-Tudo bem, é algo sério, mas não se preocupe, mãe. Eu pensei que não conseguiria o emprego, mas foi tudo rápido. - comento limitadamente.
-Ainda há pessoas neste mundo com um grande coração... - ela fala esperançosa.É algo que eu não tenho, disfarço a realidade, e a verdade é que me aterroriza não ser suficiente naquela mansão, temo falhar ou fazer algo errado aos olhos daquele homem que nem parece ter um coração.-Sim, mãe - continuo comendo -. Quero te falar sobre o horário, chegarei tarde em casa, não quero que se preocupe. Posso confiar em você? Você ficará bem?-Sim, prometo - ela sussurra genuinamente, colocando uma mão sobre a minha, acaricia o dorso, olha para mim com amor.-Acredito em você, obrigada.Me levanto, vou lavar a louça, mamãe me para e se oferece para fazer. Dou um beijo em sua bochecha e me encarrego das tarefas que faltam. O dia não para de mudar de rumo, não está indo para a escuridão remota, a direção esclarece e resgata das sombras a austera necessidade de mamãe se esconder entre quatro paredes.Limpo a pequena sala, desde espanar até tirar o pó dos objetos. Depois ela chega e insiste em que deixe com ela, porque depois estarei exausta para ir trabalhar.-Não se preocupe, mamãe.-Você sempre diz isso, Aryanna. Eu vou terminar de fazer - ela insiste pegando o aspirador de pó, estava prestes a começar a limpar os tapetes -. É hora de eu fazer o meu papel, você vá descansar, amanhã será um dia cansativo.-Vou ficar bem.-Por favor... - ela me adverte com o olhar.Em que momento parte da mulher que eu pensei ter perdido voltou?Sorrio, vou deixar que faça o que quiser, contanto que possa vê-la ansiosa assim novamente....A noite chegou, vou para o meu quarto. Tomo um banho e vou para a cama. Estendo a mão e pego na mesa de cabeceira. Foi o presente do meu pai, não achei que usaria, agora é a minha companheira.O caderninho, um objeto de infinito valor para mim, ali deixei tudo o que sinto e que fica entalado na minha alma, o peguei nas minhas mãos. Leve, mas carrega um peso enorme entre suas páginas. Despejei meu coração em cada linha escrita, parágrafos inteiros que se tivessem voz, expressariam a angústia que tenho no peito. Essa tristeza está presa nas camadas da minha pele, e em muitas noites quero gritá-la para o mundo, no final me contento em sussurrá-la para o travesseiro.Comecei a escrever desde a morte do papai e da minha irmãzinha, desde então se tornou um método que tira de mim tudo o que não consigo expressar em palavras.Escrevo para não me sentir sozinha.»Sou derrubada em consequência de um desejo passageiro de voltar no tempo, saber que voltar atrás é coisa de tolos sonhadores, anula a estupidez que sinto em querer voltar as agulhas do relógio, a inabalável urgência em guiá-las para a esquerda, o ritmo que dança o passado, uma música que não toca agora«.Esta é a introdução que está na primeira página, depois de olhar para a seguinte, e finalmente examinar outras sombrias, cheias de rugas que confessam o tanto que chorei ao escrevê-las.É hora de virar a página, mas não consigo evitar ler o passado, relembrando imediatamente o peso de dar um passo atrás. A queda repentina e o impacto final chegam, uma imediaticidade profunda que envolve vidros sobre mim, o escarlate já pinta tudo e pisquei rápido fazendo o lembrete da minha decisão desesperada desaparecer.Meu antebraço carrega um pouco disso, cicatrizes que atravessam minha pele, dando um aspecto pouco atraente, antiestético. Quando não cubro essa parte do meu corpo e a deixo à vista de muitos curiosos, não me importo, eles podem acreditar no que quiserem, mas se eu tivesse que explicar, inventaria uma história. Diria que foi o arranhão de um felino e não aquela pessoa atormentada que se jogou na estupidez.Eu não sou mais aquela, nem voltarei para aquela fase de tormento, e não vou mentir, muitas vezes tenho vontade de desistir, mas não vale a pena executar a desgraça, já basta com os dias ruins, basta continuar respirando, tenho um motivo, com um nome próprio, eu levo o sobrenome dela, é a mamãe.Segunda-feira, 02 de janeiro de 2020.Vazio, um buraco inexplicável que devora a ilusão, os sonhos, uma ruptura que não encontra a agulha nem o fio para consertá-la. Passaram-se dois meses desde que a nostalgia reside em mim, eu me abraço, mas não me aqueço, ainda estou em um inverno bruto e não há uma fogueira que possa derreter a tristeza que sinto.Eles se foram. Eu não consigo aceitar a ideia!É desolador, um tiro no coração.Não desejo isso para ninguém, é uma sensação desagradável, você está respirando, mas é como se não houvesse realmente oxigênio.Afogada, desesperada e buscando como seguir em frente, tentei contra a minha vida. Agora percebo que foi só uma besteira.Prefiro me atrever a deixar no papel o que não posso guardar, em vez de me render e ir para a inconsciência eterna.Não é fácil...É algo mais que um desafio...Uma hora é adicionada ao dia e a dor se multiplica. A aceleração chega com ferocidade, ela traz a noite; quando o sol se levanta, eu bato de frente com a realidade, eles não voltarão, o sorriso que acalma, os beijos que curam, o som etéreo da voz deles dizendo "eu te amo". Tudo se foi, experiência e inocência, doçura e ternura, papai e Mariola não têm um passe de volta, por isso tenho que me resignar ao fato de que sua jornada não tem retorno.Sinto tanto a sua falta, não acredito que vou encontrar as palavras certas para expressar a dor que a ausência causa, mesmo que eu encontre, as linhas não seriam capazes de expressar o que sinto, é demais.Vou decidir se mudo os pontos suspensivos ou não.Mas...Tudo ficou em pausa, e se continuar não será a mesma continuação.Suspiro.Pego a borda da folha e a deslizo, meus olhos percorrem a página em branco. Sinto que é hora de escrever um novo começo. Pego o lápis, mas ao pressioná-lo no papel, a ponta quebra. É um mau sinal?Existe, mas só deseja viver sendo o centro das atenções, apenas um olhar e consegue que muitos olhos se dediquem a lhe dar, sem piscar, veneração; ficaram idiotas em um estalar de dedos, eu sou uma idiota comum a mais....Como é o primeiro dia de trabalho?Não sei como é para o resto do mundo, para mim, que não há dia mais feio que outro, este me pegou de surpresa. Quinze minutos antes das agulhas do relógio se posicionarem sobre o oito! Vou ao banheiro, já tenho o coração na mão, batendo freneticamente. Não posso chegar atrasada, seria terrível para mim, ainda por cima é o primeiro dia. Não quero causar uma má impressão, ser vista como a garota descarada incapaz de cumprir com o horário nem mesmo no primeiro dia. É uma imagem ruim que não desejo carregar.Como se segunda-feira não pudesse ser pior, não há água, cortaram, nem eletricidade. Quero arrancar fio por fio e bater na parede. Impotente e irritada por não mudar a má sorte que me esmaga, saio do banheiro e no meu quarto procur
- Como você pode ver, estamos na sala de estar. É um dos lugares que o chefe mais frequenta. Lá é o seu lugar favorito - ela aponta com o dedo uma otomana perto da lareira. Durante o inverno, ele pode passar horas inteiras lá, ele gosta. E estou te dizendo isso para que entenda a importância de não tocar, usar ou ficar aqui por mais tempo do que o necessário, e apenas quando for designado, entendeu? - ela informa, isso soa como um claro aviso, guerra anunciada.- Entendido.- Sim, gosto de esclarecer isso, porque houve jovens, da sua idade ou mais jovens, que foram demitidas por violar as regras.- É pedir demais ter essas regras por escrito? Não quero fazer algo errado sem saber - arrisco dizer.Regras?! Isso pode ser uma casca de banana no chão. Não sou boa em memorizar, posso esquecer cada palavra.- Eu te darei, fique tranquila. Vamos continuar o tour.No total, foram mais de trinta minutos caminhando; afinal, a mansão tem três andares. Fizemos paradas que incluíam: banheiros, qua
O Poder do Seu Olhar"A coragem escorrega entre meus dedos, o desejo escorrega junto, caí como um tecido aterrizando aos pés, e uma poça de perdição afoga, o conteúdo está nele".WD.Rose...Fui encarregada de limpar o chão da cozinha, uma vez que terminei, começo a limpar a sala de jantar. Ao contrário do que eu pensava, não é um trabalho sujo, porque já estava brilhante, mas aos olhos do meu chefe é estranho. Tenho que deixar tudo perfeito, estou com o esfregão na mão direita e esfrego no chão. Uma mecha leve do meu cabelo escapou e agora cruza minha testa, fazendo parte do meu campo de visão. Não arrumo, estou cansada, e ainda não é meio-dia. Minhas mãos doem, estou suada e sedenta. Mas eu quero terminar antes de pegar aquele copo de água que tanto preciso.Água... a palavra me lembra que está faltando em casa, assim como a eletricidade. Como estará minha mãe? Uma luz acende em minha cabeça, vou ligar para Mila quando estiver livre. Talvez ela saiba de algo. Continuo trabalhando, a
- Sério? - Camila franze a testa. - É algo ruim?- Não se preocupe, talvez ele te peça para assinar hoje, é o mais provável. O chefe tem esse hábito, um dia ele vê o seu trabalho e, se gostar, permite que você assine o documento. - Ah, e se ele não estiver satisfeito?- Ele te cancela o que acha que vale o seu trabalho. Isso aconteceu com uma garota, acho que o nome dela era Melanie, não tenho certeza - intercede Camila. Fico assustada, e se isso acontecer comigo?- Aquela foi a Elizabeth, e foi porque ela não fez as coisas direito. Você, tranquila, Aryanna. - ela acaricia meu ombro e eu valorizo o seu apoio - O que você deve fazer agora?- Limpar as escadas e aspirar os tapetes, depois tirar o pó dos objetos na sala de estar. - Você teve um dia pesado. - Não poderia ser mais leve, é sempre a mesma coisa, acostume-se - aconselha a outra. - Suponho. - eu me desanimo. ...Depois de um tempo, retomo o meu trabalho. Isso é apenas o começo, eu não consigo me imaginar fazendo a mesma
O que diabos está acontecendo com o meu chefe?Chego em casa quando a noite já caiu. Toco a campainha na entrada, não deveria ter esquecido as chaves no meu quarto. Agora tenho que esperar a mamãe. Para minha surpresa, não é o rosto dela que vejo quando a porta se abre, é a Mila.Ela grita ao me ver e me dá um abraço caloroso que me contagia de alegria. Com certeza ela veio falar com mamãe, o que me parece emocionante. Faz bem para a minha progenitora socializar, voltar a ser quem ela costumava ser antes de todo o inferno.-Oh, querida, estou feliz por você. Como foi o seu dia?-Imagino que mamãe já tenha te contado tudo. E sim, foi um dia difícil, mas já assinei o contrato, o salário é maior do que eu esperava. Poderei pagar várias dívidas, inclusive a você - informo.-O que você me deve, fique tranquila, não quero que me devolva um centavo. O importante é que vocês tenham o básico em casa, também luz e água. Por isso, eu já paguei o serviço e comprei algumas coisas. Por que você não
Eu escolho as roupas do armário, além disso, coloco uma troca de roupa em uma mochila. Não passarei pelo mesmo que ontem. Me arrumo com pressa. Ainda tenho tempo para comer algo, então vou para a cozinha. Não há ninguém, mamãe não está, ela ficou até tarde conversando com Mila e deve estar dormindo como uma pedra. Sirvo o cereal e despejo o leite em uma bandeja, mexo tudo com uma colher e como. Depois de terminar, saio de casa; o dia está indo bem, lá fora posso pegar o ônibus rapidamente.E quando desço no meu destino, ainda tenho dez minutos. É suficiente, mais uma vez estou na porta, toco a campainha e sou recebida por Gênesis, ela sorri e eu coloco meu melhor rosto. É evidente que consegui cumprir o horário.- Bom dia.- Aryanna, bom dia, entra, por favor - ela responde, se afastando e eu entro.Nada fora do comum, ela me dá minhas tarefas do dia e troco minha roupa casual pelo uniforme escuro. Mas Gênesis bate na porta do meu quarto quando terminei de ajustar o vestido antiquado.
Ele é um idiota e eu sou burra. - Você me pediu, por isso - é a única coisa que digo, tão óbvia, tão desconcertada por sua atuação. Toma ele está a brincar comigo? - Podes recusar, não achas? Estou ofendido. - L-a verdade não sei o que pretende, chefe-encaro - o, mas não consigo sacudir-me dos meus tremores. É tão estranho, toda eu o cataloga um imbecil. Seu olhar azul me perfura, antipático, me observa dessa forma indecifrável. A sério, quero desaparecer da sua presença aleatória. É um míssil, e eu a zona que tem fixa para fazer o lançamento. Se eu não fugir, sinto que haverá um final fatídico. - Nada. - Posso ir? - questiono, urgente. - Não, você sabe que não, você trabalha para mim, e você vai embora quando eu decidir. - Está bem. - solto o ar, existe raiva no meu sistema, fúria contida que não libero porque não será bom para mim. —Você pode sentar-se, no chão, eu terminarei-diz ele e não pode ser mais humilhante. Não vou deitar-me sobre os meus glúteos e esperar que o
Desejo InútilNa hora de comer junto com minhas companheiras, nesse lado isolado, que se distingue pela ausência de elegância. Elas nurmuram entre si, falam de um tal Gaspard. Eles são mostrados desonestos e acalorados ao mencioná-lo. Fico à margem, não estou familiarizada com esses assuntos, me incomoda.- Já viste o Lebrun? - questiona Camila, a Picardia aborda seus lábios, entra em seus olhos que brilham como duas estrelas.- Não, quem é esse? - pergunto enrugando as sobrancelhas. - O sexy amigo de Silvain - responde Julia com cara de boba e suspiros tolos. Sortuda que és, Aryanna, foi a tua vez de limpar a área da piscina e a Bombom de Lebrun está na piscina. - Que coisas dizes? Eu não estou pendente...- Estás a brincar? - interrompe Camila. Eu estava prestes a implorar ao Genesis para me deixar limpar as paredes acrsitalizadas, mas na sexta-feira eu fiz. E estala a língua, depois bufa. Eu não sei o quão perfeito é esse Lebrun, o que eu sei, é que depois de ver Silvain, mesmo