CarolineUma semana após o confinamento de Julie no Quarto do Pânico, Chris, Rufus e eu não falávamos muito sobre o assunto desde a minha discussão com o Heisenberg.Tentando me distrair de qualquer coisa que me lembrasse desse assunto, engatei em buscas sobre casos sobrenaturais. Rufus normalmente se oferecia para me acompanhar, mas eu recusava, com a intenção de ficar um pouco sozinha. Era melhor que ele fizesse companhia a Chris e garantisse que minha irmã continuasse segura no Quarto.Eu estava sempre atrás de algum caso que ocupasse minha cabeça, ao ponto de perder a noção do tempo nas investigações. Até que, um dia, fiquei mais de três dias num estado vizinho sem dar notícias, quando Rufus foi me procurar, lívido de preocupação. Tentei ficar por perto desde então, por mais doloroso que fosse ouvir os gritos agonizantes de Julie no porão.Estar naquela casa não era confortável para ninguém, quando ela gritava dia e noite e atraía nossa atenção às vezes, obrigando-nos a ir ver com
JulieApós a enxurrada de informações da parte de Zacharias, Chris achou uma boa ideia começar a discutir sobre Henry e seu caráter. Era engraçado a maneira como o defendia pelas costas, mas o controlava tanto quando estava por perto. Rufus e Caroline saíram no meio da conversa, com a desculpa de irem para a fazenda comer e trocar de roupa. Tive vontade de ter essa autonomia deles e minha exaustão ouvindo-o falar provavelmente ficou evidente para Chris, porque nesse momento ele decidiu ir para o corredor, entrar em contato com o irmão para repassar as notícias e alertá-lo sobre Balthazar. Míseros minutos depois, o loiro retornou com uma careta frustrada.— Ele não atendeu — explicou. — Tive que deixar mensagem na caixa postal. Otário... Chris se sentou na cadeira ao lado da minha cama, retirou as botas e apoiou os pés no colchão, como fazia todas as noites. O cuidado que tinha comigo desde que me tirou do Quarto do Pânico ultrapassava todas as minhas expectativas com relação a ele. C
JuliePouco depois que tudo virou um breu, percebi que já tinha entrado no sonho ou o que quer que fosse aquilo. Estava de pé no meio de uma estrada escura. Era noite e o asfalto estava úmido de uma chuva que caíra há pouco tempo. Num lado da estrada, um deserto que parecia não ter fim. A areia clara era iluminada pela lua. De repente, ouvi uma buzina de carro e o Jeep dos Heisenberg veio na minha direção. Não tive tempo de me esquivar e prendi a respiração com o susto. No entanto, não senti nada. Ele transpassou meu corpo e parou mais à frente, ao lado de alguém jogado no chão. A pessoa desacordada vestia uma saia curta e uma regata justa, azul bebê. Era eu quando participava do grupo de líderes de torcida. Eu me lembrava da raiva de vestir aquela roupa, como se meu estilo fosse o único que fizesse sentido no mundo. Olhando agora, o look parecia até elegante, ressaltando curvas que, na adolescência, eu podia ter valorizado mais. Os Heisenberg saíram do carro, discutindo, como sempr
Caroline Desde que Julie e Zach ficaram inconscientes, nenhum deles tinha reações enquanto sonhavam. Mesmo assim, Chris, Rufus e eu nos mantemos atentos a eles.Quando concluí que não devia ter trancado Julie no Quarto do Pânico, me arrependi do modo como agi. Se eu tivesse sido um pouco mais tolerante e paciente, e menos desesperada por uma solução, as coisas não teriam piorado do jeito que pioraram.Queria ter ido com ela no sonho, por mais que ela negasse. Rufus e Chris estavam quietos, mas era possível perceber que trocavam essa ideia também, quando não paravam de se entreolhar e hesitar ao tentar falar comigo.Ergui meu olhar para o relógio e restavam poucos minutos. Mesmo sabendo que Zach faria de tudo para ajudá-la a voltar a salvo, eu estava apavorada. Alternei o olhar entre ambos, esperando alguma reação, em vão.— Eles ainda têm tempo — Chris me disse, ao notar minha inquietação. Ele acabava de tirar o celular do ouvido após tentar deixar uma mensagem de voz para Henry. — F
Julie— Você está bem?! Você está bem?! — eu repetia incansavelmente, segurando o rosto de minha irmã nas mãos.— Ela tem uma hemorragia... Onde está o Zacharias? — Henry disse, mais exausto do que jamais o vi. Suas pernas bambearam, a palidez tomou seu rosto inteiro. Chris e Rufus se aproximaram e ampararam seu corpo dos dois lados.Zacharias veio correndo do meio da multidão, tomando minha irmã nos braços para socorrê-la com seus poderes. Imagino que se fosse possível, ele estaria chorando diante da sujeira preta no rosto dela e o banho de sangue do lado direito de seu corpo fraco.— Sinto muito, sinto muito, eu não conseguia te encontrar... — ele lhe dizia
Em dado momento durante o treino, entrei na casa para buscar água para nós. A porta acabara de se fechar atrás de mim, quando uma figura escura chamou a minha atenção para a janela. Observei o gato com um olhar desconfiado, correndo os olhos pelo cômodo à procura de alguém.— Não podemos ficar muito longe. — Axel apareceu ao meu lado com um pequeno estouro de fumaça azul ao seu redor. Não me assustei com seu aparecimento repentino. Zacharias provavelmente tinha me acostumado a eles. Mas ele estava vestido com aquele capuz preto sinistro e irritante que me perseguira antigamente.— Você vai surgir do nada sempre assim? — perguntei, dando-lhe as costas para seguir até a cozinha.— É uma habilidade exclusiva dos bruxos com gene mágico — respondeu, me seguindo. — Acreditou em mim, não é? — indagou, soando com mais certeza que dúvida.— Você acha mesmo que tem alguma chance de movermos um dedo por vocês?— Tenho esperanças. Henry e Chris não são os heróis que vivem pelo trabalho deles? Eu
Zacharias me seguiu de perto, quase respirando no meu cangote. Chamou meu nome com tom de severidade para atrair a minha atenção.— Você sabe a minha resposta — eu disse, virando-me de uma vez só para fitá-lo. Caroline estava a poucos metros e já me localizara com sua cesta repleta de mantimentos. — Não vou ser uma vidente. Sou uma caçadora e estou satisfeita assim.— Sou obrigado a te lembrar da ajuda que você poderia dar à sua irmã se ativasse o seu gene também.— Caroline acredita que foi feita para esse mundo, Zacharias. Ela é feliz assim: achando que é pura obra do destino. O fato de o meu gene depender do meu livre arbítrio é praticamente uma ofensa a ela. Por favor, se você tem qualquer consideração pelos sentimentos dela, não conte a ninguém sobre isso. Tomei minha decisão.Até onde eu sabia, esse segredo foi levado para os nossos túmulos. Apesar da ansiedade que esse assunto me causou no momento, não tive muita oportunidade para pensar nele depois disso, porque Zacharias foi
A voz de Axel me arrancou dos meus pensamentos, dizendo:— Desce logo, gatinha, estamos ficando sem tempo.Chris lhe lançou um olhar fuzilante, parando frente a frente com o bruxo para dizer:— Você sabe que eu e ela estamos juntos, certo? Um pouco de respeito não ia fazer mal.— Ah! Puxa! É sério? Eu não percebi. Talvez vocês devessem arranjar umas alianças. — Axel deu tapinhas cínicos no ombro de Chris e sua voz transbordava falsidade. Desci as escadas e segurei a mão de Chris, puxando-o para continuarmos andando túnel adentro. O caçador pareceu disperso, encarando o chão com muita concentração.— Você quer uma aliança? — perguntou, seus olhos bastante vulneráveis.— É claro que não! — exclamei, fazendo careta em completa aversão a uma ideia tão clichê. — Além disso…Interrompi a mim mesma, porque no meu próximo passo da caminhada, meu pé não encontrou o chão e meu corpo foi arremessado para o nada. As vozes de Axel e Chris gritaram meu nome e a mão do caçador apertou firme o meu b