Isabelle MatosAcordo cedo, depois de uma noite bem mal dormida. Tomo um banho, me arrumo e vou me encontrar com minha secretária, na delicatessen, onde havíamos combinado de tomar café da manhã. Precisava que ela me colocasse a par de tudo que aconteceu na minha ausência no escritório.Pelo visto a minha ausência na visita de Martins, mostrou a minha importância com os clientes e como os projetos são executados. E o quanto eu desenvolvo bem as atribuições do meu cargo. Acho que Martins entendeu o recado e viu seus diretores da maneira correta. Com tudo bem mais claro, acho que cabe a ele fazer as escolhas certas ou mostrar de que lado está.Mas não tenho grandes ilusões positivas sobre minha promoção, valorização do meu trabalho e algo mais... Já me decepcionei muito e sei muito bem como funciona uma empresa machista e aquela era uma das piores, pois sabia fazer as coisas sutilmente.Marcos não vai deixar barato, eu ter faltado ao trabalho no dia de visita de Martins e ele tem o
Isabelle MatosProcurei Alejandro por todo o salão do hotel, onde estava acontecendo o coquetel e como não encontrei resolvi dar uma olhada na recepção do hotel e o encontrei de saída.Ele parecia apressado e até pensei em deixá-lo ir, mas ainda assim não consegui me segurar:— Ei, espanhol, vai embora e não foi se despedir de mim? — Provoquei, tentando soar casual.Ele riu, aquele sorriso que fazia meu coração acelerar sem permissão.— Você estava com Gustavo... e não quis atrapalhar...— Você não atrapalha nunca. Muito menos com Gustavo. — Ri baixinho, como se fosse simples esconder o que realmente sentia. — Vai embora tão cedo?Alejandro deu um sorriso sem graça, olhando para o chão por um instante antes de me encarar.— Tenho uma comemoração do aniversário de uma amiga. Vim mais cedo pra cá porque sabia que teria que sair cedo.— Entendi. — Eu também estou saindo daqui a pouco, porque vou voltar para Campo Verde ainda hoje. Recebi uma foto nossa do restaurante. Eles enviaram hoje
Alejandro González— Que merd@, Márcia...Passei as mãos pelos cabelos, completamente nervoso. Um desespero avassalador tomou conta de mim. Andei de um lado para o outro pela sala, tentando buscar ar, tentando me acalmar. Finalmente sentei no sofá e enterrei o rosto nas mãos.Márcia tentou se aproximar, colocar a mão no meu ombro, mas a impedi, antes que ela conseguisse.— Se arrume. É melhor você ir embora. Vou chamar um táxi para você. — Disse em um tom mais frio do que eu imaginava ser capaz de usar.Ela abriu a boca para argumentar, mas deve ter percebido meu estado e desistiu. Sem falar mais nada, dez minutos depois, Márcia foi embora e o silêncio tomou conta do apartamento.Peguei o celular e tentei ligar para Isabelle. Três, quatro vezes. Bloqueado. Merda! O desespero crescia. Como eu pude esquecer que Márcia estava aqui? Como Isabelle iria acreditar em qualquer coisa que eu dissesse depois de ouvir aquilo?“Oh gato, volta pra cama.”A frase ecoava na minha cabeça como uma sent
Alejandro GonzálezSaí da casa dela com o coração pesado, uma mistura de alívio por ter tentado me explicar e frustração por saber que, talvez, não tivesse sido suficiente. Isabelle parecia tão ferida, tão distante... Eu não sabia se havia conseguido alcançar seu coração ou apenas aprofundado as cicatrizes.Pelo menos me senti aliviado por ter me explicado, mesmo sabendo que não é suficiente… Dirigi sem rumo por um tempo, até perceber que meus pensamentos só me levariam para um lugar: a casa do Miguel.Quando toquei a campainha, já passava das três da manhã.Miguel abriu a porta com uma expressão de sono e confusão.— Alejandro? Cara, você sabe que horas são? Tá tudo bem?— Não, mas posso dormir aqui? — perguntei, direto.Ele suspirou e abriu espaço para eu entrar.— Claro, a casa é sua. Mas antes de mais nada, o que você está fazendo na rua a essa hora?— Me dá uma dose de uísque, por favor. Tô precisando.Ele riu baixinho, ainda sonolento, enquanto balançava a cabeça.— Uísque? A es
Isabelle MatosFui para o trabalho com a cabeça fervendo, depois da conversa que tive com Gustavo. Apesar de estar aborrecida e me defendendo muito do Alejandro, eu não podia deixar de admitir que ele era um homem livre e eu provoquei nosso afastamento.Lembrei mais uma vez do pedido que ele me fez: Nos dê mais uma chance.— Isabelle, você quer ter outra chance com Alejandro? Ou está apenas com o orgulho ferido? — Perguntei para mim mesma em voz alta e tomei uma decisão: Vou resolver essa história de uma vez por todas… Peguei o celular e mandei uma mensagem pra ele.Mensagem enviada para Alejandro: — Bom dia. Quer almoçar comigo hoje?Trinta minutos depois, ele respondeu:Alejandro: — Oi, anjo. Aceito sim. Que horas e onde?Isabelle: — Pode ser aqui em Campo Verde?Alejandro: — Onde você quiser…Marcamos às 13h em um restaurante próximo. Quando cheguei, lá estava ele: impecável, com um sorriso que me desarmava. Ao me ver, levantou-se, deu um beijo suave no meu rosto e segurou minha mã
Alejandro GonzálezCombinei de almoçar com Miguel em Campo Verde para discutirmos os detalhes do projeto de expansão dos negócios na América do Sul, algo que venho planejando há anos. É mais do que um projeto profissional — é uma promessa para minha mãe. Ela sempre dizia: “Meu filho, quando puder, invista no Brasil. Aquele país precisa de emprego e educação.”Esse sonho dela agora também é meu. Prometi a mim mesmo que vou fazer muito mais do que ela imaginava. Enquanto penso nisso, uma brisa perfumada invade o espaço. Por um instante, é quase como se fosse um sinal — ou talvez só minha mente brincando comigo.No início da noite, estávamos no escritório de Miguel, debatendo detalhes do projeto. Entre uma ideia e outra, mandei uma mensagem para Isabelle, perguntando se podíamos conversar. Queria ouvir sua voz, sentir sua presença, mesmo que à distância. Mas ela, delicada como sempre, respondeu que estava atolada de trabalho e que não poderia naquele momento. Entendi, mas confesso que fi
Quinta-feiraIsabelle MatosQuase meio-dia e minha mente está a mil. Nem sei por que me dei ao trabalho de abrir os e-mails hoje. Nada nesse escritório faz mais sentido, e cada segundo que passo aqui parece um martírio. Mal consigo me concentrar; só penso no final de semana.Ontem na pizzaria, o Alejandro me convidou para passarmos o final de semana juntos em São Paulo e isso não sai da minha cabeça. O pensamento me traz um sorriso breve, mas logo volta a realidade: provavelmente vão inventar algum compromisso de trabalho e me prender aqui no sábado. Ultimamente é sempre assim.Respirei fundo, revisei meu cronograma e enviei os e-mails com as entregas programadas para terça-feira. Avisei ao Martins e aos dois "palhaços" do setor que, no sábado, não contem comigo.Senti um pequeno alívio. Peguei o celular e, sem pensar muito, escrevi:Mensagem: “Oi, espanhol, convite aceito. Beijos.”Enviei. Pronto, agora é oficial.Cheguei em casa por volta das sete da noite, exausta como sempre. Um b
Sexta - Feira, 11hIsabelle MatosQue ódio! Estou com um humor de cão! Hoje é um daqueles dias que já começam mal. Passei a manhã visitando três clientes que, na verdade, eram compromissos do Marcos. Ele simplesmente resolveu viajar por motivos particulares e deixou tudo para mim, como se minha agenda estivesse vazia.Entro na minha sala, respiro fundo e olho em volta. Está cheia de demandas acumuladas, e eu ainda nem tomei café. E para piorar eu não conseguia tirar Alejandro da minha cabeça… Em breve ele estará viajando para Nova York, e tudo que eu queria era ir com ele. Abri meu computador, mas logo um e-mail chamou minha atenção.Abro a mensagem e leio com cuidado:De: MartinsAssunto: PromoçãoIsabelle, bom dia.Gostaria de convidá-la para um almoço amanhã, aqui em São Paulo. Surgiu uma oportunidade para a promoção de gerente sênior, e o cargo será concedido a você. Será importante apresentá-la oficialmente durante este almoço no clube, com a presença das pessoas mais importante