Aristides Wanderley
DONOVAN ESTAVA MUITO ansioso para tocar em Veneza – era outro sonho que ele tinha desde que era criança – e estava prestes a realizá-lo.
Faltava apenas um mês para o concerto, mas Paul o convidou para irem mais cedo e conhecerem a cidade e toda a estrutura do local, eles queriam aproveitar ao máximo aquela viagem, além de ensaiarem bastante para que tudo saísse da melhor forma possível.
Donovan aceitou na mesma hora o convite.
Eles foram almoçar em um restaurante para acertarem os últimos detalhes de sua viagem.
NÃO ERA UM
“O amor não tem tempo para acontecer, só acontece uma vez, e não acaba, se você acha que ele já aconteceu e lamenta por ter acabado é por que ele nem começou...”Ivan TeorilangDONOVAN E PAUL CHEGARAM em Veneza, e depois que se hospedaram no hotel. Saíram e foram jantar em um restaurante perto da catedral da São Marcos. Donovan jamais viu um lugar tão belo em toda a sua vida, tão rica em cada detalhe: Realmente magnífica... – pensou ele. Era uma obra de arte esplêndida.DOIS DIAS DEPOIS dessa incrível aventura, chegou um telegrama inesperado de seu tio relatando o falecimento de sua mãe.
“O amor é uma flor delicada, mas é preciso ter a coragem de ir colhê-laà beira de um precipício...”SthendalDONOVAN ACORDOU com seu ânimo restabelecido – dificilmente alguém teria dito que dias atrás a sua mãe tinha morrido, ou que ele estava com seu coração despedaçado devido ao sofrimento extremo que vivenciara. O maestro Paul e Donovan foram até o local onde seria o concerto, e fizeram um pequeno ensaio – para conhecerem os músicos que tocariam com eles. Donovan tocou de maneira única – mesmo sendo apenas um mero ensaio –, parecia que era a própria música – mas ouvia apenas a música que sua Madona cantava em seu sonho –,
“O amor é a materialização da presença de Deus...”Rafael ZimichutDONOVAN FOI DE ENCONTRO ao instrumento, aquele piano o chamava, gritava o seu nome... Isso é o meu mundo, esta é minha realidade... Ele se sentou ao piano, fechou os olhos e começou a dedilhá-lo sem ter a menor ideia do que iria tocar. A canção era em Si menor. Imediatamente a mulher desceu do quadro como um anjo que desce dos céus e traz as boas novas de Deus para os seus filhos. Ela sentou ao seu lado, como se eles estivessem em mais um sonho, mas dessa vez
“O amor é uma fonte inesgotável de reflexão, profunda como a eternidade, alta como o céu, vasta como o universo...”Alfred de VignyDONOVAN ACORDOU na manhã seguinte – mais feliz do que nunca –, com uma vontade enorme de tocar piano, seus dedos formigavam de emoção, a excitação beirava ao êxtase de estar com alguém muito especial em um momento único, sua motivação estava no auge, nada e nem ninguém poderia estar tão excitado quanto ele para tocar. Paul e Donovan saíram do hotel juntos – e ele levou seu quadro junto coberto por uma manta que ele havia comprado na noite anterior. — Espero que você...
“No amor nunca os pratos da balança estão equilibrados. E como a essência do amor é etérea, quem pesa mais é quem ama menos...”Vergílio FerreiraFINALMENTE DONOVAN chegou a Paris. Hospedou-se no hotel, e descansou aquela noite: Pois o dia seguinte poderia ser o principal dia de toda a sua vida... – pensava ele confiante. Donovan dormiu apenas porque queria sonhar com sua Madona, pois se dependesse de sua ansiedade, com toda certeza não teria dormindo – ficaria contando cada segundo passar até seu encontro com o pintor do quadro de sua amada. A noite foi maravilhosa, como em todas as noite
“O mais belo estado da vida é a dependência livre e voluntária:e como seria ela possível sem amor?...”Johann GoetheNESSES TRÊS MESES em Paris, Donovan recebeu inúmeras cartas de Jane, o atualizando de tudo que acontecia em Londres – e de como estava sentindo a sua falta. Donovan contou em uma das cartas que mandara que estava estudando e tocando na noite parisiense e que estava sendo algo fantástico para ele, e que logo estaria de volta – isso era a última coisa que ele queria fazer: Como falaria à Jane que estava apaixonado por uma mulher que conhecera em seus sonhos? Ela o acharia um louco – se é que ele não estava mesmo...
“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: Pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.”Clarice LispectorDONOVAN SAIU da sala esperançoso. No caminho para o hotel, foi caminhando pensativo, primeiramente, como se aqueles três meses tivessem sido inúteis, era um ar de frustração, mesmo conhecendo pessoas maravilhosas e talentosas, tocando com inúmeros artistas talentosos, mas ainda havia aquele vazio em seu coração que só o beijo de Cíntia poderia preencher, mas pelo menos agora Donovan já sabia seu nome, nem tudo tinha sido tão em vão assim, o seu sonho tinha um nome pelo menos...&n
“O amor é um crime que não se pode realizar sem cúmplice...”Charles BaudelaireNESSA UMA SEMANA QUE SE PASSOU, a cada dia aumentava mais e mais a amizade de Donovan com o Albert Thomas Gray. Albert era uma pessoa fascinante, deu de presente – além da passagem para um Cruzeiro de primeira classe à Grécia –, um quadro, um retrato fiel dele tocando piano. Albert disse: — Era o mínimo que poderia fazer por você depois da sensação extraordinária que me fez passar naquele restaurante. Naquele mesmo dia em que foram jantar, Albert nem quis que Donovan voltasse para o hotel, fez questão que ele ficasse em sua própria casa – no