A porta do apartamento de Ravi nem chega a se fechar por completo. Ele gira nos calcanhares e segura Islanne pela cintura, puxando-a com uma urgência animalesca. Ela ri, mas o som é rapidamente engolido pelo beijo selvagem que ele deposita em sua boca.— Você demorou uma eternidade, Schneider. — ele murmura entre um beijo e outro, a voz rouca, carregada de desejo contido.— Culpa sua, Ravi. Você não sai da minha cabeça — ela rebate, arrancando a camisa dele com impaciência.As roupas voam pelo apartamento como se tivessem vida própria. A camisa de Ravi cai em cima do sofá, a saia de Islanne vai parar pendurada na maçaneta, os sapatos batem contra a parede. Eles tropeçam até o quarto, beijando-se com uma sede que beira o desespero.— Eu sonhei com esse momento todas as noites essa semana — Ravi confessa, jogando-a sobre a cama com cuidado e desejo. — Você me enlouquece, Islanne.— Então mostra, hacker. Me enlouquece também.E ele mostra.Os corpos se encontram com precisão e descontro
O dia começa como um espetáculo silencioso de poder e elegância. O som dos saltos de Marta ecoa pelo saguão principal do prédio do Grupo Schneider, marcando cada passo com precisão quase militar. Ela veste um blazer azul marinho perfeitamente ajustado, os cabelos soltos como uma moldura para seu rosto firme. Ao lado dela, Islanne e Ravi caminham em sintonia, cada um carregando tablets e relatórios para a reunião de alto nível com os líderes setoriais. Há risos abafados, olhares cúmplices e uma sensação de que algo está por vir.Na sala da presidência, Jonathan já os aguarda, de pé, elegante em seu terno cinza escuro, envolvido em uma conversa com Mônica. Quando os três entram, ele ergue os olhos e seu sorriso se abre automaticamente — mas é para Marta que vai sua expressão mais iluminada.— Até que enfim — diz ele, caminhando até ela e depositando um beijo em sua bochecha. — Bom dia, minha mulher mais linda.Marta cora, mas retribui com um olhar doce e sorri discretamente, mas seus ol
O chão parece tremer sob os pés de Cassandra. Seu corpo perde a força, os joelhos cedem e ela desmorona no mármore frio, os olhos arregalados, a respiração ofegante. A verdade a golpeia com o peso de uma sentença. As vozes ao redor se tornam ecos distantes, e tudo o que resta é a consciência de que perdeu. Definitivamente. Islanne, no entanto, permanece imóvel, o olhar de gelo fixo na mulher caída.— E mais uma coisa — diz ela, sua voz cortante como lâmina. — Se você ousar chegar a menos de cem metros da minha cunhada, eu mesma te faço conhecer o inferno.Sem esperar resposta, Islanne se vira com elegância feroz e encara Marta e Jonathan. — Vamos sair daqui.Jonathan, ainda em alerta, estende a mão para Marta. Ela está pálida, atordoada, mas aceita o gesto. Ele a envolve pelos ombros, firme, protetor, conduzindo-a com o cuidado de quem carrega algo precioso. Islanne segue atrás, sem desviar os olhos de Cassandra até a porta se fechar com um estalo seco, quase simbólico, como uma sent
O som do rádio estala na presidência, cortando o silêncio profissional da manhã. Marta, sentada com Monica revisando a agenda de reuniões, ergue os olhos, instintivamente alerta. A voz vinda do setor industrial é urgente, entrecortada por estática.— Ilha de carregamento, setor de logística. Temos um problema com a esteira e um carregamento interrompido. Pode haver risco de parada no fluxo da produção.Monica se sobressalta, mas Marta já se levanta, pegando o tablet e o crachá de acesso.— Vou lá com você, Marta — diz Mônica, apressada, mas é Marta quem assume a liderança com firmeza tranquila.— Vamos, mas com calma. E aciona a equipe de manutenção para nos encontrar lá. Não vamos deixar ninguém no escuro.No elevador, Marta nota algo que a faz franzir levemente a testa: Eduardo, está sempre dois passos atrás. Nada em seu rosto revela desconfiança, mas seu olhar está atento, como se esperasse algo, ou alguém. Marta percebe, mas não comenta.Na chegada ao setor, o movimento é intenso.
O ambiente do restaurante era sofisticado, discreto, mas o olhar de Viviane Stoller carregava um escândalo silencioso.Ela surgiu com passos firmes, os saltos estalando no mármore como tiros calculados. O vestido colado ao corpo delineava cada curva com precisão provocativa, o decote generoso contrastando com a suposta formalidade do encontro. Marta percebeu o jogo no mesmo instante. Aquilo não era uma executiva. Era uma predadora de saltos altos.Ao lado de Jonathan, Marta manteve a postura impecável. Um tailleur sóbrio, cabelo preso em coque, tablet em mãos. Mas seus olhos, atentos, acompanhavam cada gesto de Viviane — cada sorriso milimetricamente ensaiado, cada cruzada de pernas feita com o objetivo claro de chamar atenção.— Jonathan Schneider… — disse Viviane, estendendo a mão com lentidão exagerada, os olhos cravados nos dele. — Confesso que estava curiosa. Falam tanto sobre sua presença, seu comando firme… mas não mencionaram o quanto você é… encantador.Jonathan apertou a mão
Jonathan e Marta caminharam em silêncio até o carro. Quando entram, ele se vira, olhando para ela com um sorriso misto de fascínio e ternura.— Você… — começa, balançando a cabeça, rindo sem acreditar — você literalmente domou a Viviane Stoller.— Ela precisava ouvir. — responde Marta, com simplicidade. — E eu estava de saco cheio daquele teatro barato.Ele riu mais, depois puxou-a suavemente para um beijo.Foi intenso. Lento. Carregado de admiração e orgulho.— Eu fico impressionado com você — disse, colando a testa na dela. — Essa firmeza, essa clareza. Você tem noção da mulher que é?— Tenho uma ideia — respondeu ela, sorrindo contra os lábios dele.— Sabe o que mais? — Jonathan acariciou o rosto dela com o polegar. — As meninas da roça sempre foram mais recatadas, mais contidas… mas você… você é fogo escondido em seda.Ela riu.— Talvez seja o tempero da terra vermelha.Ele a beijou de novo, mais uma vez, como se não conseguisse se segurar.De volta ao Grupo Schneider, o clima no
Marta atravessa a rua com uma mão na barriga, protegendo as vidas que carrega. O suor escorre pela sua nuca, a vertigem ameaça dobrar os seus joelhos, mas ela inspira fundo. Falta pouco. Falta muito pouco.E então, tudo acontece.O som de pneus cantando invade o ar como um grito. Um carro desgovernado surge do nada, avançando na direção dela como um predador. O impacto é brutal. Marta é lançada para o asfalto, seu corpo se choca contra o asfalto quente, e a dor vem antes mesmo que a consciência se apague. Seu último pensamento é uma súplica silenciosa: "Por favor… meus bebês…"— Meu Deus! — exclama uma senhora de cabelos grisalhos, que assistiu a tudo da calçada. Sem hesitar, ela faz um gesto rápido para um homem ao seu lado. — Ajude-a! Ligue para a emergência agora!A mulher se ajoelha ao lado de Marta, segurando a sua mão fria, seus olhos percorrendo o rosto pálido da jovem e sua barriga grande.— Aguente firme, querida… — sussurra, apertando os lábios. — Você não pode desistir ag
Diante de todas as adversidades, Marta não desiste. A fome a acompanha como uma sombra cruel dos últimos meses. O frio corta sua pele, os pés latejam, mas a necessidade de seguir em frente é maior do que o desespero.O dia inteiro foi assim, batendo de porta em porta, insistindo até o limite. Quando o cheiro de café quente invade suas narinas, Marta percebe o quanto está fraca. Seus bolsos vazios são a prova de que o pouco que tinha se esvaiu em uma passagem de ônibus, comprada com a esperança de um trabalho, onde a promessa de uma vaga de atendente evaporou assim que ela cruzou a porta e ouviu o gerente dizer:— Desculpe, a vaga já foi preenchida.Agora, ela vaga por ruas desconhecidas, sentindo o peso da cidade grande esmagá-la a cada "não" que recebe.— Só mais uma… só mais uma tentativa. — murmura para si mesma, tentando ignorar a dor latejante nos pés e a sensação de que está cada vez mais distante da vida que sonhou.Marta aperta o casaco surrado contra o corpo, mas o tecido fin