jantar ter sido tão demorado.

Fiquei surpresa, pois nunca havia ouvido um pedido de desculpas em todo tempo que estávamos juntos, e olha que já ia fazer um ano que estávamos “casados”.

— Tudo bem, já me acostumei com tudo isso. — Respondi por educação, já sabia que essa gentileza dele, era tudo por um interesse maior.

— Você quer ir a algum lugar diferente? — Perguntou num tom meigo.

— O quê, como assim? — Me assustei com o "senhor delicado".

— Sei que esse jantar não foi o tipo que se chamaria de um encontro, ou uma saída no fim de semana para se distrair. Isso foi algo a trabalho, chato e cansativo, talvez você queira ir a algum lugar que goste, me lembrei que nunca saímos para nenhum lugar sozinhos.

Sinceramente, acho que meu marido foi abduzido e no lugar dele, colocaram um robô, muito cavalheiro.

— Na verdade, tem um lugar que quero ir, desde que me casei com você. — Disse, fingindo timidez, até baixei a cabeça para ser mais convincente.

— Onde é? Te levarei com muito prazer. — Esperava ansioso pela resposta.

— Ao cartório, assinar nosso divórcio.

A cara de Filipo mudou em segundos, confesso que estava gostando muito daquilo, era ótimo ser a pessoa que não nutria sentimentos e brincava com os outros.

— Eu estava falando serio. — Disse triste.

— Eu também. — Retruquei.

— Diz outro lugar. — Insistiu.

— Não, obrigada, se não pudermos ir ao cartório, só me resta ir para casa mesmo. – Ele me olhou com um ar meio desapontado.

— Tudo bem. – Simplesmente respondeu, e voltou seu olhar para a estrada.

Chegamos a nossa casa e já fui para o meu quarto, tranquei a porta, não tinha mania de fazer esse tipo de coisa, mas como o Filipo estava se comportando estranhamente, não queria me arriscar, tendo ele entrando em meu quarto de madrugada. Tomei um banho bem demorado e me deitei, esse foi um dia totalmente estranho, apenas fechei os olhos tentando não pensar no hoje, não podia mais demonstrar o que sentia, mataria esse sentimento que deixei nascer dentro de meu peito.

Incrível como me apaixonei por Filipo em poucos dias, e em um ano, ainda não conseguia esquecê-lo, mesmo não tendo um motivo para continuar amando.

Que sentimento será esse, dependência emocional? Não, não pode ser.

Com pensamentos desse tipo, acabei ficando imersa em lembranças, até conseguir adormecer.

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