– Senhor Oeri, o senhor... – É só a bebida falando... – ele se desculpa. – Vou te levar para a sua casa. Eu respiro fundo. Queria pontuar que não era preciso, que eu podia pegar um ônibus. Queria pontuar que Vitor tinha tomado dois copos de whisky e que provavelmente não deveria estar dirigindo. Queria pontuar que era um tanto desconfortável ficar perto dele quando ele falava coisas como “a não ser que você prefira ir para a minha casa”. Mas eu conhecia muito bem a fama de implacável daquele homem, ele quebraria qualquer um dos meus argumentos em dois segundos. Então, eu só deixei... – Tudo bem... – concordo baixinho. O carro do Vitor era um Porsche Cayenne do ano, o que me fazia ter medo de respirar perto dele e causar algum dano, o que dirá entrar! Então, eu simplesmente fico parada, olhando para a porta. Isso faz com que Vitor contorne o veículo, saindo do lado do motorista, e abra a porta pra mim, fazendo um gesto exagerado com as mãos para indicar que eu entre. – Senhorita...
Ele me ouviu? Vitor Oeri me ouviu dizer que eu o achava gostoso? Quando me viro, lentamente, o sorriso presunçoso em seu rosto é a minha resposta: ele ouviu. Sinto minhas bochechas corarem imediatamente.– Você esqueceu isso... – ele segurava a sacola da loja chique de cosméticos, com o creme que tinha me dado de presente. Não foi uma desfeita. Eu sai tão desesperada do carro que teria esquecido qualquer coisa.– Obrigada – pego a sacola, e permaneço o encarando, torcendo desesperadamente para que ele me dê as costas e vá embora.Mas ele não o faz. Rapidamente Henry está de volta, trazendo nossas tequilas e Vitor recebe suas duas taças de vinho. Ele me oferece uma.– Espero que não seja um dos que você considera barato – diz, em uma referência a nossa conversa de mais cedo.– É um Trapiche Malbec – Henry responde, soando um pouco ofendido.Vitor dá de ombros, como se não se impressionasse muito. Com certeza não passava nem perto de um dos seus favoritos, mas acho que ele não estava es
– O quê? – Pergunto, parando de dançar. Meu corpo reluta. Ele já estava completamente entregue aos comandos de Vitor.– É que eu realmente preciso... – ele tira o celular de dentro do blazer. – Preciso retornar essa ligação. Tem algum lugar silencioso onde eu possa fazer isso?– Ah! – Digo, percebendo que fico um tanto decepcionada com a explicação. – Claro, vem comigo.Sigo com Vitor para as escadas e descemos até meu pequeno apartamento. É meio constrangedor, mas pelo menos era organizado e limpinho. Aponto para Vitor a porta do quarto, falando que ele pode ficar à vontade, enquanto permaneço na sala/cozinha. Ainda assim, era impossível não o ouvir, nervoso. Algo sobre o divórcio.Quando ele desliga e volta a sala, está totalmente irritado, passando a mão pelos cabelos daquela forma que ele
~VITOR~– O que não é possível? – Pergunto, encarando-a.– Que... Que você esteja preocupado com isso, agora, quando tem uma festa com churrasco e cerveja rolando lá em cima... – Luna responde.Ela claramente estava desconversando ao não querer me falar o que estava pensando. Tudo bem, eu estava acostumado com as pessoas terem medo de serem sinceras comigo. Mas... por algum motivo me incomodava que isso viesse de Luna. Quando eu vi aquela garota se colocando entre Marina e Clara para levar um tapa no lugar da minha filha, aquilo mexeu comigo e me fez criar certas expectativas em cima de alguém que eu mal conhecia. Mas que eu definitivamente queria conhecer melhor.– Tem razão – digo. – Acho que tenho te usado demais como ouvinte nas últimas horas. É seu aniversário, você deveria estar comemorando.– N&atild
Na segunda-feira seguinte, atrás da minha mesa na recepção do escritório de Vitor, eu brincava com a corrente finíssima de ouro branco que envolvia o meu pescoço e terminava em um único fio com um pingente de lua – uma referência ao meu nome – na ponta. O pingente era todo cravejado por pequenos brilhantes que, eu esperava de coração, que fossem só zircônia.– Meu amor, é um Ella Deluxe – Julia se refere a marca – é claro que isso é diamante!Minha melhor amiga entendia muito mais de joias e marcas de luxo do que eu, o que a levou a ter um pequeno surto quando viu o presente que Vitor tinha me deixado.– Ele não gastaria tanto dinheiro com uma secretária... – desdenho. – É zircônia.– Olha esse brilho! – Ela quebra meu argumento colocando o colar contra a luz e fazendo
~VITOR~Tinha algo no jeito em que Luna olhava para Clara que me fazia pensar no quanto aquela garota tinha ficado machucada por dentro depois de tudo o que passou com a perda da filha durante o parto. Era quase como se ela pudesse amar Clara, mesmo mal a conhecendo, talvez pelo simples fato da minha filha representar tudo o que ela tinha perdido. E aquilo... era bonito de ver.Elas conseguiram passar quase quinze minutos se divertindo com um balde de pipoca enquanto esperávamos a sessão começar. Clara e Luna jogavam a pipoca uma para a outra, para que pudessem pegar com a boca... Mas o engraçado é que as duas eram muito ruim naquilo.As duas tinham permanecido sentadas em uma mesa na sala de espera, enquanto fui até uma das máquinas para imprimir nossos ingressos. De longe, eu não conseguia parar de observá-las. Clara, com seus seis anos de entusiasmo inabalável, parecia ter enc
– Paris? Você vai pra Paris? – Julia só falta pular em cima da cama de tanta alegria. – Preciso fazer uma lista de coisas pra você trazer pra mim.Nós estávamos no quarto que dividíamos. Por mais que, assim como o resto do apartamento, fosse um ambiente apertado, tinha espaço para duas camas de solteiro e um guarda-roupas de casal, que dividíamos. Além de algumas prateleiras apinhadas de livros.Naquele momento, eu estava tentando montar uma mala discreta, para uma semana. Eu sabia que era inverno lá, e esperava que minhas roupas fossem o suficiente para me aquecer. Vitor não tinha me dado muito tempo para me preparar. E não que eu pudesse me dar ao luxo de gastar dinheiro com isso, também.– Ele pode fazer isso? – Julia pergunta. – Te avisar de uma viagem em cima da hora?– Vitor Oeri pode tudo... – reviro os olhos. &nd
– Não. É só algo que eu espero ouvir saindo de sua boca... – respondo.– É... – ele finge pensar. – Parece comigo... – ri. – Mas eu ia sugerir uma bebida.– Pra você tudo se resolve com uma bebida, não é? – Brinco.– Ou sexo – ele complementa.– Vou aceitar a bebida... – digo.Vitor sorri. Ele abre a boca duas vezes para falar alguma coisa, mas se detém. Eu não precisava que ele falasse para que eu soubesse o quão inadequada seria sua resposta, então, simplesmente reviro os olhos e volto a encarar as nuvens enquanto Vitor chama pela comissária de bordo e pede não só por nossas bebidas mas por alguns petiscos também.– Sempre é tão gentil com as suas secretárias, senhor Oeri? – Pergunto, porque sinceramente, eu não entendia