AUGUSTO O carro estava estacionado a uma distância segura, com os vidros escuros garantindo nosso anonimato. Júlio estava no banco do passageiro, analisando a tela do tablet com a rotina da família de Lara. Lucas, no banco de trás, roía a unha do polegar, impaciente. Eu, como sempre, mantinha o controle. — O moleque tem uma rotina fechada — Júlio comentou, ampliando uma foto de Thiago saindo do prédio da escola. — De manhã, ele estuda. Sai sempre no mesmo horário, meio-dia e quinze. O motorista já está esperando na porta. — E o segurança? — perguntei, sem tirar os olhos da tela. — Sempre dentro do carro. Nunca sai. — Isso complica um pouco — Lucas murmurou, inclinando-se para ver melhor. Eu sorri, porque nada realmente complicava quando se tinha um bom plano. — Não precisa ser difícil. O erro deles é achar que segurança é suficiente. Criança se distrai fácil. Júlio franziu a testa. — Esse garoto tem 12 anos, não 6. Ele não vai sair falando com qualquer estranho. — Eu sei — re
JÚLIA Desde que comecei a notar aquele carro estranho nos seguindo, um aperto no peito não me deixava em paz. Primeiro, achei que era paranoia. Talvez um carro qualquer indo na mesma direção que o nosso, coincidência. Mas não era só coincidência. Era sempre o mesmo carro. Preto, vidros escuros, sem nada de especial, mas sempre mantendo uma distância calculada. E hoje, quando entramos no carro para buscar Thiago no colégio, ele apareceu de novo. A diferença é que dessa vez eu tive certeza. O segurança, Mateus, dirigia com atenção, mas parecia não notar nada de estranho. Eu olhei pelo retrovisor e senti um arrepio na espinha. — Mateus, aquele carro atrás da gente... Você já viu ele antes? — perguntei, tentando não soar assustada. Ele olhou rapidamente pelo retrovisor e franziu o cenho. — Que carro? — A SUV preta. Ele sempre está por per
LARA Meu coração ainda estava acelerado depois da ligação com minha avó. Eu tentava respirar fundo, mas era impossível não sentir aquele medo crescente tomando conta do meu corpo. Alexandre me olhava com uma seriedade cortante. Ele sempre foi um homem calmo, mas agora estava tenso, os músculos dos braços contraídos, os punhos fechados ao lado do corpo. — Precisamos agir rápido, Lara. Se eles estão observando sua família, significa que estão prontos para fazer algo. Assenti, tentando pensar com clareza. — Mas o quê? O que eles querem? Ele passou a mão pelos cabelos, visivelmente frustrado. — Se fosse só Lucas, eu diria que ele quer te assustar, te atormentar, te fazer lembrar dele. Mas Júlio está envolvido nisso. E esse cara não brinca, Lara. Meu estômago se revirou. — Você acha que eles fariam algo com o Thiago? O silêncio de Alexandre
JÚLIO O relógio no painel do carro marcava 7h45. Eu estava de olho na entrada da escola há quase uma hora. Algo estava errado. Thiago e Júlia sempre chegavam nesse horário, trazidos pelo motorista e acompanhados pelo segurança. Mas hoje, nada. Me remexi no banco, tentando manter a paciência, mas meu instinto dizia que tinha algo de errado. — Eles estão atrasados. — Resmunguei, sem tirar os olhos do portão. Ao meu lado, Augusto mexia no celular sem pressa, indiferente. — Espera mais um pouco. Criança enrola pra sair de casa. Bufei. Ele falava como se a gente tivesse todo o tempo do mundo. Os minutos passaram, e nada. 7h55... 8h05... 8h15. Nada. Meu estômago se revirou. Algo tinha acontecido. — I
Lara Quando chegamos à escola, o ar parecia mais denso do que nunca. Eu sentia meu coração batendo forte no peito, a ansiedade tomando conta de mim. As últimas horas foram um turbilhão de informações, e agora, diante daquele lugar que sempre foi seguro para meus irmãos, tudo parecia mais confuso e assustador. Eu sabia que algo estava errado, algo estava prestes a acontecer, e nós estávamos correndo contra o tempo. Alexandre dirigiu o carro até a frente da escola, o olhar focado. Ele sabia o quanto isso era importante, sabia que cada detalhe poderia ser crucial. Quando estacionamos, ele olhou para mim e disse com uma voz calma, mas firme: — Fica tranquila, vamos descobrir o que está acontecendo. Eu não conseguia ficar tranquila. Como poderia, sabendo que alguém estava tentando se aproximar dos meus irmãos, tentar algo contra eles? Só de pensar nisso, meu estômago revirava. Saímos do carro e, com os p
Alexandre O telefone vibrou no meu bolso, e quando peguei para olhar, vi o nome do Detetive Martins na tela. Meu estômago revirou na hora. Depois de tudo que estava acontecendo, essa ligação só poderia significar uma coisa: mais problemas. Atendi imediatamente. — Fala, Martins. O que você tem pra mim? O detetive foi direto ao ponto, sem rodeios: — Consegui rastrear o carro que está seguindo os irmãos da Lara. Meu coração deu um salto, e meu corpo enrijeceu. Lara, que estava ao meu lado, percebeu minha tensão e me olhou de imediato, esperando minha reação. — E aí? — apertei o telefone com mais força. — Quem é o dono? Martins soltou um suspiro pesado antes de responder, como se já previsse que eu não iria gostar do que estava por vir. — O carro está registrado no nome de Luiza.
Alexandre A tensão no ar estava pesada, e o silêncio entre nós três parecia um fardo impossível de carregar. Eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Tudo estava se conectando de uma maneira assustadora, e eu não sabia como enfrentar aquilo. Minha irmã, Luiza, parecia calma demais para o que estava acontecendo. Estava começando a me desesperar. Eu tentei manter a compostura, forçando minhas palavras a saírem de forma racional, mas a raiva e a incredulidade começaram a transbordar. — Luiza, eu já sei o que está acontecendo. O carro, o fato de estar seguindo os meus irmãos, tudo. Eu sei que está relacionado com você e com o Augusto. E a última coisa que você vai fazer é tentar me enganar. Fala a verdade, agora. Ela olhou para mim, com os olhos calmos, mas algo no jeito dela estava me deixando nervoso. Ela parecia tão tranquila, como se nada tivesse acontecido. Eu queria gritar, mas sabia que não poderia. Preciso entender mais, e não perder o controle agora. — Alexan
Alexandre Saí daquele encontro com Luiza e Lara sentindo um peso esmagador no peito. A conversa não tinha sido nada fácil, e eu sabia que não podia simplesmente ignorar tudo o que havia acabado de acontecer. Minha irmã estava mentindo. Eu via isso nos olhos dela, no jeito que evitava me encarar diretamente, nas respostas evasivas que dava. Ela estava envolvida nisso, e por mais que tentasse se fazer de desentendida, a verdade era que ela sabia mais do que estava dizendo.Meu coração batia forte no peito enquanto caminhava pelas ruas escuras, as luzes dos postes lançando sombras estranhas sobre o asfalto. Lara andava ao meu lado, com os braços cruzados e o olhar fixo no horizonte, mas eu sabia que ela estava tão perturbada quanto eu.— Você acredita mesmo que ela não sabia? — perguntei, quebrando o silêncio.Lara soltou uma risada irônica, balançando a cabeça.— Claro que não. Luiza pode ser boa em fingir, mas eu vi nos olhos dela que ela sabe exatamente o que está acontecendo. Ela só