CarlosJá eram oito horas da noite e estávamos organizando os últimos ajustes para a invasão. Éramos no total de cento e cinquenta homens, o que seria mais do que o suficiente para tomar toda a favela e surpreender aqueles vagabundos. Fui bem claro quanto às instruções para a invasão, principalmente sobre a situação do sequestro da Geovana.— A situação dessa vez será um pouco diferente do que estamos acostumados. Como vocês sabem temos uma pessoa sequestrada no morro e precisamos tomar muito cuidado para que ela não se machuque. Nada pode dar errado nessa invasão, todo cuidado é pouco. Entendido?— SIM. — Todos os soldados respondem ao mesmo tempo— Todos aqui as duas horas da madrugada em ponto. Estaremos saindo às 2:30h. Agora, estão dispensados.Todos os soldados seguiram seus destinos. Eu permaneci ali no batalhão. Não tinha nenhum motivo para ir pra casa. Aquele lugar que conquistamos com tanto esforço e amor, agora não tinha nenhuma importância pra mim. Assim que essa operação
DGJá estava tudo pronto pra invasão no Vidigal. Eram 2:30h e passei o rádio pros soldados me aguardar em frente à boca. Peguei minha PT, minha fuzil e fui direto pra lá. O RN já sabia o que fazer com os soldados dele. Geral estava no mesmo barco e com a mesma visão. Pegar a baixinha e fuzilar todos aqueles filho da puta. Comigo é assim, mexeu com os meus leva chumbo na hora. Antes que minha mãe chore eu faço a deles chorar. Passei a visão de tudo pro BN, o filho da puta X9 do Vitor já tava longe daqui, com certeza tinha ido levar o que ouviu direto para o arrombado do Roni. Mas, esse desgraçado não perde por esperar. Enchemos os carros e fomos direto pro Vigidal. Descemos e já fomos tomando as ruas e vielas do morro. Aquele lugar era bonito pra caralho, mas meu foco aqui não era esse, era pegar a minha irmã custe o que custar. Continuamos subindo e derrubando os que encontrava pelo caminho. Eram poucos ainda por causa do baile. Continuei subindo e avistei um barraco no pico do morro,
GeovanaCorri tanto até chegar nesse barraco que acabei apagando. De repente fui acordada sentindo uma mão pressionando minhas pernas e baixando a minha calça. Quando dou em si vejo o corpo do asqueroso do Roni em cima do meu. Tentei escapar, mas o desgraçado prendeu meus braços e puxou meus cabelos pra trás com força. Comecei a gritar na esperança de alguém aparecer e impedir que ele conseguisse o que tanto queria, mas foi inútil, eu estava muito fraca ainda. Aquele desgraçado conseguiu fazer comigo o que tentou durante anos. Isso mesmo, ele me estuprou e não consegui fazer nada para impedir. Me sinto suja. A única vontade que tenho é de morrer. Já perdi minha mãe e não tenho mais família. Para que viver? Nunca mais vou querer que ninguém me toque. Não tenho coragem de contar o que aconteceu a ninguém. Coloquei minha roupa e tentei sair dali, mas fui impedida novamente. Tentei gritar, mas minha voz por estar fraca não saia. Acredito que ninguém conseguirá me ouvir. Fecho meus olho
Enquanto isso no postinho...DaniFaltam poucas horas para eu sair daqui. Me sinto muito triste por tudo que aconteceu comigo e com minha familia durante esses meses. Como sinto falta da minha mãe, das nossas conversas e do seu carinho. Sei que ao chegar àquela casa nada será como antes e eu também mudei completamente. Sinto que um iceberg entrou no meu coração. Não consigo ter piedade de ninguém e muito menos carinho. Dentro de mim foi criado uma grande muralha entre antes e depois da Rocinha. Eu amava o DG, isso era mais do que evidente. Mas, tinha certeza que não conseguiria ter um relacionamento com ele, principalmente depois de tudo que me aconteceu. Na minha mente eu só conseguia culpa-lo por tudo. Tentava a todo instante me controlar e não pensar nessas coisas, mas era praticamente impossível. Fiquei por alguns instantes conversando com a Joana, mas quando ela vinha falar do DG eu mudava de assunto. Não queria demonstrar nenhum sentimento por ele, principalmente à ela. Ficamos
DGOuvir tudo aquilo da mina que amo é foda cara. Saber que ela sente o mesmo por mim, mas prefere me ver a milhares de quilômetros de distância acabavam comigo. Sempre fui bicho solto, nunca me prendi a ninguém. Aliás nunca conheci nenhuma mulher de verdade, eram todas um bando de vadias com suas bocetas largas de tanto dar pra qualquer um. Mas a Daniella não era assim véi. Só de olhar pra ela já dava pra perceber que era mulher de verdade. Ver ela chorando daquele jeito me deixou sem chão. Pela primeira vez na vida não sabia como agir. Fiquei em silêncio e passou um filme na minha cabeça. Toda infância e juventude difíceis que tive. Por tudo o que já passei na vida e tive que fazer pra continuar vivo. Nunca tive um pai e a poucas horas descubro que o filho da puta existia e tive que dar cabo da vida dele. Caralho, tava completamente perdido!Não tinha coragem de me aproximar da Daniella e muito menos da minha coroa. Ela sempre odiou essa vida que eu levo, mas pô qual opção eu tinha
Dani Eu tentava odiar e desprezar o Danilo, mas não conseguia. O sentimento que eu tinha por ele era muito maior do que qualquer rancor. Aquele homem mexeu comigo desde o primeiro momento que o vi. Sei que era quase impossível me afastar dele, mas naquele momento era o que precisava e seria feito. O empurrei para longe de mim, mas o meu corpo e minha alma imploravam para tê-lo por perto. Ele se aproximou novamente e iniciou outro beijo. Dessa vez ardente e com força. Sentia meu corpo vibrar por completo. Nunca havia sentido isso antes. Como eu o desejava e o amava. Procurei não pensar em mais nada somente aproveitei daquele que seria nosso último momento juntos. Nosso beijo foi ficando cada vez mais ardente, ele passava a mão pela minha cintura apertando com força e me puxando para mais perto do seu corpo. Subiu sua mão por trás da camisola ridícula do hospital, durante todo esse tempo ninguém se deu ao trabalho de trazer roupas dignas pra mim, mas isso não vem ao caso agora. Eu est
BN Ver a Geovana naquele estado me destruiu por completo. Me sinto um merda por não ter conseguido cuidar e proteger a minha princesa. Olha só tudo o que ela passou nas mãos daqueles três arrombados. Um o DG já mandou direto para o inferno, mas os outros dois estão vivos ainda e vão se arrepender por terem nascido. Coloquei a Geovana no carro, mas ela parecia uma estátua. Não falava nada, e seu olhar estava fixo e permaneceu assim até chegarmos no morro. Fomos direto pra casa do DG. Entramos e levei ela direto pro quarto. Ela sentou na cama e não disse uma só palavra. Tentei me aproximar, mas não adiantou. O que fizeram com a minha princesa? Ela parecia outra pessoa. — Vida, não quer tomar um banho? Eu te ajudo. — falo agachado na frente dela — Pra quê? Nenhum sabão pode limpar essa sujeira que está no meu corpo e na minha alma. — ela fala e começa a chorar sem parar — Não fala assim, por favor. Sei que passou por momentos horríveis, mas eu te ajudo a esquecer tudo. Vem, vamos
Geovana Fui em direção ao banheiro sem olhar pra trás. Só pude ouvir a porta do quarto sendo fechada. Era melhor assim, o Bernardo não merecia ter uma mulher suja ao seu lado. Ele sempre foi carinhoso e verdadeiro comigo. E eu agora, o que sou? O que tenho a oferecer? Nada. Simplesmente nada. Não tenho mais minha mãe, até o irmão que eu imaginava ter encontrado não passava de ilusão. Toda minha vida era uma mentira. Quem eu era verdadeiramente? Será que algum dia irei descobrir? Entrei no banheiro, tirei aquela roupa imunda jogando dentro da lixeira, abri o chuveiro e deixei cair bastante água quente na tentativa de tirar toda aquela sujeira do meu corpo. Esfregava o sabonete com tanta força tentando a todo custo arrancar a minha própria pele. Mas só o que conseguia era me machucar ainda mais. Minha vontade era desaparecer, assim como aquela água que escoava pelo ralo do box. Me sentia sem chão, sem base, suja por dentro e tinha certeza que por mais que tomasse banho aque