O telefone de Sarah estava ocupado quando Anne ligou porque ela estava em outra chamada, com Dorothy, e elas brigavam. Dorothy gritava irracionalmente:― Sarah, há algo errado com sua cabeça? Você acha que alguém vai acreditar na história que você inventou? O quanto você está disposta a se humilhar para se aproximar de Nigel? ― ― Já que você não acredita nisso, por que você está com tanta raiva? ― Sarah era mais racional do que Dorothy. Afinal, só ela sabia, em seu coração, que tipo de tormento tinha passado. ― Você vai e diz a Nigel que ele pode fazer um teste de paternidade se não acreditar. Ou vou enviar o meu para você, quando terminar? ― Sarah desligou o telefone, sem esperar que Dorothy respondesse. Sarah pensava em uma forma de ajudar Anne a fugir de Luton quando tudo começou a acontecer rapidamente. Uma das amigas do poker ligou e falou sobre o áudio vasado de Bianca, que Sarah ouviu, indignada. Então, não dormiu a noite toda, pensando no assunto e tomou aquela decisão.
Se fosse esse o caso, ela se sentiria muito desapontada. Especialmente se pensasse em como Nigel a tinha questionado ao telefone, na noite anterior. Afinal, mesmo sabendo que ela também era sua filha, tinha suspeitado dela. Ela entendia as preocupações do homem, mas, como ela poderia ser comparada a Bianca? Se o homem preferia fazer aquilo, Anne preferia continuar sem falar com ele. Por isso, a jovem apenas ficou segurando o aparelho, até que parasse de tocar. Tommy, que em algum ponto tinha voltado e estava parado no batente da porta, revirou o próprio telefone em sua mão e disse:― Em um curto período, todas as pesquisas sobre você foram removidas. Meu primo é muito bom nisso. Devíamos ter feito isso antes, se soubéssemos que nos salvaria. ― ― Então vou voltar para casa. Obrigada por ter me ajudado e me recebido, ontem à noite. ― Anne pegou as roupas na mesa de cabeceira e foi ao banheiro. Quando saiu, vestia as mesmas roupas que usara na noite anterior. Mas, estavam lavadas
Enfim voltando ao conforto do lar, Anne deixou o corpo cair no sofá e escondeu o rosto por entre as mãos, pensando em seu passado. O primeiro homem a quem chamou de pai, o marido de Cheyenne, espancava a mãe e chegou até mesmo a agredi-la. O segundo homem que apareceu em sua vida, dizendo ser seu pai, tentou trocá-la para pagar uma dívida de jogo.A jovem não sabia o que era receber o amor de um pai e não queria mais pensar no assunto. No entanto, isso não significava que ela não invejava os pais de outras pessoas. Certa vez, inclusive, chegou a se comparar com Bianca. Entretanto, não fosse pela disputa envolvendo Dorothy e Bianca, Sarah e Nigel estariam casados e se tornariam uma família normal. Ela seria feliz e Anthony nunca teria cruzado seu caminho. Mesmo que o pensamento tivesse cruzado sua mente, Anne não responsabilizaria Bianca por não ter tido família. Afinal, não havia nada de errado em um pai amar sua filha. Além disso, Nigel não sabia da gravidez de Sarah. Anne tinha
― Vocês são irmãs. Como irmã, ela deveria ser mais tolerante com vocês. Fazer uma refeição juntos resolverá tudo ― disse Nigel. Anne ouviu em silêncio, todas as células de seu corpo gritando para ela rejeitar o convite. Pois, só havia um motivo para aceitar participar, se houvesse a garantia de que ninguém mais a iria maltratar, abusar ou agredir e, principalmente, que ela poderia deixar Luton. Assim, acabou aceitando. Mesmo que soubesse quem era seu pai e que ele a quisesse como filha, não importava. Em seu coração, seus filhos eram mais importantes do que tudo. Anne não contou a Sarah sobre o jantar com a família Faye e também não contou a mais ninguém. Decidiu ir sozinha. Mas, assim que entrou no lugar combinado, teve sua primeira grande decepção: Anthony estava presente. Os olhos negros do homem a examinaram profunda e fixamente, e Anne baixou o olhar, devido à pressão. Era interessante pensar que poderia chamar seu algoz de cunhado. Aliás, toda a situação era embaraçosa.
Não houve menção à palavra 'aborto', mas todos pensaram no aborto, com o comentário discreto sobre a licença de Anne. Mas, a jovem não fez a mesma associação, afinal, o motivo de estar afastada do trabalho era, legitimamente, outro: ― Pretendo deixar Luton e ir para outro lugar, começar uma nova vida. Mas existe uma pressão muito grande sobre mim e ainda não posso ir. ― Ela levantou suas pupilas claras para encontrar os olhos negros de falcão de Anthony. ― Você é meu cunhado, agora. Você pode me ajudar com isso? ― Anthony olhou para ela em silêncio, sem dizer uma palavra. E Anne sentiu que estava sob muita pressão. As expressões de todos eram diferentes. Nigel tinha ficado decepcionado, afinal não esperava que a nova filha ainda quisesse ir embora, mas queria que ficasse ao seu lado. Esperava que aquela reunião fosse um bom começo. Bianca falou primeiro:― Mas é ótimo estar em Luton. Há familiares para cuidar de você. Se você for embora, quem irá te ajudar? Como Anthony é se
Vendo o sorriso triste do pai, ao falar de Sarah, Anne não sabia o que pensar, pois, conhecendo toda a verdade, começou a sentir o peso das injustiças que sua mãe sofreu e também lamentava por si mesma. Sua mãe e seu pai estavam perto dela, mas eles não eram família, nunca tinham sido. Durante quase metade de sua vida, Anne vagou por aí, em famílias que não eram a sua. ― Você ainda tem sentimentos por minha mãe? ― perguntou Anne. Nigel não esperava que ela perguntasse aquilo e ficou sem palavras, sem conseguir pensar no que responder. Então a jovem cansou de esperar e fez uma nova pergunta:― Você voltou com Dorothy só por causa de Bianca? ― Nigel também não respondeu, mas a resposta ficou óbvia. Ela já sabia daquilo, mas, uma coisa era Tommy dizer a ela, outra coisa era ele mesmo provar. No final, Nigel teve sorte. Sarah não contou a ele que estava grávida, então não precisou escolher. Anne não perguntou a ele qual seria sua escolha se ele soubesse da gravidez de Sarah, p
As palavras morreram nos lábios de Anne, que não queria acreditar que estava diante do demônio, que a encarava com os olhos aterrorizantes de falcão. Então, voltando a si, recuou. Anthony entrou grandiosamente e ficou na frente dela, sem dizer nada, até que, com uma voz nervosa, Anne conseguiu perguntar:― O que você está fazendo aqui? ―A consciência de Anne ainda queria gritar que ela estava segura, agora que Nigel tinha garantido sua segurança e que Anthony era seu cunhado. Mas seus instintos não acreditavam em nada daquilo.― Você parece estar feliz. ― O tom de Anthony era insondável e Anne não sabia dizer quais eram suas emoções.A jovem se sentia pressionada pela presença ameaçadora, sentindo-se como se estivesse a centenas de quilômetros de profundidade no oceano e sendo esmagada pela pressão da água. Os olhos de Anne piscaram. O que ele queria dizer com aquela pergunta?― Você não é tão ingênua para pensar que por causa de Nigel você está segura, é? ― Anthony sorriu.An
O número do celular de Anthony não estava disponível ao público e as ligações dirigidas a ele geralmente significavam que algo urgente estava acontecendo. Entretanto, o número desconhecido era inesperado. Por isso, atendeu, mas não falou nada, apenas colocou o aparelho no ouvido. Mas, a pessoa do outro lado também ficou em silêncio. Impaciente, o homem fez uma expressão mal-humorada e se preparava para desligar quando ouviu alguém dizer: ― Parece que alguém atendeu... mas... por que ninguém falou nada? ― ― Acho que o número não funciona? ― ― Como, se estava salvo no aparelho? ― Três vozes infantis debatiam na outra linha e Anthony soube quem eram, quase instantaneamente, o que o deixou surpreso o suficiente para despertar sua curiosidade:― Como você sabe o número do meu celular? ― ― Nós roubamos... ― disse uma das crianças. ― Você não pode dizer isso! ― disse outro. ― Alguém nos deu ― disse o terceiro. ― Quem te deu? ― Anthony perguntou. ― Eu não vou te contar!