O Toque de um Anjo
O Toque de um Anjo
Por: LF Freitas
Prólogo

       

Prólogo

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"Eu vou encontrar o meu caminho de volta para casa

E iluminar cada árvore

Vamos pendurar nossas meias

uma para você e uma para mim

Pois Papai Noel ligou para ter certeza de que estou preparada

Ele disse "Faça suas malas

e diga a ele que você vai se atrasar"

(Música: I'll Be Home – Intérprete: Meghan Trainor)

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            Eu jamais entenderia por que, às vezes, pessoas corretas pagam pelos erros de outras.

            Meu marido não gostava de beber. Às vezes, um ou dois chops, no máximo, e apenas quando estávamos entre amigos. Mas, naquela noite, nem ao menos isso ele tinha consumido.

O caminho do bar, onde acontecia a confraternização de fim de ano da empresa – para a qual ele tinha sido transferido há menos de um mês – até a nossa casa não era longo. Mas, ainda assim, ele queria estar completamente sóbrio para dirigir. Saímos de lá por volta das onze da noite, mas tivemos o nosso caminho interrompido por alguém que não tivera a mesma precaução que ele.

Por um moleque de dezoito anos que tinha tomado todas e saído para se divertir com o carro do pai.

            E foi ali que a vida do homem que eu amava foi cruelmente arrancada.

Ele pagava – e muito caro – pelos erros de outra pessoa.

            Já eu, fui levada para o hospital municipal da cidade. Lembro de chegar lá, completamente fora de mim, e de agarrar a mão do médico que me atendia, sussurrando um único e desesperado pedido.

            — Por favor, salve o meu bebê.

            Era tudo o que eu conseguia verbalizar, porque era, também, apenas o que eu conseguia pensar naquele momento.

            Eu não me recordava de qualquer outra característica daquele médico. Estava tão desnorteada que não reparei nem mesmo na feição mais simples. Não sabia se era jovem ou velho, alto ou baixo, bonito ou feio... nada, absolutamente nada além de uma única coisa: os olhos de cor âmbar, ao mesmo tempo acolhedores e determinados. E foi com aqueles olhos fixos aos meus que ele apertou de volta a minha mão e sussurrou tudo o que eu menos queria ouvir:

            — Eu sinto muito, senhora. Mas farei o possível para que você fique bem.

            Eu não ficaria. Minha vida tinha sido salva. Mas a minha alma já tinha sido completamente destruída, justo no momento de maior felicidade.

            Eu tinha dois anos de casada e acabávamos de nos mudar para uma cidade pequena, devido à transferência do meu marido. Eu trabalhava como freelancer, fazendo traduções de livros e artigos para editoras. Sendo assim, podia realizar o meu trabalho de qualquer lugar e não tive empecilhos para a mudança. Estava no sexto mês de gestação de um menino. Amada, realizada, feliz, completa...

            Com a minha família.

            Agora, era apenas eu... vazia, sozinha e despedaçada.

            Ouvia o burburinho de vozes misturado ao barulho de aparelhos hospitalares. Não me restavam dúvidas de que aquele era o som da morte. Eu queria que ela me levasse, sentia que não tinha mais nada para fazer nesse mundo. Mas, ainda assim, meu corpo agia contra a minha vontade e, instintivamente, lutava pela sobrevivência.

            Eu era a minha pior inimiga.

            Pelas horas seguintes, fui cercada de cuidados. Até uma psicóloga tinha ido conversar comigo, tentando me ajudar a lidar melhor com as perdas. Pouco falei, apenas balancei a cabeça, torcendo para que ela fosse embora o mais rápido possível e que me deixassem logo sair dali. Não voltei a ver o médico que me atendeu. Recebi alta quatro dias depois, na manhã de Natal.

            A partir daquele dia, parei de viver e passei a meramente existir.

A família do meu marido tinha ido até a cidade cuidar de toda a questão do enterro dele e do nosso bebê. Fizeram isso enquanto eu estava no hospital, não me dando sequer a chance de dizer adeus. Em seguida, foram embora... retornando às suas vidas e telefonando vez ou outra para saberem se eu estava bem.

            A cada dia, eu vivia uma luta para conseguir sair da cama, trabalhar, comer... apenas para no dia seguinte começar tudo de novo. Mal saía de casa e pouco conhecia daquela cidade para onde tinha acabado de me mudar. Meus poucos e velhos amigos ligavam de vez em quando, mas eu quase nunca os atendia. Não queria falar com ninguém.

            E foi assim que, quase um ano depois, no mês de dezembro do ano seguinte, eu decidi por um fim à minha própria vida.

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