Daphne Estou paralisada, enquanto um frio percorre minha espinha e eu não consigo me mover. A voz de Haiden ressoa logo atrás de mim. O que eu estava pensando quando resolvi vir até aqui? Que tal um passeio ao parque? Que encontraria um cenário bom e aconchegante? Eu só podia estar louca e esse era o preço pela minha rebeldia. Eu deveria correr, mas minhas pernas não me obedeciam. Eu ouvi os passos de Haiden se aproximando, sua mão tocando meu ombro e sua força me virando, me obrigando a olhar nos olhos dele. Ele sorriu, como se estivesse feliz em me ver. Qual era a probabilidade de aquilo acontecer? Haiden aparecer no meio do seu encontro e parecer feliz em me ver? — Como você… — Precisei vir – eu o interrompi de repente, não deixando que ele completasse a frase – eu tentei ligar para o senhor, mas não atendia. Que bela mentira eu estava contando. — Estranho, meu celular está ligado – ele tirou o celular do bolso para verificar – eu não recebi nenhuma ligação sua. Meu coraç
Daphne Dirigi de volta para casa no automático. O trânsito tranquilo me permitiu estar ali, mas a mente em outro lugar. Minha visão ficava embasada em alguns pontos, devido às lágrimas insistirem em cair. Eu odiava me depreciar, mas eu não tinha sorte no amor. Todos os homens que eu conhecia e me apaixonei não haviam sido feitos para mim. Estranhamente, Evangelina estava na porta me esperando. Levei um susto quando a vi parada na entrada com um copo de café na mão e os olhos com enormes olheiras. Olhei no relógio, não era tão tarde, mas ela parecia não ter dormido há muitas noites. — Por que demorou tanto para chegar em casa? – ela me indagou, colocando seu pequeno corpo na minha frente, me impedindo de prosseguir – sei que o trânsito é um caos, mas já vai dar onze horas da noite. Fiquei preocupada, Daphne. Às vezes eu me esquecia de que poderia haver alguém que se preocuparia comigo de verdade. — Sinto muito não ter avisado – eu me arrastei, afastando-a para o lado e passando –
Daphne — De novo, está se sacrificando para salvar a Ember – a indignação saindo pelos meus poros – até quando vai continuar sendo uma péssima mãe? A expressão dela não era amigável. Rosália me olhou com fúria, o rosto ficando vermelho, o semblante contrariado. Em toda a minha vida, eu jamais havia falado com ela desse jeito, mas não me importei, ela mesmo havia dito que eu não fazia mais parte de suas vidas. Eu deveria respeitá-la como minha mãe? — Eu sempre fui uma boa mãe – ela fechou os punhos e cerrou os dentes para mim – sacrifiquei a minha vida para cuidar de vocês duas. Como pode dizer uma coisa assim para mim? — A Ember é assim por culpa sua, mãe – minha voz se elevou. Estávamos discutindo no meio da rua – por que não a educou como fazia comigo? Por que sempre tudo era para ela e nada para mim? Por que a senhora amou mais ela do que eu? Eu estava pronta para colocar para fora toda a minha dor, quando a atenção de Rosalía se voltou para o celular. Ela havia acabado de rec
Daphne Soltei um suspiro, segurando minha cabeça com as mãos em desespero. Rosália não deveria ser problema meu, já que fui embora de casa, renegada por ela, nem mesmo direito eu tinha de opinar sobre a venda do imóvel, tudo era para Ember. Então, Ember resolveria esse problema. Pensei inúmeras vezes, enquanto ficava em silêncio com Evangelina me consolando ao meu lado, que eu deveria pegar minha bolsa e ir embora dali, mas essa pessoa não era eu. — Você pode ficar aqui, até eu resolver um problema? – me virei para Evangelina e perguntei. — Estou aqui para te apoiar, Daphne – ela me disse, inclinando o corpo com o semblante curioso – não se preocupe, qualquer coisa, eu ligo para você. Encolhi os ombros antes de oferecer a ela um abraço. Evangelina era a única pessoa a quem eu podia me apoiar agora. — De uma lição na Ember – ela disse antes que eu pudesse ir – não volte até trazer uma mexa de cabelo arrancado dela. Eu sorri, às vezes eu não precisava dizer o que ia fazer, Eva
Daphne — Nem um tapa você deu nela? – Evangelina me olhou indignada – eu sabia o quanto ela era ruim, mas ao ponto de não se importar com a própria mãe? Fiquei pensando sobre isso. Pensando o quanto Rosália merecia ser tratada assim. De fato, Ember não estava preocupada com ela e, assim como no enterro do nosso pai, ela não derramaria nenhuma lagrima caso nossa mãe morresse também. Olhei no relógio de pulso, já era tarde e eu não havia comido nada. Minha barriga gemia de fome. — Pode conseguir alguma coisa para eu comer? – implorei para Evangelina. Ela se levantou, parecia cansada. Não era justo eu deixá-la aqui passando pelo tédio de um hospital, mas ela se levantou sem reclamar e se preparou para atender mais aquele pedido meu. Quando Jeffrey apareceu, Evangelina teve um mini ataque cardíaco, eu consegui ver o quanto a presença dele a deixava afetada. Por que ela não me contou estar interessada nele? O brilho nos olhos dela era intenso. Evangelina abaixou a cabeça e, colocando
Daphne O silêncio no quarto era assustador, quebrado somente pelo som dos aparelhos que aparentemente mantinham Rosália viva. Ela estava de olhos fechados, em coma induzido. Estranhamente, enquanto olhava para ela, eu não conseguia sentir nada. Nós duas nunca havíamos mantido um relacionamento saudável. Minha mãe raramente sorria para mim ou me elogiava. As únicas boas lembranças que eu tinha dela eram ela abraçando e sorrindo para Ember. “Quem deveria estar ao seu lado agora é ela, a sua filha que você protegeu a vida inteira. Que ironia, ela não está e foi ela que quase te matou.” Precisei virar as costas, olhar para as paredes brancas para não ver Rosalía tão fraca precisando de mim. Às vezes eu me odiava por ter um coração tão generoso. Eu estava ao ponto de sacrificar minha felicidade para salvar a vida da mulher que me rejeitou. “A morte não é castigo e você precisa viver para ver o monstro que você criou, mãe. E eu vou garantir que isso aconteça.” Eu saí do quarto e só p
Daphne Era a noite do meu noivado. Eu estava animada, após esperar oito anos, eu e Vincent finalmente iriamos marcar a data do nosso casamento. Francamente, eu teria me casado com ele imediatamente, assim que o conheci. Ele era o homem mais bonito que eu já coloquei meus olhos, inteligente e destemido, mas Vincent instituiu para fazermos as coisas no tempo certo. Concordei e os anos se passaram, tantos que eu já não suportava mais esperar. Estava parada em frente ao espelho e me admirava, confiante de que essa seria a noite mais importante da minha vida. Eu estava pronta para me comprometer para sempre com o homem que eu amava. Soltei meus cabelos negros e ajeitei minha franja. Dei uma última conferida no vestido marrom que eu vestia. Ele era justo e mostrava minhas pernas, mas Ember, minha irmã mais velha, disse ser a roupa ideal para um momento como aquele. — Você está tão sexy nessa roupa, Daphne – Ember disse quando me encontrou na sala. – O Vincent não vai resistir quando te
Eu não fazia ideia de como eu havia chegado nesse lugar e como eu havia conhecido aquele homem e ido parar em um hotel com ele. Eu precisava sair daqui o mais rápido possível. O vibrar insistente do meu celular me fez parar. Centenas de mensagens e chamadas perdidas. Percebi que todo mundo queria fazer parte da minha vergonha. Ignorei, coloquei o telefone na bolsa e entrei no táxi. Depois de um momento de hesitação, parada em frente à porta de casa, eu ainda tentava puxar na memória o rosto do homem com quem passei a noite, mas minhas memórias não passavam de um borrão. E eu ainda tinha que entrar em casa e encarar meus pais. Quando abri a porta, minha mãe veio correndo em minha direção. — Onde você estava Daphne? – A voz dela parecia tão alta que precisei tampar os ouvidos – estávamos preocupados com você. Eu queria uma aspirina que pudesse acabar com a dor de cabeça que eu sentia, então decidir não prolongar aquela conversa. — Estou bem, mãe – menti, tentando desfazer