Mikoto parecia não estar em lugar nenhum, Haku começava a se desesperar. Seu irmão também estava preocupado, mas repetia o tempo inteiro como um mantra para se acalmar:
-- Ela estava com Akumi-sama, então deve estar bem.
A intuição de Haku dizia o contrário. Tudo naquele lugar exalava perigo, como fora idiota em ignorar seus instintos para satisfazer a própria curiosidade, e agora Mikoto desaparecera, e não podia culpar ninguém além de si mesmo.
Haku afastou esses pensamentos, haveria tempo para se culpar depois, o mais importante agora era encontrar Mikoto para saírem dali. Ele olhou para seu gêmeo.
-- Você conhece esse lugar melhor do que eu. Já olhamos várias salas, onde mais ela poderia estar?
-- Ainda tem a ala leste, mas sou proibido de ir lá. Ikari-sama não admite que ninguém entre no laboratório de
-- Mikoto? – Takako e Sayuri também se paralisaram com a visão dela ameaçando Haku. Yukio sussurrou apavorado:-- O que ela está fazendo?-- Ei, Mikoto, calma – Haku ergueu as mãos, mas ela não abaixou a naginata.Havia algo errado com ela. Seu rosto estava congelado numa expressão neutra, e seu corpo mantinha uma postura tão rígida que se não fosse pelos cabelos que caíam sobre seus ombros, seria fácil pensar que Mikoto era uma estátua. O mais estranho eram seus olhos, vazios como se a mente dela não estivesse ali.E apesar disso, sua pérola ainda brilhava fracamente.-- Haku, se afaste, ela não está normal – Takako apertou o suzu com mais força. Sentia alguma energia sobre a amiga, algo maligno.Haku recuou para longe do alcance da naginata, e Mikoto assumiu uma posição defensiva. Say
Yasha não entendia o que dera errado, tivera certeza de mergulhar bem fundo no inconsciente de Mikoto e o remodelar para que não houvesse nada além do comando de obedecê-la. Como ela poderia ainda ter consciência para chorar e resistir a uma ordem sua?E por que a pérola ainda brilhava? Não fazia sentido, Mikoto não estava usando nenhum poder sagrado. Sequer podia tirar o colar dela porque a pedra e brilhava esquentava insuportavelmente à mera aproximação de seus dedos.De qualquer forma, a pérola não tem influência nenhuma no que me interessa agora.Novamente Yasha segurou a cabeça de Mikoto e fechou os olhos.Logo estava afundando dentro da parte mais oculta e íntima da psique da menina, e imediatamente percebeu que algo não estava certo.Ali dentro estava completamente vazio, como ela deixara há meia hora, mas havia
-- Por que tem que ser uma delas? – Yukio questionou.-- Além de nós, youkai, elas são as únicas aqui detentoras de alguma magia, e a delas é mais compatível por virem de pérolas celestiais. A pérola de Mikoto pode aceitar as suas sem vê-las como invasoras ou ameaças, como faria se Yasha ou algum youkai tentasse.As duas primas se entreolharam, divididas entre o desejo de ajudar Mikoto a qualquer custo e a desconfiança que o nekomata despertava. Ikari percebeu o conflito das duas e argumentou:-- Acatar minha última orientação ou não é escolha de vocês, mas sugiro que tomem uma decisão rápido. Deixei Yasha presa num poço, mas ela não vai demorar a voltar.-- Vamos fazer isso. Pelo menos tentar – Sayuri falou baixinho. Takako assentiu.-- Está bem, mas como?-- Eu tenho uma ideia.<
O brilho da hitodama se refletia nas paredes de água da fenda, dando ao ambiente uma luminosidade azulada que seria bonita se não fosse tão sobrenatural. E num momento o céu desapareceu, criando a sensação claustrofóbica de uma caverna subaquática.-- Você não é Mikoto, não é? Quem é você? – Takako falou para se distrair. Naturalmente, a hitodama não disse nada, mas a jovem ouviu vozes aparentemente vindas de cima, sussurros tão baixos que precisava se esforçar para captar algumas palavras soltas:-- Decepção.-- Armas vivas.-- Reprogramados e melhorados.A hitodama parou atrás da jovem miko, como que esperando à distância para não se envolver. Agora logo acima da cabeça de Takako, só iluminava um pequeno trecho adiante, depois havia só um breu impen
A ideia de Ikari de montar uma barricada com os móveis do laboratório era boa, mas se provou eficiente apenas nos primeiros minutos. Depois que a primeira leva de youkai só conseguiu escalá-la para ser alvejada de surpresa por Yukio, um mujina do tamanho de um tanque de guerra e a partiu ao meio com um só golpe.-- Haku? – Yukio olhou nervoso por cima do ombro, e o menino balançou negativamente a cabeça. As três garotas ainda não tinham acordado.Com o caminho aberto pelo mujina, os outros youkai avençaram contra Yukio, Ame e Ikari. O gato lançou bolas de fogo contra os primeiros tanukis a atacar e depois passou a usar as garras para retalhá-los. Yukio descarregou suas pistolas e lançou mão do cassetete, enquanto Ame golpeava o que estivesse ao alcance de seus punhos.Os guaxinins, gatos e doninhas não demoraram a cair, o maior problema foi quando o texu
Só o olhar selvagem de Akumi era o bastante para fazer qualquer um recuar, mas sua expressão dizia claramente que ela faria muito mais do que isso.Antes que ela se movesse, no entanto, Yasha a atacou por trás, armada com um punhal. Akumi se transformou em raposa e pulou para longe antes que a mulher a esfaqueasse. Com o movimento de uma cauda, Akumi derrubou Yasha e voltou-se zangada para ela, os dentes afiados à mostra.-- Você sempre foi um estorvo para nós – ela sibilou – Logo que percebi o que você era, soube que só nos traria problemas. Devia ter me livrado de você no começo, e quando Mikoto nascesse, tudo teria corrido como planejado.Ainda no chão, Yasha sacou uma pistola e atirou. Akumi ganiu de dor, pega de raspão no ombro, o ferimento já sangrando e tingindo seu pelo alaranjado de vermelho. Yasha sorriu triunfante.-- O que achou disso, Akumi? Te
Ame supunha que Akumi tivesse voltado para a sala das máquinas, pois era lá que ela sempre podia ser encontrada, era provável que escolhesse o lugar para se reorganizar.Chegando à sala, a teoria de Ame provou-se correta. Akumi, em forma humana, aparentava estar completamente recuperada de qualquer ferimento, contemplava a incubadora à frente, até perceber a chegada do grupo e lançar um olhar de completo desprezo por cima do ombro. Ela começou a falar:-- Humanos e youkai compartilhavam o mundo, tal qual presas e predadores. As presas nos expulsaram para esta dimensão vazia e tomaram o mundo inteiro para si, criando desequilíbrio e caos na ordem natural. Sua missão era apenas assegurar o retorno dela, então por que a negou, Mikoto?-- Você não quer ordem natural de nada, só deseja voltar a caçar humanos – Takako respondeu com igual desprezo, e jog
Todos, inclusive a própria Akumi, olharam paralisados a lâmina que penetrava o torso peludo, mais especificamente para o ofuda colado a ela.-- Você usou o kami da morte – Takako verbalizou o pensamento de todos, e a insatisfeita incredulidade que sentiam.Mikoto puxou a naginata e Akumi desabou, respirando com dificuldade. O ferimento começava a escurecer e os pelos ao redor se pulverizavam, cinzentos.-- Os youkai que morreram em Shiro viraram cinzas na hora. Por que ela não? – Haku pensou alto. Akumi bufou.-- Não me compare a aqueles peões selvagens. Não vou cair tão facilmente quanto eles.Mas era claro que ela não resistiria por muito mais tempo, agora quase todo o seu tronco estava como que queimado, e suas patas e caudas escureciam também.Yasha ficou de pé desajeitadamente, uma das mãos pressionando a ferida de dentes no pescoç