Matthew StewartSete anos atrás.
“Matt, me liga de volta, por favor.”
A mensagem na secretaria eletrônica insistia em voltar. Era como se ela soubesse que eu estava não só ignorando como apagando também. Enquanto a voz se repetia saindo dos alto falantes do carro, eu me sentia enjoado e um tanto cansado com tudo aquilo.
Peguei o celular, respirei fundo, ainda pensando em continuar ignorando, mas disquei seu número; era melhor colocar logo um fim.
— Alô?
— Matt! Você não ouviu meus recados? Por que não me ligou antes? — Lydia falava do outro lado da linha, com a voz manhosa e totalmente fingida. Era incrível a habilidade que tinha de ser tão cínica.
— Estava ocupado — falei, reprimindo a vontade de mandá-la a merda. — O que você quer?
— Como assim, “o que eu quero”? — Sua voz se tornou áspera. — Você simplesmente virou a costas e foi embora! Nem me deixou explicar...
— Você estava de quatro, na sua cama, com outro cara — digo pausadamente, interrompendo-a. — Não preciso de explicações. — Parecia estar claro para mim, mas obviamente Lydia não veria como o fim da nossa relação.
Ficamos em silêncio por um momento e agradeci mentalmente, querendo finalizar a ligação.
A estrada estava calma, com um fluxo pequeno apesar do dia. Era domingo, o sol já estava se pondo e muitas pessoas estavam pegando o rumo de volta para suas casas, para suas rotinas semanais. Faltavam poucas horas para chegar em Harvard e eu já sentia o cansaço da viagem longa e solitária.
Não que não fosse adepto à solidão. Na verdade, até conseguia tirar um bom proveito dela quando a intenção era ignorar minha namorada e meus pais. Ainda assim não poderia me considerar um cara de poucos amigos ou pouco festeiro. Durante meus anos no ensino médio, era considerado popular e por dois anos seguidos fui rei do baile de inverno e primavera, além de ter tido uma boa posição no time oficial da escola.
Lydia Campbell era minha vizinha e começamos a namorar quando ainda estávamos no ensino médio. Na época morávamos em Nova York, meus pais eram donos de uma rede de supermercados e os pais dela eram médicos. No último ano do ensino médio, ambos foram transferidos para uma cidadezinha na Carolina do Norte, obrigando Lydia a se mudar também.
Ela ficou furiosa. A garota do Upper West Side tendo que se mudar para Blueville, cidade pequena e cheia de “pescadores”, como ela gostava de dizer.
Não teve choro. Aliás, teve muito, mas de nada adiantou; Lydia se mudou e cursaria o último ano na escola local. Nosso namoro continuou, apesar da distância, e sempre que possível, eu pegava o carro dos meus pais e viajava para vê-la.
Foi assim, até a carta de admissão em Harvard chegar.
Por ela ser um três mais nova, sabia que o fato de eu estar na faculdade e ela não nos afastaria um pouco. Eu precisava ser dedicado se quisesse um dia ser médico, e isso atrapalharia minhas viagens até Blueville. Era necessário dedicar meu tempo quase integralmente e isso acabou gerando alguns atritos entre nós dois.
— Escuta, Matthew — ela dizia, me tirando dos meus pensamentos. — Sei que errei, estou mesmo arrependida, mas eu te amo! Tudo que vivemos até aqui, nada importa? — Sua voz estava chorosa.
— Você pode, pelo menos, me deixar pensar?! — Soei mais ríspido do que gostaria.
Não tinha o que pensar, mas se tentasse explicar isso a ela, provavelmente a conversa se prolongaria ainda mais.
— Não! Claro que não! — Ela responde exasperada. — Se eu deixar você pensar, é capaz de agir de cabeça quente e sair transando com a primeira garota que aparecer nessa merda de universidade!
Esse era o maior medo de Lydia Campbell: ser traída. A garota não gostou nada quando fui para Harvard e fez um show digno do Oscar quando tirei o primeiro final de semana para vê-la.
Mimada, ciumenta e hipócrita. Três palavras que definiam muito bem Lydia Campbell.
Aceitar seus dramas estava fora de cogitação. Harvard era a minha opção desde que decidi seguir a carreira médica, e nada no mundo seria capaz de mudar isso.
— Lydia, não quero falar com você agora — disse, por fim, suspirando mais uma vez. — Quando esfriar a cabeça, seja como e quando for, ligo para você. — Desliguei o telefone sem esperar qualquer resposta, fazendo o silêncio dentro do veículo se tornar muito bem-vindo.
Provavelmente, você deve estar pensando algo do tipo: “você não deve perdoá-la” ou “ela te traiu, babaca, não a procure mais”. E talvez eu devesse mesmo ter feito isso, mas as coisas eram mais complicadas do que pareciam ser.
Lembra da rede de supermercados da família? Então... Os pais da Lydia eram sócios dos meus e um tanto manipuladores. Qualquer sinal de que nosso relacionamento estivesse chegando ao fim faria com que eles (os pais dela) tomassem a empresa, visto que nessa injusta sociedade, meus pais tinham apenas 25% das ações.
Eu nem sabia como explicar como aquilo aconteceu, para ser sincero. Nossos pais era amigos de longa data e os Supermercados Camwart existiam desde que me entendia por gente. Minhas lembranças mais antigas eram ficar sentado no escritório do meu pai, em um das principais lojas de Nova Iorque, então imaginava que aquela sociedade existia desde antes de eu nascer.
Totalmente sem nexo para mim, é claro, já que os Campbell eram médicos e pareciam bem dedicados a isso. Entretanto, durante algumas conversas com meu pai, sempre o ouvia dizer que, por serem ricos demais, gostavam de investir em outras áreas, visando deixar uma fortuna imensurável para única filha.
Era tudo muito complicado…
***
Esfreguei os olhos com as mãos e me levantei da cama pensando no que havia acontecido no último final de semana e o que faria dali em diante.
O quarto estava uma verdadeira zona de guerra: as roupas que deveriam estar dentro do guarda-roupa estavam espalhadas pelo chão e por cima de uma cadeira; os livros, jogados em cima da mesa, junto com três copos usados e dois pratos descartáveis. Minha mala ainda estava no chão, aberta e bagunçada; havia duas toalhas de banho penduradas na porta do banheiro e minha cama parecia um ninho de passarinho, com o edredom enrolado e vários papéis em cima.
— Tá na hora de arrumar essa bagunça — falei sozinho, já sentindo a preguiça tomar conta de todo o meu ser.
Levantei devagar, agarrei o cesto e comecei a catar pelo quarto todas as roupas que estavam, aparentemente, sujas.
Ouvi o celular tocar, procurei o aparelho em cima da cama bagunçada e atendi a chamada de vídeo, deixando-o sobre a janela, de onde teria uma ampla visão do quarto para que eu não precisasse parar o que estava fazendo.
— Pelo amor de Deus, Matthew! — minha mãe exclamou, apertando os olhos para enxergar melhor a bagunça. — Como você consegue viver nesse lixo?
— Bom dia para você também. — Ri, largando o cesto de roupas em cima da cama. — A que devo a honra da sua ligação?
— Sou sua mãe e sinto saudades! Faz duas semanas que você não me atende. Será que dá para parar por um minuto e falar comigo?
Respirei fundo e parei em frente ao celular, cruzando os braços e encarando o aparelho. Eleonor Stewart também tinha uma queda por dramatologia e adorava pôr em prática seus dotes de artista, talvez para lembrar dos seus anos de ouro em Los Angeles, antes de se casar.
— Lydia me ligou — ela disse, por fim, e eu revirei os olhos. Claro que ela tinha lidado. — Eu sei que você está confuso, mas precisa colocar a cabeça no lugar.
Tão previsível.
Mamãe e Lydia eram como almas gêmeas, e eu desconfiava que fosse apenas por conveniência. Enquanto minha mãe queria ganhar o afeto da herdeira dos Campbell, Lydia queria ganhar o amor genuíno da sogra a fim de fazê-la ficar a seu favor quando precisasse.
— Ela me traiu. Garanto que não te contou esse pequeno detalhe — revelei, sendo sarcástico.
Mamãe apertou os lábios em uma linha reta, fingindo um sorriso nitidamente forçado.
— Você precisa analisar a situação… — falou, pausadamente, talvez ponderando se deveríamos novamente voltar àquele assunto.
Meus pais acreditavam que, se um dia eu rompesse com Lydia, isso faria com que os pais dela acabassem com a sociedade de alguma forma, já que eram sócios majoritários e poderiam facilmente comprar a parte dos Stewart.
— Mãe. Eu sei. — Voltei minha atenção para o quarto bagunçado.
— Ela errou. Todos erram em algum momento da vida...
Parei de prestar atenção no que ela dizia, deixando-a falar sozinha. Organizei a escrivaninha, tirando os copos e os pratos descartáveis e os jogando fora. Comecei a dobrar as roupas limpas e a guardá-las no seu devido lugar, ainda ignorando a mala no chão para não ter que desfazê-la.
— Matt! — Ouvi mamãe gritar.
— Eu ouvi mãe. Entendi e sei como as coisas são. Fica tranquila, vou me resolver com a Lydia depois. — Por fim, encerrei aquela conversa.
— Sei que sim, meu amor. — Mamãe sorriu como se no fundo não quisesse falar nada daquilo. — Amo você, Matthew, e quero que seja feliz. — Anuí e ela continuou: — E vê se mantém esse quarto arrumado, pelo amor de Deus. Você não cresceu em um chiqueiro.
Sorri de canto e me despedi, garantindo mais uma vez que cuidaria das coisas, mas no fundo sentindo-me cada vez mais preso àquela situação.
***
Era suposto eu estar atrasado para a primeira aula, já que havia passado tempo demais procrastinando na cama. Durante meu primeiro ano em Harvard, havia sido convidado para algumas fraternidades, mas preferi os dormitórios que o campus oferecia, mesmo que isso fosse totalmente contra o que meu pai julgava certo.
Ou talvez fosse justamente por ele não gostar que escolhi ficar lá.
É interessante pensar que, às vezes, nossa mente cria situações que vão contra àquilo que deveríamos fazer, como se fosse uma forma involuntária de contrariar ou bater de frente com alguém, que na maioria das vezes são nossos progenitores. Eu estava fadado a manter um relacionamento que já não me agradava, parte de mim fora moldado para ser médico e desde que nasci fui criado para ser o padrão que a sociedade (leia-se meus pais) idealizavam e julgavam certo. Entretanto, ainda havia dentro de mim um garoto rebelde e disposto a bater o pé, dizer não e cruzar os braços, como uma criança birrenta quando não ganha o brinquedo novo que pediu.
Infelizmente eu nunca seria esse garoto. A verdade nua e crua da minha vida era que meu pai custeava meus estudos e a boa vida que levava, e isso pesava muito em todas as minhas decisões. Não me julgue, talvez no meu lugar você fizesse o mesmo.
Corri pelo campus na tentativa de não me atrasar para a primeira aula e acidentalmente esbarrei em alguém.
— Desculpa! — Me abaixei, ajudando a garota a juntar suas coisas do chão, que com o impacto haviam caído e se espalhado pela grama bem aparada e extremamente verde.
— Você não pode, pelo menos, olhar por onde anda?! — ela reclamou, sem olhar para mim. — Ah, não! Amassou meu Querido John — disse, com voz chorosa, juntando o seu exemplar surrado do Nicholas Sparks do chão.
Não era o fim do mundo, era só um livro de romance com a capa surrada que indicava que já havia sido manuseado e lido muitas vezes; mais de uma, suponho.
Estava prestes a dizer isso de forma arrogante e áspera, julgando ser por conta do estresse e atraso, mas ao levantar a cabeça e encarar a garota, senti um sorriso surgir em meus lábios, quase que involuntariamente.
— Você é a garota do outro dia! — Não era uma pergunta, mas tinha soado como uma. — Katrina, isso? — falei, tentando lembrar o nome da morena que havia chamado atenção dentro daquela lojinha na beira da estrada. Ela estava me encarando, aparentemente confusa. — Eu sou o Matthew, da loja de conveniência da estrada — disse, lembrando-a da única vez em que nos vimos.
Seria difícil não notar a garota pelo campus, visto que sua beleza era realmente diferente. A garota tinha os cabelos castanhos escuros que caíam sobre os ombros e formavam alguns cachos nas pontas; seus lábios pareciam muito bem desenhados, eram grandes e (acredito eu) macios. Mas o que mais chamava atenção eram seus olhos: grandes, redondos e de um verde surreal, como uma mistura de tons que eu jamais tinha visto.
— Ah, sim! — Ela devolveu o sorriso e pareceu um pouco menos nervosa pelo estado do livro. — Prazer em revê-lo, Matthew, mas creio que você deva continuar andando, aparentemente estava atrasado — continuou, voltando a fechar a cara e mantendo uma expressão de poucos amigos.
— Nem parece feliz em me ver — brinquei, deixando meu melhor sorriso surgir. Gostei da ideia que minha mente começava a formar em relação àquela garota que tinha os olhos tão diferentes. Sua expressão se acentuou e notei quando suas sobrancelhas se juntaram, formando uma única ruga entre elas.
— Olha, Matthew, eu vim para Harvard estudar e não fazer qualquer coisa que você esteja pensando na sua cabecinha de macho conquistador. — Vi um sorriso amarelo se formar nos seus lábios. — Então, guarde para as garotas que já devem babar por você. — Dito isso, virou as costas e saiu andando. Precisei ir atrás dela, nitidamente curioso com a sua atitude.
Mulheres tinham essa capacidade de criar situações na cabeça e agir como se fossem reais, mas talvez ela estivesse certa, pois eu estava mesmo pensando nela já com outras intenções, mesmo que parecesse totalmente errado e sem sentido.
— Espera, Katrina, foi um mal-entendido. Eu não estava dando em cima de você — menti e caminhei rápido para acompanhá-la.
— É Katherine — corrigiu, incomodada, andando cada vez mais rápido.
— Certo, Katherine. — Parei na sua frente, fazendo-a parar também. — Vamos começar de novo, ok? — sorri. — Prazer, eu sou o Matthew, de Nova Iorque, tenho namorada e não estou interessado em jogar meu charme pra cima de você — disse de modo explicativo e estendendo a mão.
Eu nem sabia o real motivo de estar insistindo naquela proximidade, já que Katherine não parecia o tipo de garota que me daria mole, a julgar por seu comportamento. Mesmo assim, na noite em que nos conhecemos na fila daquela lojinha, ela já havia despertado algum interesse em mim, que foi substituído ou deixado de lado pela raiva que eu estava sentindo de Lydia e da situação como um todo.
A garota olhou pra minha mão e depois voltou a me olhar nos olhos, com o mesmo olhar desconfiado, o que me fez pensar que, talvez, fosse uma característica sua. Ela ajeitou os livros, abraçando-os com um braço só e com a mão livre apertou a minha.
— Katherine, de Blueville. — Enfim sorriu verdadeiramente, e por um momento ficamos apenas nos olhando.
Seus livros voltaram a cair no chão, me tirando do transe daquele sorriso e daquele olhar tão penetrante.
— Deixa que eu te ajudo! — Me abaixei para juntá-los novamente. — Vou para o prédio D e você?
— Vou para o A — ela respondeu, enquanto eu devolvia os livros para os seus braços, cuidando para colocar no topo o exemplar surrado de Querido John.
— Acho que você está um pouco perdida. — Olhei ao redor, me localizando.
— Provavelmente, é o meu primeiro dia e eu sou um pouco atrapalhada.
Isso eu já havia notado, mas não concordaria de jeito nenhum. Minha experiência com mulheres havia me ensinado que em alguns momentos o melhor a fazer é discordar, mesmo sendo mentira.
— Vem, eu te levo até lá. — Tomei alguns livros de seus braços e a ajudei a carregá-los.
— Mas você não está indo para o outro lado? — Ela questionou, novamente me olhando desconfiada.
— Não vou chegar a tempo para a primeira aula, de qualquer forma.
Ela assentiu e nós seguimos caminhando pelo campus. Katherine parecia ser realmente diferente, tinha uma simpatia natural escondida em algum lugar dentro de si, mesmo que tentasse escondê-la com seu jeito, e de, aparentemente, não gostar que as pessoas se aproximassem demais; lembrava-me das garotas nerds do ensino médio, mas diferente delas, Katherine era extremamente bonita e tinha a impressão de que ela sabia bem disso. Seus olhos marcantes e expressivos faziam-me perceber que, se tivesse tempo, seria capaz de decifrá-la pelo olhar.
Algo dentro de mim queria muito ter esse tempo.
— Chegamos — ela disse, olhando para o enorme prédio de tijolos vermelhos a nossa frente. — Obrigada.
Antes que pudesse perceber, a garota já havia tomado os livros para si e se afastava, sumindo entre as pessoas dentro da ampla recepção. Caminhei na direção oposta novamente, ciente de que não chegaria para a primeira aula, mas me sentindo feliz em ter conhecido a garota dos olhos marcantes e torcendo para revê-la em breve.
Katherine AdamsSete anos antes —Já faz um mês que você está aí, é impossível que não tenha arrumado nenhuma amiga ou crush!–Ashley me fitava desconfiada pela tela do celular. Estranhamente, a vida da minha irmã se resumia a amizades e relacionamentos amorosos. Parecia viver em um conto de fadas onde o príncipe encantado galoparia até o castelo da torre mais alta, enfrentaria corajosamente o dragão e a resgataria. — Não vivemos em um conto de fadas, Ash — respondi, tentando não parecer tão irritada. — Não disse que estávamos — ela contestou, dando de ombros e mostrando a língua. O aparelho estava apoiado na parede, de modo que eu pudesse mexer no notebook enquanto minha irmã curiosa insistia em fazer uma série de perguntas sobre a minha vida pessoal nem um pouco animada. — Não vim para fazer amigos, Ash — falei, sem tirar os olhos do notebook.
Katherine AdamsSete anos antes — Uau — foi tudo o que Matthew disse ao me ver saindo do quarto. — Não baba — provoquei, dando um leve tapinha em seu queixo, para fechar sua boca aberta. Pude sentir seus olhos em mim enquanto trancava a porta do quarto. Optei por vestir um short jeans e uma camiseta de manga curta, um pouco mais curta do que usava diariamente e que deixava parte da minha barriga amostra. Coloquei o biquini por baixo, mesmo não tendo pretensão alguma de entrar em uma piscina dentro de uma fraternidade. No entanto, como mamãe sempre dizia: "Melhor prevenir do que remediar.". Se mudasse de ideia, já estaria pronta. — Nem parece a mesma pessoa que entrou ai dentro — Matthew riu e me ofereceu o braço, ato que recusei imediatamente. — Isso foi um elogio? — me fiz de desentendida. — Pois pareceu que você quis dizer que eu só fico bonita quando me arrumo— olhei para ele com um
Ashley AdamsSete anos atrás Enquanto o professor de matemática explicava geometria espacial, minha mente vagava sem rumo. Estava sentada na primeira mesa da fileira da janela e olhava para a rua através do vidro empoeirado. Era verão e o clima abafado me fazia desejar que chovesse, pelo menos à noite, mesmo sabendo que, talvez, não fosse o suficiente para refrescar, pelo contrário, ficaria mais quente. Da janela podia observar parte do refeitório e algumas mesas que ficavam expostas do lado de fora. Não havia alunos ali, todos estavam em suas respectivas aulas e os corredores da escola estavam silenciosos. Já fazia um mês desde que as aulas haviam voltado, mas dessa vez tudo estava diferente, pelo menos para mim. Kate estava na faculdade, não viria mais para a escola comigo, não iríamos mais almoçar juntas e nem iríamos embora fofocando sobre alguma loira de farmácia das líderes de torcida. Eram os
Matthew StewartSete anos anteSomos constituídos por células, aproximadamente dez trilhões delas. Então, quando você ouve alguém dizer coisa do tipo “cada célula do meu corpo a deseja”, pode ter certeza que é desejo pra cacete.E enquanto observava pelo microscópio os diferentes tipos de células naquela gota de sangue, meu pensamento estava fixo em Katherine Adams. Naquele momento eu estava no automático, fazia algumas anotações no caderno e voltava a olhar pelo microscópio a fim de conferir se estava tudo certo. A aula extremamente chata e repetitiva de biologia celular acontecia pelo menos uma vez por semana e eram as duas horas mais chatas até então.Pela visão periférica pude notar que alguns dos meus colegas já estavam entregando seus relatórios para o pro
Katherine AdamsDias atuais — É só fazer xixi no palito evoilà: o resultado aparece! — Ashley sorriu satisfeita com a sua explicação. Suspirei pesadamente e encarei os olhos cor de amêndoas da mulher a minha frente. Ela tinha um sorriso divertido estampado no rosto, quase malicioso, como se dissesse: “Andou transando, não foi?”. É incrível como Ashley nunca perdera aquele jeito que muito lembrava quando éramos adolescentes. — Isso é perda de tempo — disse eu, impaciente, pegando das suas mãos o teste que foi comprado na farmácia da esquina. — É impossível que eu esteja grávida. Bom, não era totalmente uma verdade, e nem precisava ser um gênio para saber disso. — Se você não transasse, seria. — Ashley ergueu uma das sobrancelhas, ainda com aquele sorriso sacana nos lábios e deu de ombros. Observei impaciente enquanto ela pegava uma banana da cesta em cima da mesa. — Pensa pelo l
Katherine Adams Aqui vai a única coisa que você precisa saber sobre o caos que a minha vida se tornou em cinco minutos:eu não estava preparada para isso. Mas vamos com calma, essa história precisa começar do princípio para que você entenda o meu desespero. Sete anos antes — Ah, meu Deus!Nem acredito que você vai embora! — Ashley falou, entusiasmada demais, batendo palmas freneticamente, como uma criança que acaba de ganhar um presente muito esperado. — Não vouembora... — dei ênfase na última palavra. — Só vou para a faculdade estudar durante alguns anos e, provavelmente, depois voltarei para esse fim de mundo — revirei os olhos ao terminar de falar enquanto fechava a última mala. Não que aquele fosse mesmo meu plano: voltar para minha cidade natal. Mas havia chances, e eu estava disposta a fazer o