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Após a reunião na delegacia, os rostos dos oficiais ficaram sérios ao ouvirem o relatório da autópsia.

— A vítima sofreu tortura intensa antes da morte. — Explicou o legista, passando rapidamente por fotos gráficas na tela. — Múltiplos ossos quebrados, abuso sistemático.

Devido ao estado horrível do meu corpo, o reconhecimento facial foi impossível.

O prédio abandonado não era o principal local do crime, o que dificultava consideravelmente a investigação.

Mark estava à frente da sala, com a mandíbula apertada.

— Faça um levantamento da área inteira. — Ordenou à sua equipe. — Verifiquem todas as câmeras de segurança em um raio de cinco milhas. Alguém deve ter visto algo.

— Peça uma nova autópsia detalhada. — Mark disse ao seu colega. — Verifique se há algo novo e apresse a análise de DNA no laboratório. Eu quero saber quem ela é.

Com essas instruções, ele saiu apressado com sua equipe.

Meu marido demonstrava mais preocupação com aquele cadáver anônimo do que jamais havia demonstrado por mim.

Lembrei-me do mês passado, quando lhe dei o colar do meu pai, era a única coisa que restava da minha família.

— Ele protegeu meu pai por trinta anos. — Eu disse a Mark, colocando-o em seu pescoço. — Agora vai o proteger também.

Ele realmente sorriu naquele momento, um de seus raros sorrisos genuínos. Por um instante, pensei que finalmente tivesse alcançado seu coração.

Mas então, Emma apareceu no dia seguinte.

— Ah, essa velharia? — Ela zombou, tocando o pingente. — Parece tão barato, Mark. Você merece algo melhor.

Antes que eu pudesse impedi-la, ela soltou o fecho e jogou o colar na lata de lixo da cozinha.

Eu a esbofeteei com força. O som da palma contra a bochecha ecoou alto na nossa cozinha.

A reação de Mark foi instantânea e violenta. Ele agarrou meu braço, torcendo-o para trás.

— Você se atreve a tocar na Emma? — Ele rosnou, o rosto contorcido de ódio. — Você deveria ser grata por ela sequer falar com você, sua v*dia inútil!

Ele me arrastou para o porão, me jogou escada abaixo e trancou a porta.

Por dois dias, fiquei no escuro. Sem comida. Sem água. Apenas o som da risada de Emma ecoando do andar de cima.

Agora, enquanto ele examinava meu corpo com mãos suaves, comentou em voz baixa:

— Uma morte tão trágica. O marido dela deve estar de coração partido.

Não pude evitar um sorriso amargo. Meu marido provavelmente celebraria minha morte, ou talvez apenas fingisse lamentar por aparências.

As mãos de Mark, cobertas por luvas, traçaram a longa cicatriz nas minhas costas. Vinte e três centímetros de tecido elevado, correndo do ombro até o quadril.

Aquela cicatriz, eu a ganhei salvando sua vida em um acidente de carro, dois anos atrás.

Estávamos voltando de um jantar quando um caminhão passou no sinal vermelho. Eu o vi antes dele.

Não pensei. Apenas agi. Desapertei o cinto de segurança, empurrei-o para fora da porta do motorista e recebi o impacto por ele.

Mas, depois que me recuperei, ele mal conseguia me olhar durante o sexo, dizendo que a cicatriz o repugnava.

— Não pode usar uma camisa? — Ele retrucava. — Não quero ver essa coisa.

Será que ele conseguiria me reconhecer agora, por meio dessa cicatriz que tanto desprezava?

Segurei a respiração, observando seu rosto atentamente.

Mas ele simplesmente murmurou:

— Velha lesão. Não relacionada ao assassinato.

Sua voz era clínica, distante. Apenas mais um detalhe no seu relatório de caso.

De repente, o assistente dele chamou:

— Detetive, tem papel no estômago da vítima!

Os olhos de Mark se arregalaram enquanto ele pegava o pedaço de papel.

— Está muito degradado pelo ácido gástrico. Envie para a perícia para análise.

Naquele momento, o telefone tocou, era o toque especial de Emma.

Mark tirou as luvas e correu para o corredor, sua voz suavizando instantaneamente.

— Emma? O que aconteceu, querida? Estou no trabalho.

— O tratamento de amanhã? Claro que eu estarei lá.

A voz doce de Emma atravessou o telefone:

— Eu sei que você está ocupado com esse caso. Não tem problema se não conseguir vir. E, por favor, não insista com a Alice sobre a doação de rim. Eu entendo se ela não quiser ajudar.

— Eu nunca escolheria um caso em vez de você. — Respondeu Mark, com suavidade. — E não se preocupe com a Alice. Eu a amarraria e a arrastaria até o hospital, se fosse preciso. Ela não tem o direito de decidir se vai ou não salvar sua vida.

— Você é tão gentil. — A voz de Emma transbordava de falsa preocupação. — Ouvi dizer que ela está afirmando estar grávida? Pobre coitada, deve estar desesperada por atenção.

— Alice não está grávida. — Mark cuspiu, com raiva. — Ela só está tentando evitar ajudar você. Mas eu não vou deixar ela sair impune.

Emma suspirou suavemente.

— Mesmo assim, tome cuidado, tá? O assassino ainda está por aí. Eu me preocupo com a segurança de todos.

— Preocupe-se apenas com você mesma, querida. Não me importo com o que aconteça com a Alice, desde que ela não morra antes de lhe dar o rim.

Sua crueldade casual retorceu meu coração espectral.

Eles discutiam meu destino de forma tão insensível, sem saber que meu corpo estava a poucos passos de dali. Nunca imaginando que o rim de que Emma tanto precisava já estava destruído demais para salvá-la.

Minha morte foi orquestrada por Emma, mas a cegueira de meu marido a tornou possível.

Se ao menos ele soubesse a verdade; que sua preciosa Emma havia planejado meu assassinato, e ele estava examinando o corpo de sua própria esposa.

Mas mesmo que soubesse, será que ele se importaria? Ou ficaria apenas bravo por Emma não conseguir mais pegar o meu rim?
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