Duas semanas haviam se passado e, incrivelmente, Mellory e eu estávamos nos dando bem juntos. Claro que optamos por não falar sobre aquele dia. Minha mãe andava cada vez mais estranha e toda vez que tocava no assunto, ela desconversava. Eu peguei um chá para mim e fui para a minha sala compartilhada. Ao chegar, ouvi Mellory marcando de sair com alguém. Eu me senti meio estranho com isso, mas decidi deixar de lado. Afinal, não tinha nada a ver com a vida dela. Quando ela desligou o celular, sentou-se em minha mesa.
“Esse chá parece gostoso.” – Ela disse, cruzando as pernas e me deixando excitado.
“Quer um pouco?” Eu ergui a xícara e ofereci a ela.
Mellory pegou a xícara da minha mão e tomou um gole. Em seguida, passou a língua pelos lábios e puta que pariu que tesão fodido, essa mulher me mata.
“Obrigada, realmente está uma delícia.” Mellory se ajeitou em minha mesa e eu me perguntei se ela sabia o efeito que estava causando em mim.
“Pensei que gostasse de café.”
“Gosto, mas sinceramente prefiro chá. No sítio dos meus pais, bebia muito chás naturais. Sinto falta disso.” Ela disse saudosa.
“Já cogitou voltar para lá?”
“Até cogitei, mas aconteceram algumas situações que me trouxeram para cá. Na verdade, meus próprios pais me incentivaram.”
Seu olhar ficou distante por um breve momento e transmitia tristeza e saudade.
“Será que um dia você me contará o que aconteceu para que tomasse essa decisão?” Eu perguntei. Mellory suspirou algumas vezes e quando pensei que ela usaria seu sarcasmo como sempre, ela começou a falar.
“Quando morava na fazenda, era uma menina ingênua. Tinha um namorado de adolescência que era muito apaixonada e uma prima que tratava como irmã. Onde morava não existia faculdade, então fiz a prova e passei para estudar em São Paulo. Estava muito feliz por estar realizando meu sonho, mas o que aconteceu a seguir me devastou. Um dia, fui fazer uma visita surpresa para meu noivo e descobri que ele tinha um relacionamento antigo com minha prima. Neste mesmo dia, descobri que ela estava grávida do homem que amava. Fabiola zombou de minha inocência e se foi. Então, meus pais me aconselharam a terminar meus estudos e seguir meu caminho longe de tudo o que me afetaria.”
Mel limpou uma lágrima que escapou de seus olhos. Agora eu conseguia entender o motivo dela ser tão dura e, às vezes, uma megera. Ninguém poderia culpá-la, pois a vida havia lhe dado uma rasteira.
"Mas agora, olha para você, uma pessoa bem sucedida que tem capacidade para abrir sua própria empresa", disse eu sincero. E ela sorriu.
"Não tenho pretensão nenhuma disso. Enquanto eu puder, estarei aqui. Sou muito grata à sua mãe por tudo que ela fez por mim. Na ausência dos meus pais, ela agiu como se fosse minha segunda mãe, me aconselhou e ensinou tudo que sei. Eu tenho sorte por ter pais fantásticos e você por ter uma mãe maravilhosa. Todos os dias agradeça por isso."
Mais uma vez, Mel limpou uma lágrima e um cisco acabou caindo em meus olhos. Ela se levantou da minha mesa e foi para o seu lado, começando a trabalhar. Eu me perguntei quanto sofrimento ainda havia em seu coração.
"Tenho três meses para transformá-lo em um homem sério de negócios, e é isso que farei, nem que tenha que grudar em ti vinte e quatro horas", disse ela, mudando de assunto e de postura de repente.
"Então quer dizer que dormiria comigo também?" perguntei, sorrindo, e ela pôs a mão na testa.
"Não seja idiota, mas se precisar, quem sabe", disse Mel, dando uma piscadela e voltando para algo que estava lendo em seu computador. Será que ela está flertando comigo ou estou vendo coisas?
Ela riu mais uma vez, e antes que eu falasse alguma coisa idiota, voltei para o trabalho. Por que será que não consigo me lembrar do dia que dormimos juntos? Isso é foda. Resolvi deixar minhas frustrações de lado e focar na minha tarefa. Estava completamente focado até que meu celular tocou, e atendi sem olhar no visor.
"Senhor Raylon Peres?" perguntou a mulher do outro lado da linha, e eu assenti. "Aqui é do Centro Comunitário Criança Feliz."
"Sim. Aconteceu algo?" estranhei, pois eles não costumavam ligar.
"Uma das crianças que o senhor apadrinha foi encaminhada ao hospital. O caso de leucemia agravou."
"Ai meu Deus! E como Janessa está?" perguntei preocupado.
"Não sabemos como ficará o seu estado", disse a mulher do outro lado da linha. Fiquei mudo por algum tempo, e a menina chamou minha atenção.
"Me passe o endereço, que eu chego no hospital rapidamente", disse eu, nem lembrando que estava na empresa e nesse momento sem cabeça para pensar em trabalho.
Assim que desligo a chamada, vejo Mellory me encarando com curiosidade.
"Está tudo bem?" Ela pergunta, e percebo que ela está preocupada.
"Não, uma das crianças que apadrinho foi internada. Ela tem leucemia", informo a ela, e ela me encara por algum tempo.
"Você vai para o hospital?"
"Já estou indo." Pego minhas coisas e me preparo para sair quando ela me pede para passar o endereço para que ela possa ir lá assim que terminar uma videoconferência.
"Por favor, dirija com cuidado", Mel me pede.
"Pode deixar." Me despeço dela e vou correndo para o hospital.
Dirijo rapidamente e chego ao hospital. Dou meus dados na recepção e sou encaminhado para a sala de espera. Odeio essas salas. Elas são um saco e me lembram do dia em que sofri meu acidente aos quinze anos. Junto-me a duas cuidadoras do abrigo e ficamos aguardando notícias. Entram e saem médicos, mas nada de informações sobre o estado de saúde da criança.
Minha mente me leva de volta ao dia em que conheci Janessa.
*Flashback On*
Recebi a notícia de que quatro crianças novas haviam chegado no Centro Comunitário e fui pessoalmente vê-las para saber se precisavam de algo. Conheci o centro depois de ter sido obrigado a fazer trabalho comunitário como parte da minha sentença por dirigir alcoolizado, mesmo tendo sofrido um acidente por causa disso. Não aprendi a lição, e é por isso que minha mãe não tem confiança em mim. Acho que nem eu mesmo teria.
Após cumprir minha sentença, continuei voltando e acabei apadrinhando algumas crianças, como Jonas, Rubi e Miguel. Meus dias se tornaram muito melhores quando estava com eles. Assim que cheguei lá, Stefany me apresentou as novas crianças, e vi uma menina bastante debilitada para a idade dela. Perguntei o que havia acontecido com ela.
"Janessa tem leucemia. A mãe é uma prostituta e a deixava sozinha, mesmo sabendo de suas limitações. Ela foi encontrada passando mal na rua, e depois de receber alta no hospital, veio parar aqui", explicou Stefany. Olhei para a menina, que sorriu fracamente para mim.
"Quantos anos ela tem? E o que aconteceu com a mãe dela?"
"Ela tem quatro anos, e a mãe dela perdeu a guarda dela e foi detida."
Depois que Janessa chegou, passei a frequentar o Centro Comunitário com mais frequência e não demorou muito para que a adotasse, pelo menos em meu coração.
*Flashback Off*
Meu celular apitou tirando-me de meu devaneio.
“Raylon, estou saindo daqui agora assim que chegar te envio uma nova mensagem.”
“Obrigado Mel.” – Digo apenas.
“Não por isso, até daqui a pouco.”
Travei meu celular e continuei à espera de alguma informação.
Mellory Bragança Já na videoconferência, confesso que nem prestava atenção pois minha preocupação era Raylon, nunca o vi daquele jeito e nem sabia que ele gostava de criança quanto mais que apadrinhou uma. Liguei para Meridiana para saber do seu estado de saúde e ela me tranquilizou com sempre dizendo que estava bem melhor e que amanhã voltaria para a empresa, ela me perguntou sobre o seu filho e eu disse que estava trabalhando, ocultei a parte dele ter ido ver uma garotinha no hospital, pois isso é uma coisa que ele deve contar a mãe dele, não eu. Antes de sair da sala mandei mensagem para Raylon e quando saí Val me perguntou se eu voltaria hoje e disse que não, pedi que me ligasse caso aconteça algo sério, me despedi dela e partir para o endereço que Raylon me passou, andei um pouco e logo o encontrei sentado com olhar perdido e naquele momento mudei um pouco mais a minha opinião a seu respeito. Me sento ao seu lado e eu olhou-me. — Oi, Mel, que bom que veio. – Ele diz baixo e nã
Cheguei em casa, tomei um banho bem demorado e liguei para minhas amigas por chamada de vídeo.— Amigas, tenho uma novidade para contar e não sei como fazer isso. – As duas ficam olhando para o meu rosto por tempo demais.— Abre logo o jogo Mel, o que você fez? – Celina pergunta.— Não me diga que matou o Raylon e quer a nossa ajuda para limpar a bagunça e sumir com o corpo? – Mary é sempre a mais dramática.— Não é nada disso, não surtei, mas vou me casar. – As duas abrem a boca em um ó perfeito.— Com quem? – Celina estava perplexa.— Com Raylon.— Já chegamos aí. – As duas dizem em uníssono e desligam.Nossa! Elas devem estar chocadas mesmo, pois desligaram correndo. Enquanto esperava por elas, entrei na internet e comecei a procurar contratos pré-nupciais, estava salvando alguns modelos quando meu celular apitou."Uma pergunta Mel, onde vamos morar?" – Sério que Raylon está preocupado com isso."Podemos morar aqui mesmo." – Ele demorou a responder."Não acho que sua casa seja apro
Raylon olhou para mim por um bom tempo e depois encontrou a sua voz.— Mel, me diga que isso é uma brincadeira de primeiro de Abril. – Sabia que ele ficaria assim com as condições.— Não estou brincando, esse é o contrato e não estamos em Abril esqueceu? – A cara dele estava impagável e segurei a risada. — Sério mesmo que vamos dormir na mesma cama mais não vamos poder fazer sexo e também está proíbido sexo com outras pessoas, como você espera que eu viva? – Ele me pergunta e sorri de uma forma angelical.— Um ano de celibato vai fazer bem a você.— Você é mesmo uma megera, feitora de escravos. – Já ouvi isso tantas vezes que já me acostumei.— Essas são as condições, você pode aceitar ou recusar.— Sério que no final do contrato você não quer um real meu?— Estou entrando nessa para ajudar a salvar a vida de uma garotinha e não é por dinheiro.— Já te falaram que você é uma mulher estranha? – Ele pergunta e dou de ombros.— O tempo todo já estou acostumada, agora se você leu e conc
Acordei com meu telefone tocando quando olhei o visor eram meus pais.— Bença, mãe.— Deus te abençoe minha filha, ainda estava dormindo? – Não posso negar porque a minha voz já diz tudo.— Estava sim, mas eu já ia levantar.— Filha, você tem se alimentado direito? Sabe que seu pai e eu ficamos preocupados com isso.— Fique tranquila, mãe, estou me alimentando direitinho. – Raylon levantou e deu bom dia e eu mandei ele ficar quieto.— Seu noivo está aí com você? – Merda conheço a minha mãe, ela vai me dar um sermão daqueles, afirmo já esperando — manda um beijo para ele, te liguei porque quero saber se vocês vão vir no sábado. – Fiquei surpresa pela fala da minha mãe, ela realmente achava que teria uma filha encalhada. — Acho que se tudo der certo vamos chegar de madrugada.— Filha, as pistas à noite não são boas para dirigir. Tenham cuidado.— Pode deixar mãe – ela desligou o telefone e Raylon estava rindo, mas nem me dei ao trabalho de saber o motivo, enquanto ele tomava banho fui
— Dá pra você relaxar. – Raylon pede pela décima quinta vez.— Bem que gostaria, mas não dá – nunca fui assaltada na vida e estar dentro desse carro me faz pensar que a qualquer momento isso acontecerá.— Sei o que você está pensando e não, não seremos assaltados. Quer ouvir uma música para relaxar?— Não. Prefiro conversar com você é melhor do que nada. – Ele olhou para mim e balançou a cabeça sorrindo. — Não olha para mim, olha pra estrada.— Calma, minha futura esposa a levarei em segurança para o sítio dos meus pais. – Odeio quando ele zomba de mim.Fechei a cara e ele riu, como Ray consegue fazer isso? Por mais que eu tente não consigo, a minha cabeça está um turbilhão, não sei o que meus pais vão achar desse casamento repentino, não sei que sensações terei ao pisar na minha terra natal. Ah! Sinceramente não sei o que estou fazendo da minha vida.— Mel, conversa comigo, você ficou calada de repente. – Raylon cutuca meu ombro.— São apenas questões que rondam a minha mente. – Digo
No dia seguinte chegamos à cozinha e a mesa estava repleta de comida, minha mãe caprichou no café da manhã.— Bom dia crianças, dormiram bem? – Meu pai pergunta lendo seu jornal habitual.— Oi, paizinho, dormi muito bem. – Dou um beijo nele e me sento na cadeira.— Você fala toda infantil perto dos seus pais – Raylon falou no meu ouvido e meu pai olhou para nós.Minha mãe apareceu e pôs o café na mesa, ela sentou ao nosso lado e tomamos café animadamente, minha mãe me avisou que mais tarde faria meu chá favorito e agradeci a ela, minha mãe faz um chá de camomila com mel maravilhoso.— Me conta como se conheceram? – Meu pai pediu antes que eu começasse a contar Raylon tomou a frente.— Quando a Mel foi trabalhar para minha mãe não nos dávamos bem, eu gostava de provocá-la e ela não abaixava a cabeça para mim, nossos amigos diziam que a nossa implicância era tesão reprimido. – Nessa hora meu pai engasgou com o café e eu dei um chute na canela de Ray — desculpe a parte do tesão reprimido
Depois que meu pai e Raylon correu atrás de mim e da minha mãe eles nos sujaram nos fazendo tomar banho, minha tia ralhou conosco por estarmos sujos e meu pai mandou ela relaxar.— Fica tranquila Morgana, fazia tempo que não me divertia tanto e graças ao meu genro e minha filha querida, minha velha e eu estamos animados. – Meu pai diz e minha tia sorri.Fui para o meu quarto e chamei Raylon que me acompanhou chegando lá pedi a ele que fosse tomar banho primeiro, enquanto ele tomava banho tirei minhas roupas sujas e fiquei aguardando minha vez..— Aquilo que você trouxe era sorvete? – Ele perguntou.— Era sorvete de creme de milho verde e coco, mas quando você me atacou o pote caiu no chão.Raylon ficou mudo, um tempo depois ele saiu do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e assim que me viu de lingerie olhou-me descaradamente.— Para de ser tarado seu idiota. – Digo a ele que sorriu.— Não posso evitar quem mandou você ficar só de lingerie, uma mulher com um corpo desse não h
Após uma pequena discussão onde até os meus pais entraram no meio, decidimos ir para o restaurante caminhando, a noite em Bom Jesus de Anápolis estava perfeita para uma caminhada. — Vamos chegar ao restaurante suados, preferia vir de carro. – Raylon ainda reclamava. — Você ainda está nessa? Meus pais estão certos, a noite está linda para caminharmos. – Ele continua com a cara de cu. — Não sou muito acostumado a andar, você sabe bem disso. — Sei que você adora uma esteira, então pensa que a rua é a sua esteira gigante. — Ainda não me convenceu – tem horas que ele parece uma criança birrenta. — Larga a mão de ser mimado. Peguei sua mão e começamos a caminhar, um tempo depois ele se rende admirado pelo céu estrelado e a lua gigantesca, coisas que não conseguimos ver na cidade grande. Não demorou muito chegamos ao restaurante e somos recepcionados pelo seu Marinho, ele olhou para mim e sorriu. — Não acredito, pão de mel é você? – Ele pergunta apertando os olhos. — Oi, senho