Katherine AdamsSete anos antes
— Já faz um mês que você está aí, é impossível que não tenha arrumado nenhuma amiga ou crush! –Ashley me fitava desconfiada pela tela do celular.
Estranhamente, a vida da minha irmã se resumia a amizades e relacionamentos amorosos. Parecia viver em um conto de fadas onde o príncipe encantado galoparia até o castelo da torre mais alta, enfrentaria corajosamente o dragão e a resgataria.
— Não vivemos em um conto de fadas, Ash — respondi, tentando não parecer tão irritada.
— Não disse que estávamos — ela contestou, dando de ombros e mostrando a língua.
O aparelho estava apoiado na parede, de modo que eu pudesse mexer no notebook enquanto minha irmã curiosa insistia em fazer uma série de perguntas sobre a minha vida pessoal nem um pouco animada.
— Não vim para fazer amigos, Ash — falei, sem tirar os olhos do notebook.
E realmente não havia ido. Quero dizer, eu sabia que cinco anos morando no mesmo lugar e convivendo com as mesmas pessoas me trariam amizades duradouras e talvez um amor ou dois, mas no momento não era o foco. Estava me adaptando ao lugar, me familiarizando com a nova vida que levaria durante os próximos anos.
— Você é muito sem graça. Tá perdendo toda a magia do negócio! — ela exclamou. — Acho que você tá mentindo! — Sorri ao ouvi-la falar. — Katherine Adams, você tá mentindo para mim!
Eu estava.
A verdade é que não queria contar para Ashley sobre a minha recente amizade — se é que poderia chamar assim — com Matthew Stewart. Não queria que ela fizesse suposições sobre nossa aproximação e nem que começasse a colocar caraminholas na minha cabeça, dizendo coisas do tipo: “Vocês formam um casal lindo” ou “Ele parece ser um partidão”.
E é claro que Meredith já havia falado sobre isso algumas vezes e insistia em dizer que o cara era realmente bonito, mas eu seguia ignorando meu subconsciente e esperava poder enrolar minha irmã, ou então teria que ignorá-la também. Entretanto, eu e Matthew nem mesmo éramos amigos, estávamos mais para conhecidos ou colegas.
Depois do nosso primeiro encontro no campus, onde ele acabou com meu exemplar de Querido John e me levou até o local onde seriam minhas aulas, nós havíamos nos encontrado mais algumas vezes. Nada demais, apenas encontros casuais pelo campus mesmo, sem conversas pessoais e sem nenhum tipo de contato.
Ele havia me chamado para sair algumas dessas vezes, não como um encontro, mas para conhecer alguns amigos e socializar. Acontece que eu não gostava dessas coisas e não aceitei. Não me entenda mal, eu não era do tipo que dizia não gostar de ter amigos para amanhã ou depois estar entre os mais populares, não mesmo; realmente gostava da minha solidão e da minha bolha, gostava de valorizar meus estudos e me dedicar a eles.
E o fato de estar há só um mês longe de casa e ainda me habituando a minha nova vida pesava bastante nessa decisão.
Mas claro que se contasse isso para Ashley, ela iria me atormentar até que eu aceitasse sair com Matthew, e provavelmente contaria para o papai e para a mamãe, fazendo com que ambos me dessem algum sermão de "você precisa conhecer gente nova".
E talvez de fato precisasse, mas não queria e fim.
— Não é nada de mais — suspirei. — Nem amigos nós somos. É só um cara legal que, às vezes, me acompanha pelo campus.
— AH, MEU DEUS! — ela gritou pausadamente. — Um cara! Eu quero saber tudo! Ele é bonito? É de alguma cidade grande? Espera! Ele tem namorada? — A animação de Ashley até seria contagiante, se eu não fosse tão desinteressada.
Desinteressada? Até parece.
Cala a boca, Meredith!
— Ele é normal e é de Nova York — contei, olhando para a tela do celular e vendo minha irmã com um sorriso convencido. — E sim, ele tem namorada. Inclusive ela mora aí em Blueville. — O sorriso de Ash desapareceu completamente quando terminei de falar.
— Quem é a garota? Vamos acabar com ela! — Ash soltou um "muahahahá" como uma bruxa de desenho animado e isso me fez rir.
— Não seja boba. Além do mais, eu nem sei o nome dela.
Eu tinha muita curiosidade de stalkear a tal namorada misteriosa, é óbvio! Mas, mais uma vez, não iria dar esse gostinho para minha irmã. Afinal, queria me manter desinteressada.
— Como assim, você não sabe? — Ash revirou os olhos. — Me diga o nome do seu príncipe que eu farei uma investigação completa para descobrir tudo sobre ele e sobre essa "pedra no caminho".
Ashley era metida a agente do FBI e, na maioria das vezes, desempenhava bem a função. Bastava alguém perguntar alguma coisa sobre outra pessoa que ela já colocava em prática seus dons e em pouco tempo sabia tudo sobre a vida do indivíduo. Era uma pena que não usasse essa habilidade para seus próprios relacionamentos, já que vivia babando por um cara popular da nossa antiga escola e não conseguia enxergar o quanto ele era babaca e sem noção.
— Ashley! Nós não somos amigos, qual a parte disso que você não entendeu?! E, além do mais, não estou interessada nele.
— Quero nomes, Katherine! — insistiu, cruzando os braços e me encarando de volta.
— Matthew Stewart — soltei, sem querer prolongar mais a conversa. — Agora eu preciso desligar, tenho uma prova amanhã e preciso ir bem.
— Você sempre vai bem. Garanto que já tem toda a matéria na ponta da língua — ela diz como se fosse algo muito entediante. — Fique tranquila, vou descobrir tudo sobre o meu futuro cunhado Matt.
Revirei os olhos em resposta, sem evitar um sorriso repuxando discretamente no canto dos lábios. Pensando bem, que mal haveria se ela descobrisse algumas coisas? Não que eu estivesse interessada.
Nos despedimos e finalizei a ligação. Vi meu reflexo na tela do notebook desligado e notei que estava acabada. Os cabelos presos em um rabo de cavalo com vários fios soltos por todos os lados, as olheiras fundas, resultado de passar as noites estudando, e a camiseta suja na gola, de ketchup, vestígios da pizza de calabresa que havia comido na noite passada.
Mordi o lábio inferior pensando que precisava mesmo de um banho e talvez de amigos. Provavelmente não estaria tão largada se tivesse alguns me chamando para sair ou marcando de estudar junto.
Girei a cadeira onde estava sentada e observei o quarto, que diferente de mim, estava em ordem. A cama perfeitamente arrumada, o chão limpo e sem roupas espalhadas. Já minha mesa de estudos estava um verdadeiro caos.
A caixa da pizza ainda estava em cima da mesa, na verdade, metade dela, a outra estava para fora. O notebook ocupava o centro da mesa e do outro lado tinha uma série de papéis espalhados e alguns livros empilhados. Embaixo da mesa havia um cesto de lixo, porém o lixo estava fora, no chão, ao redor dele.
Eu não saberia explicar como aquela bagunça concentrada em apenas um lugar era possível.
Com um suspiro, decidi organizar a mesa e jogar o lixo fora. Abri a caixa da pizza e notei que ainda havia um pedaço lá dentro, como se me chamasse para comê-lo. Sentei novamente na cadeira para degustar o último pedaço de pizza de calabresa antes de terminar de organizar a minha própria bagunça.
***
O clima de verão era o meu favorito. Apesar da chuva fina que insistia em cair, das nuvens que com frequência encobriam o sol e do meu pouco tempo disponível para "pegar" um pouco de vitamina D, eu amava o verão. As pessoas pareciam felizes nessa época do ano, elas saíam de casa mais a vontade e passavam mais tempo na rua. O verão de Cambridge não passava dos 28C° e a chuva não impedia que as pessoas aproveitassem os poucos dias de sol que tínhamos. Estávamos no começo do semestre e no final da estação, já era possível ver algumas folhas caindo das árvores aqui e ali, indicando que a próxima estação chegaria em breve.
Saí de dentro do enorme edifício de tijolos a vista e senti a brisa do vento no rosto. A chuva que caía quando cheguei já havia ido embora, levando consigo algumas nuvens e deixando o sol brilhar no céu. As pessoas caminhavam apressadamente em direção aos dormitórios, provavelmente com pressa para aproveitar o restinho do dia que ainda tinham. Outras estavam sentadas sob a sombra das enormes árvores, estudando ou apenas em conversando em grupos.
Senti duas mãos taparem meus olhos no momento em que pisei para fora do prédio. Meu primeiro impulso foi dar um tapa naqueles dedos, tirando-os do meu rosto e resmungando alguns palavrões na sequência.
— Era só uma brincadeira, você é muito sem graça, Kate — Matthew me surpreendeu, se colocando na minha frente.
— Primeiro: não gosto de brincadeiras. — Pontuo com os dedos, enumerando conforme falava. — Segundo: não somos amigos. E terceiro: é Katherine! — Logo me afastei, caminhando em direção aos dormitórios.
O que aquele garoto estava pensando? Que tipo de intimidade achava que tínhamos?
Não seja tão grossa, foi só uma brincadeira. Uma brincadeira sem graça nenhuma!
— Não seja tão grossa — ele me seguiu, como se houvesse um complô entre ele e Meredith, e continuou caminhando atrás de mim. — Nós podemos ser amigos, basta você querer. E Kate é um diminutivo do seu nome, não vejo o porquê de não usar.
Continuei, ignorando completamente o garoto louro de olhos azuis que insistia em me seguir. Talvez se continuasse fingindo que ele não estava ali, ele desistisse.
— Ah, qual é, Kate! — Matt parou na minha frente, segurando meus braços com as suas mãos e me encarando. — Deixa de ser tão antissocial. — Seus lábios se abriram em um sorriso perfeito, com dentes brancos alinhados e ruguinhas no canto dos olhos.
— Tudo bem, Matthew. — Cruzei os braços. — Diga o que você quer.
Se você não pode ir contra, melhor que esteja a favor. Se Matthew Stewart queria atenção, ele teria. Pelo menos por tempo suficiente para que eu pudesse me livrar dele.
— Vai ter uma festinha hoje... — Eu imediatamente revirei os olhos para ele. — Calma, não terminei de falar. Vai ser na casa de um amigo e eu gostaria que você fosse.
— Não vou, obrigada.
— Por favor, Kate! — Ele continuou sorrindo, como se aquele sorriso tivesse algum poder sobre mim.
E não tem?
— Não. Era só isso? — Arqueei as sobrancelhas e deixei um sorriso amarelo estampado no rosto, de modo que ficasse sugestivo que não estava a fim de conversa.
— O que preciso fazer para você aceitar? — perguntou, com um olhar pidão. — Olha, se você não gostar, prometo que te trago embora e que nunca mais te incomodo novamente.
Era uma proposta interessante e as chances de eu odiar uma festa de fraternidade eram imensas. Talvez fosse minha chance de me livrar do garoto insistente.
— Se eu for... — Ele sorri e eu levanto a mão, impedindo-o de se animar. — E se não gostar, você jura que não vai mais ficar me perseguindo por aí?
— Você fala como se eu fosse algum perseguidor assassino — ele resmungou —, mas sim, eu juro que paro de te incomodar.
Ponderei por alguns segundos enquanto observava Matthew. O sorriso dele era genuíno, como se nada fosse capaz de tirá-lo daquele rosto perfeito, alcançando seus olhos azuis e refletindo em sua íris. Talvez não fosse só uma arma de conquista, talvez aquele sorriso fizesse parte da sua personalidade.
— Tudo bem, então. Me busque as sete e não se atrase.
— Eu não disse que a festa era as sete! — Sua testa se franze ao falar.
— E que horas será?
— Agora.
— O quê? — perguntei, incrédula. — Agora tem aula!
Só podia ser piada! Uma festa às três horas da tarde, no meio da semana? O que essas pessoas tinham na cabeça? Ninguém precisava estudar ou rever alguma matéria?
— Você não tem mais aula e nem eu. E algumas pessoas ainda estão curtindo a vibe das férias.
— Não estou vestida para uma festa. — Olhei para minhas próprias roupas.
Não é como se tivesse acordado de manhã e pensado “oh, hoje posso ser convidada para uma festa”. Meu jeans surrado e minha camiseta com o brasão de Hogwarts com certeza não eram o look ideal para uma festa. E talvez nem para sair do quarto...
— Passamos no dormitório antes.
— Nem pensar que você vai entrar no meu quarto — rebati.
— Espero do lado de fora. — Será que ele sempre tinha uma resposta pronta para tudo?
Respirei fundo e bufei em resposta; não iria conseguir me livrar daquilo. Desisti, anuindo, e nós começamos a caminhada em silêncio até o dormitório, Matthew sorrindo satisfeito com a sua vitória e eu emburrada, pensando que o melhor a se tirar dessa situação seria ver-me livre do garoto bonito que insistia em me importunar.
Subimos juntos os lances de escada do imenso edifício de tijolos a vista, iguais a todos os outros e sendo diferenciado apenas pela placa que indicava ser o dormitório feminino, e entramos no saguão. Notei os olhares curiosos se virando para nós dois, seguidos de cochichos.
— Pelo visto, você é bem conhecido por aqui — falei baixo, para que só ele pudesse me ouvir. A julgar que Matthew já estava no seu segundo ano, estava supondo que aqueles olhares com certeza não eram para mim.
— Mais ou menos. Digamos que já tenha passado algumas noites em alguns dormitórios desse prédio — ele respondeu, no mesmo tom baixo.
Mas e a namorada? Mordi a parte interna da bochecha para não perguntar, apesar de estar muito curiosa ao mesmo tempo em que já estava julgando o rapaz. Se tinha uma namorada, não deveria estar saindo com outras garotas...
Subimos os degraus da imensa escada que levava ao segundo andar, onde ficavam alguns dos dormitórios e as salas de estudo. Parei em frente a uma porta marrom, igual a todas as outras, com o número 15, e procurei dentro da minha bolsa o chaveiro de unicórnio com uma única chave pendurada. Abri a porta e virei de frente para Matthew.
— Você espera aqui — mandei, colocando a mão sobre seu peito e o impedindo de entrar junto. — Não quero que pensem que eu tenho algo com você.
— Tenho certeza que as garotas lá embaixo já estão pensando isso.
Talvez estivessem mesmo, mas isso não mudava o fato de que eu não o conhecia o suficiente para deixá-lo entrar no meu quarto.
— Você tem namorada e seu comentário sobre já ter dormido aqui não passou despercebido — continuei encarando seus olhos azuis. — Se você entrar nesse quarto, adeus festa, vai ir sozinho.
— Tudo bem. — Matthew ergueu as mãos, como se estivesse se rendendo, e deu alguns passos para trás. — Você ganhou, vou esperar aqui fora.
Entrei no quarto, e antes de bater a porta, ouvi Matthew falar:
— Não esqueça de colocar um biquíni.
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