Melissa

Saio do banheiro enrolada na toalha, e me assusto ao ver Christopher jogado na minha cama com meu livro na mão.

— O que tá fazendo no meu quarto. — puxo meu livro de suas mãos e coloco na cômoda. O mesmo me analisa com um sorriso que não consigo decifrar.

— A sutil arte de ligar o foda-se, sério? Não faz muito o estilo de princesa…

— Primeiro o livro é muito bom e segundo eu não sou nem uma princesa, até queria ser mas infelizmente não foi dessa vez, quem sabe numa próxima? — me olhou com cara de tédio, que não permaneceu por muito tempo, já que logo voltou a falar.

— Então quer dizer que a princesa sofreu um acidente? — reviro os olhos com sua fala carregada de deboche.

— Não foi acidente! — respondo penteando os cabelos. — Papai não acreditaria, mas tenho certeza que meu carro foi jogado da estrada.

— Você estava bêbada pode ter imaginado isso.

— Alôô, aquela não foi a primeira vez que bebi e nem tão pouco que fiquei bêbada, eu sei o que aconteceu e o meu carro foi jogado da estrada, quer dizer não necessariamente jogado já que foi eu que virei o volante, mas sei que o carro vinha em minha direção, se eu não tivesse feito o que eu fiz talvez tivesse sido pior.

— Tá bom. — falou não dando importância ao que eu dizia, o que me deixou bem frustrada. — Sua avó me pediu pra vir me desculpar.

— Então só está aqui por que a mamãe mandou? — Chris sorriu sem mostrar os dentes. — Tudo bem!

— Mais você precisa aprender, aqui não é a cidade grande onde princesas como você tem tudo o que quer não. — falou mudando seu tom de voz, deixando-me novamente estressada.

— Eu acho que já entendi Christopher, e quer parar de me chamar de princesa.

— Não vai tomar café?

— Perdi a fome e além do mais, isso não é mais hora de café certo? — disse vendo que já era quase meio dia.

— Mas almoçar você vai né?

— Acho que sim.

Chris continuou ali parado me olhando.

— Christopher?

— Hum?

— Preciso me vestir. — sorrio pela sua lerdeza.

— Oh sim, claro, desculpa. — se embanana todo saindo do quarto. — Te vejo mais tarde, princesa. — diz fechando a porta.

Me visto ainda rindo de Chris, depois desço novamente para cozinha dando de cara com Letícia.

— Ainda por aqui? — pergunto pegando uma maçã.

— Vim falar com minha mãe, mas já estou indo.

— Quem é sua mãe? — perguntou curiosa, sentando-se sob a bancada.

— Luísa a cozinheira.

— Ah legal, então nos veremos bastante aqui.

— É acho que sim.

— Escuta Letícia, nem te agradeci por aquela hora, mas valeu mesmo.

— Ah que isso não foi nada. E pode me chamar de Lety é mais fácil. — disse sorrindo.

— Sendo assim pode me chamar de Mel. — me devolveu um sorriso. Mordi a maçã e voltei a falar. — Então o que vocês fazem pra se divertir aqui?

Antes de Lety responder, Chris chega fazendo cócegas na costela da mesma.

— Para Chris, sabe que eu tenho cócegas aí! — disse gargalhando.

— Acho que ouvi a princesa falando sobre se divertir. — reviro os olhos outra vez já sabendo que ele se referia a mim.

— O que o tio entende sobre se divertir?

— Mais do que você imagina. — piscou o olho me fazendo gelar.

— O papo tá bom mas eu já vou indo. Nos vemos depois Mel.

Dito isso, Lety sai deixando Christopher e eu.

— Que foi? — pergunto ao ver ele me encarando.

— Nada princesa. 

— Você é irritante!

— E você é uma princesa mimada que vai aprender que aqui não é como Londres. — sai me deixando falando sozinha, e eu vou atrás pisando duro.

Christopher me provoca desde o primeiro momento que pôs seus olhos em mim, não sei qual o problema dele. Parece que sente prazer em me irritar, não sei quem ele pensa que é mal me conhece e deduz que eu seja apenas uma princesa mimada, mas vou provar que ele está errado.

— Que bom encontrar os dois juntos. — disse vovó vindo ao nosso encontro. — Preciso ir ao centro, você me leva?

— Sim senhora dona Selena. — bateu continência para minha avó.

— Mas é mesmo um bobão. — sorriu arrumando a blusa de Chris, logo volta seu olhar para mim. — Você deveria vir querida, aproveitar e conhecer a cidade, e quem sabe fazer umas comprinhas.

Me animo com a ideia de fazer umas compras, então peço que me esperem e corro pro quarto para trocar de roupa, vestindo uma calça jeans e uma jaqueta.

— Finalmente. — diz Chris ao me ver na escada.

— Haha engraçadinho nem demorei. — passei por ele pegando no braço de vovó. — Vamos?

Alguns minutos depois chegamos no tal centro, confesso que não era bem o que eu esperava.

— Nossa!

— Ficou sem palavras acertei? — sussurrou Chris ao meu lado.

— Parece uma feira…

— Aqui não é Londres princesa!

— Então queridos, vou procurar as mulheres, provavelmente não demoro.

Vejo minha avó sumindo das minhas vistas e fico parada estática. Saio do meu transe com um estalo de dedos nas minhas vistas.

— Onde ela foi?

— Reunião com as Damas da Caridade… — revira os olhos ao perceber eu não tinha entendido. — É uma entidade que ajuda os mais necessitados. — continuo com cara de tacho. — Ah vamo logo ver essas lojas. — saiu puxando minha mão.

Sorrio sozinha, não foi preciso eu dizer uma palavra para irritá-lo, ele queria guerra ele vai ter, e por enquanto 1x0 pra mim.

Olho algumas roupas e nada me agrada, definitivamente esse lugar não me agrada e me adaptar aqui vai ser mais difícil do que eu pensei.

— Não gostei de nada!

— Ah novidade.

Abro minha boca para retrucar, mas não tenho tempo pois avisto vovó seguindo até nós, então trato de me tornar uma anjinha.

— Finalmente achei vocês.

— A senhora nos achou. Uhaa. — não consigo disfarçar o sarcasmo e vejo os dois olhando-me estranho. — Força do hábito, desculpa…

— Enfim… a reunião vai demorar mais do que o esperado, então se quiserem voltar para casa podem ir.

— Oh que pena, estava tão ansiosa para conhecer a cidade. — finjo uma cara de triste e Chris me olha exalando deboche.

— Não seja por isso, seu tio pode te mostrar, querida.

— Ele?

— Eu?

Perguntamos ao mesmo tempo, isso com certeza não daria certo.

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