Ana Kelly Narrando Subi pro quarto com o coração apertado. O Anthony, com aquele jeito dele, dominador e intenso, me deixou mexida mais uma vez. Mas por mais que o sentimento fosse forte, eu precisava de espaço. Precisava respirar.Assim que entrei, fechei a porta e me encostei nela por alguns segundos. Soltei o ar devagar, sentindo o peso que carregava no peito. Tirei a roupa devagar, como se cada peça que caía no chão levasse um pouco da confusão que tava dentro de mim. Entrei no banheiro e liguei o chuveiro quente.A água caiu sobre mim e, no silêncio, as lágrimas vieram. Desceram devagar, junto com a água que escorria pelos meus cabelos, pelo meu rosto. Chorei... Chorei baixinho, como quem precisa aliviar sem que o mundo perceba. Era uma mistura de dor, de medo, de amor e de raiva.Como é que a gente ama alguém que faz a gente se sentir prisioneira?Eu sei que o Anthony quer me proteger. Sei que ele está tentando me manter segura depois de tudo que aconteceu com o Vinícius. Mas o
Maria Antonella Narrando Ainda sentia meu coração apertado depois daquela ligação com a minha neta. O jeito que ela falou da Brenda, a dor escondida nas palavras, tudo me tocava fundo. Ana Kelly sempre foi minha menina… forte por fora, mas com um coração que sente tudo. Eu ia tentar fazer ela entender que o perdão não é sobre esquecer, mas sobre se libertar. — Alô? Ana Kelly? — falei de novo, porque a ligação tava chiando. Foi aí que escutei o barulho. Um estrondo vindo da porta da cozinha. — Quem tá aí? — perguntei, levantando devagar da poltrona. Nem deu tempo de pensar. Dois homens de preto, encapuzados, invadiram minha casa como se fosse nada. Um deles segurava uma arma, e o outro já veio pra cima de mim. Tentei gritar, mas a mão pesada tampou minha boca antes. — Fica quieta, velha! — o da frente rosnou. — PELO AMOR DE DEUS, O QUE VOCÊS QUEREM COMIGO?! — berrei assim que me soltaram por um segundo, o telefone ainda pendurado na linha. — ANTONELLA! — escutei Ana K
Ana Kelly Narrando O silêncio do telefone me fez congelar.— Vó? — repeti, a voz saindo engasgada.Nada.— VÓ!?O grito ecoou pelo quarto. O coração disparou, a mão trêmula, os olhos arregalados procurando alguma resposta, alguma voz do outro lado da linha. Mas o que veio… foi um barulho seco. E a ligação caiu.Meu peito se fechou num aperto sufocante.Joguei o celular na cama e saí correndo. Desci as escadas aos tropeços, sentindo o desespero tomar conta de mim. As lágrimas já desciam quando abri a porta com força. Eu precisava sair, precisava ir até ela, encontrar minha vó, fazer alguma coisa!Mas dois braços me barraram.— Senhorita, ordens do senhor Anthony, a senhora não pode sair assim — disse o segurança, firme, mas calmo.— SAI DA MINHA FRENTE! — gritei, me debatendo. — A MINHA VÓ TÁ EM PERIGO! EU PRECISO IR ATÉ ELA!Eles tentaram me conter, mas eu me debatia feito louca. Comecei a chorar mais forte, esmurrando o peito do segurança.— VOCÊS TÃO MACHUCANDO, ME SOLTA! ME SOLTA,
Anthony Narrando Quando entrei naquela casa e vi a Ana Kelly no chão, aos prantos, abraçada às próprias pernas, algo em mim despencou. Eu já a vi brava, ferida, orgulhosa... mas assim? Tão quebrada? Nunca.Me agachei devagar, puxando ela pro meu peito, mesmo com os soluços sacudindo cada parte do corpo dela.— Calma, princesa... eu estiu aqui.— Eles levaram ela, Anthony! Eles... levaram minha vó! Eu escutei ela pedindo socorro!— Shhh... respira comigo...Ela me olhou com os olhos vermelhos, desesperados, como se eu fosse o único fio de esperança que restava. E talvez eu fosse mesmo.— Agora você entende por que eu não deixei você sozinha em Porto Alegre? Por que eu te trouxe pra cá? Por que eu não deixo você sair sem proteção?Ela balançou a cabeça, as lágrimas escorrendo sem freio.— Eu só queria poder proteger ela, Anthony… ela é tudo o que eu tenho.Segurei seu rosto com delicadeza, meu olhar firme no dela.— E é por isso que agora sou eu quem vai proteger ela. Você vai confiar
Vinícius Narrando Cadeia não é lugar pra homem fraco. Aqui é selva de concreto, onde quem não se impõe, vira piada de preso e brinquedo de ladrão.Conseguir um celular aqui dentro custa caro. Um favor pra um, proteção pra outro, e um monte de gente querendo morder o pedaço. Mas o preço que eu pago é por fora — dentro da minha mente, não tem paz. Desde que prenderam minhas pernas, minha cabeça não parou. E agora, com a velha sumida e a Brenda voltando pra São Paulo, eu precisava ter controle. Nem que fosse do inferno.Sentei na privada de cimento, escondi o celular pequeno na barra da calça e digitei o número do Rodrigo. O toque demorou, mas quando atendeu, o som abafado da rua entrou nos meus ouvidos.— Fala, chefe. Tô aqui.Era o Rodrigo, sempre na espera do meu comando.— Como tá a velha? — perguntei, já impaciente.— Tá viva, mas chata pra caralhø. Ficou chorando a noite toda, perguntando da neta. Brenda voltou ontem pra São Paulo. Mandou um recado, disse que fez tudo direitinho.
Anthony Narrando Promessa é dívida. E eu jurei pra Ana Kelly que não voltava pra Porto Alegre sem a vó dela.O céu de São Paulo tava cinza, carregado, como se tivesse sentido o peso do que a gente tava fazendo aqui. Helicóptero da base já sobrevoava a área, cortando o ar com aquele barulho ensurdecedor que deixava o peito vibrando. Fagundes mandou o reforço, como eu pedi, mas deixei claro: só quero cobertura. Quero distância. Quem encostou a mão numa senhora, vai pagar na minha mão.O carro seguia firme pelas ruas estreitas de um bairro afastado da zona leste. Não era por acaso que eles tinham vindo parar ali — o lugar era quase esquecido pelo resto da cidade, ninguém olhava duas vezes pra um galpão abandonado. Mas as câmeras de rua não mentem. E foi isso que a gente usou. Rastro por rastro.— Eles tão num raio de quinhentos metros. — avisou Henrique, um dos meus melhores no campo.— Acelera. Quero eles vivos. Mas se reagirem... tu sabe.— Pode deixar.A van fez a curva com tudo. As
Anthony Narrando Enquanto a gente ia pro helicóptero, Henrique se aproximou com o celular na mão, ofegante, ainda com os punhos sujos de sangue.— A gente puxou as imagens mais antigas das câmeras. Foi o Rodrigo… o capanga fiel do Vinícius. Foi ele que pegou a velha.Meu peitø inflou de ódio. Rodrigo. O mesmo que já tinha feito merda em outras missões. O mesmo que o Vinícius mantinha por perto como se fosse sombra.— Tinha outro com ele? — perguntei, rangendo os dentes.— Tinha. Um tal de Lipe. Novo no esquema, mas sangue frio. Entraram com a velha no porta-malas de um sedã cinza. As placas estavam clonadas.— Então foi o Vinícius. — minha voz saiu firme. — Mesmo preso, ainda tenta jogar sujo.Henrique assentiu.— E mandou fazer isso com uma idosa, só pra atingir a Ana.— Ele vai se arrepender. — sussurrei. — Palavra minha. Palavra de Anthony.A velha abriu os olhos devagar, e mesmo toda roxa, machucada, teve força pra sorrir fraco quando me viu.— Você é o Anthony, né? — a voz dela
Ana Kelly Narrando Quando o helicóptero pousou, meu coração parecia que ia sair pela boca. Eu desci correndo assim que o piloto abriu a porta, sem esperar ninguém. Meus olhos procuraram por ela, por aquela mulher que foi meu mundo quando ninguém mais ficou. Quando tudo desabou, foi na casa dela que eu me escondi, nos braços dela que eu chorei, e nas histórias dela que eu sonhei.E aqui estava ela. Nos braços do Anthony, com o rosto inchado, cheia de hematomas, os olhos meio abertos como quem ainda lutava pra acreditar que tava viva. Eu paralisei.— Vó... — Minha voz saiu fraca, embargada. Dei dois passos, trôpega, e quando cheguei perto dela, ela murmurou meu nome. Do jeito dela, arrastado, mas eu reconheci.— Aninha...Foi como se o tempo parasse. Me ajoelhei, chorei, abracei as pernas dele que ainda seguravam ela. A minha vó tentou sorrir, e uma lágrima solitária escorreu pelo rosto dela. Não precisava de palavras. Eu sabia. Ela tinha sofrido. Ela tinha sido machucada.Mas ela tava