Sentada sozinha pensava em seu pai. Era um homem alto e bonito. Seus cabelos lisos e corpo magro branco. Tinha os olhos de um castanho mel profundamente cativantes. Como sentia falta deles. Estava ali sobre a grama da parte externa de sua escola. As crianças corriam excitadas por todos os lados, típico das meninas e meninos de sua idade, mas ela se mantinha em seu canto quieta. Alguns sabiam e entendiam o motivo da sua dor, outros passavam por ela e não tinham a menor ideia do porquê daquela menina estar tão diferente das outras crianças.
Seu pai havia falecido havia duas semanas. Foi cruelmente ferido no pescoço e não teve a menor chance contra seus agressores. Lembrava-se do cheiro dele e como por toda a parte da casa era presente seu perfume, porém o tempo era cruel e a cada dia que se passava mais se esvaia o que restara
Após o hino todas as turmas subiram. Já em sua sala de aula Clara estava sentada em sua carteira que era dividida com sua amiga Stephanie. A professora havia pedido para todos tirarem os cadernos para fora junto ao livro de ciências. Clara aproveitou o momento para dar uma olhada dentro de sua mochila. Ao vasculhar não encontrava o pequeno canudo. Procurou desesperadamente revirando tudo. A mochila estava muito bagunçada devido os pedaços da boneca soltos e o material escolar. Procurou durante alguns minutos até a professora a questionar: — Algo errado com sua mochila Clarice? — Não professora. Desculpa. Apenas estou procurando meu lápis que caiu do estojo. — Seja rápida que vou começar a explicar a tarefa de hoje.&nb
Levantou seu rosto lentamente do chão seco. Seu respirar suspendia pequenas partículas de poeira que involuntariamente entravam em suas narinas, descendo até o encher de seus pulmões. Pedro colocou seu peso sobre seus braços e esforçou-se a ficar de pé. Todo aquele cenário de caos e adrenalina pulsando em suas veias, devido às moscas e toda a tormenta de tremor e medo, haviam desaparecido assim que soltou a mão do menino branco. Sentou-se no chão e chorou pela morte de seu tão recente amigo. Não queria ter soltado seus dedos. — Mas foi ele quem forçou para soltar a minha mão. — Pedro se questionava sobre o que realmente significavam as palavras finais do garoto: — Como assim eu não me lembrava do nome dele? — Se esforçou em recordar todos os nomes possíveis que j&aacut
Com voz descuidada de medo e sentindo-se totalmente livre para ter contato com a dupla Pedro levantou sua mão acenando e com um sorriso nos lábios perguntou: — Olá. Me chamo Pedro. Vocês são os donos desse lindo lugar? Ambos, homem e menina continuavam chamando e convidando Pedro a se aproximar. O garoto, a cada passo que dava e se aproximava, reparava como os dois eram parecidos. Os cabelos, as expressões, a cor da pele, tudo era de alguma forma semelhante. — Adorei esse lugar. Ele me trouxe alegria, mesmo nesse tempo de tantas coisas estranhas que estão acontecendo do outro lado dos rochedos. Vocês vivem muito tempo aqui? Devem se sentir muito seguros. Não vi nenhuma monstruosidade nesse local. São os verdadeiros donos disso tudo?
Apertou o alicate sobre a ligação elétrica. O contado entre o aço da ferramenta com o cobre do fio de tensão gerou algumas faíscas que espirraram sobre seu rosto sujo. Estava acostumado com aquele fenômeno. Vestia uma roupa que lhe trazia segurança. Os acessórios de proteção, além da barragem contra arco elétrico, o protegiam contra chamas e altas temperaturas. Completava o equipamento de proteção uma luva própria de borracha, jalecos e calças resistentes, feitas de um material grosso. Não podia se esquecer do capacete. Sem todos esses acessórios teria morrido eletrocutado, ou por pancada na cabeça, há muito tempo. Mesmo com aqueles acessórios era um trabalho que oferecia enorme risco de vida, mas pagava suas contas e sustentava sua família. Houve um episódio em q
Adentrou no bairro onde morava. O dia estava nublado. Nos céus grandes relâmpagos cobriam com fortes clarões o céu repleto de nuvens negras. O som chegara segundos depois avisando que os raios não haviam caído tão distante dali. A rua que estava era larga. Duas mãos de carros de distância. As calçadas tinham pelo menos dois metros e meio. Era um lugar seguro para pedalar. Ao final da avenida existia a opção de pegar um atalho por uma senda encurtando toda uma volta que seria necessária se pegasse o caminho principal para sua casa. Pedalou apressadamente e avistou a pequena entrada. A ruela era estreita e não permitia que estivesse sobre sua bicicleta. Desceu de seu veiculo de duas rodas presas a um quadro e segurou seu guidom do lado esquerdo. Até empurra-la era difícil, entre os dois muros que formavam aquele caminho, pois ambos quase não cabiam entre as paredes. Des
Venceu rapidamente a cobertura do matagal e desceu as rochas cortantes, aumentando ainda mais as feridas em seu corpo. Não era possível contar agora quantas cortes existiam em seus braços, pernas e no próprio rosto. Não era apenas isso. Toda a sua roupa estava rasgada e esfarrapada quase por completamente. Observou novamente o aspecto de sua própria constituição física, como tinha feito antes no jardim por ordem do homem, e não tinha mais o mesmo aspecto que tivera na visão anterior. Voltara a ser o que realmente era. Seus cabelos compridos lisos caiam no seu rosto suado, seus braços estavam realmente sujos, mas eram fortes, jovens e bem definidos. As mãos feridas não continham as marcas de calejamento vistas há minutos atrás, mascas estas que traziam a informação de que era uma pessoa adulta. — Tudo aquilo era uma mentira. — Afirmava para s
A casa não era como antes de sua partida dali. Estava totalmente reformada, como nova. Os muros estavam novamente de pé, o pequeno cercado não apresentava nenhuma falha. Nenhuma das tiras de madeira estava caída no chão, ou descolada dos pregos e arames. Toda a pintura da residência estava como a original. O amarelo da frente não possuía mancha alguma. O telhado, que evitava o chapisco de agua da chuva, que mofava as paredes, estava totalmente limpo, sem um limo sequer. As portas pareciam recém-colocadas, porém eram exatamente como as portas de suas lembranças de quando era criança. O marrom verniz e o dourado da maçaneta brilhavam ao reflexo do vermelho no céu. Ao chegar a apenas alguns passos de distancia da entrada reparou que o tornado desaparecera por completo. O caos acalmara-se repentinamente. Até o vento havia se arre
— Então diga cabo Sérgio Alcântara. O que está acontecendo? Fiquei sabendo por intermédio do segundo sargento Henrique que você anda meio desligado nos horários de ronda e que no ultimo caso, em que sua equipe foi solicitada, o senhor chegou a chorar por um momento na cena do crime. Estou correto sobre isso cabo? Sergio acabara de ser chamada para a sala do primeiro tenente de seu pelotão. Um homem baixinho e de físico frágil. Seu rosto aparentava uma coloração acinzentada e seus lábios eram de uma cor pendendo ao arroxeado. O tenente não tinha das melhores condições de saúde daquele lugar. Há alguns anos precisou de um transplante de rim e desde então vinha decaindo-se em condicionamento físico. Mesmo com esse histórico mantinha-se fiel ao seu cigarro e a cafeína co