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Capitulo 1 - Desconhecidos -

Vermillion - South Dakota

Vinte e quatro anos depois...

Estou nervosa! Muito nervosa. Faz algum tempo que estou tentando passar na prova de admissão na faculdade que Tony dá aulas. Ele dá aulas na maior universidade de Vermillion e trabalha com meu pai na área de criminalística. Traduzindo, ele é um gênio e mora em uma casa de campo a poucos quilômetros da cidade. Por que quero entrar nessa universidade!? Por causa dele é claro, e do meu pai. Tony é formado em medicina forense e trabalha como perito na cidade, e eu ainda moro com meu pai.

Fiz planos de morar sozinha aos dezoito e ser bem sucedida aos vinte e um. Deu tudo errado. Não fiz a faculdade ainda, trabalho a noite como garçonete em uma lanchonete perto de casa, moro com meu pai e estou encalhada. Cheguei aos vinte e um implorando aos céus que meu pai me ature até que eu termine a faculdade.

Me chamo Ayla Silver. Meu pai é Frederick Silver e é bem exigente! Por isso todos, sem exceção, o chamam de Tenente Silver.

_ Encontrou seu nome?! _ Amélie pergunta. Nego. Ela toca meu ombro. _ Talvez na próxima Ayla... _ olho para Amélie e ela me lança um olhar piedoso. _ Quer tomar sorvete?! _ nego.

_ Eu não passei... De novo... Significa mais um ano dependendo do meu pai, e ganhando gorjetas na lanchonete. _ digo e sinto vontade chorar. Ela me abraça.

_ Por que não tenta algo mais fa...

_ Não termine a frase! Eu vou conseguir passar na faculdade de medicina assim como Tony. _ digo com convicção e meus olhos marejam. _ Eu sou uma decepção Amélie! _ choramingo. _ Vou ser uma tia que cria gatinhos e trabalha para sempre em um trabalho de meio período! _ ela esfrega minhas costas.

_ Ei... Não diga isso. _ me afasto dela e começamos a caminhar para fora das paredes da minha tão sonhada Universidade. Suspiro. "Até a próxima tentativa..." As minhas esperanças estão escassas. Vejo uma moto entrando e reconheço imediatamente. A jaqueta de couro, coturnos pretos, calça surrada e luvas de couro. Tony. Suspiro frustrada. Ele estaciona e tira o capacete. Amélie toca meu ombro.

_ Ele é um gênio. Querer se comparar a ele é quase uma missão impossível. _ assinto.

_ Me sinto muito melhor com suas palavras Amélie. Ele não pode ser real! _ digo. Ele ajusta a mochila nas costas e aceno para ele sorrindo, de alguma forma, ele não me vê e simplesmente caminha em direção a universidade. "Claro! Era esperar muito daquela pedra de gelo!" Amélie me puxa para fora da universidade e caminhamos pela calçada.

_ Você deve gostar muito do Tony. _ assinto.

_ Ele é como meu irmão mais velho sabe... Ele não me vê assim... _ olho para o chão e caminho com as mãos no bolso da calça jeans. _ Na verdade sou uma estranha na vida dele. Quando eu nasci Tony já morava lá em casa, meu pai disse que seus pais foram assassinados.  _ olho para Amélie e ela me oferece um olhar reconfortante. _ Você já deve estar cansada de ouvir a mesma história sempre. _ ela nega.

_ Sei que se importa com ele. Ele deve ser bem sozinho. _ nego.

_ Não exatamente... Ele mora com uma mulher chamada Helena. _ suspiro. _ Eles têm quase a mesma idade, e tenho quase certeza que namoram ou sei lá... _ sorrio e olho para as nuvens. _ Sabe Amélie? Eu quero me formar para poder ajudar meu pai e ele a descobrirem quem matou os pais de Tony. _ olho para ela e sorrio. _ Acho que hoje lhe contei mais do que devia da vida dele, não é? _ ela assente.

_ Não quero nem pensar muito sobre isso, sabe que não gosto dessas coisas relacionadas a morte. _ sorrio.

_ Que bom, não é algo feliz para contar sempre. _ continuamos caminhando e depois de um tempo chegamos à lanchonete que trabalho, nos sentamos e Erick se aproxima sorrindo.

_ O que vão pedir? _ ele pergunta e chuta minha perna no segundo seguinte, fingindo um sorriso, e falando entre dentes. _ Hoje o chefe está furioso! Aparentemente brigou com a mulher e teve que dormir fora de casa. _ faço uma careta.

_ Acho que vou faltar hoje no trabalho...

_ Está maluca!? Quer ser demitida!? _ nego e suspiro.

_ Queremos dois milkshakes Erick. _ Olho pra Amélie.

_ O meu de baunilha. _ ela pede. Olho para Erick.

_ O de sempre. _ ele assente e suspira.

_ Tenho um babado fortíssimo para vocês depois. _ ele sai e me debruço sobre a mesa.

_ Eu também... _ resmungo. Amélie acaricia meus cabelos.

_ Ei... Não fique assim. _ Suspiro.

Levanto a cabeça e encaro Amélie.

_ Você me acha burra? _ pergunto e ela olha para os lados sem graça. Abaixo a cabeça novamente. _ E eu nem sou você... _ ela bate na minha cabeça.

_ Já disse que não gosto de suas piadinhas com loiras! _ levanto a cabeça e sorrio.

_ Desculpe... Tentei quebrar o clima ruim. _ Ela suspira.

_ Pare de se lamentar. Virei hoje à noite, e podemos sair depois do seu turno. _ balanço o braço.

_ Não precisa. Vou descontar minha frustração trabalhando até depois da meia noite. _ Erick chega com os milkshakes e nos entrega. Ele se sente ao lado de Amélie e se debruça na mesa.

_ Tenho convite para a festa de aniversário de Pâmela. _ pisco várias vezes seguidas, e me jogo contra o encosto de cadeira, cruzando os braços.

_ Esse era o babado?! _ ele nega.

_ Se acalma praga! _ ele grita. Ouço alguém limpar a garganta e olho para o balcão. Nosso chefe está com os braços cruzados.

_ Que eu saiba não acabou seu turno Erick! _ ele diz, e no segundo seguinte, Erick se levanta e sai gesticulando que termina de contar depois. Amélie me encara.

_ Vamos com ele? _ ela pergunta e dou de ombros.

_ Não estou podendo gastar! _ advirto e ela revira os olhos.

_ Eu arco com suas despesas na festa! Meu Deus Ayla! Tu és muito avarenta! _ ela diz e começa a tomar o milkshake. Tomo o meu e me sinto incomodada.

"Não é que eu seja avarenta! Só estou preocupada com os gastos que terei..."

Suspiro. "Preciso passar na faculdade!"

Termino de tomar meu milkshake e quase me engasgo no final. Amélie abre a boca impressionada. Pela porta, entra um casal, impressionante mente, lindo. A moça tem a pele tão clara que chega ser anormal e o cabelo é branco como as nuvens. E o rapaz é negro e possui tranças no cabelo. Os dois são simplesmente a combinação mais linda que já vi. Amélie para de encarar os dois e me força a olhar para ela.

_ São novos na cidade?! _ ela me pergunta.

_ E eu que sei?! _ Gralho. Erick passa ao nosso lado e se curva na mesa.

_ Esse é o babado gente! Chegou uma galera bem interessante aqui na cidade. Fiquei sabendo que alguns são super ricos e outros vão morar junto com seu meio irmão. _ ele aponta para mim.

_ Com Tony!?

"Pronto! Agora a casa do Tony virou a casa da mãe Joana!"

Me levanto e caminho até o casal. Erick passa um braço pelo meu pescoço e me puxa para o lado contrário.

_ O que pensa que está fazendo Ayla!?

_ Eu não tenho o direito de visitar ele, e ele vai abrigar essas pessoas estranhas?! Vou falar com meu pai sobre isso! _ digo. Ele me força a sentar.

_ Sabe que Tony odeia que se meta em seus assuntos. _ reviro os olhos.

_ Ok! _ digo. Olho para Amélie. _ Vamos para casa. _ pagamos o milkshake e saio da lanchonete. Caminho um pequeno percurso com Amélie e abro o portão de casa, me despeço dela, Amélie mora em frente. Entro e sinto o cheiro de almoço. Sorrio automaticamente. _ Pai? _ chamo.

_ Chegou! _ ele exclama e sigo para a cozinha. Ele está de farda e cozinhando. Sorrio fracamente.

_ Ei... Eu poderia fazer o almoço. Desculpe o atraso, como foi no trabalho? _ ele sorri.

_ Bem querida. Sente-se! Está quase pronto. _ caminho para a mesa e ele logo me serve um prato de macarronada e se senta de frente comigo. _ Passou? _ me entristeço.

_ Não... _ digo desanimada. Ele lança um olhar reconfortante.

_ Você vai conseguir. Paciência... _ assinto.

_ Pai... Tony vai receber pessoas na casa dele, não é? Ficou sabendo? _ ele assente e fica sério.

_ São parentes distantes dele. Não são da sua conta. _ ele diz e assinto.

_ Claro... _ me sinto um pouco decepcionada. _ Ele não nos considera como família? - desde que eu era pequena sempre considerei Tony como meu irmão. Cresci com ele. Algumas vezes meu pai viajava com Tony e voltava algum tempo depois. As viagens eram sempre quando Tony ficava doente, por esse motivo nunca vi Tony doente, sempre com o mesmo olhar sério ou brincando comigo, então um dia ele simplesmente decidiu que queria morar sozinho e com dezesseis anos pediu para meu pai emancipa-lo. As coisas mudaram e nos afastamos. Ele sequer me cumprimenta hoje em dia e me sinto mal por tudo, no fim ele sequer conseguiu nos ver como família... Minha mãe está internada no hospital psiquiátrico faz algum tempo e somos só eu e meu pai. Ela tem esquizofrenia e seu quadro é grave. Diferente de muitos amigos meus com problemas mentais, ela simplesmente não sabe diferenciar fantasia da realidade e Tony considera apenas ela como família. Ela foi internada quando eu tinha oito anos, Tony e papai eram próximos até sua internação, ele diz que ela não estava preparada para algumas coisas. Meu pai a ama, mas sinto que ele sofre com sua condição. Tony se afastou de nós dois depois disso e meu pai apenas permitiu dizendo que ele fez a escolha dele e é livre para voltar se quiser.

Ele nunca voltou.

Minha família agora não é tão feliz quanto antes, eu não sou tão forte quando imaginei que fosse. vivo todos os meus dias de forma igual, vendo a vida passar diante dos meus olhos.

Trabalho todo dia das seis da tarde à meia noite, estudo todos os dias em casa e anualmente faço uma prova em que fracasso. Gargalho com meus amigos mesmo com meu coração aflito. Visito minha mãe semanalmente e sempre choro ao sair do hospital. Cumprimento uma pessoa que uma vez foi próxima e desejo sempre voltar a época em que era feliz.

_ Claro que sim querida. Já te disse que ele nos ama muito e por teimosia se afastou, com medo de nos fazer mal. _ sorrio fracamente.

_ Ele ainda conversa com você... Às vezes acho que sou a única pessoa que ele evita da família. _ papai sorri.

_ Não seja assim. Ele é uma pessoa ocupada... Apenas nos falamos no trabalho. Ele continua o mesmo. _ assinto.

_ Entendo. _ digo. _ Vou tentar entrar na faculdade no próximo ano. Vou conseguir! _ digo tentando parecer animada e papai sorri com ternura.

_ Eu sei que está se esforçando para dar orgulho para mim, para sua mãe e para o Tony. _ assinto.

_ Eu vou conseguir. Ainda sou nova! _ digo e ele ri.

_ Não sei até quando, mas ainda é. _ faço uma carranca.

_ Pai! _ ele dá de ombros.

Terminamos de almoçar e papai retorna ao serviço. Passo a tarde estudando e assim que está quase na hora de ir para a lanchonete tomo um banho e me arrumo. Me olho no espelho e me sinto mal, acho que todos tem complexos de beleza, eu tenho os meus, algo aconteceu comigo aos oito anos e deixou marcas. Não lembro o que houve, mas algo aconteceu. Tenho cicatrizes de mordidas de algum animal em todo o corpo, pernas principalmente e o lado esquerdo do pescoço. Depois do ataque fiquei internada durante alguns meses e fui me recuperar em casa, e quando estava bem, achando que as coisas iriam voltar ao normal, mamãe pirou e foi levada para o hospital psiquiátrico. Seguro a mecha branca de cabelo. Depois do ataque fios brancos nasceram em minha nuca, tenho o cabelo completamente branco nessa parte, papai diz que recebi uma marca de milagre e amo meu cabelo nessa parte porque considero um milagre. Algumas partes da minha infância são confusas, são como um borrão.

Não! Não uso a roupa de garçonete sem meias. Justamente para cobrir as cicatrizes das mordidas. Meu telefone toca e alcanço ele na cama.

_ Oi periga! Estou indo para sua casa! Vou te levar no trabalho. _ sorrio.

_ Obrigada Erick. _ digo. _ Estou descendo. _ desligo o celular e guardo, desço as escadas apressada. Abro a porta da sala e puxo a chave. Saio trancando a porta e corro em direção a calçada. Erick está de braços cruzados me esperando.

_ Vamos, vou te levar, busco você que horas? _ começamos a caminhar em direção a lanchonete.

_ Já disse que não precisa fazer isso. _ ele revira os olhos.

_ Eu prometi ao seu pa...

_ Não... Não começa! _ odeio quando ele lembra dessa promessa.

_ Sabe que vou te levar e buscar sempre. _ Assinto.

_ Ok. _ digo. Depois de andar as duas quadras chegamos em frente à lanchonete.

_ Entregue. Venho a meia noite. Espero você sair. _ toco seu braço.

_ Não precisa... _ aponto o céu. _ É noite de lua cheia e vai estar bem clarinho. Vou para casa em segurança e nosso bairro não é tão deserto assim. _ ele nega.

_ Não tem discussão. Virei. _ sorrio. Ele começa a se afastar. _ Bom trabalho Ayla! _ aceno.

_ Obrigada Erick!

Entro na lanchonete e sigo para o banheiro. Prendo meu cabelo em um coque e coloco a touca, ela cobre todo o meu cabelo e nenhuma parte fica a mostra. Saio do banheiro e começo a trabalhar. Meu patrão se chama Oscar, e ele é super legal na maioria do tempo, porém hoje está super exigente.

A lanchonete acaba lotando e é difícil atender a todos de forma satisfatória. As horas parecem dobrar de tamanho em minutos e minhas pernas doem. Realmente a lanchonete lotou hoje. Uma garota ruiva e Helena acabam chegando na lanchonete e me surpreendo. É difícil ver Helena, ela dá aulas para o jardim de infância na cidade e é um doce de pessoa, creio que é a namorada de Tony porque eles moram juntos na casa de campo.

Ela sorri ao me ver e se debruça no balcão me abraçando. Acabo me apavorando. "Se Oscar me ver vai querer me matar!" Ela se afasta em seguida e respiro aliviada. Ela aponta a moça ao lado.

_ Essa é Camille! Uma parente minha! _ ela diz animada. _ Camille, ela é a garota que eu falei. _ Sorrio e estendo a mão. Camille sorri.

_ É um prazer. _ ela diz e me cumprimenta.

_ Igualmente. _ sorrio. _ Então, estão fazendo uma reunião familiar?! Fiquei sabendo que alguns familiares de Tony também estão na cidade. _ digo e ela parece confusa por um momento e sorri assentindo.

_ É! Meus familiares e alguns familiares de Tony estão aqui. _ ela diz animada. _ Podia ir almoçar conosco no domingo. _ meu sorriso morre aos poucos e me lembro que, a última vez que Helena me chamou para ir à casa de Campo e fui, ela e Tony brigaram, ele gritava com ela e dizia que não era para eu estar lá. Ela parece notar meu desânimo. _ Ei... Eu também sou como família para você certo? _ assinto e sorrio.

_ Não acho que seja uma boa ideia. Sabe que eu não sou bem-vinda lá. _ ela parece ter raiva por um momento e se recompõe em seguida.

_ Entendo seu pensamento. Bom, não posso ir contra o que Tony diz, aliás a casa é dele, mas queria que conhece todos. _ ela sorri. _ Eles estão loucos para conhecer a chapeuzinho vermelho. _ ela diz e gargalha. Desde que conheci Helena ela me chama assim. Camille toca minha mão com delicadeza.

_ Entendi. _ ela diz e sorri. Fico confusa por mais um momento.

_ Ei! A fila não anda!? _ olho para além de Camille e Helena, me surpreendo com o tanto que a fila cresceu.

_ Des-desculpe! _ peço em voz alta. _ O que vão pedir?! _ pergunto para as duas. Elas fazem o pedido e se sentam em uma mesa. Continuo atendendo o pessoal e logo a fila diminuí.

A noite segue e continuo atendendo aos pedidos que chegam. Hoje, infelizmente, fiquei responsável pelo caixa da lanchonete, assim que dá meia noite, Erick chega e me ajuda no caixa, apesar de não ser seu turno. Ele é meu melhor amigo e Amélie minha melhor amiga. Às vezes acho que tenho duas melhores amigas. Erick é gay.

Acabo fazendo hora extra, e quando é uma hora da manhã, mais pessoas diferentes chegam e se sentam a mesa com Helena e Camille. Ignoro e continuo processando os pedidos dos clientes.

Erick começa a me cutucar. Conto o dinheiro e coloco na caixa registradora.

_ O que vai pedir?! _ indago organizando as notas. Erick me belisca e olho para ele indignada. _ Se vai atrapalhar meu serviço, pode ir embora! _ digo com rispidez e olho para o cliente. _ O que vai pedir!? _ digo com grosseria e me surpreendo. _ Tony... _ ele está sério.

_ Um X-tudo e uma Coca-Cola. _ assinto.

_ Ok... Deu... _ começo a fazer as contas na calculadora e por algum motivo acabo perdendo as contas e esquecendo os preços. _ Só um momento... Deu... _ Erick me interrompe.

_ Dez dólares. _ Erick diz. Olho para frente, ele me entrega a nota e sai sem nem perguntar como estou, coloco a nota no caixa. Erick me olha com ternura. _ Deve ser chato isso... - assinto.

_ Sou uma estranha no fim das contas. _ digo e ele coloca a mão no meu ombro.

_ Amanhã iremos para a festa de Pâmela e você vai esquecer seus problemas familiares e a decepção de hoje, sobre o encontro com Anthony. _ "Sim, o nome inteiro dele é Anthony Meyers! Mas ele não gosta que chamem ele assim."

_ Não estou podendo ga...

_ Sério?! Você nunca pode, não é? Quem vê pensa! _ sorrio.

_ Sabe que eu preciso ajudar nas despesas de casa. _ ele me cutuca.

_ Falou a gata borralheira. _ "Ha-ha-ha!"

Atendo os outros clientes e assim que se aproxima três da manhã, Erick parece exausto.

_ Vai para casa... Irei embora ao amanhecer e não terá problema. _ digo. Ele lança um olhar de desculpas.

_ Desculpe... _ sorrio.

_ Sem problemas. _ digo. Ele caminha para a saída e Helena se aproxima do balcão no segundo seguinte.

_ Seu amigo não vai te acompanhar em casa? _ nego.

_ Ele está exausto. _ bocejo. _ Eu também... _ ela sorri.

_ Por que está nesse turno? _ dou de ombros.

_ Não passei novamente na faculdade... Resolvi descontar minha frustração trabalhando. _ digo. Ela olha em direção a mesa e olho também. Anthony está com os olhos cravados em Helena e parece aborrecido, meu resto de alegria vai para o ralo, encosto a mão no braço de Helena. _ Eu adoraria ficar conversando, mas tenho que trabalhar... Acho que deveria voltar para perto deles. _ ela me encara e parece triste.

_ Desculpe... Estou te causando problemas. _ nego.

_ Não se preocupe... É porque estou no horário de trabalho. _ ela assente e sai.

Assim que dá quatro e meia todos acabam indo embora, Helena e Camille se despedem antes de sair, e meu meio irmão sequer olha em minha direção. Continuo meu trabalho e meu patrão acaba retornando para a lanchonete às cinco horas. A equipe encarregada é dispensada e sigo para o banheiro. Tiro a touca e me olho no espelho conferindo o coque. Olheiras enormes. "Pegar dois turnos foi uma má idéia."

Saio do banheiro e passo pelo balcão. Meu patrão sorri.

_ Obrigada por chegar mais cedo. _ digo e sorrio. Ele gesticula.

_ Saia logo daqui ou te farei trabalhar até meio dia. _ sorrio.

_ Ok! Ok! - digo. Aceno. - Até mais tarde Oscar. _ digo.

_ Mande um abraço para seu pai.

_ Pode deixar. _ digo e saio da lanchonete. O sol ainda não nasceu e as ruas estão escuras. Caminho me alongando, minhas pernas realmente doem e assim que estou cruzando a primeira quadra, sinto como se estivesse sendo seguida, olho para trás e não tem ninguém. Franzo o cenho. "Realmente achei que estava sendo seguida." Volto a caminhar e atravesso a rua, poucos carros estão passando, sinto um arrepio na nuca, exatamente onde tenho a mecha branca. Esfrego a nuca e olho em volta. "Ok... Está realmente estranho." Começo a caminhar mais depressa. Minha casa é na outra quadra, mas mesmo assim me preocupo. Ser assaltada chegando em casa seria péssimo. "O ladrão só levaria meu celular, mas ainda assim não é como se eu pudesse comprar outro da mesma qualidade."

Sinto um vento passando por mim e levo a mão ao peito. Um jovem passa correndo ao meu lado com roupas de ginástica. Paro e fecho os olhos suspirando. "Se acalme ..."

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