Luna Harrison
O primeiro raio de sol atravessava a fresta da cortina, lançando um brilho suave pelo quarto. O calor do corpo de Jacob ainda envolvia o meu, mas eu já estava desperta há algum tempo.
Minha cabeça estava apoiada em seu peito, sentindo o ritmo lento e pesado de sua respiração. Ele dormia profundamente, eu sabia que ele precisava disso mais do que qualquer outra coisa.
A noite anterior havia sido terrível.
Ver Jacob desmoronar nos meus braços partiu algo dentro de mim. Pelo o que Mia me contava, ele sempre foi um homem forte, invencível aos olhos do mundo, mas o que eu vi…
Ele foi apenas um pai.
O motor do carro zumbia baixinho enquanto eu dirigia pelas ruas ainda envoltas na penumbra do amanhecer. O céu começava a se tingir de tons alaranjados, anunciando o novo dia, mas eu mal conseguia enxergar sua beleza. Minha mente estava turva, pesada, esmagada pelo peso das incertezas.Luna insistiu em ir de táxi. Não queria que fôssemos vistos juntos, assim evitaria rumores e Samantha transformar um momento já insuportável em algo ainda pior. Eu acabei aceitando, não por medo do que ela poderia fazer, até porque, honestamente, já não havia mais nada nela que me intimidasse, e sim porque minha mente estava centrada em uma única coisa.Meu filho.Pensar em Joshua fez meu peito se comprimir, apertei os dedos contra o volante do carro c
O silêncio dentro do carro era tão denso que poderia ser cortado com uma faca. Samantha mantinha os olhos fixos na janela, os braços cruzados com força, como se estivesse tentando conter a frustração que pulsava em suas veias. Sua irritação crescia conforme o hospital se aproximava.Ela não queria estar ali, mas Sophie não lhe deu escolha.— Você poderia, pelo menos, fingir que se importa — a voz firme da mãe quebrou o silêncio como um trovão.Samantha bufou, revirando os olhos.— Por que eu faria isso, mãe? Todos já decidiram que sou a pior pessoa do mundo.Sophie inspirou fundo, tentando conter a explosão de raiva.— Porque o seu filho está morrendo, Samantha! — ela se virou abruptamente, encarando a filha com um olhar afiado. — Porque Joshua precisa da mãe dele ao seu lado. Porque, mesmo que você seja incapaz de sentir amor, deveria pelo menos ter um mínimo de decência!Samantha sentiu algo revirar dentro dela, um calor sufocante subindo por seu pescoço.— Você acha que eu sou um m
Jacob estava sentado ao lado de Joshua, observando cada expressão animada do filho enquanto ele gesticulava empolgado, contando sobre a noite divertida que teve com a tia Mia e Valentina. O brilho em seus olhos era como um raio de sol em meio à tempestade que assolava suas vidas.— Papai, foi tão legal! A tia Mia deixou a gente assistir dois filmes e a Valentina me ensinou um jogo novo! Eu ganhei dela duas vezes, mas depois ela começou a ganhar de mim! — Ele riu, jogando a cabeça para trás.Jacob sorriu, sentindo o peito aquecer ao ver seu pequeno tão feliz, mesmo diante de tudo.— Ah, é? Parece que a Valentina é uma jogadora melhor do que você imaginava, hein? — brincou, cutucando o nariz do filho de leve.Joshua assentiu, rindo mais um pouco e antes que pudesse continuar, o barulho da porta sendo aberta desviou sua atenção.Jacob virou o rosto e viu Sophie entrando, com sua postura sempre firme e o olhar preocupado. Atrás dela, Samantha.O sorriso de Joshua cresceu ainda mais ao ver
Kate engasgou com o riso ao ouvir a provocação afiada de Kevin.Samantha, por outro lado, queimava de raiva. Seus olhos se estreitaram, fuzilando Kevin com uma fúria contida que poderia incendiar o hospital inteiro. Ela deu um passo à frente, sua presença exalava puro desprezo.— Cale a boca, viadinho! — disparou friamente.O ar pareceu desaparecer do ambiente.Kevin arregalou os olhos, colocando a mão no peito com um exagero teatral, fingindo choque absoluto.— Por quê tanta hostilidade, querida! — ele suspirou dramaticamente. — Pensando bem, eu sei. Afinal, se Jacob me desse um fora tão humilhante quanto o que ele te deu, eu também estaria amarga assim.O silêncio que se seguiu foi mortal.Liam apertou os lábios, tentando conter a risada. Kate cobriu a boca, com os olhos arregalados de puro entretenimento. Jacob ergueu uma sobrancelha, impassível, apenas observando e Joshua, alheio a tudo, piscou sem entender nada.Samantha, por outro lado, estava prestes a explodir.Seu rosto corou
Joshua estava sentado na cama, com os olhos brilhando de empolgação enquanto observava Kevin terminar de conectar os fios do videogame. A criança balançava os pés ansiosamente, seu rosto irradiava felicidade.— Tio Kevin, você gosta do meu papai? — perguntou de repente.O ambiente congelou por um segundo.Kevin, que nunca perdia a oportunidade de encenar um bom drama, colocou a mão no peito dramaticamente e soltou um longo suspiro.— Meu amor, gostar é pouco!Jacob, que tomava um copo d’água despreocupadamente, engasgou na mesma hora.
O tempo parecia correr em um ritmo estranho, descompassado. Os dias no hospital ficaram para trás, finalmente Joshua teve alta.Seguindo as orientações médicas, naquele momento Joshua precisava permanecer em um lugar próximo ao hospital e que não fosse muito grande. Ainda precisava fazer repouso, não podia cometer excessos, como brincadeiras de correr e nadar. Por isso ele não voltou para casa, ficando no apartamento de Jacob.O local que antes era um refúgio silencioso e frio, agora estava vivo. Balões coloridos decoravam a sala, luzes suaves traziam um brilho acolhedor ao ambiente. Mia e Katerina fizeram questão de preparar tudo para a chegada do pequeno guerreiro.Q
Samantha tentava de todas as formas chamar a atenção de Jacob, mas ele a ignorava.Sempre frio, sempre distante… seu desprezo a enlouquecia.Ela preparava jantares românticos, aparecia vestida com roupas insinuantes, tentava convencê-lo a conversarem, desfrutarem momentos a sós quando Joshua dormia.Jacob nunca cedia.Até que, uma noite, ela passou dos limites e bebeu até perder qualquer noção.Quando Jacob entrou no quarto para pegar algo, Samantha estava nua, deitada sobre a cama, com os olhos brilhando de desejo e raiva.— Você vai me ignorar agora, Jacob? Samantha Taylor LancasterNo quarto só se ouvia o som da minha respiração entrecortada e dos soluços que não conseguia mais conter. Eu chorava descontroladamente, os ombros sacudindo, as lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto sem piedade.Minha mãe estava ali. Pela primeira vez na vida, ela apenas ouvia. Sentia seus braços ao meu redor, firmes, mas sem a mesma dureza de sempre. Sem julgamentos.Eu chorava. Chorei como nunca antes.— Ele me ama, mãe… — minha voz saiu cortada, um grito sufocado pela dor que queimava dentro de mim. — Ele só está confuso. Perdido, mas ele me ama!Sophie não disse nada.Por Deus, como eu odiava aquele silêncio!Ela sempre soube o que dizer, sempre teve uma resposta para tudo, sempre soube apontar meus erros, me julgar, corrigir…mas agora? Quando mais precisava que ela dissesse que eu estava certa…Nada.Isso me enfurecia ainda mais.Eu me afastei, sentindo o peito arfar, a dor rasgando cada pedaço de mim e encarei minha mãe com os olhos desesperados, iCapítulo 104 - O Amor Queima ou Consome