06

~*~

“Um ano que você começou na ponta, e você já está na sua terceira sapatilha.” Raquel, professora de Elis, sorriu radiante.

“Queria que fosse por estarem gastas de tanto dançar, mas é porque meu pé não para de crescer. Eu tenho 14 anos e calço 38!” Reclamou a jovem bailarina, colocando a sapatilha nova.

“Ah, esse ano vai ser por isso mesmo.” A mais velha sorriu. “Elis, nós já escolhemos qual vai ser a nossa apresentação desse ano... Faremos A Bela Adormecida.”

“Jura? É meu ballet de reportório favorito.” Os olhos da Rivera brilharam.

“Eu sei, você diz isso desde os seis anos, quando comecei a te dar aulas. E, por isso, quero que faça a audição para Aurora.”

“Você está falando sério?” Os olhos de Elis pareciam esmeraldas, tamanho o brilho deles. “Mas... Eu só estou na ponta há um ano.”

“Sim, mas já tem quase dez que você começou no ballet clássico, toda pequena e desengonçada.” As duas riram juntas. “Elis, você treina por duas horas, três vezes por semana. Isso é mais do que muitas bailarinas maduras e experientes. Você é determinada, esforçada, dedicada... Não posso prometer que vai ganhar o papel, mas garanto que tem boas chances.”

“Ai, caramba.” A menina começou a pular no lugar, animada. “Droga, a Martins vai querer me matar.”

“Elis, você só não começou na ponta antes por um pedido dos seus pais. Sua estrutura óssea não estava firme o bastante ainda, mas você já estava apta a isso há muito tempo. A Martins foi liberada antes, mas em quase três anos, ela não atingiu metade do que você conseguiu em um. Ela vai ter a mesma chance que você, de fazer a audição... Mas serão as habilidades dela que irão contar, assim como as suas.”

“Certo, certo... Eu vou me dedicar, vou treinar bastante.” Prometeu a menina.

“Mas sem deixar de viver, Elis. Você ainda é muito nova, tem muita coisa pela frente, querida... Agora, isso é para ser um lazer, não uma obsessão.”

“Eu sei, meus pais conversam muito comigo sobre isso.” Contou a jovem bailarina. “Aliás, eu precisava falar com você... Ao invés da valsa com um príncipe, eu quero fazer um solo de ballet na minha festa de 15 anos.”

“Uma ótima ideia, querida. E você quer que eu coreografe para você?”

“Sim, minha mãe pediu para você passar o valor e tudo o mais.”

“Ora, Elis, até parece que eu vou cobrar de você.” Raquel revirou os olhos, rindo. “Basta me convidar para essa festa, para eu ver seu momento especial.”

“Você já é uma das primeiras da minha lista, Raquel.” Elis a abraçou, feliz. “Agora... Vamos começar meu treino de hoje?”

~*~

Eric estava treinando cestas há quase uma hora. Como era o cestinha do time, aquele era seu principal foco de treino, no qual gastava mais tempo, sempre. Porém, aquele treino não estava sendo nada produtivo.

O ginásio que seu time usava era o mesmo que a equipe de ginástica de Susi, e naquele momento, ele observava a amiga nas arquibancadas, se agarrando de maneira ferroz com um garoto do time de handebol, que treinariam um pouco mais tarde.

“Ashe, presta atenção no treino.” Gritou Rafael, seu técnico. “Sua média de cestas está terrível hoje, garoto. Você acertou dois arremessos de cinco. Geralmente, é 4/5.”

“Não estou focado, Rafa, desculpa.” Eric largo a bola, sentando no banco do time. O mais velho olhou em volta, logo rindo e sentando ao lado do pupilo. “O que foi?”

“Você tem uma quedinha pela sua amiga, não é?”

“Claro que não, a Susi é como minha irmã.” Eric revirou os olhos. “Nem o Leon e nem o Rudá estão aqui, então cabe a mim proteger ela... Especialmente quando tem um cara babaca agarrando ela desse jeito.”

“Sua irmã parece estar gostando.”

“Se fosse a Bina, esse cara já estava sem dentes.” Rosnou o jovem jogador.

“Ciúme demais faz mal, Eric, aprenda isso desde já. Sua irmã não é sua propriedade, nem a Susi. Vocês são amigos há muito tempo, mas isso não te dá o direito de m****r nela.” Aconselhou o treinador. “Bom, já que está sem cabeça para cestas, quero que dê 50 voltas na quadra... Deve te ajudar a aliviar a cabeça.”

~*~

Maju chegou em sua casa já era final da tarde. Sabia que os pais deveriam estar loucos, afinal, ela não estava com o celular, que eles tiraram pelo castigo, e ficou incomunicável. Provaram do próprio veneno.

Assim que entrou, se deparou com Rudá no sofá, junto com Nico e Kaio. Os dois mais novos jogavam videogame, enquanto o mais velho os observava de forma serena.

“O papai e a mamãe estão duas feras.” Avisou Nico, vendo a irmã de relance.

“Caguei para eles.” A menina foi direto para seu quarto, deixando a porta aberta atrás de si.

Deitou na cama e fechou os olhos, pronta para um cochilo. Mas logo a porta de seu quarto foi aberta, fazendo a menina bufar.

“O que você quer?” Perguntou, encarando Rudá.

“Vim ver como você está... Seus pais contaram para os meus o que aconteceu, e a Nita deve ter desabafado com o Leon. Quero saber se você quer conversar.” A rapaz entrou se apoiando em sua bengala especial, sentando na cama livre.

“Não estou com a menor vontade de conversar. E mesmo que estivesse, não seria com você.” Garantiu a menina, entediada.

“Maju...”

“Não, Rudá, eu não me importo com o que você vai dizer. Com o que nenhum de vocês tem a dizer.” A menina se levantou, nervosa. “Eu não sou como a minha irmã, e você está bem longe de ser como o seu irmão. Então me deixa em paz, tá legal?”

“Como você quiser.” Rudá levantou, chateado. Mancou para fora do quarto, ouvindo a porta batendo atrás de si.

Quando chegou na sala, seus pais e tios acabavam de chegar.

“Eu avisei que ela não ia te ouvir.” Disse Nico, encarando o amigo. “A Maju é má, Rudá... Ela não gosta de ninguém.”

“Sua irmã chegou?” Perguntou Darlan, trincando o maxilar.

“Acabou de chegar, se trancou no quarto de novo.” Avisou Rudá, ainda chateado.

“Nico, sua irmã está na casa dos seus tios, com o Leon. Vai para lá com eles, por favor. Mais tarde ela volta e traz você junto com ela.” Pediu Carola, encarando o corredor.

“Sem problemas, mãe... O que eu menos quero é ouvir o quebra-pau que vai virar.” Nico se levantou, indo até a mãe a abraçando. “Não fica triste, mamãe... Ela não merece.”

“Ah, meu amor.” Carola beijou o topo da cabeça do filho, que se afastou e abraçou o pai também.

“Nós vamos ficar bem, campeão. Fica tranquilo.” Prometeu Darlan, bagunçando seus cabelos. “Vai se divertir com o Kaio.”

Logo, o pequeno grupo tinha deixado o apartamento dos Zendaya, que se encararam, suspirando. Foram até o quarto de Maju, batendo na porta. Quando ela não respondeu, forçaram e a encontraram destrancada.

“Aonde esteve?” O pai perguntou na lata, vendo-a abrir os olhos e bufar.

“Na casa da Juliana.”

“Você está de castigo, lembra?”

“E você se importa, Darlan?”

“Olha o respeito comigo, Maju Zendaya.” Bronqueou o homem, nervoso.

“Foram vocês que tiraram meu celular, lembra? Do contrário, eu teria avisado.” A menina deu de ombros.

“Olha, filha, eu não sei o que aconteceu para você começar a agir assim, tratar a nós e aos seus irmãos mal, destratar seus amigos... Mas nós queremos te ajudar! Somos seus pais, te amamos e nos preocupamos com você.

Conversa com a gente, meu amor, por favor.” Pediu Carola, já emocionada.

“Quer saber o que aconteceu comigo? Que tal reler aquele caderno que vocês escondem na gaveta da dona Carola.” A informação pegou o casal de surpresa. “Ah, sim... Nós sabemos de tudo. Desculpe por termos segurado tão firme em você, mamãe... Acho que eu sempre fui teimosa. A Nita ainda devia estar grudada em mim e não teve escolha.”

“Maju...”

“Não, eu não quero saber.” A menina levantou, nervosa. “É culpa de vocês! Tudo o que aconteceu comigo é culpa de vocês. Vocês nos odiaram, quiseram que nós morrêssemos, e por isso tudo aconteceu. Deus pode ter perdoado vocês, a Nita pode perdoar vocês... Mas eu nunca vou perdoar vocês dois, Carola e Darlan. Eu odeio vocês, ODEIO VOCÊS!”

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo