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Apenas não beba

Melissa Tompson

Confesso que achei um pouco interessante as cores diferentes, aquilo chamava a atenção no meio da penumbra que estava o apartamento.

Meu corpo foi lentamente se misturando com os outros, eu agora não era mais a doida com roupão pink e cabelos bagunçados, era apenas mais uma no meio daquela multidão festeira.

Depois de um tempo me acostumando com o volume da música aquilo não se tornou mais um incômodo, afinal de contas o álcool já estava fazendo muito bem o seu trabalho, me deixando me um pouco mais alegre.

Sorria, gritava com as outras pessoas sem me importar com as consequências que isso poderia ou não trazer.

Balançava o corpo no ritmo da música ou pelo menos tentava fazer isso, pois, dançar não era o meu forte, então digamos que pelo ritmo nada organizado que meus quadris se mexiam acabei chamando mais atenção do que eu desejava.

Acho que em toda a minha vida esse foi um dos momentos em que me senti leve de verdade.

Quero dizer, sem preocupações.

Isso me fez pensar que estava levando muito a sério isso de ser uma adulta responsável e coisa tal, não que fosse algo errado, ainda assim tinha que me lembrar que eu precisava viver.

Dançar, beber sem preocupações.

Claro, no dia seguinte iria recuperar a consciência e talvez com isso consequentemente iria acabar me culpando por ser tão irresponsável, ainda assim não movi meus pés na direção contrária, muito pelo contrário eu dançava cada vez mais.

Para tentar ficar mais confortável optei por retirar o roupão, dei uma leve ajeitada na roupa que usava e puxei as mangas na direção contrária.

Quanto ao cabelo? Não me preocupei em arrumar, afinal de contas ficaria bagunçado de todo o jeito.

Estava em uma roda de pessoas, localizada no canto oeste do apartamento.

Meu corpo não parava de dançar, tentando acompanhar aquele ritmo alegre da música que em cada segundo que se passava arrancava um sorriso largo do meu rosto.

Minha felicidade infelizmente acabou no momento exato em que senti um par de mãos agarrar a minha cintura com certa fúria, tirando me daquele lugar feliz.

— Ei! — Gritei o mais alto que consegui, como resposta o meu raptor me tirou do chão e me colocou em seus ombros como se eu não pesasse nada.

Obviamente não aceitei isso tão facilmente, então como forma de protesto bati em suas costas o mais forte que conseguia.

— Me solta seu brutamontes. — Pedi. — Isso não é jeito de tratar uma dama.

Ele não ouviu ou se ouviu, ignorou todos os pedidos de misericórdia.

Bufei com isso não parando de fazer meus protestos para ser solta.

— Me solta, me solta, me solta. — Repeti de maneira frenética. — Eu... — Antes de continuar a falar, senti um tapa forte ser depositado na banda esquerda da minha bunda, fazendo me arregalar os olhos com aquela ousadia.

— Como você...

— Calada, Tompson ou posso fazer algo muito pior com você do que só bater na sua bunda. — Avisou o loiro.

Meu corpo congelou, as mãos que antes batiam com força nas costas do homem até então desconhecido pararam de fazer o que quer que fosse.

Virei o rosto na direção dele e por sorte o homem imitou a ação, lançado me um olhar irritado.

— Capeta? Digo, Theo? — perguntei um tanto incrédula.

Na minha mente ao menos ele ficaria lá por um bom tempo, infelizmente a sorte não é muito minha fã e de alguma maneira o homem conseguiu entrar e estragar a minha diversão.

Ele riu sem humor, mostrando que não estava para gracinhas naquele momento.

— O próprio, bebê. — Respondeu.

Ouvir a voz dele fez com que um único pensamento batucasse de maneira constante em minha mente; eu estava completamente fodida no sentido ruim da coisa.

Quando amanheceu agradeci de todo o meu coração, por mais louco ou estranho que seja adorava esse período do dia, pois, achava algo totalmente reconfortante e mágico.

Na minha mente, ao menos as manhãs era o período do dia onde podemos — se quiser, é claro — fazer o que der vontade de fazer ou terminar alguma coisa urgente para então ter o dia livre para qualquer outra atividade.

Era nas manhãs que tudo começava ou que tudo terminava, dependendo do caso.

Mesmo que parte do meu dia seja ocupado pelo trabalho, eu nunca parei de pensar dessa maneira, acreditava fortemente que se pensasse positivo coisas boas iriam acontecer na minha vida.

Os raios de sol entravam devagar pela janela, invadindo o lugar bagunçado que era aquele apartamento.

Quando tocou suavemente o meu rosto, soltei em voz baixa um pequeno palavrão, afinal de contas no momento em que entramos em contato a minha dor de cabeça veio com força total me fazendo ter pequenas lembranças da madrugada anterior e também fazendo com que me lembrasse do motivo pelo qual eu não bebo com tanta frequência.

**Lembranças**

Theo me levou — contra a minha vontade — para outro lugar do apartamento, longe de toda aquela euforia que estava no centro do lugar.

Resmunguei e xinguei ele de todos os nomes possíveis por não me deixar ficar onde queria, dançando e se divertindo.

Algo um tanto estranho, já que normalmente eu era a pessoa certinha e Theo Fernandes era normalmente a primeira pessoa que dizia um alto “SIM” quando o assunto era diversão.

Durante a nossa pequena caminhada passamos por um corredor longo, vi quadros que traziam a infância de Theo e outros apenas quadros com diplomas.

Ver aquilo me fez perceber que não me dei o trabalho de conhecer o meu vizinho, pois, como iria saber que ele é formado em direito e atualmente trabalha na polícia?

Bom, se pensar por um lado é até compreensível o motivo pelo qual eu não sei dessas coisas e por outro é um tanto contraditório ver um policial não seguir regras básicas da "boa vizinhança".

Ri, aquilo tudo era uma grande piada.

Ouvi então o ranger de uma porta se destacar em meio ao barulho da música, aquilo automaticamente chamou a minha atenção e virei rapidamente o rosto naquela direção vendo que o loiro entrava sem cerimônia no local.

Com a mesma delicadeza que me pegou, o homem me deixou na cama, virou seu corpo e fechou a porta, deixando todo o barulho e toda a diversão no outro lado.

Resmunguei, Theo não era delicado e sim um grande de um brutamontes.

Nos primeiros momentos em que senti o gosto da liberdade resmunguei baixo de dor, o impacto com a cama não foi dos melhores, depois disso fiz toda a questão do mundo de mostrar o dedo do meio na direção do loiro, algo que consequentemente arrancou uma risada abafada dele.

Ótimo, agora virei uma palhaça, já posso trocar de emprego, pensei.

Ele não disse nada, moveu se até um canto afastado e começou a vasculhar algumas coisas por ali.

Como não estava querendo ficar quieta ou coisa parecida, tratei logo de me levantar, digo, correr em direção a porta em busca da minha liberdade.

Infelizmente eu estava longe de ser uma pessoa discreta e silenciosa, Theo logo notou a minha movimentação pelo quarto e tratou de impedir o meu contato com a porta.

Vi mesmo na penumbra o rosto dele franzir um pouco e uma das sobrancelhas se levantar, o olhar tão cortante como uma faca me penetrava.

Meu peito subiu e desceu com a respiração fora de ordem e o coração batendo mais rápido, eu não abaixei a cabeça e nem faria tal coisa.

Mesmo que ele fosse muito maior que eu e claro que conseguiria me tirar dali com uma facilidade surpreendente, não iria abaixar a cabeça e ser submissa aos atos daquele brutamontes.

— Me deixa passar. — Eu exigi.

— Não. — Respondeu logo de imediato.

Os braços dele estavam abertos, pegando um pouco da parede e principalmente bloqueando a porta.

— Você está bêbada, não deveria estar nem aqui. — Falou o loiro deixando me ainda mais furiosa, assim como toda pessoa existiam coisas que eu não conseguia de jeito nenhum suportar, uma delas era gente que tentava mandar em mim ou achar que mandava.

Sei muito bem que não deveria estar ali, acredite sei onde deveria estar, ainda assim deixei que aquele lado rebelde que tive durante a adolescência comandar um pouco.

Descobri precisar de rebeldia, de sair um pouco do padrão e das regras para variar.

Assim como também acabei por me dar conta que levava uma vida chata e perfeitinha, uma vez fugir dos padrões não iria me matar não é? Ao menos acreditava que não.

Foi uma sensação totalmente libertadora; única eu diria.

Ele por sua vez movimentou a cabeça para os lados em uma curta negativa, voltando a me olhar depois de alguns poucos segundos.

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