Confronto e verdades.Ana me encara de olhos arregalados do sofá quando entro com Malachi sem camisa atrás de mim. Entendo que é impossível não encarar seu peitoral e braços definidos, e isso me irrita ainda mais. Toda a situação é uma loucura; me sinto como a Alice quando caiu na toca do coelho e pensou que estava pirada.Não posso — ou consigo — acreditar no que aconteceu... É demais para minha mente processar.— O que está acontecendo? — Ana pergunta preocupada e se levanta.— Malachi tem algumas explicações para dar — respondo e, como disse antes, deixo o número de emergência discado. — Melhor se sentar, Ana.Sento-me perto dela. Encaramos Malachi, que continua em silêncio e em pé, com os braços cruzados contra o peito. O cretino é delicioso; nem no meu momento de surto consigo ignorar esse fato. Meu corpo começa a aquecer à medida que o observo. Uma tensão se constrói em meu ventre, e fica difícil respirar tranquilamente. A atração é mais forte, e nem mesmo vê-lo se transmuta
Fatalidade.Assim que entro no vilarejo, sou recebido por Kiran. A expressão desolada em seu rosto me diz que a noite está longe de terminar. Uma onda de apreensão me domina após a conversa com Elise e sua amiga. Tudo desmoronou rápido demais, jogando sombras sobre a confiança e a alegria que havíamos reconstruído desde nosso primeiro jantar.Meu irmão me segue até em casa. Enquanto caminho, o caos da alcateia reverbera ao meu redor — murmúrios agitados, rostos contorcidos de raiva. Algo está fora de controle. O desequilíbrio paira no ar e me corrói por dentro.Entro em casa, transformo-me de volta e vou direto ao guarda-roupa para me vestir. Assim que Kiran entra, a pergunta explode da minha boca:— O que está acontecendo?— Luan se foi. — A resposta vem com uma voz sombria e pesada.— Como assim? Para onde? — questiono, a irritação misturada ao desespero.— Ele está morto, irmão. Encontramos ele na mata, em forma de lobo. Morreu como um cachorro envenenado. — As palavras de Ki
Procura-se.— Não o viu ainda? — Ana pergunta.Chegamos há pouco tempo do mercado, e estou sentada perto do balcão enquanto ela termina de passar um café fresquinho. Tenho algum tempo até ir para o trabalho, e minha amiga vai para a boate à noite. Estamos aproveitando para termos um tempo juntas depois da loucura que vivemos uma semana atrás.— Não, ele sumiu. Também não liguei, e nem ele me mandou sequer uma mensagem. Eddie está estranho, e a Taverna diminuiu o movimento de clientes nos últimos dias. — respondo. — Às vezes me pergunto se não presenciamos um surto coletivo. É difícil de acreditar.— Vimos com nossos olhos, foi bem real. — Ana serve o líquido quente e maravilhoso em duas xícaras, me entregando uma. — Aquele assunto sobre você ser a predestinada dele foi bem romântico, né?— Sabe que acredito em atitudes. Se é verdade ou não, ele mentiu para mim. Parece que estou vivendo num plano paralelo: shifters, lobos, predestinados... Porra, eu realmente sou um imã para atrair
Uma decisão.Elias tinha uma foto antiga minha no celular e estava me procurando. Isso só podia significar uma coisa: Trevor está por perto. Sinto o sangue fugir do rosto, deixando minha pele mais pálida que o normal.As vozes da Taverna desaparecem, transformando-se em um eco distante. Nunca imaginei que ele fosse tão longe, mas, se está me perseguindo desde que fugi, era questão de tempo até chegar em Valmont. Elias me observou demais. Mesmo com a cor do cabelo diferente, meus olhos e minha voz podem ter me denunciado.Preciso trabalhar, mas o medo me paralisa. Não consigo me mover.— Elise, quem é aquele cara? — sussurra Eddie, com a expressão carregada de seriedade.Encaro-o, umedecendo os lábios antes de responder:— Ninguém importante. — Minha voz sai rouca e entrecortada.— Não acredito em você. — Ele retruca, cruzando os braços. — Se não me contar, expulsarei todos os clientes e chamarei Malachi.— O que Malachi tem a ver com isso? — Balanço a cabeça, indignada com sua
O verdadeiro nome de Elise.As palavras de Elise reverberam dentro de mim. Ela sai porta afora sem olhar para trás, os passos apressados a levam para longe rapidamente.— Fique em alerta. — digo a Eddie, que apenas acena com a cabeça.Vou atrás de Elise, que parece me odiar neste momento. Não posso culpá-la; fiz uma promessa de que nunca desistiria dela, mas a deixei sozinha para processar tudo o que aconteceu e descobriu.Desde a morte de Luan, tudo desabou sobre mim e a alcateia. Realizamos sua despedida e entregamos sua alma à deusa Luna, mas o peso da nossa realidade apenas aumentou. O conselho humano exige retratação, e agora boa parte dos humanos sabe sobre os shifters lobos em Valmont. Apesar de termos respeitado as leis do acordo e nos mantido afastados no vilarejo a maior parte do tempo, tudo explodiu. Se antes éramos ignorados, agora querem nos expor como assassinos.A discussão na reunião foi enfadonha, uma repetição cansativa de acusações entre homens humanos, todos te
Alma marcada.Malachi me encara como se eu tivesse confessado um crime hediondo. Os últimos acontecimentos passam na minha mente a mil por hora, e meu coração parece que vai explodir pela boca. Mas acima do medo, está a raiva.Eu me recuso a deixar aquele desgraçado controlar minha vida de novo, mas sei bem do que ele é capaz. Toda a merda que sofri nas mãos dele ainda está comigo, como uma marca que não se apaga. Quando finalmente comecei a me reerguer, abrindo espaço para novas possibilidades, ele aparece.Filho da puta!— Do que está falando? — Malachi pergunta, sua voz um sussurro rouco.— Pouco depois de fazer dezoito anos, saí do orfanato. É assim que funciona: se você não foi adotado até lá, é mandado embora. Fiquei sozinha, carregando traumas de uma infância fodida num orfanato que só aceitava crianças para lucrar com elas. Morei num abrigo por um tempo, consegui um emprego numa lanchonete, e foi lá que conheci Trevor. — começo a dizer.A expressão de Malachi fica tão pes
Reviravolta e revelações.Tudo desaparece da minha mente.Seguro o pescoço de Elise com minha mão; meus dedos o rodeiam com firmeza. Sua pele macia está quente, sua pulsação agitada.Seus lábios são um paraíso contra os meus. Ela abre a boca e timidamente guia sua língua para a minha. Recebo tudo que ela me dá como um homem faminto, sedento por cada migalha que ela oferece.Com a mão livre, seguro sua cintura com firmeza. Suas revelações ecoam pela minha mente, e seu beijo é a única coisa que me mantém no controle. Sua presença é a corda que me amarra, impedindo-me de procurar o filho da puta que a fez sofrer e cometeu as piores atrocidades contra minha parceira.Cheguei à conclusão, depois de tudo que aconteceu na alcateia e agora com Elise, que não quero estar em paz com humanos que não nos respeitam ou com aqueles que ferem os nossos. Quero vingança, o sangue de cada um que entrar em meu caminho.O acordo pode ir para o inferno. A prova de verbena nas amostras de Luan já basta
O Recomeço.Reviro os olhos para o segundo bêbado da noite que derruba a caneca parcialmente cheia no chão. O barulho ensurdecedor das vozes misturado ao cheiro forte de álcool e cigarro não me incomoda, mas cada olhar dos homens ao redor, como se eu fosse um pedaço de carne, me faz querer sacar o pequeno canivete preso ao meu tornozelo.O que diabos há com esses caras?Não é a primeira vez que me faço essa pergunta hoje. Minha primeira noite no novo emprego, nessa cidade estranha, tem sido... peculiar. Ana havia me alertado que havia algo de diferente nesse lugar, mas ainda não tinha descoberto o quê.Eu sinto essa diferença no ar. Algo indefinível, mas presente. Até eu, com minha percepção pouco aguçada, consigo notar a estranheza que parece impregnar o ambiente.— Mais uma! — Berra outro bêbado, batendo a caneca vazia no balcão. Eu sei o que ele quer sem precisar perguntar, e me viro para servir, ignorando o jeito nojento com que ele percorre meu corpo com os olhos.Todo homem