Capitulo III
— O jantar estava delicioso — falo para Lissi, após lagar os talheres sobre a mesa, observando o prato limpo, pois saborear um jantar com comida saudável não faz meu estilo.
— Você é adorável July. Eu iria adorar que fosse minha nora, Junior e você tem a mesma idade formam um lindo casal.
Junior fica mais sem jeito que eu e se desculpa pela mãe dizendo baixinho:
— Não dê muita importância ao que ela fala.
Não gostei do comentário em que ela se refere a mim e Junior como um casal perfeito. Ele até que é legal para ser amigo, mas bem mimado e tem uns assuntos, como posso dizer? Uns assuntos típicos da nossa idade, meio nada haver. Ele é bonito, loiro, olhos verdes reluzentes e dentes perfeitamente alinhados, como diária Sabrina minha amiga, um gatinho.
— Querida, você quer sobremesa — pergunta Lissi, sempre muito atenciosa.
— Sim — respondo educadamente.
Enquanto degusto a torta de limão, ouço a porta dos fundos abrir, sinto uma dor no estômago que me impede de continuar comendo.
— Oi Theo, como você demorou — diz Lissi enquanto Theo entra, nos cumprimentando com expressão cansada de quem não teve um dia fácil.
— O jantar está frio, meu filho!
— Não se preocupe Lissi, depois do banho esquento algo para comer — diz Theo antes de passar pela porta que dá acesso à área de serviço.
Observo de longe a movimentação no final do corredor, Theo sai da salinha de chinelo, toalha de banho sobre o ombro esquerdo e uma calça jeans surrada com um cinto largo, cabelo desajustado com alguns fios caindo sobre a sobrancelha.
— Nossa! O que é para ser isso? — penso observando os braços fortes e o abdômen definido.
É claro que dona Hanni percebeu minha falta de atenção em relação a sobremesa, percebendo também que o corredor estava prendendo meu olhar por mais tempo que o esperado.
Sou salva pelo telefone que chama a tenção, Lissi pede licença, saindo da mesa para atender a ligação. Como ela fala alto podemos ouvi-la responder:
— Estou com visitas para o jantar, a Nanni, minha colega de ginásio e a filha dela — ela permanece em silêncio por alguns instantes antes de continuar. — Sim querido eu digo a elas. Até mais tarde. Beijos.
— Carlos, meu marido, pediu desculpas por não estar presente, mas surgiu um imprevisto na prefeitura e ele vai vir mais tarde — diz Lissi ao juntar-se a nós novamente.
Junior me convida para jogar play com ele na sala, aceito o convite, pois estou me sentindo entediada com essa falta de tecnologia. Fico aliviada em ver que aqui tem internet e o jogo é bom, um dos meus preferidos. Estamos algum tempo brincando e sinceramente está sendo muito fácil, ele parece não ter muito jeito com o joguinho.
Sinto um cheiro maravilhoso, Theo passa pela porta da sala, meu coração parece que vai sair pela boca.
Assim não dá! — diz Junior desanimado, erguendo as mãos em sinal de desistência.
Junior pede ajuda ao irmão, que por sua vez vem ver o que está acontecendo. Junior entrega o controle do jogo, dizendo:
— Dê um jeito nessa nela.
— O que aconteceu? — Theo pergunta sem tirar as mãos do bolso.
— Ela é desumana, massacra o adversário.
Theo olha para mim, volta o olhar para o irmão, dizendo:
— Agora você quer que eu salve a dignidade da família?
— Pode-se dizer que sim! — responde Junior franzindo a testa.
Quando ele se posiciona ao meu lado, sinto meus pés formigarem e meu corpo arrepiar.
— O que está acontecendo comigo? — me pergunto intrigada.
Junior se acomoda no sofá, esfregando as mãos dizendo:
— Essa eu quero ver, vai ser uma briga de Titãs.
Tento ficar tranquila e relaxar, mas é difícil, cada ponto que faço ele me observa só com o cantinho do olho, nesse momento percebo que eles são azuis reluzentes.
Logo me sinto à vontade em sua companhia, mas acho que me concentrei tarde demais, ele é muito detalhista e sabia o que eu iria fazer com antecedência, mas me deixou marcar os últimos pontos para que eu ganhasse o jogo.
— É meu irmão, ela acabou com sua invencibilidade — diz Junior, abraçando o irmão, antes de se despedir e retirar-se da sala.
Theo pede se eu aceito uma taça de vinho, aceno que sim, pois costumo beber alguns goles da taça de meu pai. É delicioso.
— Tinto? Branco? Seco? Suave? — pergunta, com duas pequena taças entre os dedos.
— Branco e seco — respondo olhando para os porta-retratos na estante.
— Paladar refinado Milady — Theo menciona ao me entregar a taça com vinho.
— Para ser sincera, nunca degustei outro tipo de vinho, meu pai só compra esse.
Ele fica parado em minha frente apenas analisando a situação, acabo fugindo do olhar, me viro para a estante e pergunto:
— Você está em alguma dessas fotos?
Ele para ao meu lado, pega um dos porta-retratos, com uma expressão fechada e triste, analisa a foto antes de dizer:
— Essa é a minha preferida, aqui sou eu no colo do vovô Theodor, no lado direito dele está a vovó Nika, tenho poucas lembranças dessa época, quando ela partiu eu tinha seis anos. Quando entro na cozinha ainda sinto o cheiro dos deliciosos bolinhos de chuva que ela fazia — após alguns segundos completa — A partida do vovô Theodor me tirou o chão, já faz cinco anos, foi pior fase da minha vida.
Percebo que mexi em uma ferida grande, mas ele se sai muito bem, mudando o rumo da conversa.
— Você vai ficar quantos dias na cidade?
— Minha mãe ainda não sabe exatamente, ela disse que tem que encaminhar uns papeis, para resolver a parte burocrática da partida do vovô.
Theo ficou mais fechado, depois que perguntei sobre as fotos. Ele coloca o porta-retratos de volta em seu lugar. Um silêncio estranho toma conta da sala, para quebrar o gelo, fico de pé em sua frente perguntando:
— Por que você me chamou de Milady?
— Milady é um termo respeitoso ao se referir a senhoritas, senhoras e demais damas — diz ele após apreciar um gole de vinho.
— Essa é a sua marca, chamar as mulheres de Milady?
— Não! — ele ergue uma das sobrancelhas. — Não sei explicar o porquê, mas desde que coloquei os olhos em você, a palavra Milady não me sai da cabeça.
— Talvez seja herança de vidas passadas — digo despreocupa.
— Você acredita nisso? — Theo pergunta me conduzindo para a varanda da casa, que tem uma vista encantadora para a lua cheia, que por sinal está enorme, fazendo toda a área ao redor da casa parecer cena de filme.
— Eu acredito! Você não? — O questiono e logo degusto mais um gole de vinho.
— Essa é uma pergunta que não sei responder.
Ainda com uma das mãos no bolso da calça jeans, ele termina de tomar o vinho, colocando a taça vazia sobre a mesinha na varanda.
Theo dá mais um passo à frente e seus olhos não fogem mais dos meus. Ele tira o copo vazio da minha mão e o coloca sobre a mesa, em seguida envolve minha cintura com uma de suas mãos aproximando meu corpo ao seu, me envolvendo em um abraço, cheira meu cabelo, fazendo meu corpo receber estímulos elétricos, vindos de não sei de onde. Retribuo o abraço e inalando seu cheiro, beijo seu rosto, o sentindo respirar fundo, me segurando num abraço silencioso. Nesse momento escuto o barulho dos trovões que acompanham a tempestade que está começando a esconder a lua.
O silêncio é quebrado com a chamada de celular que Theo tem no bolso da calça, ele se afasta um pouco de mim para atender, mas me mantem segura em seu abraço e sem querer ouço a conversa:
— Theo, onde você está?
— Em casa!
— Preciso que você venha me buscar aqui em Pontal, imediatamente.
— O que aconteceu? — pergunta Theo intrigado.
O homem do outro lado passou um endereço que não consegui entender, pois a voz ficou quase sussurrada.
Antes de desligar ouço um último pedido:
— Theo você precisa pagar fiança.
Depois de desligar e guardar o telefone, ele apoia a cabeça em meu ombro novamente, apertando o abraço ainda mais.
— O que aconteceu? — pergunto baixinho.
— Nada! Nada que mereça atenção.
Em questão de segundos Lissi aparece na varanda apavorada, falando sem parar:
— Theo! Theo! Meu filho, preciso que você vá buscar o Carlos. Rápido! Imagina se a notícia vaza e as pessoas descobrem que ele esteve na delegacia? Isso pode atrapalhar sua reeleição.
Theo continua com a testa apoiada em meu ombro, como se estivesse tentando resgatar um pouco de paciência.
Eu e minha mãe ficamos sem saber a real situação.
— Vamos querida — diz mamãe me convidando para ir embora.
Dou de ombros para ela, Theo ainda está abraçado em mim e com a cabeça apoiada em meu ombro, então pergunto baixinho:
— Quer que eu vá com você?
— Não! — responde ele com a voz baixa, deixando minha mãe aliviada.
É longe e esta tarde, ele parece estar com sono e cansado, sem contar que tomou um cálice de vinho.
Olho para Lissi e pergunto:
—Você vai também?
Theo ergue a cabeça e me olha assustado. Mexendo-se rapidamente, pega o smartphone, chaves, sai procurando a carteira e senta em uma cadeira na cozinha para calçar um par de tênis que ele pegou nem sei de onde.
Vou atrás dele falando como se o conhecesse a muito tempo:
— Você não vai sair a essa hora sozinho, se minguem for junto eu vou e quero ver quem vai me impedir.
Ninguém fala nada, com todo esse silêncio escuto os primeiros pingos de chuva no telhado. Mamãe, Lissi e Theo continuam me olhando espantados.
Eles não conseguem me intimidar e continuo falando:
— Você não vai andar quase 100 km sozinho, em uma noite chuvosa a essa hora e ponto final!
Lissi para e reflete um pouco.
— Você tem razão querida, é longe e Theo esteve fora o dia todo, não está em condições de sair sozinho, daqui a pouco vou ter dois problemas.
— Quanta consideração. A segurança do filho dela é só um problema — penso irritada com o comentário.
Lissi sai as presas e volta puxando Junior pelo braço, ele está meio sonolento, falando alto Lissi desperta Junior para que entenda o que está acontecendo.
Theo me beija na testa e diz:
— O que deu em você?
— Fiquei preocupada, agora que te achei, não quero te perder.
Ele sorri me abraçando sem falar nada,
— Para ser sincera, nem eu acredito no que acabei de falar e fazer nos últimos cinco minutos. — Seguro seu rosto com as duas mãos fazendo ele me encarar e ordeno:
— Volte inteirinho, entendeu?
— Seu desejo é uma ordem Milady — diz ele baixinho em meu ouvido, me dá um Celinho rápido, saindo apresado, Junior o acompanha meio atrapalhado.
Capitulo IV O que aconteceu meu irmão? — Junior me questiona assim que entramos no carro. — Do que você está falando? — Theo, não se faça do bobo, eu vi o beijo. — Não aconteceu nada, foi só um selinho, não sei o porquê do espanto. — Theo, ela é sete anos mais nova que você, uma patricinha de cidade grande, ela não é o seu estilo. — E qual seria o meu estilo? — pergunto, não por deboche, mas é porque o questionamento dele realmente me chamou a atenção. — Theo, todo mundo sabe que você só amou mesmo a policial, e ela te pôs atrás das grades. Depois disso a sua vida é só de aventuras. Eu gosto de você meu irmão, mas você é muito cafajeste e a Ana Julia me parece mimadinha, mas gente boa. — De onde você tirou a ideia de que eu fui apaixonado pela policial. — Theo, é o que a as pessoas comentam.<
Capitulo VDepois de uma noite de chuva intensa, o sol deu o ar de sua graça, está uma manhã linda, os pássaros cantam alegres na laranjeira ao lado da casa, abro a janela do quarto e observo as laranjas com um tom verde escuro, em uma semana teremos laranjas suculentas para comer. Inspiro fundo para absorver o maior volume de ar puro possível, ficando por alguns minutos apenas apreciando a vista maravilhosa.Vou até a cozinha, o café está servido e mamãe está tentando sintonizar uma estação de rádio, ela fala de mim, mas a professora Hanni está sentindo falta da tecnologia e de seus alunos mandando mensagens o tempo todo.— Bom dia mamãe! — digo, chamando sua atenção.— Oi! — ela responde rápido, demostrando que se assustou com a minha c
Capitulo VI— Nunca me imaginei indo ao cinema para assistir fronzen — falo encantada, por ter recebido um convite tão fofo.— Eu sonhava com esse dia desde de criança — diz Theo com a ironia saltando dos olhos, ao segurar firme minha mão para atravessarmos a rua, que por sinal, hoje está bastante movimentada.Hoje foi meu dia de escolher o jantar. Claro que não pensei duas vezes para escolher.— Aqui está seu cachorrão prensado — diz o atendente do fast food que nos atendeu.— Que delícia! — digo com os olhos fechados e com a boca cheia.Theo apenas sorri e permanece calado, tenho a impressão que aconteceu algo, mas prefiro esperar que ele comente o que está o incomodando.Depois que terminamos o lanche seguro firme sua m
Capitulo VIIO dia está amanhecendo quando chego em casa, os raios de sol já estão refletindo no para-brisa do carro. Essa claridade faz minha dor de cabeça aumentar ainda mais.— Theodor Neto, você precisava mesmo beber tanto? — falo olhando minha imagem no retrovisor, enquanto estaciono o carro de ré na garagem.Entro em casa e vejo Lissi, Junior e Carlos tomando café. Digo bom dia, indo direto até meu quarto, buscar um comprimido para ressaca. Já fazia tempo que eu não bebia a ponto de dormir debruçado no balcão do bar, a última vez que isso aconteceu foi quando Melanie me mandou embora de seu quarto, dizendo que tinha marcado a data do casamento com o Toni.Assim que volto para a cozinha, Carlos levanta-se irritado da cadeira, passo por trás dele, seguro firme em seu om
Capitulo VIIIO sol estava lindo e um clima ameno, a paisagem passa pela janela da minha luxuosa carruagem, vejo minha dama de companhia fazendo um delicado bordado em um pano branco.— O que você está fazendo? — pergunto a ela.— É para seu vestido de casamento Milady. Sua mãe está muito preocupada com a festa e os preparativos. Preciso terminar os bordados ainda hoje.Não dou muita importância para os comentários de Morgan, continuo perdida em pensamentos olhando a vida passar pela janela, não sei o porquê, mas, sempre que falam em meu casamento sinto um gosto amargo na boca.Logo chegamos a cidade, meu noivo está me esperando, um homem bonito, cabelo e olhos claros, uma pele bem cuidada e mãos suaves.Ele me ajuda a descer da carruagem, beijando minha m&
Capitulo IXAcordo com beijinhos silenciosos— Estou indo. — Ouço Theo sussurrar em meu ouvido.Agarro seu pescoço sem abrir os olhos, me espreguiçando, começo a piscar timidamente, até conseguir vê-lo sorrindo para mim.— Que horas são? — pergunto ainda me espreguiçando.— O dia está amanhecendo. Tenho que ir.— Ir para onde? — digo ao me cobrir.— Vamos colher alfafa para secar e depois guardar. Cavalos bonitos comem bastante?— Há não! — digo toda manhosa agarrando seu pescoço novamente, o beijando bem devagar.— July! Desse jeito não consigo ir. Isso é covardia. Preciso de mais aulas com Dora de autocontrole ou um antidoto contra Ana Julia &md
Capitulo X— Theo você não precisava pedir para o meu pai se podia namorar comigo — digo ainda incrédula no que acabei de ouvir.— É visível que sua mãe não gosta de mim, então eu precisava ganhar a confiança do seu pai.— Pelo jeito conseguiu — disse assim que desembarcamos do carro.— Vou passar nas cocheiras, você pode arrumar a mesa — diz Theo ao me entregar a sacola com a inscrição: “Sushi do Taniguchi”Durante o jantar feito com arroz temperado, enrolado em peixe cru, vegetais, frutas, ovos e algas, o observo pescando pedacinhos de peixe com um palito.— Antigamente, ossushiseram vendidos em barracas no meio da rua no Japão, como uma espécie de fast food da época — comen
Capítulo XINo caminho para o litoral, passamos pela rodovia federal que corta a capital. Contei para Theo, sem muitos detalhes, que Sabrina estava com problemas e que precisava conversar com ela antes de continuar viagem.Não precisamos desviar muito o caminho, em menos de quinze minutos já estávamos em frente à casa da Sabrina, ganhei um abraço apertado do estilo Sabrina muito eufórica.— Muito prazer em conhece-la. Ouvi falar muito de você — diz Theo ao se apresentar.— Eu estava curiosa para conhecer a pessoa que virou a cabeça da minha amiga — Sabrina menciona ao cumprimentá-lo.— As pessoas de cabeça virada são mais felizes. Sua amiga tem vontade própria e sabe muito bem o que quer — diz Theo para Sabrina, com a expressão de qu