POV ENRICARaphael caminhava em círculos ao meu redor, como um predador satisfeito. Seus passos ecoavam baixinho, mas cada movimento fazia o ar parecer mais pesado. A dor latejante no braço e o gosto metálico na boca eram lembretes agudos da minha vulnerabilidade, mas eu me esforçava para manter a respiração estável.— Você não faz ideia, não é? — ele disse, a voz escorregadia, como veneno escondido em mel. — De quanto tudo isso gira ao seu redor.Permaneci em silêncio. Se ele queria um palco, que se afogasse no próprio discurso. Mas, ao invés de se irritar, ele parecia se alimentar da minha quietude, sorrindo como quem saboreava cada palavra.— A vila… Harari. Não foi acaso. Foi seleção. — Ele parou, os olhos cravados nos meus. — Sabíamos do potencial genético de alguns moradores. E o seu… era excepcional. Assim como o da sua mãe.— O quê? — sussurrei, incrédula.O sorriso dele se alargou, distorcendo ainda mais o rosto.— De quem você acha que conseguimos extrair os melhores resulta
POV ENRICAO frio me atingiu como navalhas, a neve era espessa. As roupas que eu vestia mal protegiam minha pele. Cada passo era como pisar em lâminas. O ar gelado cortava minha garganta, os membros já latejavam de dor. Mas continuei.Foi quando ouvi. Estalos. Rosnados.Virei o rosto e vi. Não um, mas três lobos emergindo das sombras da floresta. Mas não eram como Caleb. Não eram como o lobo dele.Esses… tinham olhos esbranquiçados, sem brilho. A baba pendia dos cantos das bocas abertas demais, os dentes longos demais, curvos como ganchos. Os pelos falhados em algumas partes, a pele avermelhada como se corroída. Moviam-se como bestas dopadas, selvagens e doentes. As patas afundando na neve, deixando rastros de sangue.
POV CALEBO frio do amanhecer se misturava à tensão no acampamento de guerra. O céu cinzento não prometia nada além de silêncio e sangue. Eu estava reunido com Samuel, Anthony e os generais de Vartheos, traçando os próximos passos.As movimentações de Liene tinham sido calculadas, e aguardávamos o retorno da princesa Averine, que havia, para surpresa de todos, enviado uma proposta de trégua formal — algo que até então Samuel havia tentado, sem sucesso, por vias discretas. Tudo caminhava como o planejado.Mas algo dentro de mim… começou a desmoronar.Primeiro foi uma fisgada no peito. Discreta. Um incômodo que tentei ignorar.D
POV CALEBA terra tremeu sob minhas patas.O mundo inteiro parecia se dobrar ao meu redor — galhos estalavam como ossos sob o peso do meu corpo colossal, o chão se abria com cada passo, formando rastros fundos de garras que riscavam a terra gelada como marcas de guerra. Meu Lobo Supremo não sentia o frio, não temia o espaço. Árvores inteiras tombavam ao meu avanço, raízes arrancadas, o vento uivando em pânico ao meu redor. Eu era mais do que um lobo. Eu era o fim.O cheiro dela me guiava. Sangue. Dor. Medo. O mundo era uma distorção ao redor da necessidade de chegar nela. Continuei avançando, o som da neve esmagada sob minhas patas se fundia com o rugido da floresta. Tudo foi ficando mais nítido agora.Me
POV CALEBA terra tremeu sob minhas patas.O mundo inteiro parecia se dobrar ao meu redor — galhos estalavam como ossos sob o peso do meu corpo colossal, o chão se abria com cada passo, formando rastros fundos de garras que riscavam a terra gelada como marcas de guerra. Meu Lobo Supremo não sentia o frio, não temia o espaço. Árvores inteiras tombavam ao meu avanço, raízes arrancadas, o vento uivando em pânico ao meu redor. Eu era mais do que um lobo. Eu era o fim.O cheiro dela me guiava. Sangue. Dor. Medo. O mundo era uma distorção ao redor da necessidade de chegar nela. Continuei avançando, o som da neve esmagada sob minhas patas se fundia com o rugido da floresta. Tudo foi ficando mais nítido agora.Me
POV CALEBAinda não era eu.A floresta já havia sumido. A batalha também… pelo menos a mais perigosa. Tudo o que existia agora era o castelo à minha frente — silencioso, assombrado — e os soldados ao redor, tensos, recuados, temendo o que eu era.O lobo ainda estava no controle. Minhas patas gigantes pressionavam o solo com peso antigo. Os olhos rubros varriam cada detalhe ao redor como se caçassem uma ameaça invisível. Mas não era isso.Era ela. O cheiro dela. Doce. Selvagem. Oscilante. Misturado agora com algo novo.Meu peito arfava com violência. Rosnei baixo, irritado com minha própria impotência. Eu podia sentir Enrica, viva, próxima, mas inacessível. O castelo era pequeno demais para o que eu me tornara. Essa forma não cabia mais entre paredes.Girei em círculos. Garras cavando a terra como se pudesse arrancar respostas do chão. Um soldado se aproximou demais e meu corpo inteiro se retesou, o rosnado profundo fazendo-o cair de joelhos. Quase o ataquei. Mas me contive. Por ela.O
POV CALEB— Eu achei que te perderia — confessei, deixando meus dedos subirem até o rosto dela, traçando a curva da mandíbula. — Nunca mais faz isso comigo. Nunca mais some de mim assim…Ela chorou. Silenciosamente. As lágrimas correram pelos cantos dos olhos, e eu as beijei, uma a uma. Meu peito doía com a intensidade daquilo. A marca pulsava em alívio, mas meu lobo ainda rugia, protetor.— Você… — ela tentou falar, e eu a interrompi com um gesto carinhoso.— Eu sei. — Afastei uma mecha úmida de suor do rosto dela. — E tem outra coisa que sei também.Ela me olhou, confusa. Os olhos marejados.— A gravidez — completei, e vi o susto tomar conta do rosto dela.— Como…?— Oliver. — Revirei os olhos, mesmo emocionado. — Abriu a boca como um idiota. Se eu não estivesse tão feliz, cortava a língua dele.— Aquele… — Ela parou, frustrada. — Eu queria ser a primeira a te contar.— E devia ter sido. — Sorri, puxando-a mais para perto. — Mas agora que eu sei…As lágrimas voltaram, desta vez nos
POV ENRICAO vento cortante soprava contra a cabana, uivando como uma entidade raivosa, mas foi outro som que me despertou no meio da noite. Um uivo, longo e carregado de um sofrimento que eu não sabia nomear. Não era apenas um chamado ou um aviso, era um lamento profundo, um grito de dor rasgando a escuridão.Sentei-me na cama, ofegante. Meu coração martelava forte contra o peito, a sensação de inquietação se espalhando por minhas veias como veneno. A lareira ainda crepitava, lançando sombras trêmulas contra as paredes de madeira. Mas o calor não era suficiente para abafar o arrepio que se arrastou pela minha pele.Outro uivo ecoou, mais fraco dessa vez, como se a própria noite estivesse engolindo sua força. Engoli em seco. Algo estava errado.Levantei-me sem hesitação, puxando um casaco grosso e calçando minhas botas. O medo sussurrava para eu ignorar aquele chamado, mas a curiosidade sempre foi um veneno que corriam em minhas veias. E eu precisava ver com meus próprios olhos o que e