Felipe acordou com a luz do sol invadindo o quarto, mas ao estender a mão, sentiu o vazio ao seu lado. O calor de Valéria ainda estava impregnado nos lençóis, mas ela não estava mais ali. Imediatamente, ele se levantou, a mente afiada funcionando como sempre. Sabia que algo estava errado. Ele andou pelo quarto, vestiu-se rapidamente e percorreu o apartamento em busca de qualquer sinal de Valéria, mas estava claro: ela tinha ido embora. Um frio incômodo percorreu seu peito, algo que ele não costumava sentir. Havia uma tensão ali, como se o vazio deixado por Valéria tivesse aberto uma fenda. Ele, Felipe Cavalcante, sempre tão no controle, agora se via vulnerável, deixado sozinho no exato momento em que permitiu que alguém se aproximasse. Ele apertou os punhos, o som do silêncio ecoando pelo apartamento. Felipe parou por um instante, olhando para o lugar onde ela estivera. Não deveria estar surpreso. Valéria sempre tivera uma mente própria, mas isso não o preparou para a súbita parti
O dia no estúdio havia sido longo para Lara. Ela passou horas tentando organizar as pendências administrativas, algo que normalmente seria feito por Valéria, mas que, por algum motivo, ela não compareceu. Lara não se preocupou inicialmente, imaginando que Valéria talvez precisasse de uma pausa. Porém, conforme o dia foi se arrastando e Valéria não deu sinal de vida, a preocupação cresceu. Assim que chegou em casa, Lara foi diretamente ao quarto de Valéria. A luz estava apagada, mas ela sabia que sua amiga estava lá dentro. Ela bateu levemente na porta, mas não houve resposta imediata. — Valéria? — chamou Lara, com a voz suave, mas preocupada. Sem esperar muito mais, Lara abriu a porta devagar e encontrou Valéria encolhida na cama, envolvida em um silêncio pesado e doloroso. O rosto de Valéria estava marcado pelas lágrimas que já haviam secado, e os olhos inchados eram um claro indicativo do quanto ela havia chorado. — Valéria, o que aconteceu? — perguntou Lara, se aproximando r
Valéria tentava seguir sua rotina, mas a verdade era que cada dia parecia mais difícil. O afastamento de Felipe pesava em seus ombros como uma constante lembrança do que havia perdido. Lara percebia o estado da amiga, mas não a pressionava. Sabia que Valéria precisava de tempo para lidar com seus sentimentos. Numa tarde, enquanto estavam no estúdio, Lara se aproximou, decidida a tentar quebrar o clima sombrio que pairava sobre Valéria. — Valéria, o Rafael nos convidou para tocar no pub dele hoje à noite — disse Lara, com um sorriso leve, tentando trazer um pouco de ânimo. — Faz tempo que a gente não toca ao vivo, e eu realmente queria que você fosse. Sempre nos divertimos tanto lá... Valéria olhou para ela com olhos cansados. Ela não estava no clima para apresentações. Não sentia vontade de sair, de tocar, de interagir com o público. Mas a insistência suave de Lara a fez hesitar. Talvez fosse o que ela precisava para distrair a mente. — Não sei, Lara... — começou Valéria, suspi
Valéria entrou no táxi com um nó na garganta. A noite no pub, que deveria ter sido uma distração, a deixou mais confusa e emocionalmente sobrecarregada. Ela tentou evitar pensar em Felipe enquanto tocava com Lara, mas a presença dele no mesmo ambiente era impossível de ignorar. O reencontro inesperado apertava seu peito, tornando cada respiração mais difícil. Enquanto o táxi se afastava, ela olhava pela janela, vendo as luzes da cidade passarem como borrões. Seu coração batia rápido, e o aperto no peito só aumentava. Não estava preparada para vê-lo daquele jeito, não depois de tudo. Sabia que ele também havia notado sua presença. Isso a abalava mais do que gostaria de admitir. Mordeu o lábio, tentando conter as lágrimas que começavam a surgir. Ela as limpou rapidamente, mas era inútil. O choro veio mais forte, e Valéria deixou que ele fluísse. O motorista, alheio às suas emoções, dirigia em silêncio. — Por que tudo tem que ser tão difícil? — pensou Valéria, relembrando a n
O sol mal havia nascido quando Valéria acordou. Ela se levantou devagar, a ansiedade voltando a invadir seu corpo. Hoje era o dia da coletiva de imprensa do documentário. A coletiva aconteceria em um grande auditório no centro da cidade, e ela sabia que todos os olhares estariam voltados para ela, Ricardo e a equipe do projeto. Valéria tomou um banho rápido, vestiu-se com uma elegância discreta e fez uma rápida refeição antes de sair. Quando o táxi parou em frente ao prédio luxuoso onde aconteceria a coletiva, Valéria respirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado. Ao descer do carro, foi recebida por Amanda, que fazia parte da equipe de comunicação do documentário. — Valéria, que bom que você chegou! — disse Amanda, com um sorriso profissional. — Já estamos quase prontos para começar. O Sr. Ricardo já está lá dentro com a equipe. Valéria assentiu, agradecendo pela recepção. Enquanto entrava no salão, pôde sentir o burburinho dos jornalistas se preparando, luzes sendo
Valéria congelou por um segundo, antes de se recompor rapidamente. Seu sorriso permaneceu firme. — Sr. Goulart é um parceiro excepcional no projeto, e tenho muito respeito por ele e sua equipe. Nossa relação é estritamente profissional — respondeu ela, de maneira calma e controlada. Ricardo, ao seu lado, riu de leve. — Acreditem, minha relação com senhorita Carvalho é puramente profissional. Mas obrigado pelo elogio! — disse ele, de forma descontraída, provocando algumas risadas na sala. Enquanto isso, no escritório de Felipe, Miguel bateu à porta, interrompendo uma reunião. Sem pedir permissão, entrou e colocou o tablet sobre a mesa de Felipe. — Senhor Cavalcante, os destaques da coletiva de imprensa sobre o documentário da Senhorita Valéria estão aqui — disse ele, mantendo a voz calma e formal. Felipe, sem desviar os olhos da tela à sua frente, respondeu de maneira fria. — Eu não estou interessado nisso. Não tem algo mais importante para você se concentrar, Miguel? Mi
Na manhã seguinte, Valéria ainda estava na cama quando o celular começou a vibrar incessantemente. As notificações chegavam uma atrás da outra, como uma enxurrada impossível de conter. Sem ânimo, ela pegou o telefone e, ao abrir, percebeu o motivo: seu nome estava em alta nas redes sociais. Ao abrir uma das mensagens, seu estômago revirou ao ver a manchete: "Jantar íntimo? Valéria Carvalho e Ricardo Goulart são vistos em clima de proximidade após o lançamento do documentário." A foto que acompanhava o artigo mostrava o momento exato em que Ricardo tocou seu ombro ao saírem do restaurante. A legenda sugeria algo muito além de uma relação profissional, e Valéria suspirou, sentindo o peso de mais uma complicação. Sabia que esse tipo de exposição poderia ter consequências — tanto para sua carreira quanto para o relacionamento já fragilizado com Felipe. Antes que pudesse reagir, Lara entrou no quarto, o rosto franzido em preocupação, com o celular em mãos. — Valéria, você já viu i
Felipe estava imerso em números e relatórios, focado no planejamento estratégico da empresa. Sua mente, sempre afiada, funcionava como uma máquina bem calibrada. Ele não permitia distrações, especialmente quando lidava com questões importantes. Miguel, seu assistente, entrou silenciosamente no escritório com o tablet em mãos. Ele hesitou por um segundo antes de se aproximar da mesa. — Senhor Cavalcante — disse Miguel, mantendo a voz baixa e formal, como de costume —, achei que gostaria de ver isso. Felipe nem levantou os olhos de seus papéis. — O que é, Miguel? Miguel, um pouco desconfortável, colocou o tablet sobre a mesa de Felipe. Na tela, estava a manchete com a foto de Valéria e Ricardo saindo juntos do restaurante, acompanhada do título chamativo: "Jantar íntimo? Valéria Carvalho e Ricardo Goulart são vistos em clima de proximidade após o lançamento do documentário." Felipe olhou para a tela, e seu rosto, que sempre mantinha a compostura, se endureceu um pouco mais. Ele pe