Parte 1Felipe A noite estava gelada e silenciosa, mas a tensão em meu peito fervia. O homem que, até pouco tempo atrás, parecia ser apenas uma peça insignificante na engrenagem de uma história maior, agora estava em nossas mãos. Vicenzo e Camila haviam se encarregado de trazê-lo até aqui, até este galpão isolado, onde a verdade seria arrancada de suas entranhas. Era a minha vez de assumir o comando da situação, de puxar a linha que separava o que sabíamos do que ainda não entendíamos.Saí da casa com passos firmes, sem querer fazer barulho. Antônio estava na varanda, como sempre. Sua presença era discreta, mas observadora. Ele me lançou um olhar rápido, como se soubesse o peso que eu carregava nos ombros, mas não fez uma única palavra. Sabia que eu precisava lidar com aquilo pessoalmente, e ele confiava em mim para que tudo acontecesse como precisava. Não era só o interrogatório que me incomodava, mas o que ele representava. Cada segundo que se passava sem respostas só alimentav
Felipe A cada palavra, a raiva crescia dentro de mim. Ele tinha se envolvido com minha família. Ele sabia o que estava em jogo e, se não me desse uma resposta satisfatória, eu o faria pagar. Cada segundo que passávamos ali era uma oportunidade de mais dor para ele, e eu estava mais do que disposto a usá-la.Ele hesitou. O medo era óbvio, mas havia algo mais ali. Ele sabia que estava se afundando em algo muito mais profundo do que imaginava. E, naquele momento, ele não sabia mais como sair de tudo aquilo.Vicenzo, como sempre, não era paciente. Ele pressionou a lâmina contra a pele do prisioneiro, deixando a lâmina lhe arranhar lentamente. Era um corte pequeno, mas preciso. A dor era palpável.— Não temos paciência para enigmas. Quem te enviou? A voz dele estava carregada de autoridade, mas também de impaciência. Eu sentia isso em meu próprio corpo. O homem sabia algo crucial, e ele não tinha mais tempo para brincar de mistério.O prisioneiro mordeu o lábio, e, finalmente, depois d
Felipe Aquele nome! aquele nome, fez a sala esfriar. As palavras dele ecoaram em minha mente, mas, por mais que tivesse ouvido falar do tal "Mandante", sempre foi uma lenda no submundo. Alguém cujas ações ficavam no anonimato, alguém que agia nas sombras. Mas que era dentro de nossos códigos, defensor da justiça.Troquei um olhar com Camila e Vicenzo. Todos nós já tínhamos ouvido falar dele, mas ele raramente agia de forma tão direta. Ele sempre foi uma sombra, um espectro, mas agora… agora ele parecia mais real do que nunca.— Por que agora? Perguntei, minha voz firme, sem vacilar. Sabia que precisava de respostas, e o tempo estava se esgotando.O homem sorriu de forma amarga, sua boca se movendo para formar palavras, mas seu olhar continuava imperturbável, quase como se estivesse aceitando a derrota.— Porque o Fantasma está se organizando e está se fortalecendo. Ele disse, sua voz soando quase como um presságio.Meu estômago se revirou. Eu já sabia o que isso significava. O Fantas
Felipe Revelações nas Sombras O prisioneiro arfava, seus olhos fixos na lâmina ensanguentada na mão de Vicenzo. O corte foi limpo, mas propositalmente superficial. O suficiente para lembrá-lo da seriedade da situação. Me inclinei sobre ele, minha voz baixa, carregada de intensidade. — Você tem duas opções: nos contar tudo agora ou esperar para ver o que acontece quando nossa paciência se esgotar. Ele respirou fundo, seus olhos dançando entre nós. Sabia que não havia saída. — Vocês acham que podem impedir isso… Mas estão errados. Ele sussurrou. — O Fantasma está movendo suas peças, e quando ele agir, será tarde demais para qualquer um. Troquei um olhar com Camila e Vicenzo. Algo estava errado. Ele não falava como alguém temendo pelo próprio destino, mas como se acreditasse em um plano maior, algo que não havíamos considerado. — E o Mandante? Perguntei. — Qual o papel dele nisso? O homem sorriu, um sorriso torto, quase irônico. — O Mandante não é o que vocês pen
O Preço da VerdadeFelipe O silêncio na sala era esmagador. O prisioneiro arfava, gotas de suor escorrendo por sua testa. Vicenzo ainda segurava a lâmina, mas seu olhar estava fixo em mim, esperando minha decisão.Eu podia sentir a respiração pesada de Camila ao meu lado. Todos nós sabíamos que tínhamos uma escolha a fazer: eliminá-lo ali e nos livrar de uma possível ameaça ou dar-lhe a chance de provar que falava a verdade.— Você já nos deu informações valiosas, mas preciso de algo mais concreto — murmurei, cruzando os braços.O prisioneiro riu baixinho, sua voz rouca e cansada.— Eu sabia que você não era um tolo, Felipe. Me eliminar agora só faria com que perdessem a única vantagem que têm.Vicenzo revirou os olhos, impaciente.— Está nos fazendo perder tempo. Diga logo o que sabe.O homem respirou fundo e olhou diretamente para mim.— O Mandante já entrou em contato com vocês. Só não perceberam.Minha mente começou a trabalhar rapidamente. Quem, dentro do conselho, poderia estar
Felipe Olhei para Vicenzo e Camila antes de responder.-O quê?A resposta veio quase instantaneamente.–Preciso que apoiem Vicenzo. Se ele se tornar intocável, poderei agir sem medo de retaliação.Vicenzo ergueu uma sobrancelha quando leu a mensagem.— Parece que ele me quer no topo.Camila resmungou.— E o que nos garante que, depois de conseguir isso, ele não vá nos abandonar?Eu digitei de volta.–Por que deveríamos confiar em você?–Porque prometi a seu pai. E…A resposta veio mais uma vez de imediato.–Porque o Fantasma quer matar vocês. Eu quero usá-los.Vicenzo soltou uma risada seca.— Que reconfortante.Camila bufou.— Isso só prova que estamos cercados de inimigos por todos os lados.Suspirei, passando a mão pelos cabelos. O Mandante queria consolidar Vicenzo. Isso significava garantir que sua posição fosse inquestionável dentro da nossa organização. Mas fazer isso significava pisar em terrenos perigosos, criar alianças e romper outras.— Precisamos decidir. Murmurei. — S
O Conselho das SombrasO clube exclusivo onde a reunião aconteceria era um dos mais antigos da cidade. A verdadeira negociação, no entanto, ocorreria nos salões subterrâneos.Caminhamos pelo corredor estreito, atentos a cada detalhe. Camila seguia alguns passos atrás, seus olhos analisando qualquer movimentação suspeita.Quando entramos no salão principal, o burburinho cessou. Todos os olhares se voltaram para nós.Enzo Moretti, um dos líderes mais influentes, se levantou.— Felipe, Vicenzo… que surpresa vê-los aqui hoje.Cruzei os braços.— Parece que muitas coisas estão acontecendo sem o nosso conhecimento ultimamente.Moretti manteve um sorriso educado.— Estamos apenas garantindo que a organização continue prosperando.Camila soltou uma risada baixa.— Prosperando ou sendo vendida?A tensão na sala aumentou.Foi então que uma nova voz ecoou.— Esse não é um assunto para forasteiros.Salvatore Costelo. Seu nome já carregava uma longa lista de problemas.Me aproximei lentamente.—
Felipe — Então é isso? O menino Vicenzo quer brincar de chefão agora?Eu vi os olhos de Vicenzo se estreitarem. Havia uma linha tênue entre provocação e desrespeito, e Giovani havia acabado de cruzá-la.— Escolha suas próximas palavras com cuidado, Giovani. Avisei.Mas ele apenas riu novamente, olhando para Vicenzo com desdém.— Você nunca será um Dom de verdade. Não passa de um cachorro seguindo as ordens de Felipe.O estalo do tiro veio antes que qualquer um de nós pudesse reagir.A cabeça de Giovani foi jogada para trás, um buraco limpo e preciso bem no meio de sua testa. Seu corpo caiu para trás, desmoronando na cadeira. O cheiro metálico de sangue tomou o ambiente.Vicenzo guardou a pistola como se nada tivesse acontecido.— Alguém mais tem algo a dizer?A tensão no salão ficou quase insuportável. Todos sabiam que, naquele momento, uma nova ordem havia sido estabelecida. Vicenzo não estava ali para negociar sua posição. Ele a tomaria à força, se necessário.Luigi limpou a garga