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Capítulo 6 - Minha nova realidade

“Você passará por coisas que não merece, mas isso irá lhe mostrar o quão forte você é.”

Três dias se passaram e eu tinha feito tudo o que Otto tinha pedido. Fui até o banco, levantei todas as hipotecas que estavam atrasadas e inclusive as que iam vencer, fiz o mesmo com a faculdade e no hospital, pedi a parcial da conta, lógico que não sou boba, conversei com o diretor e disse que um “tio” iria me ajudar, pedi que ele colocasse algumas diárias hospitalares a mais, com isso eu fiquei com um crédito, o que me deixou um pouco mais aliviada, como o próprio Otto havia percebido, era sim uma garota inteligente, mas isso agora pouco importava. Aproveitei e durante esses três dias adiantei vários trabalhos da faculdade, fiquei com minhas amigas e por um momento me senti uma garota comum, mas o dia tinha chegado e a partir de hoje, toda a minha realidade seria transformada. Sai da faculdade e me dirigi até a casa noturna, hoje seria o meu primeiro dia como anfitriã. Não ia negar que estava apavorada, mas precisava passar por tudo isso, e iria! 

Parei em frente a casa que seria o meu lar durante três longos anos. Tinha vindo aqui de dia, a fachada a noite é muito mais imponente. Quando pesquisei sobre clubes noturnos que ofereciam serviços de anfitriães, o Coliseu apareceu no topo e também tinha outro detalhe que não passou despercebido por mim. Não era qualquer pessoa que frequentava esse clube, apenas homens ricos, poderosos e com muito dinheiro. Pois o Coliseu, tratava-se de um clube privado, esse foi um dos motivos que me fez escolhê-lo, pelo menos terei que lidar com homens de classe, se bem que os mais poderosos tendem a ser mais peculiares. 

Este era meu primeiro dia de trabalho e agora vendo onde me encontro tenho certeza que esse não é o tipo de lugar para mim, mas isso não importa. Se meus professores e colegas descobrissem isso, eu tinha certeza de que seria expulsa da faculdade, não no sentido literal, mas as pessoas simplesmente parariam de falar comigo, e isso era o tipo de coisa que não podia deixar acontecer. Eu queria ser uma médica respeitada e admirada, porém se descobrissem o que eu estava prestes a fazer, meu futuro estaria acabado. 

Precisaria da ajuda das minhas melhores amigas para os estudos, afinal, estudaria durante o dia e a noite estaria no clube. Quase não terei tempo para estudar, então minhas amigas serão primordiais aqui. Mas como conseguir isso sem contar o verdadeiro motivo? São tantas coisas para pensar mas tenho que limpar minha mente e focar no agora. 

O anunciante do outro dia parou na minha frente, sua mão batendo palmas como se ele não pudesse acreditar que eu estava aqui e que essa coisa toda não era algum tipo de truque que sua mente estava pregando nele.

— Seja bem vinda princesinha, eu sabia que você no final acabaria aceitando a minha oferta. 

Suspirei. 

— Não tive escolha melhor, ou era trabalhar aqui ou... acho que você não precisa saber sobre o que está acontecendo na minha vida agora. — digo rudemente. 

— Eu não diria que não desperta meu interesse, mas você pode estar certa sobre uma coisa. — parou me encarando nos olhos. — O que está acontecendo em sua vida é problema seu, e eu não sou nada além de um anunciante para você. 

Eu sorri. 

Ele tinha uma voz muito calma e convidativa quando não estava gritando e seus olhos eram bastante expressivos. Vendo melhor, ele parecia bastante amigável, mas eu não ia contar a ele mais do que já contei sobre minha vida. Quanto menos pessoas soubessem disso, melhor. Embora, agora que eu estava pensando sobre isso, talvez não fosse tão ruim fazer alguns amigos aqui. Fazer amigos significava que algumas informações sobre meu passado e presente teriam que ser compartilhadas, mas eu já estava me acostumando com a ideia de deixar isso acontecer para um bem maior. Ele ofereceu sua mão para mim, mas eu não estava com vontade de pegá-la, além disso, não era como se a casa  fosse muito complexa para um pequeno ‘tour’ ou algo assim. Percebendo a minha hesitação ele disse:

Siga-me por aqui.

Caminhei com ele até uma sala menor, onde entramos e ele fechou a porta. Havia algumas mulheres dentro dele, e algumas delas me olhavam com olhares curiosos. Elas provavelmente estavam se perguntando o que diabos eu estava fazendo aqui, e eu não as culparia por ter essa reação. Bastava olhar pra mim que era notório que ali não era uma ambiente para mulheres como eu. Mas fazer o quê? Foram minhas escolhas que me trouxeram para onde eu estava no momento. Primeiro as minhas roupas não se enquadraram ao local, eu estava mais para uma adolescente virgem e assustada que foi sequestrada por uma gangue de mafiosos e estava sendo obrigada a ser escrava sexual. Mas quanto a isso eu acho que não deveria me preocupar, logo  ele ia me fazer parecer como elas, nada do que muita maquiagem e roupas insinuantes. Poucas pessoas seriam capazes de me reconhecer aqui quando parecesse com uma anfitriã de verdade. De qualquer forma, provavelmente meus professores e colegas não frequentavam esse tipo de estabelecimento com frequência, então as chances de ser reconhecida eram zero, mas como ultimamente eu era uma pessoa muito sortuda teria que ter cuidado redobrado.

Um bela mulher de cabelos azulados se aproximou de nós com um sorriso no rosto, por um momento me sinto acolhida, mas a voz do anunciante me faz voltar a realidade:

Dominica, por favor transforme nossa pérola em uma jóia bruta! — diz sorrindo. 

Sinto a bile querer subir só de me imaginar no meio de um monte de homens me devorando como um bando de pervertidos.

— Pode deixar Kellan, venha comigo.

Ela diz me estendendo a mão e me levando a um espécie de vestiário menor, ainda podia ouvir um pouco da música alta vinda do salão principal (aquele com todos os sofás, recepcionistas e clientes) mas soava abafada. Saber que aqui,  poderia relaxar um pouco era reconfortante e mesmo que ainda fosse ter minha primeira noite lá fora na sala principal, já estava meio que sentindo falta desse espaço bem menor delimitado por quatro paredes e me perguntando a que horas meu descanso seria. 

— Como se chama? 

— Chloe. 

— Me chamo Dominica e confie em mim. — diz sorrindo. Sinto um pouco de paz com aquele sorriso e resolvo de fato, confiar nela. 

— Tudo bem, Chloe, chegou a hora de se transformar numa mulher  pela qual qualquer homem no mundo se apaixonaria! 

Dei-lhe um sorriso sem graça, que ela ignorou ou não pareceu ter notado. Ela se aproximou ainda mais de mim e continuou: 

 — Eu sei que trabalhar aqui pode ser demais, mas por favor não se preocupe com isso. —  insistiu, me arrastando para o outro lado da sala e abrindo um dos armários. Era grande, abrigando muitas peças de roupas que eu adoraria experimentar em circunstâncias melhores e diferentes. Eu ainda não tinha aceitado o fato de que iria trabalhar aqui pelos próximos três anos.

— Vou fazer o meu melhor. 

Dominica não levou nenhum tempo para preparar algo que ficasse bem em mim. Um lindo e tentador vestido vermelho que eu tinha certeza que chamaria a atenção de muitos dos clientes que eu atenderia. O cabelo preso em um coque alto deixando o meu colo e o meu pescoço exposto, segundo Stefan, era uma das partes do meu corpo que ele mais gostava. Então fiquei na frente da porta que levava a este vestiário, meu coração acelerado como se fosse um trem em alta velocidade. Dominica ficou atrás de mim, batendo de leve no meu ombro com a mão e sussurrou: 

— Você vai ser uma estrela trabalhando para nós, tenho certeza que você vai se tornar nossa garota número um em breve. 

E dada a quantidade de tempo que trabalharia aqui, tinha certeza de que ele não estava muito errado com sua previsão, podia realmente se tornar real.

De repente as portas se abrem e vejo todo o esplendor do lugar. Milhares de sofás e neles homens que já estavam acompanhados. Suspiro fundo e caminho devagar pelo local, não sei ao certo como isso deve funcionar, mas acredito que devo escolher uma mesa onde deva sentar. Vejo um homem que fala ao telefone e parece compenetrado, não hesito e caminho até ele me sentando ao seu lado. Ele levanta o rosto e por deus, que homem lindo! Os olhos azuis me encararam com intensidade e ao mesmo tempo em confusão, tento me recompor e começo a incorporar o meu papel e digo:

— Então… posso te oferecer alguma coisa para comer ou beber? 

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