Não estou satisfeita, não posso sair de casa, não posso confiar em ninguém. Maria já apareceu por aqui algumas vezes, ela e meu pai brigaram bastante, não consegui vê-la, muito menos perguntar sobre Alexandre, minha mãe não parece muito feliz, disse varias vezes que estou fazendo muito drama, com a cara fechada faz as coisas para mim. Meus movimentos estão muito limitados, não estou saindo da cama sem ajuda, passo a maior parte do tempo no quarto, sozinha e isso está me matando.
Miguel me abandonou completamente, o entendo, sei que ele quer apenas desistir de tudo isso e as coisas não parecem estar indo ao encontro de uma boa realidade, Emanuel também sumiu de contato, nenhuma mensagem é respondida, Luís não pode sair de casa, tanto por estar se recuperando também quanto pelo fato de que Alberto o vigia, já que ele tem um celular de Luís clonado estamos dando preferência para conversar via vídeo, Janaína é a única que ainda aparece, ela estava querendo vir me ver, mas depois
Já faz um tempo que estou sentada na sala sem chorar ou me mover, todo mundo em minha volta fala de Rafaela, lembra de Rafaela, mas ela está morta. Quando vi a foto ao lado do Fim já imaginei que tudo acabaria assim, meu mundo estava uma loucura.Ela poderia estar só sendo sequestrada, foi o que Lavínia repetiu várias vezes enquanto andava pela sala, não havia sangue na foto, não tinha uma marca de faca ou coisa do tipo, nenhum sinal de que ela estava sendo maltratada, para ela Rafaela ainda podia estar viva, mas eu tinha certeza que não. Não estava sendo pessimista, estava apenas pegando os fatos, ninguém saiu vivo, somente a Clara que ainda está em coma no hospital. Minha mãe tentou me convencer a receber pessoas da igreja em casa, ou até mesmo ir ver os pais de Rafaela, não quero nada nesse momento.— Se não tem um corpo, ela não está morta. — Lav bateu o pé no chão pela quinta vez — Esse maluco gosta de deixar os corpos por aí, sangrando, por que com a Rafaela seri
Pego o meu caderno e começo a escrever o cabeçalho, com a caneta preta, escrevo Escola Metódica, solto um suspiro e então pego o corretivo no estojo, passo o líquido branco sobre, quase como se escondesse a verdade, espero secar e então escrevo Escola Estadual e desisto de colocar o resto do nome da escola, boto somente a data e começo a copiar a atividade.Escuto os outros alunos conversarem, eles estão animados com alguma coisa, olho para o lado e vejo as meninas que sentam ao meu lado fofocarem, é tão diferente. Fisicamente a sala é espaçosa, tem mesinhas para todo mundo e um quadro branco para os professores, as pessoas são amigáveis, a maioria usa a blusa azul do uniforme que a escola dá, todos tem personalidades e aparências bem diferentes, uma parte da turma é bem dispersa, a outra se dedica bastante, não fiz amizade com nenhuma das duas partes, por mais que tentassem me inserir de algum jeito me isolei, na primeira semana foram muitas perguntas sobre tudo, diziam que
Minha psicóloga parece me encarar e arrancar minha alma, os olhos escuros parecem consumir meu corpo, o jeito que ela anota as coisas que falo, o jeito que bate a caneta no bloquinho, que balança a cabeça concordando com minhas falas, não sei dizer se acha que sou um caso perdido ou que tenho solução.Sempre falo da angústia que sinto no meu peito, somente eu fiquei vivo e ainda por cima fui muito covarde com Jorge e Emanuel, fugi e deixei meus amigos morrerem, minha mãe tentou me convencer que foram apenas atitudes de instinto ou coisa do tipo, mas quase faz um mês e ainda me vejo conversando com Rafaela e Mateus, ainda me vejo indo encontrar as mensagens do Fim, ainda me vejo com medo total que me subiu quando vi o Fim entrar pela porta da sala. Já contei varias vezes sobre como fiquei sentado no banheiro o tempo todo, chorando, enquanto pessoas morriam.Eu e Jorge dividíamos anos de amizade, ele sempre me mandava mensagem todo dia assim que se levantava e terminava
— Temos que sair daqui. — As palavras escaparam da minha boca rapidamente.— Porquê?Não tive tempo de responder, nossos celulares tocaram em uma sincronia perfeita. Pegamos nosso celular do bolso e olhamos um para a cara do outro, quem se arriscaria a atender novamente? Miguel atendeu e as outras ligações pararam.— O que quer?— Vão embora! — A voz robótica gritou.Ficamos um pouco chocados, mas escutamos um barulho alto como um tiro, nossos corpos se encolheram e então olhamos uns para os outros novamente, começamos a andar para trás e então viramos as costas para o corpo de André, saímos a passos apressados para a rua mais movimentada, o telefone ainda está ligado e no viva voz, escutamos uma risada abafada e logo uma frase.— Não posso perseguir vocês se a polícia estiver por perto, não é mesmo? — A ligação acaba.— Que porra foi essa? — Ísis diz ofegante.— O Fim está de volta, é isso... Ele nos reuniu para mostrar que es
Tentava não achar o ensino médio insuportável de novo, estava adorando ter um dia a dia tranquilo e legal. Minha escola nova é bem mais simples que a Escola Metódica, também é particular, mas a galera daqui tem mais noção de vida, ninguém pega no seu pé, se você não está maquiada ou se o seu telefone é antigo, no começo a galera fez um estardalhaço por causa da minha chegada, queriam saber como tinha sobrevivido e como era o assassino, tinham bastante curiosidade na máscara que o Fim usava, já que não aparecia nas notícias e os donos dos blogs especulavam várias coisas absurdas, tinha escolhido não responder nenhuma pergunta, fiquei na minha e foram me esquecendo, um ou outro ainda tentava arrancar de mim a verdade, mas apenas revirava os olhos, os professores pareciam preocupados em me socializar com a sala, minhas notas boas nos testes os assustaram mesmo que eu tivesse pego o conteúdo na metade, eram coisas que já tinha visto na grade da Metódica.Meus amigos se
Quase grito vendo Ísis na minha porta, ela se jogou para dentro só me dando tempo de sair da porta, se sentou no sofá quase passando mal, corri na cozinha para pegar um copo de água para ela.— Ísis, você tá bem? — Perguntei segurando o copo de água.— Você é a próxima Jana. O e-mail. Você é a próxima.Entreguei o copo para ela e fiquei a encarando beber, meio desacreditada me sentei ao seu lado.— Que e-mail?— Esse... — Ela meteu a mão no bolso e puxou o celular e me mostrou o e-mail.— Não sou eu... Por que você acha isso?— Porque, Jana, você é literalmente uma santa. Se tem alguém que se encaixa nessa mentira que ele contou é você.— Isso é horrível! Mudei meu e-mail e minhas senhas... Não recebi essa coisa, você deveria ter feito o mesmo.— Se tivesse feito, nunca saberíamos de quem o Fim estava atrás. — Ísis segurou minha mão. — Precisamos falar com os meninos.— Vou pegar meu celular.Sai
Ninguém tem notícias de Janaína e isso deixa todo mundo tenso, não deveria mais me importar com essa coisa, mas o Fim mexeu novamente com minhas ideias. Ísis já mandou mil mensagens, já está pronta para ir à casa dela de novo, Emanuel sumiu, ele manda algumas mensagens e depois passa um tempo sem visualizar nada, já andei por toda a casa, mas nada aquieta a minha ansiedade.— Estou indo dormir. — Minha mãe encostou perto de mim, ao lado do sofá.— Ok.— Não vai deitar muito tarde, nem ficar com esse celular a noite toda... Miguel, está me escutando? — Ela colocou a mão no meu ombro e quase saltei de susto.— Escutei, vou dormir daqui a pouco só estou esperando uma mensagem.— As suas novas amigas parecem bem legais.Sorri, quando fui a casa de Janaína menti para minha mãe dizendo que ia sair com Daniele e Nanda, para que não ficasse preocupada, sabia que minha mãe adora imaginar que estou voltando a ter um dia a dia normal. Ela me dá um beij
O barulho da muleta era a única coisa que chamava a atenção, Ísis não parece se preocupar muito com isso, ela apenas aperta ainda mais o cutelo na mão, o grito de Janaína foi silenciado, não existe mais sinal dela, porém, temos a certeza que ela está no andar de cima, Emanuel parece chocado com tudo, girando a maçaneta da porta da diretoria e ficando chocado com a porta não abrindo, sempre olho para trás e para os lados como se algo fosse aparecer do nada nos atacar e o jeito que seguro a faca é péssimo, principalmente porque minha mão está suando de mais. As luzes da escola não estão ligadas direito, o corredor está meio escuro, mas isso apenas constrói ainda mais o clima sombrio.O espaço parece mil vezes maior e indo em direção às salas, parece que nunca estivemos antes nesse lugar.— Porquê estamos olhando as salas? — pergunto sussurrando, engolindo em seco.— Para ter certeza que não tem ninguém escondido. — Emanuel explica.Ele força a por