Prólogo
* * * * * * * * * * * *
"Eu vou encontrar o meu caminho de volta para casa
E iluminar cada árvore
Vamos pendurar nossas meias
uma para você e uma para mim
Pois Papai Noel ligou para ter certeza de que estou preparada
Ele disse "Faça suas malas
e diga a ele que você vai se atrasar"
(Música: I'll Be Home – Intérprete: Meghan Trainor)
* * * * * * * * * * * *
Eu jamais entenderia por que, às vezes, pessoas corretas pagam pelos erros de outras.
Meu marido não gostava de beber. Às vezes, um ou dois chops, no máximo, e apenas quando estávamos entre amigos. Mas, naquela noite, nem ao menos isso ele tinha consumido.
O caminho do bar, onde acontecia a confraternização de fim de ano da empresa – para a qual ele tinha sido transferido há menos de um mês – até a nossa casa não era longo. Mas, ainda assim, ele queria estar completamente sóbrio para dirigir. Saímos de lá por volta das onze da noite, mas tivemos o nosso caminho interrompido por alguém que não tivera a mesma precaução que ele.
Por um moleque de dezoito anos que tinha tomado todas e saído para se divertir com o carro do pai.
E foi ali que a vida do homem que eu amava foi cruelmente arrancada.
Ele pagava – e muito caro – pelos erros de outra pessoa.
Já eu, fui levada para o hospital municipal da cidade. Lembro de chegar lá, completamente fora de mim, e de agarrar a mão do médico que me atendia, sussurrando um único e desesperado pedido.
— Por favor, salve o meu bebê.
Era tudo o que eu conseguia verbalizar, porque era, também, apenas o que eu conseguia pensar naquele momento.
Eu não me recordava de qualquer outra característica daquele médico. Estava tão desnorteada que não reparei nem mesmo na feição mais simples. Não sabia se era jovem ou velho, alto ou baixo, bonito ou feio... nada, absolutamente nada além de uma única coisa: os olhos de cor âmbar, ao mesmo tempo acolhedores e determinados. E foi com aqueles olhos fixos aos meus que ele apertou de volta a minha mão e sussurrou tudo o que eu menos queria ouvir:
— Eu sinto muito, senhora. Mas farei o possível para que você fique bem.
Eu não ficaria. Minha vida tinha sido salva. Mas a minha alma já tinha sido completamente destruída, justo no momento de maior felicidade.
Eu tinha dois anos de casada e acabávamos de nos mudar para uma cidade pequena, devido à transferência do meu marido. Eu trabalhava como freelancer, fazendo traduções de livros e artigos para editoras. Sendo assim, podia realizar o meu trabalho de qualquer lugar e não tive empecilhos para a mudança. Estava no sexto mês de gestação de um menino. Amada, realizada, feliz, completa...
Com a minha família.
Agora, era apenas eu... vazia, sozinha e despedaçada.
Ouvia o burburinho de vozes misturado ao barulho de aparelhos hospitalares. Não me restavam dúvidas de que aquele era o som da morte. Eu queria que ela me levasse, sentia que não tinha mais nada para fazer nesse mundo. Mas, ainda assim, meu corpo agia contra a minha vontade e, instintivamente, lutava pela sobrevivência.
Eu era a minha pior inimiga.
Pelas horas seguintes, fui cercada de cuidados. Até uma psicóloga tinha ido conversar comigo, tentando me ajudar a lidar melhor com as perdas. Pouco falei, apenas balancei a cabeça, torcendo para que ela fosse embora o mais rápido possível e que me deixassem logo sair dali. Não voltei a ver o médico que me atendeu. Recebi alta quatro dias depois, na manhã de Natal.
A partir daquele dia, parei de viver e passei a meramente existir.
A família do meu marido tinha ido até a cidade cuidar de toda a questão do enterro dele e do nosso bebê. Fizeram isso enquanto eu estava no hospital, não me dando sequer a chance de dizer adeus. Em seguida, foram embora... retornando às suas vidas e telefonando vez ou outra para saberem se eu estava bem.
A cada dia, eu vivia uma luta para conseguir sair da cama, trabalhar, comer... apenas para no dia seguinte começar tudo de novo. Mal saía de casa e pouco conhecia daquela cidade para onde tinha acabado de me mudar. Meus poucos e velhos amigos ligavam de vez em quando, mas eu quase nunca os atendia. Não queria falar com ninguém.
E foi assim que, quase um ano depois, no mês de dezembro do ano seguinte, eu decidi por um fim à minha própria vida.
* * * * * * * * * *
Capítulo um - Um Pequeno Anjo* * * * * * * * * * * *“Está começando a parecer NatalLogo os sinos começarão a tocarE o que os faz tocar é o seu canto de NatalBem de dentro do seu coração”(Música: It's Beginning To Look a Lot Like Christmas – Intérprete: Michael Bublé)* * * * * * * * * * * * Algumas pessoas chamariam isso de covardia ou egoísmo, mas a verdade é que viver se tornara um fardo para mim desde o dia daquele maldito acidente.&nbs
Capítulo dois – Apenas uma vida para salvar* * * * * * * * * * * *“Mal posso esperar para ver aqueles rostosEstou na estrada a caminho de casa para o NatalEstou indo estrada abaixoE já faz tanto tempoMas eu estarei láPara cantar essa música”(Música: Driving Home For Christmas – Intérprete: Chris Rea)* * * * * * * * * * * * — Algum problema? — ele me perguntou, arrancando-me subitamente dos meus devaneios. Só então, r
Capítulo três – Um nome de anjo* * * * * * * * * * * *“Eles sabem que o Papai Noel está a caminhoEle encheu seu trenó de muitos doces e brinquedosE todas as crianças vão ficar espiandoPara ver se as renas sabem mesmo voar”(Música: The Christmas Song – Intérprete: Justin Bieber FEAT Usher)* * * * * * * * * * * * Ainda chovia muito quando saímos, o que fez com que o trajeto, para mim, ficasse ainda mais tenso. Eu mal dirigia desde o acidente, não me sentia mais à vontade em um carro, especialmente se fosse à noite. A chuva embaçava mais a vis&at
Capítulo quatro – Uma doce e inocente conclusão* * * * * * * * * * * *“Meu querido está vindo para casa para o NatalEu estive acordada a noite toda no meu quartoVocê disse que estaria comigo em breveEntão eu espero e esperoMas eu já aguentei tanto quanto podia”(Música: One More Sleep – Intérprete: Leona Lewis)* * * * * * * * * * * * Na manhã seguinte, algo realmente inusitado aconteceu: acordei estranhamente disposta. Sequer conseguia me lembrar da última vez que tinha me sentido assim.Acordei bem cedo, comi bem n
Capítulo cinco – Um tantinho assustador e igualmente desafiador* * * * * * * * * * * *“Há algo especial nesta época do anoO espírito natalino por toda parteFui para casa para nos unirmosFiquei longe muito tempoMas agora voltei para compartilhar meu amorAmigos estão reunidos, uma grande famíliaPreenchida com amor para durar o ano todo”(Música: Christmas Time – Intérprete: Backstreet Boys)* * * * * * * * * * * * Fui andando devagar, tentando levar o máximo poss&iac
Capítulo seis – Heróis às vezes falham* * * * * * * * * * * *“Deixei uma marca em minha carta, foi selada com um beijoColoquei no correio e disse isso:Eu sei exatamente o que quero este anoPapai Noel, você está me ouvindo?Eu quero o meu amor, o meu amor”(Música: My Only Wish – Intérprete: Britney Spears)* * * * * * * * * * * * Nossos pratos chegaram, e Gabriel logo puxou outro assunto. Quando me dei conta, já falávamos sobre os nossos filmes favoritos, percebendo que tínhamos um gosto bem parecido e que dividíamos
Capítulo sete – Dores iguais* * * * * * * * * * * *“Papai Noel, me diga se você está realmente aíNão faça eu me apaixonar novamenteSe ele não vai estar aqui ano que vemPapai Noel, me diga se ele realmente se importaPois posso desistir se ele não vai estar aqui ano que vem”(Música: Santa Tell Me – Intérprete: Ariana Grande)* * * * * * * * * * * * Quando o domingo chegou, no entanto, eu já tinha me deixado abater por toda a minha velha insegurança. Faltavam poucos dias para o Natal, e eu já começav
Capítulo oito – Instinto de sobrevivência* * * * * * * * * * * *“Agora estamos na lista dos malcomportadosDeve ter sido pelo jeito que nos beijamosO Papai Noel viu as coisas que fizemosE nos colocou na lista dos malcomportados”(Música: Naughty List – Intérprete: Liam Payne Feat. Dixie D'Amelio)* * * * * * * * * * * *Saí de casa caminhando meio sem rumo, apesar de minhas pernas, inconscientemente, me levarem para o mesmo lugar onde tinha tentado terminar com a minha vida dias atrás. Uma forte chuva começou a cair, mas eu não me importei e continuei a andar, até chegar à praça. O local estava completamente decorado para o f