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A traição vem de onde menos esperamos

“Prefiro me arriscar fazendo algo que gosto perdidamente que se sentir perdido por não fazer o que amo”

(Rocky Balboa)

Natanhael amava demais seus pais. Eles eram as figuras mais importantes de toda a sua vida  e os maiores incentivadores da sua carreira. O casal estava juntos há quase trinta anos e era um amor único. O loiro arriscaria dizer que os filmes de romance hollywoodianos não chegavam aos pés deles. Se um dia se apaixonasse por alguém, queria que fosse assim. Ele suspirou e se levantou da cama. Já que sua mãe havia o acordado, ele iria aproveitar pra treinar um pouco. Tomou um banho gelado, vestiu uma roupa simples, calçou seus tênis e saiu para correr pelo calçadão. Treinar ao ar livre fazia parte do ritual matinal do loiro. Sentir o vento em seu rosto enquanto a endorfina reanimava o seu corpo era uma experiência quase que terapêutica para ele. Todos os seus pensamentos foram mandados para longe e seus músculos trabalhavam em sua própria sintonia. Aquela sensação era a mais próxima da paz que ele tinha. 

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Toronto, Canadá

Universidade de Toronto

Haven Murphy era uma adolescente que acabara de ingressar na faculdade. Ser jornalista era um sonho que a morena nutria desde a infância. Apesar de seus pais serem donos de uma empresa de advocacia e terem outros planos para sua vida profissional, ela decidiu seguir suas próprias expectativas e andar com suas próprias pernas. Seu irmão mais velho, Nicolas Murphy, assumiu o império da família e ela prestou vestibular para a UTO, a melhor faculdade da região, e foi atrás de seu sonho. Foi aprovada com honras, e logo iria iniciar o seu curso no segundo semestre. 

A morena estava em êxtase, precisava compartilhar a sua alegria com o seu namorado, Kristian Bailey. Foi para casa, tomou um belo banho, passou os hidratantes corporais que o namorado gostava, e colocou uma lingerie de renda branca e um vestido lilás que valorizava suas curvas. Pretendia fazer uma surpresa para o moreno e comemorar em grande estilo. Haven pegou as chaves do seu carro, um Fiat 500 na cor prata, e foi até o apartamento de seu namorado. 

Quando chegou ao prédio, o porteiro já a conhecia e por isso, não precisava mais ser anunciada. Mas ao se aproximar da porta, antes de passar as chaves, a morena ouviu sons estranhos. Pareciam gemidos. Seu coração gelou na mesma hora. E mesmo a contragosto, seguiu em direção ao quarto do moreno. Quando abriu a porta devagar, pode ver o seu namorado sentado na cama e uma loira ajoelhada lhe pagando um boquete. Haven arregalou os olhos, em surpresa. Kristian, quando viu a morena, afastou a mulher e subiu suas calças, de forma desesperada. Tentou se aproximar dela, mas acabou tropeçando nos seus próprios pés e caindo com o queixo no chão. Enquanto ele tentava se levantar, as palavras se embolaram em sua mente e toda aquela cena que tinha tudo para ser trágica, se tornou quase cômica:

— Haven, não é nada do que você está pensando! Me deixe explicar. 

Disse o moreno balançando as mãos em desespero. A loira recolhia suas roupas no chão e tentava sair de fininho, mas antes que ela pudesse seguir com o seu plano, a morena fechou a porta com tudo, bloqueando sua saída. 

— E o que tem a me dizer, Kristian Bailey? Que uma loira entrou sem querer na sua casa e caiu de boca no seu pau por acidente? Você acha que eu sou idiota? 

A loira tentou falar algo, mas se assustou com o grito da morena:

— E você fique calada! 

A mulher parou e encarou Haven, apavorada. A morena virou novamente para o agora ex-namorado e continuou. 

— Você é um bosta mesmo, Kristian. Espero que faça bom proveito com a loira oxigenada e com outras vadias do seu agrado. Saiba que acabou tudo entre nós, e se você ousar me procurar novamente, eu vou fazer da sua vida um inferno e você vai se arrepender de um dia ter me conhecido! — Ela esbravejava, com os olhos vermelhos de raiva. Em seguida, sorriu malicioso virando para a loira e disse: 

—  Espero que você tenha mais sorte do que eu, querida. Porque esse cara aí nunca conseguiu me dar um orgasmo decente. Na maioria das vezes, eu tinha que terminar o serviço sozinha, se é que você me entende. Haven deu uma piscadela para a garota e saiu do quarto.

O moreno arregalou os olhos, espantado e com as bochechas vermelhas. A loira ficou muda e engoliu em seco. Antes de ir embora, virou para o moreno e disse:

— E ah, Kristian, devolva a chave do meu apartamento. Não quero você por lá e venha pegar suas roupas ainda essa semana. Se não, vou tocar fogo em todas. Passar bem. 

Saiu do apartamento jogando a chave na mesa. Passou pelo porteiro numa velocidade enorme. Estava plena, sem chorar. Mas bastou entrar no seu carro que ela colocou tudo para fora. Respirou fundo, tentando se recompor e pegou o celular, ligando para suas amigas:

— Sephora, tá podendo falar? — perguntou fazendo um bico enorme e com a voz embargada pelo choro.

— Sim, amiga… o que houve? 

— Peguei o Kristian com uma mulher na casa dele. Acabou tudo, amiga. — A morena disse, com a voz embargada e não se conteve. Sentiu as lágrimas caírem sem controle pelo seu rosto. A amiga ficou surpresa do outro lado da linha,  não esperava por uma notícia daquela. Apesar de nunca ter ido com a cara do moreno, nunca imaginou que ele seria capaz de algo assim. Sephora suspirou pesado e sentiu seu sangue ferver, mas se recompôs, precisava tranquilizar a sua amiga.  

— Haven, esse idiota não merece você. Na verdade, nunca mereceu. Não chore por quem não vale a pena… Olha, a Clarice me contou sobre uma festa que vai rolar na  fraternidade dela hoje. Tava pensando em ir e vou arrastar você para ir junto. Vamos beber e azarar uma gatinhos, tá bem?

— Sephora… você sabe que eu não sou assim e…

— Foda-se a Haven certinha. Hoje você vai beber, curtir e eu não aceito um “não” como resposta. Você está solteira e não deve mais nada a ninguém. Que mal faz? Vou ligar para a Clarice e para Thalita e elas vão providenciar uma roupa para você.

—  amiga…

— Hoje, você não vai falar nada, amiga. Você vai brilhar e aproveitar! Confia em mim. — falou sorrindo. — Agora eu já vou, o meu professor está me olhando feio aqui. Te amo! 

— Também te amo. 

Haven desligou o telefone. As palavras da amiga haviam levantado o seu astral. Estava determinada. Iria sair, dançar e se divertir. Se por um acaso conhecesse um gatinho que valesse a pena, não perderia a oportunidade. Ela sabia que a dor do término ia permanecer em sua vida por um tempo. Claro, sentimentos não se superam de um dia para a noite e eles estavam juntos a um pouco mais de um ano. Era um relacionamento gostoso que nunca teve indícios de nada errado. Ele era carinhoso, gentil e parecia estar feliz no relacionamento. A morena suspirou fundo e se recompôs. Não iria dar espaço para a tristeza por enquanto.

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