KATHERINEA carruagem avançava pelas ruas movimentadas.Eu não conseguia deixar de olhar através do tule da cortina para as pessoas que passavam, o vai e vem animado das feiras noturnas.O ar cheirava a festividades; era a primeira vez que eu vinha para essas terras, fora do Ducado de Everhart, propriedade de outros nobres.De repente, paramos por um momento, talvez porque algo estava bloqueando o caminho da carruagem.Minha atenção se voltou para um casal de amantes que estava em frente a uma barraca de bugigangas.O homem parecia ser um trabalhador do campo, com a pele marcada pelo sol, mas tinha uma expressão de completo enamoramento enquanto olhava para a pequena mulher ao seu lado.Ele pegou alguns colares para experimentá-los nela.A mulher parecia envergonhada, e então ele disse algo em seu ouvido, inclinando-se para ela, que a fez sorrir e corar como um tomate.Suspirei com melancolia.Sempre fui uma romântica incurável, tanto que, por algumas palavras e gestos bonitos, acabei
NARRADORADo segundo andar da enorme e glamorosa Mansão Coral, uma mulher observava furtivamente por trás da pesada cortina de veludo vermelho.As pupilas de Brenda mudaram de cor ao avistar Elliot descendo da carruagem.Imediatamente, a brisa noturna trouxe até ela as masculinas e sedutoras feromonas que aquele macho exalava, tão poderoso e viril, que ela adorava.Mas seu estado de ânimo excitado mudou ao vê-lo estender a mão para apoiar uma mulher de cabelos castanhos que o acompanhava.Brenda a examinou detidamente, como uma fêmea avaliando uma rival.Lembrava-se de tê-la visto algumas vezes, aquela pobre coitada que fingia ter uma classe que não possuía.Mas hoje… algo parecia diferente naquela mulher, como se ela projetasse uma aura mais confiante, de segurança indomável.Usava um vestido azul, lindo e vaporoso.O corpete do vestido apertava sua cintura, deixando-a fina e estilizada.O decote quadrado não conseguia esconder a sensualidade de seus seios fartos. Essa idiota tinha t
KATHERINEAlguns murmúrios começaram a surgir perto de mim.Senti o braço de Elliot um pouco rígido.Tentei não tirar conclusões precipitadas, mas à medida que aquela bela voz se aproximava, a mulher cantava uma balada cheia de paixão, como se fosse para um amante proibido. E, casualmente, seus olhos cinzentos procuraram na multidão até se fixarem em um homem.Intensamente, sem muito disfarce, aquela cantora chamativa, a tal Safira, parecia estar dedicando sua letra de amor a Elliot.—... olha, a Brenda é ousada mesmo. Nem respeita que a mulher do homem está presente...—... pft, pra falar a verdade, isso é um segredo contado em alto e bom som. Nem sei por que o Duque a trouxe...—... pra humilhá-la, é óbvio...Algumas palavras furtivas chegavam até mim.Levantei o queixo e observei de soslaio Elliot, medindo sua atitude.Ele bebia de sua taça, sem olhar para a tal Brenda, que agora eu sabia com certeza, era sua amante.Ele me trouxe para esta festa onde estava sua amante, que, além d
NARRADORA—Duquesa, que vergonha. Deborah, por que você mencionou o colar? —Katherine viu Brenda fingindo surpresa e até mesmo constrangimento.Tudo isso havia sido seu plano desde o início.Sua irmã deveria estar se revirando no túmulo, porque neste momento ela a estava amaldiçoando de todas as formas possíveis.Como uma mulher poderia ter caído tão baixo por um homem?—Duquesa, lamento muito. Apenas comentei com minha amiga sobre o incidente do colar, digo, que a senhora… acreditou que fosse um presente do Duque para o seu aniversário, mas, bem, descobriu que não era… —disse a cínica com um sorriso "culpado".— Ele mandou confeccionar para outra pessoa.Nem era necessário dizer para quem; era óbvio. A mulher que usava o original no pescoço não era a legítima esposa.—Parece que gostou tanto que mandou fazer uma imitação. Imagino que, com a pensão de nobre que o Duque lhe dá, não daria para algo tão valioso —murmurou uma das mulheres atrás dela, com evidente malícia.Katherine apertou
NARRADORAO Duque ouviu os passos apressados no corredor.A porta se abriu e fechou rapidamente. Elliot estava esperando.—Elliot, achei que nunca me chamaria —Brenda imediatamente caminhou em sua direção, sua loba se agitando com as feromonas daquele macho poderoso.Embora o Duque fosse reservado, ele nunca havia mostrado seu lobo interior, nem permitia que sua loba se aproximasse, mas ela sempre tentava.Até mesmo durante os momentos mais íntimos, quando ele perdia um pouco do autocontrole, continuava mantendo-se distante.Brenda também não conhecia muito sobre sua raça; ela era uma órfã acolhida por nobres elementais que não podiam ter filhos.Era uma menina bonita, que aprendeu a cantar, a ser obediente e a manipular o coração dos outros.Aprendeu a esconder sua verdadeira natureza até ser descoberta em seu primeiro cio pelo homem poderoso à sua frente, e desde aquele dia Brenda o desejou profundamente em sua alma.Com Elliot, podia ser ela mesma, sem máscaras ou mentiras.—Não ch
NARRADORAKatherine se recompôs rapidamente, secando as lágrimas com um lenço.Por sorte, não desabou como uma Magdalena arrependida.Tentou escapar, mas acabou sendo interceptada por alguns convidados, que a levaram de volta ao salão para participar de um dos jogos principais da noite.*****Elliot finalmente resolveu o assunto com Brenda, colocando-a em seu devido lugar.Que porra era essa de amor e sentimentos?Não era idiota; Elliot sabia muito bem que o que mais movia aquela loba era o interesse por seu dinheiro e seu título.Com nojo, limpou os restos do batom de Brenda de sua boca e o cheiro irritante que lhe incomodava o olfato.Não queria que Katherine suspeitasse e interpretasse mal as coisas.Pensou em colocar mais espiões ao redor de Brenda, só por precaução. Não confiava nela nem um pouco.—Baronesa Hildaly, que bom encontrá-la —caminhou agilmente até a Baronesa, que estava pedindo uma bebida.— Onde está minha Duquesa?Elliot inspecionou ao redor da pequena sala de cateri
NARRADORAA garota havia colocado sutilmente essa esfera em sua mão, não a que realmente tinha tocado.No que exatamente Elliot estava jogando? Se é que isso era obra dele.Os olhos de Kath captaram o momento em que Brenda entrou no salão. Ela estava com outra roupa.A Duquesa nem queria imaginar por que ela havia trocado.Para quê negar? Ela se afogava em ciúmes inúteis e amargos.Entre risadas e brincadeiras, Brenda foi chamada para escolher no sorteio.Uma ideia bastante derrotista se formava na mente de Katherine. Por hoje, já estava cansada de fingir.Ela se levantou com sutileza, esgueirando-se entre as pessoas, aproveitando-se do fato de que as luzes tinham diminuído e as sombras a amparavam.As duplas começaram a ser anunciadas.Cada vez que um homem gritava seu número, ele era iluminado por uma luz indireta e, em seguida, era a vez de sua parceira de troca.Brenda sentiu o cheiro repugnante daquela mulher, a Duquesa.Ela se aproximava de sua posição.Preparou-se para uma cena
ELLIOTSegui o rastro de Katherine; comecei a me assustar ao ver que ela se enfiava na floresta.Pensei em milhares de conspirações: será que a haviam capturado? Não sei, talvez a levaram à força.No entanto, não havia outros aromas, mas mesmo assim, eu não confiava.Eu já estava tão ansioso que imaginei milhares de cenários, menos o que realmente encontrei.Escondido pela escuridão, cheguei aos limites da celebração dos plebeus.A música animada enchia o ar, nada a ver com as melodias sofisticadas que se ouviam no salão.As vozes e as risadas inundavam a noite, mas entre todas elas, ouvi uma que era doce demais para os meus ouvidos.Seu aroma, aquela lavanda cheia de felicidade, me inundou.Procurei-a na roda de pessoas que dançavam e então a vi.Ela se movia segurando a saia, levantando-a até um limite indecente, pulando de um lado para o outro acompanhando as outras mulheres.Seus olhos brilhavam à luz das tochas.Fiquei por um segundo hipnotizado, embriagado pela beleza daquela mu