Vinicius de Moraes
ASSIM QUE DONOVAN ADORMECEU, teve um sonho muito estranho, mas era realmente bom, como se aquele sonho fosse real.
Real até demais...
Donovan sentia cada pulsação dada por seu coração, se tivesse beliscado seu braço, tinha certeza absoluta que o poderia sentir.
Era real, mas não era natural...
Pela primeira vez na vida Donovan sentiu ser um homem espiritual vivendo em uma dimensão carnal, sua vida toda tinha sido uma mera existência até aquele momento único. Parecia que Donovan tinha sido arrebatado para um lugar que ele ainda não conhecia, um lugar muito lindo, um jardim maravilhoso, suas flores com cores tão vivas quanto ele.
Sem sombra de dúvidas aquele era o sinônimo de:
Paraíso perfeito...
COMEÇOU A CAMINHAR PARA CONHECER o extraordinário lugar e a calmaria do ambiente chegava a incomodar sua alma, tal beleza não poderia ser tão inquietante, o que o deixou alerta, pois o silêncio em sua vida sempre significava que algo importante e não tão agradável, porém, o ruim ainda estava para acontecer, então começou a esperar pelo pior, mas não foi exatamente o que aconteceu, pois a única coisa ruim foi que aquele encontro teve um começo, mas teve um final repentino.
Donovan viu uma sombra no alto do monte – ele não conseguiu ver seu rosto devido o sol ter-lhe ofuscado os detalhes dela –, apenas viu a sua longa cabeleira dourada que se misturava com os raios do sol e um sorriso inesquecivelmente enigmático e único em seu semblante escurecido pelo reflexo do sol sobre ela.
Que sorriso indescritível... brilha como o sol...
Donovan tentou chegar até ela, mas como num passe de mágica, foi levada por um vento suave que passou por entre ela e a desfez como uma fumaça se desfaz ao ser soprada pelo vento, mas antes de que sua imagem fosse embora, ouviu sua doce voz cantar suavemente.
— Me encontre, Donovan, me encontre além dos nossos sonhos...
ELE FICOU AJOELHADO, vendo-a partir, voando lentamente pelos céus – brincando por entre as nuvens e as estrelas que formavam um caminho longo, mas nada estressante de se seguir, até que por fim todo e qualquer rastro de sua existência se foi por completo, ele não sabia explicar porque, mas aquilo não era um adeus, era um sinal do que seria sua vida, e com quem.
Nesse mesmo sonho, Donovan sentiu aquela mesma sensação da qual acordara na manhã anterior, um calor dentro do seu coração que ele não sabia explicar direito o que era – só sabia que era tudo muito bom.
DONOVAN ACORDOU e era uma manhã belíssima.
Sentou-se ao piano e dedilhou algumas notas para aquecer seus dedos, pois naquela tarde teria um conserto ao ar livre – um pouco antes do jantar – precisava entrar no clima desde os primeiros instantes do seu dia, na sua visão, o show era uma extensão de como tinha sido seu dia, e pelo começo que teve, o show seria o melhor que já tinha feito em toda a sua vida.
E como se fosse uma premonição, aquele foi um dia extraordinariamente especial.
Donovan sempre foi assim quando tinha que tocar, indiferente do local, tinha que acordar no clima do concerto, precisava meditar em cada nota, suavizando sua mente para que seus dedos corressem levemente pelo teclado, fazendo cada nota única aos ouvidos dos espectadores.
O MAESTRO PAUL SAINT–JOHN ligou e pediu para que Donovan chegasse um pouco antes do concerto começar, pois gostaria de trocar algumas poucas palavras com ele, nada muito sério, coisas mais relacionadas a eles do que ao show, mas era coisa boa, não era para ele se preocupar.
Donovan confirmou que estaria lá e desligou.
GERDA TROUXE O CAFÉ DA MANHÃ e colocou em cima da cauda do piano, mas ela já estava acostumada com aquilo, era como se ele estivesse em transe quando tocava o telefone e ela fosse um mísero fantasma em sua presença.
Esse menino tem que se alimentar melhor, não dá para só viver de música...
ME ENCONTRE DONOVAN... além dos nossos sonhos...
— Cara!!! Que loucura... – disse para si mesmo ao acordar de seu transe, já era a oitava vez que se pegava fora de si imaginando aquele sonho e sua voz inconfundível.
Ele não tinha a mínima ideia de por onde iria começar sua jornada, mas sabia que de algum jeito tinha que trilhar aquele caminho.
DONOVAN ALMOÇOU TRANQUILAMENTE e foi ao encontro com seu amigo maestro.
— O que acha de tocar em Veneza comigo? Vou reger a orquestra filarmônica de Veneza, seria uma experiência única em sua vida.
Donovan aceitou na mesma hora e, ficou lisonjeado pelo convite, afinal, era mais um grande sonho que se realizaria...“A medida do amor é amar sem medida...”Santo AgostinhoDONOVAN TOCOU NAQUELE concerto como jamais havia tocado em toda a sua vida, o sonho que ele tivera na noite passada – de certa maneira – mudou a sua concepção de ver todas as coisas e o mundo ao seu redor, não que antes não enxergasse, mas trouxe uma nova perspectiva sobre tudo, as teclas de seu piano pareciam adquirir vida, cada nota soava de forma diferente, tinha literalmente vida. Donovan ficou apaixonado por aquele sonho. Aquele sorriso mexeu com ele de verdade. Parecia que já conhecia aquele sorriso a vida toda, que tinha nascido para ver e viver naquele sorriso. Sua vida inteira o acompanhou até aquele momento único para ser guiado por aquela voz inesquec
“O fogo do amor se apaga, quando ele na verdade não existe, mas o verdadeiro amor é aquele que começa como uma faísca e sem querer domina o teu coração para sempre!...”Stéfanie Rodrigues AbreuQUANDO DONOVAN SE MUDOU para Londres ainda em sua pré-adolescência, seria impossível qualquer um não se apaixonar por Jane, ela era a garota mais disputada de toda Londres, todos queriam uma chance com ela. Jane era inteligente, linda, bem-sucedida, com uma família extraordinariamente maravilhosa. Donovan nasceu em Londres, mas com dois anos de idade, seu pai aceitou um alto cargo político e se mudou para a Escócia, oito anos depois ele volta em sua glória como uma das famílias mais ricas de todo o Reino Unido.
“As palavras podem te fazer sorrir,mas só o amor pode te fazer mudar...”Aristides WanderleyDONOVAN ESTAVA MUITO ansioso para tocar em Veneza – era outro sonho que ele tinha desde que era criança – e estava prestes a realizá-lo. Faltava apenas um mês para o concerto, mas Paul o convidou para irem mais cedo e conhecerem a cidade e toda a estrutura do local, eles queriam aproveitar ao máximo aquela viagem, além de ensaiarem bastante para que tudo saísse da melhor forma possível. Donovan aceitou na mesma hora o convite. Eles foram almoçar em um restaurante para acertarem os últimos detalhes de sua viagem.NÃO ERA UM
“O amor não tem tempo para acontecer, só acontece uma vez, e não acaba, se você acha que ele já aconteceu e lamenta por ter acabado é por que ele nem começou...”Ivan TeorilangDONOVAN E PAUL CHEGARAM em Veneza, e depois que se hospedaram no hotel. Saíram e foram jantar em um restaurante perto da catedral da São Marcos. Donovan jamais viu um lugar tão belo em toda a sua vida, tão rica em cada detalhe: Realmente magnífica... – pensou ele. Era uma obra de arte esplêndida.DOIS DIAS DEPOIS dessa incrível aventura, chegou um telegrama inesperado de seu tio relatando o falecimento de sua mãe.
“O amor é uma flor delicada, mas é preciso ter a coragem de ir colhê-laà beira de um precipício...”SthendalDONOVAN ACORDOU com seu ânimo restabelecido – dificilmente alguém teria dito que dias atrás a sua mãe tinha morrido, ou que ele estava com seu coração despedaçado devido ao sofrimento extremo que vivenciara. O maestro Paul e Donovan foram até o local onde seria o concerto, e fizeram um pequeno ensaio – para conhecerem os músicos que tocariam com eles. Donovan tocou de maneira única – mesmo sendo apenas um mero ensaio –, parecia que era a própria música – mas ouvia apenas a música que sua Madona cantava em seu sonho –,
“O amor é a materialização da presença de Deus...”Rafael ZimichutDONOVAN FOI DE ENCONTRO ao instrumento, aquele piano o chamava, gritava o seu nome... Isso é o meu mundo, esta é minha realidade... Ele se sentou ao piano, fechou os olhos e começou a dedilhá-lo sem ter a menor ideia do que iria tocar. A canção era em Si menor. Imediatamente a mulher desceu do quadro como um anjo que desce dos céus e traz as boas novas de Deus para os seus filhos. Ela sentou ao seu lado, como se eles estivessem em mais um sonho, mas dessa vez
“O amor é uma fonte inesgotável de reflexão, profunda como a eternidade, alta como o céu, vasta como o universo...”Alfred de VignyDONOVAN ACORDOU na manhã seguinte – mais feliz do que nunca –, com uma vontade enorme de tocar piano, seus dedos formigavam de emoção, a excitação beirava ao êxtase de estar com alguém muito especial em um momento único, sua motivação estava no auge, nada e nem ninguém poderia estar tão excitado quanto ele para tocar. Paul e Donovan saíram do hotel juntos – e ele levou seu quadro junto coberto por uma manta que ele havia comprado na noite anterior. — Espero que você...
“No amor nunca os pratos da balança estão equilibrados. E como a essência do amor é etérea, quem pesa mais é quem ama menos...”Vergílio FerreiraFINALMENTE DONOVAN chegou a Paris. Hospedou-se no hotel, e descansou aquela noite: Pois o dia seguinte poderia ser o principal dia de toda a sua vida... – pensava ele confiante. Donovan dormiu apenas porque queria sonhar com sua Madona, pois se dependesse de sua ansiedade, com toda certeza não teria dormindo – ficaria contando cada segundo passar até seu encontro com o pintor do quadro de sua amada. A noite foi maravilhosa, como em todas as noite