O banco liquidou a maior parte das posses dos Xavier, mas a família conseguiu manter uma das propriedades principais. A maioria deles, entretanto, vivia em casas comuns à maioria da população. Alguns de aluguel, outros de favor. Este casarão restante era propriedade pessoal de Rowena Xavier. O plano de Trent de aumentar artificialmente os preços de artefatos sem valor e forçar as vendas naquele leilão funcionou. A maioria dos convidados gastou algum dinheiro naquele leilão e comprou algo dos Xavier, apenas por conta da intimidação causada por Trent. Com a morte do militar, o dinheiro caiu nas mãos de Rowena. A mulher se tornou o pilar de esperança dos Xavier, após a morte das duas maiores referências da família. Esperavam que ela recuperasse a riqueza e o esplendor que aquele nome já tivera.No segundo andar do casarão, um velho, com cerca de cinquenta anos, acomodava-se ao lado de Rowena. Ela estava na casa dos quarenta, mas não aparentava mais do que trinta. Estética era uma de
A expressão de Rowena fechou. Agora, ela sabia quem aniquilara sua família.— O que diabos você quer, James? — James começou a rir, mas não havia graça. A risada era demoníaca.— Que pergunta é essa, Rowena? — O homem a encarou, como um caçador prestes a realizar um abate. — Você é a razão pela qual meu avô foi transformado em motivo de chacota por toda a cidade. Você causou um ataque cardíaco no meu pai, depois o empurrou do terceiro andar e disse a todos que foi suicídio. Sua família e o resto dos Quatro Grandes nos prenderam e atearam fogo em nossa casa. Você matou mais de trinta pessoas queimadas vivas e está me perguntando o que eu quero? Eu quero sangue, Rowena! — James era como um dragão sombrio e voraz. A sede de vingança emanava como uma aura. Ele gritou algo incompreensível, bem perto do rosto de Rowena, o que a deixou atordoada. A mulher sentia ainda mais medo agora, como jamais se sentiria. Sabia bem como Warren e Trent morreram. Aquele homem não era o James que con
O ódio de James deixava o ambiente sufocante. Ele gritou de forma ameaçadora, perguntando, novamente. Os ouvidos de Rowena zumbiram, de tão alto.Tudo o que ela podia fazer era chorar, já que não sabia como responder. Forçou-se a se acalmar o suficiente para dizer algo, em meio ao choro de desespero:— Eu não sei... eu realmente não sei... Acho que Trent levou a pintura para a capital, como um presente para alguém... Era o objetivo principal do ataque à mansão...— Disse Rowena atordoada.James, sem esboçar qualquer expressão, pegou o canivete de volta e o enfiou na mão de Rowena, fazendo sangue pingar na cama.Rowena abriu a boca em agonia, mas nenhum som saiu. Sua expressão se contorceu, com a dor excruciante, e seu corpo tremeu muito, mas não tinha o que fazer.James, casualmente, puxou algumas agulhas de prata, similares àquelas que usava em sua arma, e as inseriu ao redor da perfuração feita com a faca. Não deixaria Rowena morrer enquanto não soubesse do paradeiro da pintura.
Não seria prudente desafiar o ódio daquele homem. Aquilo não foi só agressão, foi a pior tortura possível de se imaginar, e ele ainda prometeu que conseguiria fazer pior. Rowena nunca, nem em seus piores pesadelos, pensaria em passar por aquilo alguma vez na vida. Pior ainda, pelas mãos do antigo enteado. Não era de se admirar, a falta de ação do Rei Alegre diante da morte de Trent. A pessoa que matara o Xavier era o próprio Dragão Negro, e ninguém ousaria desafiá-lo.Charles só começou a se acalmar quando James saiu. Seu corpo inteiro estava empapado de suor. Preparou-se para correr, mas voltou a tremer quando avistou Rowena, na cama, coberta de sangue.— Não... Não vá, Charles. Me ajude... Leve-me ao hospital... Eu... Eu tenho dinheiro, eu te pago. — Rowena achava que, a essa altura, já estaria morta. Agora, com a saída de seu algoz, sua vontade de viver voltou. Charles interrompeu a própria fuga quando a escutou mencionar dinheiro e comparou as opções. James, antes de partir,
Um raio de sol cortou o céu, rasgando a escuridão. James virou a noite caçando. Ele matara os patriarcas dos Quatro Grandes e depois prestou homenagem às almas de sua família, pousando as cabeças dos homens abatidos no túmulo de seu avô.Foi uma noite importante para o Dragão Negro.Amanhecia e, por outro lado, seria um dia de grande importância para Cansington, mesmo para os padrões das cinco regiões. Não houve anúncios oficiais prévios para a data da cerimônia do Rei Alegre, mas os rumores se confirmaram. Divulgaram no jornal local, de última hora, um aviso de que realizariam o evento à tarde, na base militar de Cansington. Isso causou um alvoroço, já que muitos ricaços de Cansington ainda estavam tentando descobrir como conseguir um convite para o evento.Acontece que, em seguida, outra notícia de última hora abalou a cidade.— Bom dia a todos. Aqui é Cansington News. Ontem à noite, o famoso magnata Yves Frasier foi encontrado morto em sua casa, vítima de um assassinato. Jacob
Hector imaginou que Rowena descobrira a identidade do assassino de seu pai. Certamente, tratava-se da mesma pessoa que a mandou para o hospital e que matou os outros patriarcas. A história do Caden sobrevivente fazia cada vez mais sentido. O assassino estava atacando os Quatro Grandes de Cansington, que no passado se juntaram e armaram contra os Caden.Ele saiu do quarto de hospital, sem dizer mais nada.A cabeça de Rowena estava a mil. Ela empurrou o travesseiro com a cabeça e cobriu os ouvidos. Fizera de tudo para que os Xavier recuperassem alguma parte de seu poder, mas, agora, isso já não valia de nada. Agradecia aos céus por sua família, pelo menos, ainda estar viva.‘O Dragão Negro é aterrorizante. Ele está tentando se livrar dos Quatro Grandes de uma vez por todas. Se for realmente uma vingança por tudo que fizemos há dez anos, deve estar longe de acabar. Qualquer um que chegasse à posição dele, faria o mesmo.’ Pensou, derrotada.Enquanto isso, na base militar, o Rei Alegre
Depois que James prestou homenagem à sua família, resolveu voltar à Casa da Realeza, que não visitava já havia algum tempo. Tomou banho e trocou de roupa. Só depois disso, percebeu que já passava das oito. Esquecera completamente de seu telefone, compenetrado em sua missão noturna. Era a primeira vez que pegava o aparelho em horas, então algumas chamadas perdidas e mensagens o aguardavam. Na casa dos Callahan, Thea estava sentada na cama, olhando fixamente para seu celular. Não dormiu, esperando que James entrasse em contato. A moça se esforçou muito para resistir e não telefonar para ele, mas depois de uma noite inteira, cedeu. Ligou para o marido algumas vezes, mas não ele não atendeu. Enviou, então, algumas mensagens, mas não obteve resposta. A partir daí, preocupou-se.‘Será que o feri tanto assim ontem à noite? Fui muito dura?’ Pensou. Thea não pôde deixar de se repreender. Cheia de arrependimento, desejou voltar no tempo.James leu o que ela enviara.“Jamie, me desculpe. E
— Jamie! — Thea avançou e pegou a mão dele.— Sinto muito pelo que disse ontem à noite. Acredito que fui muito ríspida no que disse. Aonde você foi? — Falou com carinho.— Eu estava na casa de Henry e... — A conversa do casal foi interrompida abruptamente:— Como você se atreve a aparecer aqui, desgraçado? — Tommy se aproximou com o nariz empinado, apontando para James. De repente, lembrou do que acontecera da última vez que fez isso e fechou a mão, escondendo os dedos. Olhou, então, para o carro sem placa. Era um veículo diferente: robusto, com uma pintura preta fosca e grandes rodas, além de ter um logotipo que ninguém ali reconhecia. Com desdém, disse: — Você não está pensando ir à cerimônia dirigindo isso, está? É vergonhoso. E você... — De repente, Tommy percebeu o carro de David. — Meu Deus, olha esse carro! Essa lata-velha é de David? — Howard se aproximou, analisando os carros de David e James. Friamente, disse: — Que constrangedor... É melhor vocês não usarem ess