Everton Narrando
Eu sempre soube o que queria. Desde pequeno, vi o que o mundo tinha a oferecer e, ao invés de aceitar a vida como ela era, decidi moldá-la do meu jeito. O caminho não foi fácil, mas nada realmente valioso é. E aqui estou, com 31 anos, meu próprio império, e as pessoas que nunca acreditaram em mim agora se curvam. Mas, no fundo, não é disso que eu preciso. O que eu realmente preciso… é dela. Priscila. Sempre foi ela. Mesmo quando eu tentei me convencer de que a vida profissional, o sucesso e o reconhecimento eram o suficiente, havia um buraco. Um vazio. Algo que eu não conseguia preencher. E, honestamente, nunca pensei que fosse encontrá-la de novo, depois de tudo que aconteceu. Mas o destino tem seus próprios planos, e, por algum motivo, ele me trouxe de volta pra ela. O cheiro do perfume dela ainda paira no ar quando fecho os olhos. O som da risada dela, aquele jeito despreocupado, como se nada no mundo pudesse quebrar sua essência. Mas eu sabia que ela estava quebrada, mesmo quando fingia que estava tudo bem. Ela nunca conseguiu me esquecer. E agora, mais do que nunca, eu vejo isso nos olhos dela. É claro que ela tenta esconder. Ela sempre foi orgulhosa, essa era a beleza dela. Mas eu conheço aquele olhar. É a mesma Priscila de antes. A mesma que me fez esquecer por um momento tudo o que eu acreditava ser importante. E, ao mesmo tempo, a mesma que me fez sair da vida dela, porque eu achava que a melhor coisa que eu poderia fazer era deixá-la em paz. Agora, sei que fui um idiota. Mas eu não sou mais aquele garoto indeciso. Sou Everton. O homem que construiu tudo o que tem, e nada nem ninguém vai me impedir de conquistá-la de novo. E quando ela me olha com aqueles olhos verdes, tentando se fazer de forte, ignorando o que ainda existe entre nós, eu sinto a tensão no ar. Ela ainda me quer. Eu ainda a quero. Só que ela não vai admitir isso. Não fácil assim. Eu sou o homem que sabe o que quer. E o que eu quero agora é Priscila. E ela vai ceder. Pode demorar, mas vai ceder. Eu sou paciente, mas também sou obstinado. E, se tem algo que eu aprendi a fazer ao longo dos anos, é que ninguém, nem mesmo ela, consegue fugir do que está destinado a acontecer. E, no final das contas, vai ser bom pra nós dois. Aquele maldito lenço funcionou. Priscila não soube o que fazer com aquilo. A reação dela foi exatamente o que eu esperava — confusa, contrariada, e, no fundo, sem saber o que fazer com a saudade que eu havia acordado nela. Mas, pra ser sincero, eu não estava lá pra ver o quanto ela ainda me desejava. Eu estava focado no que vinha a seguir. E o que vinha a seguir era o momento em que ela não poderia mais negar o que estava acontecendo entre nós. Depois de deixar Priscila com aquele bilhete e o lenço, eu voltei para o meu escritório. Resolvi algumas pendências de negócios, aquele tipo de coisa que não poderia esperar. Mas a mente... a mente estava longe. Estava nela. Nos olhos dela, no cheiro dela, nos toques que ainda sentia na pele. Era difícil não se perder nos pensamentos sobre ela, então decidi seguir com o trabalho. Mantenho a cabeça ocupada, porque, quando o trabalho está bem, eu também estou bem. Mas a paz? A paz é uma ilusão quando se tem alguém como Priscila na cabeça. E então, no meio da concentração em um dos relatórios financeiros, a porta do meu escritório se abriu com um estrondo que imediatamente me tirou da rotina. Era ela. Minha ex-namorada. Sophie. A ex que acha que o mundo gira ao redor dela. Não que eu a odiasse — ela ainda era uma mulher bonita, mas… Ela nunca foi nada além de um passatempo. Só que ela não gostava de ser descartada, e, como sempre, entrava cheia de arrogância. — Everton, querido... — Ela disse, arrastando as palavras, quase como se fosse uma provocação. Ela se aproximou com aquele andar todo sensual, a expressão de quem ainda acreditava que tinha poder sobre mim. Revirei os olhos. Sério. Não era a hora. Ela entrou como se estivesse se exibindo, como sempre fez. A mulher que se acha o centro do universo. E, por mais que eu já tivesse saído de tudo isso, Sophie ainda tinha a capacidade de me tirar do sério com a sua presença irritante. Ela se sentou à minha frente, esticando as pernas com aquele sorriso de quem achava que estava arrasando. — O que é, Sophie? — Minha voz saiu mais seca do que eu pretendia, mas eu estava cansado de farsa. Estava mais focado em Priscila do que em qualquer coisa que ela pudesse dizer ou fazer. Ela me olhou, arqueando uma sobrancelha, e deu uma risadinha. — Não me diga que está tão ocupado com esses papéis que não pode nem dar atenção à sua ex-namorada. Eu senti o estômago revirar. Já conhecia esse jogo dela. Ela ainda achava que podia mexer comigo. Mas o problema é que agora ela estava no lugar errado. Eu tinha a mente ocupada com alguém que não era ela. — Sophie, se você está aqui por causa de alguma pendência, pode falar. Caso contrário, vou pedir pra você sair. Não tenho paciência para joguinhos. Ela suspirou, claramente ofendida, mas, ao invés de sair, decidiu insistir. Ela se inclinou um pouco na cadeira, e, de um jeito meio cínico, falou: — Sempre tão direto, né, Everton? Eu só queria saber se você ainda sente alguma coisa por mim. Meu sangue ferveu, mas eu mantive o controle. Não queria dar a ela a satisfação de me ver perder a calma. Ela poderia estar tentando me provocar, mas o jogo dela já não me envolvia mais. Olhei para ela, e com um sorriso de escárnio, disse: — Sophie, você nunca foi minha prioridade. E você nunca vai ser. Então, para de perder tempo. A única coisa que eu quero agora… é resolver o que está pendente com outra pessoa. Ela, sem dúvida, não gostou da resposta. Mas, ao menos, percebeu que o jogo dela não ia mais funcionar. Eu já tinha outra pessoa na cabeça. E, no momento, Sophie não era mais nada.Sophie Narrando Meu nome é Sophie. Tenho 30 anos muito bem vividos e aproveitados. Cabelos ruivos, intensos como minha personalidade. Lisos, brilhantes, caem até o meio das costas e nunca passam despercebidos. Meus olhos são castanho-claros, com aquele tom dourado que costuma prender olhares por tempo demais. E eu sei disso. Sempre soube.Sou o tipo de mulher que entra em um ambiente e todos param para olhar. Não porque eu peço atenção, mas porque ela me pertence. Sempre fui assim. Sabe aquela mistura de classe, beleza e um toque de perigo? Então. Eu sou isso.Everton me conheceu no auge. Eu era tudo o que ele achava que queria. Inteligente, independente, envolvente. E eu gostava do jogo. De ver como ele tentava me controlar… e fracassava. Mas com o tempo ele foi ficando mais frio, mais distante. Até que, um dia, simplesmente decidiu que não fazia mais sentido.Como se alguém como eu pudesse ser descartada assim, como um acessório velho.Mas tudo bem. Eu dei o tempo dele. Fiquei na m
Priscila Narrando Eu sabia que algo estava errado. A maneira como aquela mulher entrou na loja, como se fosse a dona do lugar, com aquele sorriso provocador e olhar de quem já havia vencido a batalha antes de começar. Cada palavra dela foi como uma agulha fincada, me fazendo questionar o que estava acontecendo. E, pior, como tudo o que ela dizia mexia comigo de um jeito que eu não queria sentir.Mas eu não poderia demonstrar nada. Não na frente dela.Eu sou gerente, certo? Sou a mulher que está controlando sua vida, suas escolhas, sua carreira. Eu não tenho espaço para ser vulnerável, para ser mexida por uma ex do passado, por alguém que já não faz parte da vida de Everton. Eu não posso ser fraca. Não posso.Mas, caramba, como é difícil ignorar a provocação dela. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. Não me bastava ser profissional e atender aquela mulher como qualquer cliente. Não. Ela precisava me tocar, me fazer lembrar de Everton de um jeito que eu não queria.— Ele sempre d
Everton Narrando Se Priscila acha que vai se livrar de mim tão fácil assim, está muito enganada. Eu sei que estou mexendo com as emoções dela, eu sei que ela não vai me esquecer, e eu não vou deixar isso acontecer de novo. Não vou ser descartado dessa maneira, não depois de tudo que passamos, de tudo que eu senti por ela. Não é fácil, nem para ela nem para mim, mas agora é pessoal.Eu a vi indo embora, a vi fechar aquela porta, e algo dentro de mim me dizia que era a última vez que eu iria ver a Priscila daquele jeito. Ela estava se afastando, se guardando, e isso me deixava ainda mais determinado a fazer o que fosse preciso para deixá-la entender que eu não sou mais o mesmo. Que o Everton de antes, aquele que a deixou ir, não existe mais. Eu mudei. E se ela quiser me afastar, vai ter que lidar comigo de outra maneira.Mas antes de resolver isso com ela, preciso entender o que está acontecendo com Sophie. Eu sabia que ela estava voltando a fazer das suas, mas agora ela foi longe dema
Sophie Narrando Eles acham que eu sou o problema. Que sou a ex louca, a vilã da história. Mas ninguém se pergunta o que me fez ser assim. Ninguém quer saber o que eu suportei enquanto ele ficava indo e vindo, entrando e saindo da minha vida como se eu fosse uma opção. Como se eu fosse descartável.Ver aquela loirinha toda certinha com ele me deu náuseas. Priscila. Até o nome tem cara de mulher boazinha, dessas que fingem que são doces, mas no fundo são frias, calculistas. Ela conseguiu o que eu queria sem nem se esforçar. E ainda quer bancar a superior.Quando descobri onde ela trabalhava, foi quase divertido. Saber que ela é só uma gerente de loja e ainda se acha melhor do que eu... ri sozinha. Claro que eu fui lá. Me montei inteira, como uma cliente rica, poderosa. Pedi pra ser atendida por ela só pra ver de perto o que o Everton tanto viu naquela mulher.E quer saber? Ela ficou desconcertada. Foi delicioso. O olhar dela querendo manter a pose, o medo escondido atrás de uma falsa f
Priscila Narrando Acordei mais tarde do que o normal, e por alguns segundos, fiquei ali deitada, ouvindo o silêncio gostoso da casa. O sol invadia meu quarto pelas frestas da cortina, aquecendo meus pés. Estiquei o corpo devagar, sentindo o alívio de não precisar correr, não precisar vestir a pressa como roupa de trabalho.Levantei, prendi o cabelo em um coque frouxo e fui direto pra cozinha. Ainda de pijama, com os pés descalços no chão frio, comecei a preparar o café da manhã. O cheiro do pão tostando na sanduicheira, o barulhinho do café coando... tudo isso me dava uma sensação de normalidade que eu prezava com todas as forças.Hoje era só eu e o meu filho. Ele ainda dormia, mas sabia que logo apareceria com os cabelos bagunçados, arrastando os pés e com fome de um leãozinho.Enquanto quebrava os ovos na frigideira e mexia distraidamente, pensei em tudo que havia acontecido nos últimos dias. Sophie aparecendo na loja... Everton se reaproximando... Meu coração parecia um campo de b
Luiz Fernando Meu nome é Luiz Fernando, tenho 30 anos e, pra quem não me conhece, sou um cara com os cabelos castanhos e os olhos escuros, que, de tanto tentar ser forte, perdeu um pouco da suavidade no olhar. Meu corpo, sempre em forma, é mais fruto de disciplina do que de vaidade — mas no fundo, sei que me cuido por querer manter a aparência de quem tudo dá certo, até quando as coisas não vão bem.Eu sou aquele tipo de cara que, por fora, parece ter tudo sob controle, mas por dentro… bem, por dentro, a história é outra. E se alguém me perguntasse como eu cheguei até aqui, eu diria que a dor foi o meu guia. Não é fácil aceitar que a vida que você idealizou, o futuro que construiu, simplesmente desmorona. Mas foi exatamente isso que aconteceu.Eu nunca imaginei que um dia veria o fim do meu casamento com Priscila. Ela foi minha parceira, minha companheira, e, por muito tempo, foi a única razão pela qual eu acreditava que tudo valia a pena. A ideia de perder o que tínhamos me consumiu
Priscila Narrando O sábado estava sendo mais tranquilo do que eu imaginava. Após a correria da semana, eu realmente precisava de um momento só meu, mas a ideia de fazer um almoço diferente me animou. Então, mandei mensagem para a Lívia, minha amiga de longa data, convidando-a para almoçar aqui em casa. A gente sempre se diverte quando se encontra, e eu estava precisando de algo leve, sem a pressão do trabalho ou dos problemas. Só um bom papo e comida gostosa.Ela chegou mais tarde, um pouco atrasada como sempre, mas com aquele sorriso grande e contagiante, que já me fazia rir só de olhar. Preparei uma mesa simples, mas acolhedora, com um cardápio que eu sabia que ela adoraria: risoto de camarão e uma salada fresquinha para acompanhar. A gente se sentou à mesa e começou a conversar sobre tudo. Falamos sobre o trabalho, a vida, e até sobre a minha recente separação, algo que, apesar de ser um tópico difícil, parecia mais leve com ela ali.Lívia sabia o que eu passei, o quanto eu lutei
Everton Narrando Quando ela abriu a porta, meu coração deu um pulo no peito.Priscila. Linda, com aquele olhar desconfiado e firme. Sempre tão forte, mesmo quando eu sabia que ela estava tentando esconder o quanto eu ainda a afetava. Ela não disse nada de imediato, só me encarou como se estivesse tentando decifrar se eu era real ou só mais um problema batendo à porta.E, sinceramente? Eu não a culpo. Eu ferrei tudo. De novo.— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou, com aquele tom que misturava surpresa, raiva contida e... algo mais. Algo que me deu esperança.Por um segundo, eu congelei. Queria falar tudo, dizer que não parei de pensar nela desde o dia em que a vi de novo. Que aquele lenço antigo que mandei era só a primeira desculpa pra bagunçar tudo nela de novo. Mas eu fiquei em silêncio. Eu não sou bom com sentimentos. Eu ajo, corro atrás, tomo decisões rápidas... mas com ela? Eu travo.— Eu... precisava falar com você, Pri — foi tudo que consegui dizer, e até isso saiu c