✩。•.─── ❁Liza❁ ───.•。✩...Após chorar comigo, mamãe me convenceu a tomar um banho e colocar uma blusa com mangas longas de cor preta. Em meu armário, estava uma calça verde militar que ele costumava usar. Calcei coturnos pretos, soltei os cabelos para que bloqueassem o meu rosto, e então saí de casa acompanhada dos meus pais.Eu vesti aquelas calças como se ele estivesse comigo. Eu o queria. Eu o queria no que fosse e viesse em minha vida. Eu só queria que ele vivesse outra vez.Com o queixo no peito, escondia minhas lágrimas atrás da cortina escura dos meus cabelos cheios. Meus pais me guiaram até o carro e então entramos.Pela primeira vez, em muito tempo, dividíamos o mesmo carro e o mesmo comboio.Ainda não conseguia aceitar a ideia de entrar naquele cemitério outra vez. Passar pelo túmulo do vovô e, agora, me despedir de um caixão vazio por simplesmente não terem encontrado o corpo do meu irmão.Eu queria ter esperanças.Eu tive esperanças....Porém, quando os portões de ferro
✩。•.─── ❁Wictor❁ ───.•。✩Depois que embarcamos, nem o silêncio da viagem me fez adormecer.Eu estava preocupado.Eu precisava saber como ela estava.Com as pernas minimamente abertas, passei as mãos pelas coxas. Procurava por meu celular novamente, até me recordar que um dos seguranças havia tomado o aparelho de mim.Limpei a garganta, coçando a nuca.—Preciso falar com o meu pai.O agente Cooper abriu os olhos, inspirando profundamente. Talvez ele pensasse em não ceder. Talvez se lembrasse que eu seria o sucessor do meu pai. De qualquer forma, ele não protestou. Estendeu o braço e me entregou o seu próprio aparelho.Já tá discando...A voz, no outro lado da linha, parecia calma o suficiente para alguém que estava envolvido no sequestro/morte do próprio filho.—Cooper?—Konnor. —Corrigi com ironia.—Então você já acordou...—Estou voando pra Itália, e você quer, por favor, me dizer o que está acontecendo?—É melhor pararmos essa conversa por aqui, meu filho-—Não era você quem ia me c
✩。•.─── ❁Wictor❁ ───.•。✩Eu mal pude abrir os meus olhos enquanto ele falava. Era como um atropelar de sentimentos avulsos.Fiquei sem sentir os pés no chão naquela aeronave.—Pai. Contou pra ela que eu não estou morto. Certo?Ele ficou em silêncio.Ele havia deixado que Elizabeth sofresse?Era demais para alguém como eu.—Eu não posso acreditar que permitiu que ela sofresse a minha perda. Você sabe que ela não aguentaria! Ficou maluco?—Ela precisa acreditar. Acontece, meu filho, que eles não são burros. Analisam a veracidade dessa notícia através da sua irmã. O país inteiro sabe o quanto vocês são ligados, um no outro. É impossível que ela não sofresse como está sofrend-—Você... Você é um psicopata! Você é louco?—Wictor...—VOCÊ MORREU PRA MIM!Encerrei a chamada, trêmulo. Estava transtornado. Devolvi o celular para o segurança, analisando sua apatia. O aparelho vibrou, fazendo com que o agente Cooper atendesse.Ele murmurou e se levantou sem olhar para mim. Quando retornou, deixo
✩。•.─── ❁Liza❁ ───.•。✩Passei uma semana me consultando com o doutor Bonifácio da Fonseca. Ele era atencioso, amigável e ponderado. Sua companhia me fazia bem.Nós falávamos sobre ele.—Bom, por hoje terminaremos aqui. Amanhã eu quero saber mais sobre esses eventos do clube. Parecem promissores! —Bateu a poeira inexistente das pernas, levantando-se da poltrona. Ele me analisou de cima e pareceu satisfeito. —Fico feliz em saber que já está comendo novamente, senhorita Konnor.Pisquei, minimamente curvando os lábios.A porta abriu, revelando minha mãe. O roupão de seda varria o chão como uma barra esvoaçante.Ela era o meu protótipo de elegância.—Oh, doutor. Espero não estar interrompendo nada...—De maneira alguma, senhora Konnor. Já estávamos nos despedindo. —Ele juntou seus papéis e foi em direção à mamãe.Ela passou os olhos por mim, percebendo o copo de suco que acabava de ser esvaziado. Seus olhos brilharam, mas ela se conteve.Eles saíram do quarto e me deixaram em paz, finalmen
✩。•.─── ❁Wictor❁ ───.•。✩Novamente em um lugar estranho. Dessa vez, de frente para um lago, no meio do quase nada.Que diabos...Espremi os olhos, levantando da namoradeira de madeira. Cooper estava sentado na cadeira ao lado, de braços cruzados.Esperava por algo. Sempre esperava.—Bem vindo de volta, senhor Konnor. —Sorriu com os lábios debochados para mim. —Não se preocupe, não irei lhe drogar.—Eu não sei se posso chamar isso de sequestro, porque estou ciente dos motivos e não estou me recusando a ficar com você. —Passei a mão pela nuca, sentindo em meu pescoço uma dor martelante. —Me trouxeram numa mala, por acaso? Que dor desgraçada...—Não. Mas não por falta de vontade. —Ele inspirou, estufando o peito. —Vou mandar que lhe tragam algo. Não tem muito o que fazer aqui, além de contemplar o lago, a floresta à frente e a casa de dois andares, atrás de nós. O seu quarto já foi preparado, por falar nisso. Os outros agentes vão vazar em breve.De cenho franzido, o encarava incrédulo c
✩。•.─── ❁Wictor❁ ───.•。✩Alguns dias se passaram e eu não conseguia definir, exatamente, há quanto tempo estávamos ilhados. Não tinha relógio, não tinha calendário.Além do encarceramento, era também uma boa prisão mental.Olhando para meu reflexo nas águas plácidas daquele lago, me aproximei tanto da superfície espelhada que acabei escorregando para dentro da imensidão fria e escura.Abri os olhos, soltando as bolhas de ar enquanto meus braços e pernas pesavam com movimentos circulares.Um baú? Por que alguém esconderia um baú acorrentado lago a baixo?Algo foi jogado para dentro da água, e ao olhar na direção das águas agitadas, percebi o agente Cooper nadando na minha direção. Eu sabia nadar, mas ele não deve ter se lembrado disso no momento em que me puxou ao se aproximar....Fora da água, o agente Cooper conferia se eu estava bem.—Se cortou? Consegue respirar, garoto?—Cooper, tinha... —Expirei, passando as mãos pelos cabelos encharcados. — ... Tinha um baú suspenso por uma corr
✩。•.─── ❁Wictor❁ ───.•。✩O dia amanheceu. Abri os olhos ao som de batidas na porta de madeira escura.—Konnor, se não abrir eu vou ter que entrar pela janela. Não me força à isso. —Ameaçava, ainda batendo na porta.Joguei as pernas para fora da cama, me recusando a aceitar que a falsa SWAT quebrasse os vidros da janela.A dobradiça rangeu reclamando o uso e a falta de lubrificação.—O que foi, tá morrendo?Em um segundo meu olhar congelou ao me lembrar de que não havia secado a garagem. Pude sentir a boca secando lentamente, congelando todo o meu corpo.Ele me olhou sereno e pôs a mão lentamente para trás.Merda, merda, merda! Ele vai atirar... Certeza que vai atirar! EU SOU UM JUMENT...—O seu pai precisa falar com você. Segura aqui e fala com ele, anda.Sentia cada fibra do meu corpo estremecendo quando ele estendeu o braço, entregando-me o celular.Cheguei a suar, respirando aliviado.Não fui capaz de respondê-lo. Segurei o celular e dei dois passos para trás, trancando a porta do q
✩。•.─── ❁Wictor❁ ───.•。✩ A maleta estava fechada apenas pelas trancas. Apesar do receio, eu precisava abrí-la. Inclinei-me diante do objeto metálico esverdeado e forcei os polegares sobre os botões. Estava em péssimo estado, mas ainda era útil.Papel? Guarda papel em escritório, no cofre... Não debaixo d'água, papai! Puxei os papéis protegidos por um envelope de plástico e comecei a ler cada lauda. Tratava-se de documentos relacionados aos desvios escabrosos, que o meu avô havia feito, do dinheiro destinado aos familiares, vítimas do maior acidente que já houve na fábrica do vovô.Então, invés do vovô ressarcir os parentes das vítimas fatais, do acidente na fábrica, ele desviou o dinheiro e abandonou as famílias. O meu avô... Não pode ser! Continuei lendo por horas, até concluir tudo. Escondi os documentos dentro do envelope de plástico novamente e os protegi dos olhos do agente Cooper. Saindo do quarto, andava pelos cantos da casa enquanto organizava os pensamentos. O meu avô gu