Parte 1...Anelise estava deitada na cama entre os filhos. Voltara para casa de madrugada e tinha ido direto para a cama onde seus pequenos dormiam. Agora pela manhã, eles a enchiam de assuntos que achavam interessante e que tinham acontecido enquanto ela estava fora.— Mãe, eu saí com o Felipe pra fazer compras - Alan disse deitado ao lado dela — Eu pedi pra ele comprar chocolate e ele comprou. — Pra mim também, “mami”, mas já acabou - Bianca sorriu se espreguiçando — Mas já acabou.— Já? - ela fez uma cara de espanto brincando.— Eu comi todo - Bianca riu.— Eu ia comer o meu também, mas aí aquela moça apareceu e eu dei um pedaço para ela - Alan comentou.— Que moça?— Uma comprida - Bianca fez um gesto com a mão para cima mostrando que era alta.— E qual o nome dessa moça comprida? - beijou a mão gorducha da filha — Onde vocês estavam?— Ela veio atrás de você, mãe - Alan sentou — Ela disse que o nome dela era Márcia. A gente tava vendo televisão, aí o Felipe falou com ela.— E el
Parte 2...— Entender o que? - sua voz estava fraca e rouca.— Tudo o que eu fiz... Pensei que fosse o melhor - ela engoliu em seco.— Quem tem que... Decidir isso... Sou eu - ele falava com dificuldade — Eu não era um... Moleque - seu rosto mostrava sua decepção — Veja onde estou... O que eu perdi...— Eu sei que...— Não... Você não sabe de nada.Ele a olhou feio e depois virou devagar a cabeça para Anelise.— E você, Anelise? Não poderia... Ter tentado mais, ter me escrito, telefonado...— Ela fez tudo isso... Mas eu escondi - Luiza puxou o ar, sentindo o corpo estremecer — Foi outro erro.— Eu sei que poderia ter tentado mais - Anelise se aproximou — Mas eu era muito boba e medrosa - disse de modo suave e calmo — Fiquei com medo... Pavor... De algo acontecer com minha avó, dela perder a casa e ficar na rua largada... Medo de ser presa como sua irmã disse várias vezes.Ele apertou as mãos e fechou os olhos. Sentia o corpo dolorido, mais a cabeça que parecia pesada ainda e estava um
Parte 3...— Eu sei - beijou seus olhos fechados — Mas não pode culpar só a ela, Mathias - beijou sua boca de leve — Se você assumir sua parte, vai ser mais fácil de se recuperar - lhe deu outro beijo suave na boca — Perdoe-se!Ele até queria falar mais, porém os medicamentos o deixavam sonolento. Fechou os olhos, grato por ela estar ali e ajeitou a cabeça no travesseiro, sentindo uma tontura leve. Apertou a mão dela e deixou o sono o vencer.***************Três dias mais se passaram até que Mathias pudesse sentar por um curto período de tempo. O inchaço na coluna havia diminuído. Os aparelhos ligados a ele foram todos retirados. Ele só continuava com o soro preso ao braço.Ele agora podia se alimentar melhor, mas isso só o deixou mais rabugento e grosseiro com os que estavam em volta. O braço engessado e a perna o incomodavam e ele descontava sua frustração nos outros. Depois que ele falou com os médicos que o operaram ficou ainda mais frustrado. Quando Anelise entrou no quarto el
Parte 4...Ele levantou o olhar para ela. Anelise parecia tímida de novo.— Desculpe... Eu nunca me liguei... Achei que você cuidasse disso. Fui egoísta, só pensei em mim mesmo - murmurou.— Nisso eu concordo com você - ela puxou o ar erguendo a cabeça — Eu era muito inexperiente, você deveria ter tido mais atenção sobre isso.Ela não pode evitar de relembrar quando estava com Haroldo. Ele tinha muito cuidado com a saúde dela, ia aos exames, contratou uma nutricionista e uma personal trainer para cuidar de seu período de gestação. Várias vezes ele fazia massagens em seus pés que estavam inchados, dormia abraçado a ela e quando entrou em trabalho de parto, correu com ela para a maternidade onde tudo já estava organizado a esperando.E a emoção genuína dele quando Alan nasceu e ele a beijou com carinho. O modo como agarrou seu bebê nos braços e disse que era dele. Com toda certeza. Haroldo tinha sido um pai incrível para Alan. E um perfeito substituto para Mathias. Ele lhe devolveu o
Parte 5...— Vai falar mal de nós - Márcia perguntou.— Mal? - ela riu irônica — Vou falar a verdade. Se isso os coloca como maus ou bons, vai depender do que fizeram. O que acham que será?Márcia se calou e se encolheu na cadeira.— Que ótimo! - Mathias disse revoltado — Talvez eu não me recupere por completo e meu único filho vai ter ódio de mim.— Como sabe disso? - ela colocou a mão na grade da cama — Você ainda não começou a fisioterapia e seu filho não o conhece.Apesar da situação, ele se sentiu um pouco mais aliviado ao ouvi-la dizer isso e por ela ter dito “seu filho”. Já queria muito conhecê-lo.— Vou direto para minha casa - ele encarou a mãe.— Quero que fique comigo - Luiza pediu.— Não! - ele respondeu firme.— Vou acertar que o hospital envie um enfermeiro para ficar à disposição - Anelise informou.— Eu posso fazer isso - Luiza disse.— Então faça - deu de ombro — Posso deixar Felipe à sua disposição para quando precisar.— Não quero - ele respondeu logo.— Não seja bo
Parte 6...— Vamos. E espero não me arrepender. Mas antes eu vou falar com Alan - disse receosa em dúvida.— Ele vai entender, vai ver - Ludimila a encorajou — É muito inteligente e esperto. Vai te encher de perguntas, mas vai entender.— Eu quero que vocês fiquem ligados quando estivermos lá, não confio naquela gente.— Nem nele? - Felipe questionou.— Igualmente nele - ergueu uma sobrancelha — Não vão me pegar de guarda baixa. E tão logo ele fique melhor, nós voltaremos.— E se demorar?— Voltaremos do mesmo jeito. As crianças não vão ficar de férias por muito tempo e nem eu quero criar raiz aqui.***************A conversa com Mathias não decorria da mesma forma como ela imaginara. Ele estava decidido a ter Alan como filho.— Se não aceitar o que digo, não o terá de modo algum - ela estava parada ao lado da cama, de braços cruzados — É pegar ou largar. Você quem sabe.— Não pode fazer isso, Anelise - Luiza disse, sentada com cara de surpresa e de teimosia.— Tanto posso, como já es
Parte 1...— Daqui a três dias é a reunião de votação e apresentação dos resultados - Diana a lembrou.— Já pediu que o avião esteja aqui na noite anterior?— Já sim.— E a mudança, tudo certo? - Felipe perguntou, tomando uma xícara de chá.— Faremos amanhã à tarde.— E assinaram o documento?— Se não tivessem assinado eu não mudaria.— E ele já sabe que é temporário e que iremos embora depois de um tempo?— Comentei sobre isso, não entrei em detalhes - ela apertou os dedos — E de qualquer modo, seria ingenuidade da parte dele achar que ficaríamos aqui.— Ih... Sei não hein... - Diana bateu os dedos na mesa devagar — E será que vão aceitar?— Provavelmente não, mas quem sabe? - ela encolheu os ombros — Ele nunca quis compromisso, talvez fique de saco cheio de ter um filho por perto o tempo todo.— Vou ficar de olho nas crianças - Felipe disse.— Eu conto com isso - ela apertou seu braço e sorriu — Não confio nas armações daquelas duas. Mesmo que elas não morem lá, vão querer participa
Parte 2...— Ele tá dodói? - ela arregalou os olhos.— Está sim. Ele teve um acidente... Um carro bateu no carro dele e ele ficou muito machucado.— E eu posso abraçar ele?— Pode sim, minha bonequinha - a beijou — Mas com cuidado. E tenho certeza que vai ajudar ele a ficar bom.— Então tá - Alan disse — Eu quero conhecer ele.— Se você se sentir mal, não precisa fazer isso - o apertou de novo — Eu sempre vou respeitar o que você quer.Ele assentiu. Anelise ainda continuou explicando mais coisas e respondendo as perguntas dos dois. Felipe entrou no quarto, participando da conversa e ajudando a responder as curiosidades que ambos tinham. Isso foi bom porque deu força para ela e evitou que ficassem muito emocionados, mas ainda assim, ela estava com os olhos cheios de lágrimas.Felipe seguiu no mesmo caminho que ela, dando respostas simples para os dois e até brincando com eles, deixando mais leve e fácil deles entenderem a situação para não causar confusão na cabecinha deles que parecia